Ao longo de 45 anos, a TPF Consultores consolidou-se como uma referência incontornável no setor, marcando presença em projetos de grande envergadura e impulsionando a inovação no setor da engenharia. Para assinalar esta trajetória de sucesso, a Revista Pontos de Vista destaca na sua CAPA de 31 de março uma entrevista exclusiva com Carlos Baião, Presidente do Conselho de Administração da empresa. Saiba mais!
Como surgiu a TPF Consultores e quais foram os momentos mais marcantes nestes 45 anos de existência?
A TPF Consultores, a unidade de negócio portuguesa do Grupo TPF, sediado na Bélgica, resulta da fusão de várias empresas portuguesas, sendo as mais relevantes a Planege, a Cenor e a Partex-CE. A Partex-CE, que era o ramo de engenharia do Grupo Partex, foi adquirida em 2000 pelo Grupo TPF. Nessa altura, o Grupo TPF operava praticamente apenas na Bélgica e foi a partir dessa aquisição que começou a desenvolver-se. Em 2001, adquiriu a Planege e, posteriormente, a Cenor, em 2016. Estas aquisições fortaleceram bastante o Grupo TPF, que a partir daí se expandiu para vários países, como França, Espanha, Brasil, Índia, entre outros.
Tanto a Planege, quanto a Cenor, eram empresas de capital português, curiosamente criadas no mesmo ano, 1980, pelo que este ano assinalamos os 45 anos da TPF Consultores. Ao longo desses 45 anos, houve vários momentos marcantes, mas eu destacaria a entrada da Planege no Grupo TPF que desencadeou uma série de aquisições em Portugal, culminando com a Cenor em 2016. Com estas aquisições e fusões, a empresa passou a ser a maior de consultoria de engenharia em Portugal, um objetivo que o Grupo TPF sempre perseguiu, desde a incorporação da Planege.
Essa ocorrência abriu novos horizontes, pois o Grupo TPF sempre teve uma dinâmica significativa de crescimento por aquisições até ao início da pandemia e Portugal sempre acompanhou esse processo, participando nas aquisições realizadas nos quatro continentes onde o Grupo está presente. A unidade portuguesa, também foi responsável por abrir o Grupo TPF ao mercado africano, não só em países como Angola e Moçambique, mas, também, em países francófonos, como Argélia. Hoje, somos a unidade de negócio do Grupo TPF que gere toda a atividade na África Subsariana.
Como é que a empresa evoluiu de uma consultora nacional para uma referência internacional?
A nossa internacionalização começou em 2007, na Argélia. Nessa altura, sentíamo-nos um pouco à margem no mercado nacional, por sermos uma empresa de capital estrangeiro, embora sempre gerida por portugueses. Isso acontece ciclicamente, especialmente quando há grandes investimentos anunciados em Portugal, pois as empresas portuguesas tentam assegurar a maior parte desses contratos.
Além disso, cada vez há menos empresas de capital exclusivamente português na área da construção, o que é evidente ao observar-se as principais consultoras e construtoras do país. O mercado português também oferece remuneração muito baixa às empresas de consultoria de engenharia e está excessivamente fragmentado, com concorrência desleal em vários setores.
Por outro lado, a internacionalização exige que as empresas assumam muitos riscos, o que só é possível para aquelas que são financeiramente robustas e bem geridas. O nosso pico de internacionalização ocorreu durante o período da troika, quando chegámos a exportar 95% dos nossos serviços. No entanto, após 2014, e, principalmente, depois da pandemia, abrandámos esse ritmo e, atualmente, exportamos cerca de 35%.
Tivemos alguns contratempos durante essa internacionalização, mas a nossa capacidade de financiamento ajudou-nos a ultrapassar as dificuldades. Hoje, somos muito mais cautelosos em relação aos mercados externos, pois a internacionalização exige uma grande experiência no setor, para além de enorme qualidade técnica e de gestão.
A cultura de proximidade instruída na TPF Consultores, associada à capacidade de integração que nos carateriza, permite assegurar uma muito boa adaptação às realidades culturais dos países onde estamos. Por outro lado, a qualidade e multidisciplinaridade da nossa equipa, integrando técnicos qualificados dos mercados onde atua, permite adaptar, sem constrangimentos relevantes, a nossa forma de trabalhar às especificidades técnicas de cada mercado.
De que forma é que o foco em pessoas e os valores da TPF Consultores se refletem no sucesso e na longevidade da empresa?
A TPF Consultores acredita que o foco nas pessoas e nos nossos valores está no centro do nosso sucesso e da nossa longevidade enquanto empresa.
Os nossos valores – Excelência, Proximidade, Integridade e Sustentabilidade – são a base da nossa cultura e orientam a forma como operamos diariamente. Em primeiro lugar, acreditamos que um bom ambiente de trabalho, onde todos se sintam valorizados e respeitados, é essencial para o desenvolvimento de uma equipa forte e motivada. A proximidade com os nossos colaboradores permite-nos entender melhor as suas necessidades e desafios, o que é fundamental para a criação de soluções de benefícios personalizadas. Sabemos que, para garantir a retenção de talento, é necessário ir além das ofertas tradicionais, adaptando as nossas políticas de benefícios para responder às especificidades de cada pessoa.
O meu exemplo, que ingressei na TPF Consultores como estagiário em 1991, e hoje desempenho a função de CEO da empresa, demonstra o valor que damos ao desenvolvimento interno e à progressão na carreira. Acreditamos que a promoção de um ambiente que fomente o crescimento pessoal e profissional é uma das chaves para o sucesso a longo prazo.
O nosso compromisso com a sustentabilidade também é um fator diferenciador, não só no sentido ambiental, mas também na maneira como gerimos o relacionamento com as nossas equipas, clientes e a comunidade. Esta visão integrada e humana contribui para o fortalecimento da nossa posição no mercado e para a nossa continuidade no futuro.
Como é que a TPF Consultores mantém uma cultura organizacional forte ao longo de décadas?
A TPF Consultores tem mantido uma cultura organizacional forte ao longo das décadas, alicerçada em atitudes fundamentais que nos guiam no nosso dia-a-dia.
A responsabilidade é um dos pilares, pois cada colaborador sabe que desempenha um papel importante no sucesso da empresa e na concretização dos nossos objetivos. A expressão “Take Care” reflete a nossa preocupação genuína com o bem-estar das nossas equipas, criando um ambiente onde todos se sentem respeitados e apoiados. A melhoria contínua é outro pilar essencial para a nossa evolução. Estamos constantemente à procura de formas de melhorar, seja nos processos internos, no desenvolvimento das nossas pessoas ou na nossa relação com os clientes. A inovação é igualmente vital, pois estamos sempre atentos às mudanças do mercado e às novas tendências, garantindo que nos mantemos competitivos e líderes.
No entanto, temos enfrentado um desafio crescente nos últimos anos: a escassez de recursos humanos técnicos qualificados para a nossa área de atuação. Este tem sido um obstáculo significativo, mas a nossa resposta tem sido apostar em políticas bem delineadas de recrutamento e de retenção. Só assim conseguimos atrair os melhores profissionais e garantir a continuidade do nosso sucesso. Através de processos estruturados como a avaliação de desempenho e o nosso plano de carreiras, conseguimos identificar e desenvolver o potencial interno, oferecendo aos nossos colaboradores um caminho claro de progressão na empresa.
A nossa cultura organizacional é, portanto, construída sobre a capacidade de adaptação a estes desafios, sempre com um foco no desenvolvimento das nossas equipas e na criação de um ambiente que promove a excelência. É esse compromisso com as pessoas e com a melhoria contínua que tem permitido à TPF Consultores crescer de forma sustentável, com uma base sólida e uma equipa preparada para o futuro.
Quais foram os principais motivos e estratégias que levaram a TPF Consultores a expandir-se para mercados como Angola, Moçambique, Argélia, Timor, Macau e Turquia?
Uma das razões principais para a nossa internacionalização foi o receio de que o mercado português estivesse a seguir caminhos arriscados, o que, mais tarde, se veio a verificar. Outro motivo foi o nacionalismo crescente de algumas empresas de capital exclusivamente português, o que dificultava a nossa expansão no mercado doméstico.
Para nos internacionalizarmos, precisávamos de nos fazer conhecer junto dos nossos potenciais clientes, de sermos insistentes e coerentes nas nossas abordagens comerciais e de manter uma presença constante nos mercados. Em países de expressão portuguesa, isso foi relativamente fácil, pois subsistiam vários laços de longa data que facilitaram as relações comerciais.
Na Argélia, conseguimos competir no setor ferroviário, aproveitando a baixa popularidade da França no país, ao contrário de Marrocos. No entanto, a nossa atividade na Argélia abrandou devido à enorme dificuldade associada aos recebimentos. Na Turquia, a nossa presença deveu-se ao contacto com uma profissional local muito ágil, numa época de perspetivas de um significativo investimento público, mas, devido à forte desvalorização da lira turca, atualmente só mantemos alguma presença no mercado através dos nossos colegas espanhóis.
Como é que a empresa se adapta às especificidades técnicas e culturais de cada país onde atua?
Os portugueses, em geral, adaptam-se bem às diferentes culturas, o que facilita a condução de negócios em mercados estrangeiros. O nosso objetivo é continuar a exportar para os mercados em que já estamos presentes, evitando os erros cometidos no passado, e explorar áreas específicas de especialização, como fizemos no Brasil através da área da indústria mineira.
Qual o impacto da internacionalização na consolidação da TPF Consultores como uma empresa de referência no setor?
O processo de internacionalização da empresa, iniciado há vários anos, e a presença num grupo internacional, moldou a estrutura da empresa, tornando-a numa empresa vocacionada para responder a grandes contratos, quer de obras públicas, quer associados a investimentos privados. A aposta nos mercados internacionais, com participação em grandes contratos em setores como o das infraestruturas de transportes, da água, da saúde e da indústria mineira, entre outros, permitiu potenciar uma equipa fortemente multidisciplinar, quer na área de projeto, quer na de gestão e fiscalização de obras, tornando a TPF Consultores uma empresa de referência do setor.
Por outro lado, o mercado português não valoriza adequadamente a qualidade. Os gestores públicos sentem-se “obrigados” a adjudicar pelo preço mais baixo para evitar acusações de corrupção ou favoritismo. Essa estrutura impede o desenvolvimento das empresas e dos processos de inovação a nível nacional. Assim, para potenciar a interação com entidades que valorizam a excelência e a inovação, é também necessário sair do país. O nosso plano é continuar a internacionalizarmo-nos sempre que tivermos essa oportunidade. Contamos, brevemente, voltar a atingir níveis de internacionalização que sejam superiores, em volume de negócios, aos obtidos em Portugal.
Quais são os planos futuros para continuar a crescer no cenário global?
A manutenção de uma equipa multidisciplinar de excelência e motivada passa pela participação em grandes contratos, de elevada complexidade técnica. Pese embora os grandes investimentos públicos em curso e previstos em Portugal, para uma empresa com a estrutura da TPF Consultores é fundamental manter uma atividade significativa nos mercados internacionais. Tal consegue-se com a consolidação dos mercados onde a TPF Consultores já atua e com o desenvolvimento de novos mercados onde estão previstos investimentos em grandes projetos de infraestruturas, financiadas por multilaterais ou agências de crédito robustas, ou mesmo investimentos privados, como é o caso da indústria extrativa, nomeadamente em África e no médio Oriente.
Por outro lado, o facto de a TPF Consultores estar integrada num grupo internacional, presente em mais de 50 países, permite criar sinergias entre as diversas empresas do Grupo, permitindo estender a presença da empresa a outras áreas geográficas. Casos como o Brasil, onde a TPF Consultores está presente de forma contínua há vários anos, e os Camarões, onde recentemente ganhou um importante contrato na área aeroportuária com a sua congénere francesa, são exemplos das oportunidades criadas por essas sinergias.
Como está a ser a experiência de gerir e fiscalizar a empreitada da Linha Circular do Metro do Porto, um projeto de grande complexidade técnica?
Como refere, trata-se de um projeto de grande complexidade técnica e, como tal, muito motivador e desafiante, que obrigou a mobilizar uma vasta equipa com todas as valências técnicas necessárias. Uma obra desta envergadura exige uma equipa técnica de fiscalização muito experiente, em áreas como Qualidade, Coordenação da Segurança, Gestão Contratual (Planeamento e Controlo de Custos), Ambiente, Controlo da Gestão de Risco e Salvaguarda do Património. Todas estas áreas integradas, naturalmente, na Fiscalização propriamente dita, dos trabalhos de Construção Civil, Eletromecânica e Via-Férrea.
Como é que a TPF Consultores garantiu a qualidade e a segurança num projeto com tantas componentes técnicas distintas?
Temos implementado um Sistema de Gestão da Qualidade que engloba esta prestação de serviços, por forma a garantir a Gestão Integrada da Qualidade, Segurança e Ambiente, o que é realizado através da implementação de uma série de Sistemas de Gestão, geridos em áreas distintas de atuação, necessariamente interligados entre si.
Na Metodologia de Gestão da Qualidade integramos os seguintes temas que estão intrinsecamente ligados à gestão da qualidade: Conhecimento do Projeto, Sistema de Gestão e Controlo da Qualidade, Gestão do Sistema de Informação, Gestão Documental e Controlo Administrativo, Sistema Integrado de Segurança e Encerramento da Empreitada.
Na Metodologia de Gestão e Coordenação de Segurança e Saúde adotada no âmbito deste contrato, compete à TPF Consultores, através do seu Coordenador de Segurança em Obra, assegurar as orientações e objetivos que são definidos na gestão da informação e no controlo da segurança, garantindo o cumprimento dos objetivos do Dono da Obra.
Na Metodologia da Implementação do Sistema de Gestão Ambiental, o papel da TPF Consultores tem sido o de garantir, numa colaboração estreita com o Dono da Obra, a implementação do Plano de Gestão do Ambiente em Obra (PGA), assegurando, igualmente, a conformidade legal em ambiente e o cumprimento das medidas designadas pela Declaração de Impacto Ambiental do Projeto e demais documentos decorrentes do Procedimento de Avaliação de Impacte Ambiental, bem como outros requisitos ambientais do Dono da Obra.
Poderia destacar os desafios e soluções encontradas na fiscalização dos trabalhos do Plano Geral de Drenagem de Lisboa?
A “Empreitada de Execução dos Túneis de Drenagem da Cidade de Lisboa e Intervenções Associadas” concretiza uma das intervenções mais estruturantes do Plano Geral de Drenagem para o período 2016-2030 e tem o objetivo de controlar as inundações recorrentes em vários locais da cidade. A obra inclui a construção de dois túneis principais: o Túnel Monsanto/Santa Apolónia (TMSA), com 4,4 km, e o Túnel Chelas/Beato (TCB), com 1,1 km.
Além destes, integram-se infraestruturas essenciais, como o desvio dos caneiros de Alcântara e de Chelas, câmaras de interceção de caudais na Av. da Liberdade, Rua de Santa Marta e Av. Almirante Reis e obras de ligação e descarga no estuário do Tejo. Também foram previstas soluções de reutilização de efluentes tratados para rega de espaços verdes e limpeza urbana.
Os principais desafios e soluções encontradas relacionam-se com 5 pontos distintos. O primeiro relaciona-se com as condicionantes urbanas e interferências com infraestruturas, uma vez que o traçado atravessa uma zona densamente urbanizada e se cruza com três estruturas do Metropolitano de Lisboa. Tal exige soluções precisas para evitar impactos, tendo sido necessário otimizar o traçado, bem como implementar um Sistema de Instrumentação com mais de 1000 pontos de monitorização, de modo a medir deformações e controlar o comportamento em edifícios, estradas e infraestruturas.
Outro ponto refere-se às condições geotécnicas e arqueológicas, uma vez que a escavação ocorre em zonas com terrenos muito heterogéneos e de sensibilidade arqueológica elevada, exigindo cuidados redobrados. Tal conduziu à utilização de uma TBM EPB (tuneladora Earth Pressure Balance), a qual permite manter a estabilidade do terreno e minimizar impactos estruturais, enquanto o acompanhamento arqueológico permanente assegura a preservação do património.
Há, também, a questão dos solos e dos novos requisitos ambientais decorrentes da entrada em vigor, em 2021, do Regime Geral de Gestão de Resíduos (RGGR), o qual impôs restrições ao destino dos solos escavados, aumentando os desafios logísticos e financeiros. Tal obrigou à implementação de um plano de amostragem rigoroso, permitindo reduzir em 58% a quantidade de solos classificados como contaminados.
É de referir, também, o impacto dos estaleiros urbanos. Com efeito, enquanto os estaleiros de Campolide e do Beato têm impacto reduzido, os estaleiros localizados na Av. da Liberdade, em Sta. Marta, na Av. Almirante Reis e em Sta. Apolónia afetam, sobremaneira, a circulação de veículos e impactam a população, pelo que é necessário manter um diálogo contínuo com as Juntas de Freguesia e estabelecer um planeamento estratégico para minimizar os transtornos.
Por fim, salienta-se a complexidade do modelo de execução (“conceção-construção”), que implica a necessidade de adaptar e validar constantemente o projeto, gerando desafios na gestão contratual e na fiscalização. Assim, foi fundamental mobilizar uma equipa de fiscalização altamente especializada, cobrindo áreas como planeamento, qualidade, segurança, gestão ambiental, arqueologia e gestão de risco.
A complexidade desta obra exigiu soluções inovadoras e um acompanhamento rigoroso para garantir que os trabalhos decorrem dentro dos padrões técnicos e ambientais, assegurando a funcionalidade dos túneis e a resiliência da cidade de Lisboa face às alterações climáticas.
Quais foram as principais aprendizagens e inovações incorporadas ou resultantes deste projeto?
A importância da comunicação e a partilha de informação dentro da equipa é fundamental, pois, sendo uma equipa tão vasta, dividida em diversas áreas funcionais, as falhas de comunicação poderiam conduzir a erros processuais. Tornou-se, assim, essencial implementar um rigoroso controlo de obra, com recurso extensivo às técnicas usuais.
Contudo, a formalização dos procedimentos operativos relacionados com a aplicação da metodologia BIM e dos pressupostos orientadores a considerar na gestão de processos e dos resultados da aplicação da referida metodologia, sobretudo no que concerne à gestão contratual das várias partes envolvidas, assume uma importância decisiva no desenvolvimento e sucesso do empreendimento.
Assim, ao contrário do que ainda é habitual, a fiscalização teve um papel ativo na definição do BEP (BIM Execution Plan), documento onde se definiu como seria partilhada a informação e como deveria estar organizada. Esta empreitada tem um CDE (Common Data Environment) com controlo de versões e gestão de permissões, através da qual se partilha toda a informação relevante do projeto e da empreitada. O recurso a esta plataforma assume particular relevância pela dimensão da obra e pela sua duração no tempo. A dimensão foi, também, relevante na estratégia adotada na análise e auditoria para efeito de controlo da qualidade dos modelos BIM. Em virtude da quantidade massiva de dados, foram desenvolvidos dashboards de PowerBI para facilitar essa análise.
Ao nível do registo fotográfico, fundamental para suportar as diferentes áreas funcionais, introduziram-se voos mensais de drone, com os quais se geram modelos 3D recorrendo a fotogrametria. Como nem todas as frentes se localizam em zonas em que seja possível voar, mesmo utilizando um drone de classe C0 (menos de 250 g), optou-se nesses casos por recorrer a câmaras 360º. São obtidos vídeos no terreno, georreferenciados, que são processados e transformados num conjunto de fotos 360º. É assim possível comparar fotos com datas diferentes, lado-a-lado, ou comparar com modelos BIM. Foram ainda instaladas uma série de câmaras fixas que obtêm uma foto por hora, que são utilizadas para gerar vídeos timelapse. Por fim, foi ainda desenvolvida uma aplicação em web browser, com acesso móvel, para produção automática de relatórios fotográficos. Esta aplicação permite carregar as fotos com metadados personalizados, que são utilizados para filtrar as fotos a colocar nos relatórios.
A TPF Consultores também é responsável pela Fiscalização, coordenação de segurança em obra e gestão técnica das empreitadas de construção da nova ligação ferroviária de Évora à linha do leste. Poderia destacar os principais aspectos dessa obra?
O contrato para a Prestação de Serviços de Fiscalização, Coordenação de Segurança em Obra e Gestão Técnica das empreitadas de construção da Nova Ligação Ferroviária de Évora à Linha do Leste ascende a 18 milhões de euros, para um período de 48 meses.
Para a execução deste serviço, assegurado pela CERELINEX, empresa detida integralmente pela TPF Consultores, estava previsto mobilizar uma equipa pluridisciplinar de 5740 homens x mês, portanto, cerca de 120 técnicos por mês, em média, e a mobilização de uma frota automóvel (ligeiros e todo-o-terreno) de cerca de 4362 viaturas x mês, isto é, cerca de 90 viaturas por mês, em média.
Do investimento global de cerca de 650 milhões de euros no Corredor Internacional Sul, o valor dos contratos de empreitada sob a fiscalização da CERELINEX ultrapassa 350 milhões de euros distribuídos, até ao momento, por 12 empreitadas/contratos.
Este projeto apresenta uma relevância estratégica na ligação ferroviária Sines / Caia e no transporte de mercadorias, com relevante impacto na economia portuária e nacional.
A ligação ao porto de Sines, através da construção da nova linha (desde a atual estação de Évora até à linha do Leste, na zona fronteiriça Elvas / Caia), conduz a uma redução do trajeto de cerca de 140 km, retirando 3,5 horas ao tempo de viagem atualmente praticado, aumentando a capacidade de transporte diário de 36 comboios de 400m para 50 comboios de 750m, ou seja, um aumento significativo da capacidade e uma redução do custo de transporte de mercadorias em cerca de 50%.
Para além das óbvias vantagens em termos económicos, esta solução aporta ainda inegáveis vantagens em termos de segurança rodoviária, na medida em que se eliminam passagens de nível.
A construção de uma linha ferroviária nova, com extensão de 90 km, não ocorria em Portugal há mais de um século. As caraterísticas da plataforma, que devem ser adequadas para velocidades de projeto de 250 km/h, para comboios de passageiros, e de 120 km/h, para comboios de mercadorias, determinaram a adoção de especificações de projeto, quer a nível das condições técnicas especiais, quer de instrumentação de registo, monitorização e controlo, mais exigentes que o tradicional, nomeadamente no controlo dos trabalhos de execução de aterros e de estabilização de taludes.
A plataforma está a ser construída para via dupla, sendo que, nesta fase, será implantada apenas uma via (via única), ficando tudo preparado para, numa fase futura, a médio prazo, se implantar a via dupla. No caso das obras de arte especiais (pontes e viadutos), foram construídas, nesta fase, as fundações e o arranque dos respetivos pilares, por forma a que a duplicação da via se venha a processar com o mínimo de impactos sobre a exploração ferroviária.
Ao nível do projeto ferroviário, o que nos pode dizer sobre o vosso envolvimento no Projeto de quadruplicação da linha de cintura e da linha do Norte entre Castanheira e Azambuja?
A Infraestruturas de Portugal (IP) tem em desenvolvimento o Projeto de Execução e o Estudo de Impacte Ambiental para a Quadruplicação da Linha de Cintura (Roma/Areeiro – Braço de Prata) e a Modernização da Linha do Norte até à Estação da Castanheira, de forma a poder acomodar a nova Ligação Ferroviária de Alta Velocidade Lisboa – Porto.
Estas intervenções ocorrem ao longo de aproximadamente 47 km de linhas existentes, originando três contratos autónomos para Estudos e Projetos, sendo que a TPF Consultores (em consórcio) se encontra a desenvolver dois deles, numa extensão de 30 km: a Quadruplicação da Linha de Cintura (Roma/Areeiro – Braço de Prata) e Modernização da Linha do Norte (Braço de Prata – Sacavém), com 16 km, e a Modernização da Linha do Norte entre Castanheira do Ribatejo e Azambuja, com 14 km.
Paralelamente, encontra-se em estudo o Terminal Técnico do Oriente, ou seja, o parque de operação do material circulante da Linha de Alta Velocidade, em que a TPF Consultores (em consórcio) também se encontra envolvida na execução dos estudos.
Estes importantes empreendimentos visam aumentar a capacidade operacional do sistema ferroviário, melhorando as condições de mobilidade, permitindo assegurar mais comodidade aos milhares de passageiros que utilizam o transporte ferroviário nas suas deslocações diárias, quer na Área Metropolitana de Lisboa, quer a nível nacional na ligação Lisboa/Leiria/Coimbra/Porto.
A concretização destes empreendimentos permitirá criar as condições para a implementação em Portugal da nova Linha de Alta Velocidade entre Porto e Lisboa, que se encontra em fase de lançamento dos respetivos concursos de conceção/construção.
No que respeita ao setor de projeto de grandes obras hidráulicas, o que nos pode dizer acerca da Captação do Pomarão e da sua Ligação à Albufeira de Odeleite, bem como da Barragem do Pisão?
A Captação do Pomarão, cujo projeto a TPF Consultores elaborou em consórcio, destina-se a captar água no rio Guadiana, junto à povoação do Pomarão, para reforçar o abastecimento urbano ao Algarve, cuja situação de défice crónico é bem conhecida atualmente.
A água será captada unicamente durante os períodos pluviosos de Inverno e será transferida para a albufeira da barragem de Odeleite, onde será armazenada, de forma a poder ser utilizada durante os períodos de estiagem e de seca.
A obra encontra-se, neste momento, em concurso público baseado no nosso projeto. O investimento em causa é da ordem de
100 milhões de euros.
Já a Barragem do Pisão, localizada perto da povoação do Crato e cujo projeto a TPF Consultores elaborou recentemente em consórcio, destina-se a proporcionar ao Alto Alentejo o mesmo desenvolvimento económico que o Alqueva proporcionou ao Baixo Alentejo. Trata-se, pois, de uma óbvia medida de justiça social.
Esta barragem permitirá irrigar mais de 5 000 hectares, reforçar o sistema de abastecimento urbano existente e produzir energia renovável, quer hidroelétrica, através de uma central de pé de barragem, quer solar, através de painéis fotovoltaicos flutuantes instalados na albufeira.
O investimento em causa respeitante unicamente à barragem é da ordem de 70 milhões de euros.
A obra encontra-se, neste momento, na sua fase inicial de construção.
Como é que a TPF Consultores integra práticas de sustentabilidade nos seus projetos, desde a conceção até à execução?
Na fase de conceção dos projetos, elaboramos matrizes multicritério para avaliação das melhores soluções aplicáveis, onde a identificação de soluções que possam contribuir para uma maior circularidade, produção de energias renováveis, reutilização de águas residuais, fixação de carbono e outras medidas que permitem melhorar a performance do projeto ao nível da sustentabilidade, são sempre consideradas.
Podemos dizer que, na maioria dos projetos em que estamos envolvidos desde a fase de conceção, são implementadas medidas que visam a sustentabilidade dos mesmos. As medidas mais comuns passam por reduções de consumo de água, reutilização de águas residuais, utilização de energias renováveis e a utilização de materiais com menor pegada de carbono. Em alguns projetos mais específicos, nas áreas do tratamento de águas residuais, têm sido avaliadas medidas de sequestro de carbono, produção de biometano, aproveitamento de nutrientes para a agricultura, redução de emissões de metano, entre outras.
A fase de conceção é a que possibilita implementar soluções que terão um impacto mais significativo na sustentabilidade do projeto ao longo da sua vida útil. Na fase de construção, o foco está nos materiais e nas técnicas de construção, que também devem ser equacionados, de modo a minimizar a respetiva pegada ambiental.
Poderia partilhar algum exemplo de projeto que evidencie o compromisso da empresa com a responsabilidade ambiental?
No projeto que estamos a realizar para remodelação das Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) do Porto, com o objetivo de adaptação das mesmas à nova diretiva de águas residuais urbanas, tem havido uma grande preocupação em avaliar soluções tecnológicas que permitam uma gestão sustentável das instalações a longo prazo, passando pela análise de soluções de tratamento com o menor consumo de energia, por implementar soluções que possam maximizar a produção de biometano, o qual pode ser injetado na rede de gás ou utilizado em transportes públicos da cidade, pela produção de energia elétrica de origem solar, pela utilização de soluções de tratamento que permitam reduzir o volume de lamas a transportar e, assim, reduzir o impacto associado ao seu transporte, bem como adotar uma das soluções mais inovadores, que passa pelo sequestro do carbono existente nas lamas.
Neste caso, sentimos claramente que é na fase de conceção que se consegue alcançar o maior impacto na sustentabilidade dos projetos.
Como é que a TPF Consultores tem utilizado inovações tecnológicas, como o BIM e ferramentas digitais, para melhorar a eficiência e a qualidade dos seus projetos?
A inovação tecnológica é importante para a TPF Consultores e metodologias como o BIM têm sido relevantes para aprimorar processos, melhorar a comunicação e aumentar a qualidade dos projetos. Desde que os entregáveis dos projetos passaram a ser gerados a partir de bases de dados com informação do projeto, houve uma redução significativa do esforço necessário para garantir a coerência entre as respetivas peças. Além disso, desbloqueou o potencial da automação e permitiu o desenvolvimento de dashboards de análise, que permitem validar rapidamente a informação de base e identificar erros. Essas mudanças libertaram as equipas para tarefas de maior valor acrescentado, incentivando-as a manter altos níveis de desempenho.
Qual o papel da inovação na preparação da empresa para os desafios futuros do setor?
A inovação é essencial para a estratégia da empresa, permitindo responder rapidamente às mudanças do setor. Investimos em tecnologia e metodologias inovadoras para garantir a agilidade e flexibilidade necessárias para enfrentar os desafios do mercado. O nosso centro de inovação, com uma equipa dedicada, acompanha tendências e promove uma cultura organizacional aberta à colaboração e criatividade. Com isso, alcançamos maior eficiência operacional, redução de custos e melhoria contínua da qualidade, consolidando a nossa reputação. Continuaremos a investir em soluções inovadoras para garantir crescimento sustentável e liderança de mercado.
Qual é o papel da gestão no sucesso dos contratos de fiscalização da TPF Consultores e na manutenção dos seus padrões de qualidade?
A contribuição da TPF Consultores para o sucesso de grandes contratos é, antes de mais, um trabalho de antecipação e controlo dos processos executivos das diversas áreas, em estreita colaboração com o Dono da Obra, para que o(s) Empreiteiro(s) levem a bom porto a conclusão da empreitada, o mais possível dentro dos prazos estabelecidos e com uma gestão dos custos que defenda os interesses do Dono da Obra, nunca perdendo de vista, a Gestão da Qualidade final da obra. Este trabalho é necessariamente realizado por uma equipa muito experiente, muito competente e com o foco na defesa dos interesses do Dono da Obra.
Como é que a empresa assegura que os projetos sejam entregues dentro do prazo, custo e qualidade esperados?
Acreditamos que estes objetivos apenas podem ser garantidos quando estão profundamente enraizados na cultura da empresa. Quando essa cultura existe, ela rege todas as nossas decisões e o sucesso final assenta, muitas vezes, nas decisões discretas tomadas ao longo do processo.
Naturalmente, é um enorme desafio nos dias de hoje fazer convergir a qualidade com os prazos e custos que o mercado nos impõe, mas por muitas ferramentas de gestão que tenhamos à nossa disposição, acreditamos que sem uma cultura e uma mentalidade focada na excelência, será sempre muito difícil manter um nível de qualidade elevado, o qual será sempre o garante do sucesso a média-longo prazo de qualquer empresa.
Em projetos de grande escala, como é que a TPF Consultores garante a segurança e saúde dos trabalhadores e utilizadores?
Na TPF Consultores, a segurança e a saúde dos trabalhadores e utilizadores são prioridades fundamentais em qualquer projeto, especialmente em obras de grande escala. Para garantir um ambiente de trabalho seguro adotamos um Sistema Integrado de Gestão da Qualidade, Segurança e Ambiente, certificado conforme as normas ISO 9001, ISO 45001 e ISO 14001.
Além disso, todos os trabalhadores devem seguir o preconizado nos Desenvolvimentos Práticos dos Planos de Segurança e Saúde (DPPSS), específicos de cada projeto.
Quais são as principais estratégias adoptadas para minimizar riscos em obras complexas?
Em projetos de grande complexidade, a TPF Consultores adota estratégias preventivas e corretivas para minimizar riscos. Algumas das principais medidas incluem o planeamento rigoroso e a identificação antecipada de riscos, procedimentos de emergência bem definidos, com equipas preparadas para atuar em situações críticas e supervisão contínua e cultura de melhoria contínua, garantindo que qualquer incidente é analisado e serve de base para ações preventivas futuras.
Com estas estratégias, a TPF Consultores garante que as obras são executadas com o mais alto nível de segurança, minimizando riscos e protegendo a integridade dos trabalhadores e do meio ambiente.
Quais são os principais desafios que o setor de engenharia e arquitetura enfrentará nos próximos anos, especialmente em relação à sustentabilidade e transformação digital?
O principal desafio é garantir a atratividade do setor, que permita desenvolver equipas altamente qualificadas, enquanto se assegura a sua motivação.
Sem dúvida que a digitalização tem associado um cariz de inovação que aumenta a atratividade das empresas de consultoria, aspeto este que tem sido uma aposta da TPF Consultores, com o investimento, de há alguns anos para cá, num centro dedicado exclusivamente à inovação e à promoção de uma cultura de inovação dentro das equipas.
Por outro lado, a sustentabilidade está a criar grandes desafios à sociedade atual, nomeadamente no que se refere à dualidade entre a atividade económica e o consumo da sociedade e a necessidade de uma indústria que se quer responsável, a todos os níveis. Do ponto de vista técnico, uma indústria responsável carece de equipas experientes e multidisciplinares, com uma ampla capacidade de desenvolver soluções cada vez mais sustentáveis, respondendo às necessidades dos clientes e às ansiedades da sociedade. É também aqui que a atratividade do setor é fundamental e que é um dos focos da TPF Consultores, promovendo valores como a sustentabilidade, motivando a equipa para a capacitação na sustentabilidade das soluções e angariando contratos onde esses valores e capacidades podem ser exponenciados.
Como é que a TPF Consultores se prepara para continuar a ser uma referência no mercado num contexto de mudanças tecnológicas e ambientais?
Como já referido, há vários anos que a TPF Consultores tem um centro dedicado à inovação e novas tecnologias, que desenvolve ferramentas que, por um lado tornam a sua atividade mais eficiente, e que, por outro, permitem fornecer novos serviços aos clientes, tornando o âmbito dos nossos serviços mais diversificado e integrado.
Do ponto de vista ambiental, há atualmente uma procura de soluções cada vez mais sustentáveis, que permitam tornar a indústria da Arquitetura, Engenharia e Construção mais responsável, não só, mas também do ponto de vista ambiental.
Nesse sentido, a TPF Consultores promove o estudo de soluções cada vez mais sustentáveis nos projetos em que está envolvida, procurando também desenvolver ferramentas que permitam verificar e demonstrar a eficiência das soluções, como é o exemplo de ferramentas de cálculo de pegada de carbono. Adicionalmente, o Grupo TPF tem uma equipa de trabalho internacional onde se procura promover e acelerar a implementação de medidas associadas à sustentabilidade do setor.
Carlos Baião, Presidente do Conselho de Administração da TPF Consultores
Mensagem Final
Ao longo destes 45 anos, a TPF Consultores construiu uma história de crescimento e sucesso, alicerçada na dedicação das nossas equipas, na confiança dos nossos clientes e na parceria com todos aqueles que contribuíram para a nossa trajetória. A cada colaborador, parceiro e cliente que fez parte desta jornada, deixamos o nosso sincero agradecimento. O compromisso com a Excelência, a Proximidade, a Integridade e a Sustentabilidade tem sido a nossa força motriz, permitindo-nos superar desafios e consolidar a nossa posição como referência no setor da engenharia e consultoria.
Olhamos para o futuro com a mesma determinação, continuando a apostar na inovação tecnológica, na sustentabilidade e no desenvolvimento das nossas equipas. A nossa presença global, a experiência multidisciplinar e a capacidade de adaptação permitirão que a TPF Consultores continue a inspirar confiança e a entregar soluções de engenharia de excelência. Continuaremos a expandir fronteiras, promovendo boas práticas e reforçando o nosso compromisso com projetos que impulsionam o progresso e criam impacto positivo nas comunidades onde atuamos. Em súmula, vamos continuar o nosso trabalho de Building the World, Better.