No contexto do Dia Mundial da Saúde, é fundamental discutir o papel da Psicologia na promoção do bem-estar, prevenção de transtornos e construção de uma sociedade mais equilibrada emocionalmente. Para aprofundar este tema, a Revista Pontos de Vista conversou com Fátima Nunes, Diretora Geral do Instituto do Desenvolvimento, e que partilha a sua visão sobre a relevância da Psicologia no bem-estar individual e coletivo, os desafios que persistem em Portugal e as estratégias para valorizar ainda mais a saúde mental na sociedade.
Como avalia o papel da Psicologia na promoção da saúde e qualidade de vida na sociedade atual?
A Psicologia desempenha um papel fundamental na promoção da saúde e qualidade de vida na sociedade atual, atuando no bem-estar emocional, mental e social das pessoas. Contribui, essencialmente, na prevenção e tratamento de transtornos como a ansiedade, a depressão, o stress, reduzindo os seus impactos na vida das pessoas. Além disso, promove o bem-estar psicológico ao fortalecer a resiliência, a autoestima e a inteligência emocional, permitindo enfrentar com mais eficácia os desafios do quotidiano. Nós, psicólogos, também atuámos em diversos contextos, como na saúde pública, na educação e nas organizações, contribuindo para a construção de ambientes mais equilibrados.
De que forma a Psicologia pode ser um fator determinante para a longevidade e o bem-estar ao longo da vida?
A Psicologia desempenha um papel fundamental na longevidade e no bem-estar ao longo da vida, pois influencia diretamente a forma como lidamos com os desafios do quotidiano, como gerimos as nossas emoções, expetativas e como adotamos hábitos saudáveis. O bem-estar psicológico está associado à diminuição do stress, à regulação emocional e ao sustento de relações sociais positivas, fatores que impactam significativamente a saúde física e mental. Há estudos que mostram que pessoas com níveis elevados de resiliência, otimismo e propósito de vida tendem a viver mais e com melhor qualidade de vida. A Psicologia, também, contribui para a prevenção e o tratamento de transtornos mentais, como a depressão e a ansiedade, que, se não tratados, podem comprometer a saúde física e reduzir a expetativa de vida. Outro aspeto relevante é a influência da motivação e da autodisciplina na adoção de hábitos saudáveis, como uma alimentação equilibrada, a prática regular de exercício físico e o sono adequado. Desta forma, a Psicologia não apenas melhora a qualidade de vida no presente, mas, também, aumenta a probabilidade de um envelhecimento saudável. Daí o lema do Instituto do Desenvolvimento: “Um Desenvolvimento em Forma de Sorriso”.
Quais são os principais desafios que ainda persistem na valorização da saúde mental em Portugal?
Em Portugal, ainda se enfrenta diversos desafios, relativamente à saúde mental, como o difícil acesso a cuidados especializados, a escassez de profissionais especializados e o estigma, que impede muitas pessoas de procurar ajuda. A integração da saúde mental nos cuidados primários é limitada, e a prevenção ainda carece de investimento. Para uma mudança no nosso país, é essencial reforçar o apoio do SNS, promover a sensibilização e garantir condições sociais que favoreçam o bem-estar psicológico.
O que considera ser essencial para combater o estigma em torno da saúde mental?
Combater o estigma em torno da saúde mental exige uma abordagem integrada que envolva a educação, a sensibilização e algumas políticas públicas eficazes. É fundamental promover campanhas que desmistifiquem as doenças mentais, para mostrar como são comuns e tratáveis, assim como qualquer outra condição de saúde. A inclusão do tema na educação desde cedo também é essencial, pois ajuda as novas gerações a desenvolverem uma visão mais aberta e empática sobre este tema. Nos locais de trabalho, é importante incentivar a ambientes onde se fale abertamente sobre a saúde mental.
Além disso, a comunicação social tem um papel crucial ao abordar o tema com responsabilidade, evitando estereótipos e contando histórias reais de recuperação.
Por fim, é necessário garantir a facilidade ao acesso a cuidados psicológicos, pois quanto mais pessoas tiverem um acompanhamento adequado, mais se contraria a ideia de que pedir ajuda é um “sinal de fraqueza”. Combater o estigma é um passo essencial para que a saúde mental seja encarada com a seriedade que merece.
Como as empresas e instituições podem fomentar um ambiente psicologicamente saudável para os seus colaboradores?
As empresas podem promover um ambiente psicologicamente saudável através de uma cultura aberta ao diálogo sobre a saúde mental, horários flexíveis, programas de apoio psicológico e através de uma liderança empática. Incentivar os colaboradores a fazer pausas, a praticar atividade física e a ter um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional também é essencial. Além disso, garantir uma carga de trabalho justa e reconhecer o esforço dos seus colaboradores contribui para um ambiente mais positivo e produtivo.
De que maneira os profissionais de Psicologia podem contribuir para a criação de políticas públicas mais eficazes em prol da saúde mental?
Nós, psicólogos, podemos contribuir para políticas públicas mais eficazes ao fornecermos dados científicos, que ajudam na criação de medidas baseadas em evidências. Defendemos, também, a ampliação do acesso a cuidados psicológicos no SNS, a formação de profissionais de saúde para lidar melhor com questões mentais e a inclusão da educação emocional nas escolas. Também, podemos atuar na sensibilização, ao promover campanhas de prevenção e combate ao estigma.
Como o Instituto do Desenvolvimento tem atuado para fortalecer a importância da Psicologia na sociedade?
O Instituto do Desenvolvimento investe na formação contínua dos seus colaboradores e profissionais, pela participação em cursos, palestras e workshops, que ampliam o seu conhecimento e qualificação na sua área.
Além disso, também, apostamos na sensibilização da população para a importância da saúde mental, ao desenvolvermos palestras, jornadas de saúde, webinars, entre outras.
Por meio de parcerias com instituições públicas e privadas, atuamos na implementação de programas de apoio psicológico em diferentes contextos, e dessa forma, reforçamos o papel essencial da Psicologia no bem-estar individual e coletivo.
Poderia partilhar exemplos de iniciativas ou programas que tenham tido um impacto significativo na vida das pessoas?
O ID, como já tinha referido, com as palestras e webinars, oferece uma ajuda às pessoas, como na gestão da sua ansiedade, técnicas para utilizar no combate a questões relativas a outros problemas da saúde mental, e, também, no desenvolvimento de competências sociais. Também, as campanhas de sensibilização que ajudam a combater o estigma e a incentivar a procura de apoio psicológico.
Estas, como outras ações realizadas pelo ID, demonstram o compromisso em tornar a Psicologia mais acessível e relevante na vida das pessoas, promovendo um impacto positivo e duradouro na sociedade.
Há novas estratégias ou projetos que o Instituto pretende implementar para reforçar a promoção do bem-estar psicológico?
O ID pretende reforçar a promoção do bem-estar psicológico através de novas estratégias, como mais envolvimento nas plataformas digitais, mais atividades para apoio psicológico, mais palestras, programas de prevenção em escolas e formações para empresas sobre a saúde mental. A formação em áreas inovadoras que vão ajudar quem nos procura a ter resultados mais eficazes e duradouros. Estamos abertos à comunidade no sentido de ajudar, aceitando propostas de intervenção e ações de sensibilização, entre outras ações.
A investigação é uma área que o Instituto também investe e quer tornar isto como prática corrente, apesar de os apoios no privado serem escassos o que por vezes dificulta, mas temos que continuar a insistir, pois é para um bem comum.
Que mudanças espera ver nos próximos anos relativamente ao reconhecimento da Psicologia na área da saúde?
Nos próximos anos, a Psicologia deverá ganhar um papel mais central na área da saúde, com maior integração nos cuidados primários e hospitalares, garantindo que mais pessoas tenham acesso a um acompanhamento psicológico de qualidade. Espera-se que o SNS amplie os serviços de saúde mental, podendo por exemplo criar parcerias com entidades privadas idóneas, como o Instituto do Desenvolvimento, reduzindo os tempos de espera e tornando o apoio psicológico mais acessível a todas as pessoas. Com o aumento da sensibilização e a diminuição do estigma em torno da saúde mental, será mais comum que as pessoas procurem apoio sem receios, promovendo uma sociedade mais consciente e equilibrada. Estes avanços contribuirão para que a Psicologia seja vista como uma área essencial na promoção da saúde e da qualidade de vida.
Para quem ainda hesita em procurar apoio psicológico, que conselho deixaria?
Para quem ainda hesita em procurar apoio psicológico, o mais importante é lembrar que cuidar da saúde mental é tão essencial quanto cuidar da saúde física. Procurar ajuda não é um sinal de fraqueza, mas sim de coragem e autoconhecimento. Todos enfrentamos desafios emocionais ao longo da vida, e falar com um profissional pode ser um passo fundamental para encontrar equilíbrio e bem-estar.
O apoio psicológico oferece um espaço seguro, sem julgamentos, onde é possível compreender melhor as suas próprias emoções e desenvolver estratégias para lidar com as dificuldades.
O mais importante é não ignorar o próprio bem-estar. Pedir ajuda é um ato de cuidado consigo mesmo, e há profissionais preparados para apoiar esse caminho de crescimento e transformação.