A trajetória das mulheres na construção civil reflete uma sociedade em transformação, na procura de igualdade e inclusão

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Nascida em Angola, Marisa Martins veio para Portugal mas com um ano de idade regressa ao País de origem. 20 anos volvidos, 12 deles com ligação à atual empresa que lidera, a Administradora da Carmon destaca a sua liderança (empresa de Construção Civil e Obras Públicas) e mostra à Revista Pontos de Vista o seu compromisso com a diversidade de género e inclusão num setor tradicionalmente masculino. Saiba mais!!!

Como foi o seu percurso até assumir a liderança na Carmon?

Nasci no Lubango, fui para Portugal antes de completar um ano e regressei a Angola em 2005. Já lá vão 20 anos. Foi em Angola que iniciei o meu percurso na construção Civil; ingressei na Carmon em 2013, como Diretora Financeira, desenvolvendo uma sólida compreensão das operações financeiras e administrativas. Enfrentei desafios significativos, mas, com resiliência, consegui conquistar o respeito e o reconhecimento, consolidando a minha posição de liderança num ambiente tradicionalmente masculino. Ao longo do tempo, a minha experiência e o sucesso em implementar melhorias significativas nos processos financeiros e de gestão levaram-me à posição de administradora. Esta evolução na minha carreira foi marcada por uma procura constante pela excelência e por um compromisso em promover processos de melhoria contínua dentro da empresa.

 

Quais os principais desafios que enfrentou como mulher num setor tradicionalmente masculino?

Ser mulher na construção civil é enfrentar desafios diários, que vão desde a quebra de estereótipos até a procura de igualdade de oportunidades. O setor da construção ainda é predominantemente masculino, o que trouxe estímulos adicionais ao longo da minha trajetória. Enfrentei ceticismo, precisei provar a minha competência repetidas vezes e superar barreiras culturais enraizadas. No entanto, encarei essas dificuldades como oportunidades para demonstrar a minha capacidade, reforçar a minha liderança e incentivar outras mulheres a ingressarem e crescerem nesta área. Acredito que a diversidade de perspetivas traz inovação e melhoria de resultados, e esse tem sido um dos pilares do meu trabalho.

Tenho plena consciência de que as dificuldades que enfrentei não se comparam às vividas por muitas mulheres que atuam em áreas técnicas. No entanto, acredito que a trajetória feminina na construção civil reflete uma sociedade em transformação, na procura de maior igualdade e inclusão.

Valorizar o trabalho feminino neste setor é um passo essencial para uma sociedade mais justa e equitativa.

 

De que forma a Carmon promove a igualdade de género e a inclusão no setor da construção?

A Carmon tem um compromisso forte com a diversidade e inclusão. Neste âmbito,   destacamo-nos no setor por termos mulheres a ocupar cargos estratégicos, começando pela PCA do Grupo, Direção de Finanças e Contabilidade, Direção de Qualidade, Saúde, Segurança e Ambiente, Direção de Desenvolvimento Humano, Direção de Marketing e Gabinete de Responsabilidade social.

Procuramos desconstruir estereótipos e incentivar uma cultura organizacional baseada no respeito e na valorização do talento, independentemente do género. O nosso objetivo é criar um setor mais inclusivo, onde mulheres e homens tenham as mesmas oportunidades de crescimento e reconhecimento.

Não existem diferanças de salários entre homens e mulheres, a equidade é algo que levamos muito a sério, o que é avaliado são as competências, não o género.

 

Como a diversidade contribui para a inovação e crescimento da Carmon?

O futuro do papel das mulheres na construção civil é promissor, com um número crescente que se formam em cursos técnicos e de engenharia, e mais empresas reconhecendo a importância do valor da diversidade de género. No entanto, é crucial continuar a promover políticas de inclusão, combater o preconceito e fornecer o suporte necessário para que as mulheres possam prosperar neste setor.

Entre as ações para tornar a construção civil mais inclusiva e justa, está a divulgação do trabalho com participação feminina, especialmente através de programas de incentivo. Criar espaços para a capacitação feminina e formar grupos de trabalho comprometidos com a equidade de género, são soluções permanentes para aumentar a empregabilidade de mulheres na construção civil.

A trajetória das mulheres na construção civil reflete uma sociedade em transformação, na procura de igualdade e inclusão. Embora os desafios ainda existam, as conquistas alcançadas mostram que as mulheres têm um papel vital na construção do futuro. Valorizar o trabalho feminino neste setor é um passo essencial para uma sociedade mais justa e equitativa.

Quando reunimos pessoas com diferentes experiências, perspetivas e habilidades, criamos um ambiente mais dinâmico e criativo. No setor da construção, onde os desafios exigem soluções inovadoras, essa diversidade traduz-se em maior eficiência, novas abordagens e melhor tomada de decisões. Equipas diversas refletem melhor as necessidades do mercado e dos clientes, tornando a empresa mais competitiva e sustentável a longo prazo.

 

Pode compartilhar algumas das iniciativas da Carmon para promover a inclusão de mulheres no setor?

A Carmon tem desenvolvido diversas iniciativas para aumentar a participação feminina no setor da construção, promovendo um ambiente mais inclusivo e diversificado. Entre as ações implementadas, destaca-se a capacitação por meio de estágios direcionados a estudantes universitárias das áreas de engenharia civil e mecânica, setores tradicionalmente dominados por homens.

Uma das nossas principais bandeiras é a alfabetização, um programa desenvolvido em parceria com o Ministério da Educação de Angola. Embora não seja exclusivo para mulheres, atualmente contamos com duas turmas compostas só por alunas, totalizando 231 mulheres. A forte adesão feminina ao programa evidencia a perseverança e a resiliência destas mulheres, que, com determinação, procuram melhorar a sua condição e conquistar novas oportunidades.

Para garantir um ambiente de trabalho mais inclusivo, a Carmon promove uma cultura organizacional baseada no respeito, na igualdade de oportunidades e na valorização do talento, independentemente do género. A empresa também estabelece parcerias e apoia iniciativas do setor voltadas à inclusão feminina na engenharia e na construção, reforçando o seu compromisso com a transformação estrutural e a equidade de género na indústria.

 

Quais são os próximos passos para garantir um ambiente de trabalho ainda mais equitativo e diverso?

O nosso compromisso com a diversidade e inclusão é contínuo, e estamos sempre na procura de melhorias contínuas para tornar a construção civil um setor mais inclusivo e justo. Uma das nossas principais ações é a divulgação do trabalho com a participação feminina, especialmente por meio de programas de incentivo. A criação espaços para a capacitação de mulheres e formar grupos de trabalho comprometidos com a equidade de género são estratégias essenciais para aumentar a empregabilidade feminina na construção civil.

Entre os próximos passos da Carmon, está a expansão das políticas de diversidade, refinando e ampliando iniciativas para garantir que mais mulheres tenham oportunidades reais de crescimento dentro da empresa. Também procuramos fortalecer a cultura de inclusão por meio da formação e campanhas internas que consciencializem e envolvam todos os colaboradores na construção de um ambiente mais equitativo. Além disso, implementaremos métricas para monitorar o progresso da diversidade na empresa, assegurando transparência e o impacto real das nossas ações. Outro ponto fundamental é o apoio à liderança feminina, criando mais oportunidades para que as mulheres assumam cargos estratégicos e de decisão, garantindo um ambiente corporativo verdadeiramente representativo e diverso.

 

Qual a importância da sustentabilidade na construção civil e como a Carmon a tem integrado nos seus projetos?

A construção civil é um dos setores que mais impactam o meio ambiente. Um exemplo claro disso é a execução de estradas, que frequentemente exigem a remoção de extensas áreas de vegetação, resultando na perda de biodiversidade, especialmente durante a fase de desmatamento. Para mitigar estes impactos, é fundamental que as empresas implementem programas de recuperação ambiental, abrangendo tanto a flora quanto a fauna.

Neste contexto, a construção de estradas exige grandes quantidades de recursos naturais, como areia, pedra e betão. Quando esta atividade não é cuidadosamente planeada, pode levar ao esgotamento de recursos e ao desperdício de materiais, sem o devido reaproveitamento.

Diante deste cenário, a sustentabilidade torna-se essencial para equilibrar as necessidades atuais das partes interessadas, sem comprometer os recursos das gerações futuras. Para isso, é imprescindível integrar os três pilares fundamentais da sustentabilidade: social, ambiental e governança, garantindo uma gestão responsável e um desenvolvimento verdadeiramente sustentável.

A Carmon, sempre teve como prioridade a redução dos impactos ambientais e sociais nos projetos que desenvolve. Antes do início de cada obra, realizamos estudos de impacto ambiental, tanto para o traçado da infraestrutura, quanto para os estaleiros de apoio, com o objetivo de minimizar os efeitos negativos durante a fase de construção. No que diz respeito aos impactos sociais, destacamos a geração de empregos, assegurando que a mão de obra local represente a maioria dos trabalhadores nos projetos. Além disso, promovemos a aquisição parcial de insumos na região onde a obra é implantada, contribuindo assim para o fortalecimento da economia local.

Em maio de 2024, a Carmon reforçou o seu compromisso com a sustentabilidade ao aderir ao Pacto Global das Nações Unidas, integrando  os seus princípios à nossa estratégia, cultura e operações diárias. Como parte desse compromisso, temos orgulho em contribuir para a preservação ambiental, alinhando as nossas práticas ao ODS 15 – Proteger a Vida Terrestre.

Neste sentido, estamos a implementar iniciativas voltadas para a conservação da flora, incluindo um projeto-piloto para a criação de uma estufa no nosso estaleiro central. Esta iniciativa tem como objetivo apoiar o replantio de áreas degradadas ao longo das vias e a recuperação ambiental dos estaleiros móveis após a sua desativação. No campo do desenvolvimento social, estamos igualmente empenhados em incentivar o empreendedorismo jovem no setor da jardinagem e comercialização de plantas. Para isso, ofereceremos formação especializada e, no final do programa, os participantes receberão um kit inicial para darem início aos seus próprios negócios.

Com estas ações, reafirmamos o nosso compromisso com um futuro mais sustentável, onde o desenvolvimento económico e a responsabilidade ambiental caminham juntos.

O nosso compromisso é construir de forma responsável, equilibrando o crescimento económico, impacto social e preservação ambiental.

 

Como a tecnologia pode contribuir para tornar o setor mais inclusivo e eficiente?

A tecnologia desempenha um papel fundamental na modernização da construção civil, tornando o setor mais produtivo, seguro e acessível. A automação e a digitalização, por meio de softwares de modelagem BIM (Building Information Modelling), permitem um planeamento mais eficiente, reduzindo erros e custos.

O uso de Inteligência Artificial e análise de dados melhora a previsão das necessidades, a segurança no local de trabalho e a otimização de processos. Por outro lado, equipamentos modernos e mais acessíveis, como máquinas ergonómicas e leves, facilitam a inclusão de mulheres e profissionais diversos no setor.

A capacitação e a aprendizagem remota também são beneficiadas com o avanço tecnológico, já que plataformas online possibilitam a formação contínua de profissionais e tornam o acesso à informação mais democrático.

Ao adotar estas inovações, a Carmon melhora a sua eficiência operacional e cria um ambiente de trabalho mais inclusivo e acessível.

Construir um futuro mais igualitário começa por abrir caminhos para que mais mulheres ocupem o seu espaço na construção civil. Diversidade não é apenas uma meta, é a base para um setor mais inovador, justo e sustentável.

Para finalizar deixo uma citação de Sheryl Sandberg, que reflete o caminho mais premente para o empoderamento da mulher na cultura das organizações.

“We need women at all levels, including the top, to change the dynamic, reshape the conversation, and make sure women’s voices are heard and heeded.”

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Revista Pontos de Vista Edição 140

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