“A presença de mais fisioterapeutas no SNS é imperativa e peca por tardia”

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Na edição de 9 de maio da Revista Pontos de Vista, Nuno Barreto, fisioterapeuta com 20 anos de carreira e Diretor Clínico do grupo NBfisio Clinics, partilha a sua visão sobre os desafios e oportunidades da profissão, no contexto do XII Congresso Nacional de Fisioterapeutas, o primeiro organizado pela Ordem dos Fisioterapeutas. Nuno Barreto analisa o impacto da criação da Ordem, a necessidade de reforço da presença da Fisioterapia no SNS e o papel fundamental dos fisioterapeutas na promoção da saúde, prevenção da doença e reabilitação da população. Uma reflexão comprometida com a valorização da profissão e com a construção de um futuro mais integrado e acessível na prestação de cuidados de saúde.

O XII Congresso Nacional de Fisioterapeutas (CNF) de 9 e 10 de Maio será o primeiro organizado pela Ordem. Que significado tem este momento para a profissão?

Os fisioterapeutas enquanto profissionais autónomos, têm na sua Ordem profissional o fim de regular o acesso e o exercício da profissão, que privilegia a defesa dos interesses dos utentes, fazendo respeitar o direito dos cidadãos à saúde.

O primeiro CNF aconteceu em 1986, temos feito um caminho de afirmação da profissão que se iniciou com a Associação Portuguesa de Fisioterapeutas (APF) e que neste momento, com a criação da Ordem faz todo o sentido ser continuado e até reforçado.

A Fisioterapia é uma disciplina científica e autónoma. O estatuto profissional da Fisioterapia foi introduzido em 1966, sendo atualmente referenciada no grupo dos “profissionais intelectuais e científicos”. O regulamento que definiu o “ato de Fisioterapia” veicula legalmente todos os fisioterapeutas registados na ordem, enquadrando competências, autonomia e responsabilidade, que independentemente do contexto, apenas pode ser realizado por fisioterapeutas.

 

Sente que deveria existir espaço neste Congresso para se discutir a integração plena da fisioterapia no SNS?

O presente e o futuro é a integração plena da fisioterapia no SNS. Com cada vez maior autonomia e independência de outras profissões. Este será um dos temas discutidos no Congresso, com maior relevância para o acesso dos utentes à Fisioterapia quer sejam integrados em equipas multidisciplinares ou em contexto próprio de consulta autónoma de Fisioterapia.

A carência de recursos humanos em todos os grupos de profissionais de saúde, abre portas para que o fisioterapeuta com o seu grau de conhecimento global e diferenciação, decorrente do domínio seu corpo de saberes, possa assumir funções de autonomia, quer no diagnóstico, quer na intervenção, que acrescentem valor na cadeia de cuidados prestada ao utente.

 

A criação da Ordem dos Fisioterapeutas (OF) foi um passo essencial para o reconhecimento e regulação da profissão. Em termos práticos, como profissional do Setor como vê a sua profissão no Setor?

A criação da OF, foi determinante para a regulamentação plena da profissão e para a defesa dos utentes. A autonomia da profissão e o exercício técnico profissional, resulta de um reconhecimento de competências e de um vasto corpo de saberes, próprios da Fisioterapia, que preserva a autonomia da profissão e que solicita apoio multidisciplinar, quando necessário. As normas deontológicas aplicáveis à profissão, contribuem para a autonomia e responsabilidade profissional e ética dos fisioterapeutas. Na sua conduta profissional, o fisioterapeuta atua com independência e isenção por forma a dignificar a profissão, desenvolve uma prática informada, capacitando o utente para decidir. O diagnóstico e a intervenção em Fisioterapia são os pontos-chave para a sua autonomia, que é uma mais valia para a comunidade, desburocratizando e favorecendo a prestação de cuidados de Fisioterapia. A criação da Ordem veio responsabilizar os fisioterapeutas pela sua autorregulamentação, e com isso, dar as ferramentas – a quem de direito – para contribuir para um caminho que se quer, construtivo, dinâmico e plural. Desde a sua criação em 2021, a Ordem tem potenciado e contribuído para a melhoria na Fisioterapia no panorama nacional, falta agora fazer cumprir o desígnio de todos os fisioterapeutas tal como exposto o artigo 4 do regulamento nº490/2023, ponto 5, onde podemos ler: “O fisioterapeuta goza de plena autonomia profissional e é responsável por todo o processo de Fisioterapia, desde a avaliação inicial até à conclusão do mesmo”. E por sua vez, o artigo 7 que é claro e diz respeito à “Liberdade de exercício” referindo explicitamente que “o fisioterapeuta goza de plena liberdade e autonomia para praticar os atos próprios da profissão, nos termos da lei”.

 

Fale-me um pouco de si e do seu projeto, as Clínicas NBfisio, e os principais serviços/valências existentes?

Sou fisioterapeuta desde 2005, e é com muito orgulho que completo este ano 20 anos de carreira. Foram 20 anos de muitas aprendizagens e crescimento. Com esforço e humildade realizei o sonho de construir com a minha equipa o grupo de saúde -NBfisio- de referência com 5 clínicas e 2 lojas de material ortopédico. Somos uma equipa de 30 fisioterapeutas e oferecemos um elevado padrão na prestação de cuidados de Fisioterapia em Almada, Estoril, Lisboa, Olhão e Alcantarilha, com especializações múltiplas e direcionadas para as necessidades de cada pessoa. Optámos pela zona da Grande Lisboa e Algarve por serem zonas do país com grande potencial humano e geográfico e também porque sou algarvio de nascença e realizei grande parte da minha formação em Almada e Lisboa. Passei como fisioterapeuta pelo Centro Hospitalar de Lisboa Central – Curry Cabral, São José e Santa Marta entre 2005 e 2015. Para além da área da Fisioterapia, temos outras valências na NBfisio, como Osteopatia, Acupuntura, Terapia da fala, Nutrição, Podologia ou Psicologia.

Na NBfisio temos um compromisso de exigência nos cuidados de saúde prestados a todos os utentes e através das melhores práticas, recapacitar integralmente e de forma informada e partilhada desde 2009. Trabalhamos de forma multidisciplinar, por forma a potenciar a reabilitação plena sempre que possível.

Com uma população cada vez mais idosa e com profissões cada vez mais sedentárias, o universo de situações com que temos de lidar diariamente, vai de patologias da coluna vertebral a tendinopatias do ombro, cotovelo e mão. Através de planos de tratamento adequados, temos taxas de sucesso e satisfação de mais de 90%.

 

Um dos pontos críticos é a escassez de fisioterapeutas no Serviço Nacional de Saúde. Como está a atual presença de profissionais no SNS?

De acordo com um relatório do Eurostat, citado pelo Bastonário da OF, Dr. António Lopes, trabalhavam na União Europeia cerca de 611 mil fisioterapeutas, em 2021, o que equivale a uma média de 136,7 fisioterapeutas por 100 mil habitantes. Países como a Alemanha, a Holanda ou Bélgica têm mais de 200 por 100 mil habitantes. Na mesma base de cálculo, existem em Portugal, em média, apenas 120 fisioterapeutas por cem mil habitantes. O que significa que apesar da quantidade de fisioterapeutas que se formam anualmente, temos um rácio muito inferior ao recomendável. No caso do SNS é ainda mais gritante essa necessidade, que, com menos de 10% de todos os fisioterapeutas existentes no país presta cuidados à globalidade da população portuguesa, com sérias limitações no acesso à Fisioterapia quer seja em cuidados primários, internamentos, continuados ou ambulatório.

 

Existem cerca de 12 mil fisioterapeutas em Portugal, mas o rácio por cem mil habitantes (cerca de 120) está abaixo da média europeia. O que é necessário fazer para inverter esta realidade?

Para inverter esta realidade é necessário fixar os jovens que concluem a sua licenciatura em Portugal! São imperativas, políticas de integração destes fisioterapeutas, no setor publico, social e privado,  com melhores vencimentos e incentivos, acesso a habitação digna, valorização profissional com carreiras justas e progressivas e uma melhoria global das condições de vida, mais e melhores incentivos à formação contínua. Mais tempo para a família e lazer e uma carga horária laboral que seja mais flexível e ajustável aos objetivos profissionais e pessoais de cada um.

 

Com 700 a 800 novos licenciados todos os anos, o país forma fisioterapeutas em número suficiente. O problema está na sua colocação no sistema público?

O número de novos licenciados que sai todos os anos das nossas Universidades seria mais que suficiente para suprir todas as necessidades do país se grande parte destes não imigrasse. O que acontece, é que por falta de opções que dignifiquem a profissão e os profissionais, os jovens se veem obrigados a sair em busca de melhores condições de vida e carreira, o que é transversal a outras áreas como a medicina ou enfermagem.

 

Que impacto teria, a médio prazo, uma maior presença de fisioterapeutas no SNS ao nível da prevenção, reabilitação e gestão de doenças crónicas?

A presença de mais fisioterapeutas no SNS é imperativa e peca por tardia. O seu impacto na prevenção é determinante para uma maior qualidade de vida da população. A reabilitação e gestão das doenças crónicas com maior recurso à Fisioterapia, permitiria ao Estado, a poupança de dezenas de milhões de euros, gastos em fármacos, que poderiam em muitos casos ser substituídos por equipas de fisioterapeutas que com recurso a terapêuticas funcionais e integrativas poderiam dar resposta a grande parte dos problemas de que padece a população.

 

Para além do setor público, que papel têm os fisioterapeutas na comunidade, no setor privado e em contextos multidisciplinares?

Mais de 90% dos fisioterapeutas realizam a sua atividade profissional fora do setor público. Isto acontece porque o Estado e a própria organização do serviço de saúde negligenciam o papel da Fisioterapia e consequentemente do fisioterapeuta. A sociedade por sua vez, valoriza cada vez mais, o que pode parecer constrangedor, no entanto, os fisioterapeutas estão cada vez mais em contexto multidisciplinar, basta ver que desde Ginásios, Câmaras Municipais, Piscinas, Empresas ou Escolas contam cada vez mais com estes profissionais nos seus quadros. Esta dinâmica é imparável e determinante para a melhoria da qualidade de vida das populações.

 

Para finalizar, que mensagem de deixar aos seus clientes/pacientes, parceiros e fornecedores quanto ao futuro da Clínicas NBfisio e o que deve ser feito para a profissão ser ainda mais relevante no seio do setor da Saúde em Portugal?

Ao longo dos últimos 20 anos, temos assistido à afirmação da Fisioterapia de forma consistente e determinante para fazer cumprir o acesso universal a cuidados de saúde. Muito foi feito, mas muito está ainda por fazer. Cada um, a seu tempo deverá contribuir para que esta realidade possa estar disponível para todos, quer no setor público e social, quer no setor privado. Gostaria de deixar uma mensagem positiva e afirmativa a todos os parceiros, colaboradores e pacientes das clínicas NBfisio, temos construído uma Fisioterapia melhor, mais capacitada e com resultados cada vez mais sustentados e independentes. Juntos, construímos um futuro melhor para todos, só temos de continuar e nunca desistir! Pode demorar mais algum tempo, mas será sempre inevitável a afirmação da Fisioterapia como fator determinante de recapacitação, integração e prevenção na saúde na doença e no bem-estar geral da população. Para tal, a OF tem um papel determinante, para junto de todos os agentes governativos, enquanto representante da Fisioterapia e dos fisioterapeutas, zelar pelo acesso indiscriminado e generalizado de toda a população a cuidados de Fisioterapia e fazer assim cumprir o lema do Congresso “ Fisioterapia 360º: Identidade e Valor”!

 

nº da Cédula Ordem dos Fisioterapeutas nº 10472,

Licença da ERS Lic 18098C.

Registo E14564.

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Revista Pontos de Vista Edição 140

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