Numa era marcada por profundas transformações económicas, sociais e institucionais, a liderança feminina afirma-se, cada vez mais, como um pilar essencial para o progresso sustentável. Em Angola, um dos rostos que personifica essa nova geração de líderes é Cristina Silvestre, Presidente do Conselho Diretivo da Ordem dos Contabilistas e dos Peritos Contabilistas de Angola (OCPCA). Eleita com expressiva legitimidade, Cristina Silvestre assumiu o compromisso de reforçar o prestígio, a credibilidade da profissão contabilística no país, a reabilitação da Academia da Ordem, o rigor na fiscalização e a aposta numa formação contínua e ética. Saiba mais na Revista Pontos de Vista!
Quais foram as prioridades definidas ao assumir a presidência da OCPCA?
O nosso Plano de Mandato 2024 – 2026 tem seis vetores que definimos como prioridades, nomeadamente:
- Reestruturar e organizar internamente a OCPCA;
- Uma ordem financeiramente estável e transparente;
- Regular a Profissão de forma efetiva e impactante;
- Formar os membros para estarem à altura dos desafios da profissão;
- Uma ordem respeitada nacional e internacionalmente;
- Normalização da Contabilidade e da Auditoria.
Que impacto teve o relançamento do Exame Nacional na valorização da profissão?
Estatutariamente falando o Exame Nacional de Contabilidade é anual, infelizmente o último exame foi em 2022. Por isso, tivemos 1727 estagiários a fazerem o mesmo, isso quer dizer que devolvemos a esperança de dias melhores a cada um deles. neste tempo de espera muitos perderam grandes oportunidades de emprego por falta da certificação a Membro OCPCA. Alguém uma vez disse-me e passo a citar: “Sra. o EN deixou de ser desafio da OCPCA, é desafio do País, é muita gente a espera do dia certo”
Todos os dias cresce o número de empresas, todas estas, sem exceção, precisam de um profissional OCPCA.
Em que medida a formação promovida pela OCPCA responde às necessidades do mercado?
A nossa profissão não existe sem formação contínua e na nossa realidade angolana onde nos últimos anos temos alterações legislativas de forma corrente e recorrente em sede de várias reformas. quem não faz formações, está a adiar o desafio que vai encontrar na primeira oportunidade. Por isso, vamos agora pôr em prática as horas de formação contínua obrigatória. O contabilista é um profissional que, pela exigência da profissão, tem que dominar várias matérias e só com formação, comprometimento e dedicação é possível responder às varias necessidades do mercado.
Precisamos de mais contabilistas e estes têm que ser de qualidade e não só em quantidade. e é possível alcançar isso com a formação inicial para estarem habilitados ao Exame Nacional de Contabilidade.
Como está a OCPCA a reforçar a fiscalização e a qualidade dos seus membros?
É para anteontem o Controlo de Qualidade funcionar, infelizmente tivemos um período que obrigou que quase tudo fosse adiado, mas já temos o Regulamento aprovado em Assembleia Geral. neste mandato, em reunião ordinária, já deliberamos para o envio a Imprensa Nacional para a publicação em Diário da República.
Que impacto espera gerar com a aplicação do novo regulamento técnico?
As primeiras atuações serão em sede pedagógica e respetivo acompanhamento.
O que queremos é garantir, por via de instrumentos próprios, que os nossos profissionais cumprem com o que está estatuído em várias normas que norteiam o dia a dia laboral.
Qual a importância da colaboração interinstitucional para o fortalecimento da classe?
A OCPCA é um órgão regulador das atividades de contabilidade e auditoria de extrema importância para o crescimento e desenvolvimento das empresas, do estado e das famílias angolanas. só por este facto já nos sentimos fortalecidos, mas sozinhos é impossível, por isso a colaboração com instituições Nacionais (como o Ensino Superior, AGT, BODIVA, CMC, UIF, BNA, CNNCA, Associações Empresariais) e Instituições Internacionais (como as ordens congéneres, os organismos que regulam a profissão a PAFA, IFAC) é em primeira linha e faz parte de um dos nossos vetores do plano de mandato
Como tem sido a sua experiência enquanto primeira mulher a liderar a OCPCA?
Risos e risos mesmo, por uma razão muito simples, está a ser uma experiência única, é dos casos que temos que lá estar para acreditar. Tudo remonta a Dezembro de 2023, altura em que tomamos posse e ficamos impedidos de trabalhar por motivos publicamente conhecidos. Precisamos de tudo e de todos, reuniões e mais reuniões para ser possível ter resultados satisfatórios.
Que desafios enfrentou enquanto mulher num setor ainda marcado por desigualdades?
O maior desafio foi não ter o que os Novos Membros têm hoje, o EAC – Estágio em Ambiente Controlado, que tem um conteúdo programático muito rico, ensina tudo; quem faz com sucesso, não vive de “esmola” do Contabilista Sénior. Sou formadora do EAC desde 2018 e, é para mim, também uma escola de tão rico que é.
Que mensagem gostaria de deixar às jovens que ambicionam cargos de liderança?
Primeiro, o meu conselho será o que ouvi do meu Papa, quando era pré-adolescente: “estuda, para te formares, teres um bom emprego e não seres dependente”.
Segundo, quando aprenderem uma profissão, aprendam para a vida, porque não conhecemos o dia de amanhã.
Terceiro, se o teu trabalho é limpar o chão, o chão tem que brilhar, ou seja, temos que fazer sempre bem e sem olhar a quem.
Quarto, em tudo seja disciplinado, dedicado, comprometido e honra sempre a palavra dada
Quinto, quando arranjar um emprego, todos os dias é o teu primeiro dia. Como é que é no primeiro dia: chegamos cedo, não temos pressa para sair, fazemos tudo com muito profissionalismo e dedicação. Isso é para manter.
Sexto, no dia em que deixar de ser como no primeiro dia, é altura de deixar a entidade seguir com quem vai honrar o primeiro dia.
Sétimo, não faça da empresa um pula pula, há CV preocupantes, prazo médio de permanência onde passou menos de um ano. é preciso fazer carreira e não se faz mudando por diferença salarial que nem vai compensar amanhã.
Quais os próximos passos para garantir a sustentabilidade da OCPCA?
A OCPCA tem Estatutos e Regulamentos que orientam cada atuação dos seus membros. Os próximos passos é uma maior divulgação, às vezes temos ideia que poucos conhecem os seus direitos e deveres, ou seja, temos que arrumar a nossa casa no fim do dia.
De que forma a digitalização pode melhorar a relação com os membros e a eficiência institucional?
Mais de 90% da relação com os membros já é digitalizada.
– Foi colocado em funcionamento o SWEG-Front e Back OFFICE passando toda a interacção MEMBRO/ORDEM a ser feita via ÁREA PRIVADA.
– Foi colocado em funcionamento o processo de SUBMISSÃO E AVALIAÇÃO DE TODOS OS MEMBROS através da plataforma digital.
Está em curso uma APP que vai interligar a base de dados da AGT e que vai permitir validar a situação do membro junto da OCPCA.
Que papel a OCPCA pode desempenhar no futuro económico de Angola?
A OCPCA é um órgão regulador das atividades de contabilidade e auditoria de extrema importância para o crescimento e desenvolvimento das empresas, do estado e das famílias angolanas. Às vezes, para as pessoas perceberem com facilidade, digo:
- As empresas empregam famílias;
- As empresas pagam impostos – estes alimentam o OGE – que, por sua vez, satisfaz as necessidades coletivas públicas;
- As empresas não sobrevivem sem a figura do membro certificado pela OCPCA – empresas organizadas dão conforto económico e social a todos os níveis.