Num contexto de transformação profunda no setor da construção, onde os princípios da sustentabilidade, da economia circular e da eficiência energética ganham protagonismo, a inovação tecnológica torna-se crucial para responder aos desafios atuais e futuros. António Dominguez, Gestor de Projetos e Prescrição na Deceuninck Iberia, partilha, nesta entrevista exclusiva à Revista Pontos de Vista sobre a visão e a estratégia da empresa face a esta nova era. Através de soluções como a ThermoFibra, a utilização de PVC reciclado ou o sistema Hueco Perfeito Industrializado, a Deceuninck posiciona-se como um dos principais agentes de mudança num setor em evolução. Para além do desempenho térmico, da durabilidade e da estética, estas inovações colocam no centro da equação valores como a descarbonização, a industrialização e a responsabilidade ambiental.
De que forma a sustentabilidade e a economia circular estão a influenciar o futuro da construção, e como podem ser integrados estes princípios nas soluções de janelas e portas?
A sustentabilidade e a economia circular não são apenas tendências, mas sim uma obrigação ética e técnica para o setor da construção. No caso das janelas e portas em PVC-ThermoFibra, trata-se de incorporar materiais reciclados, garantir a reciclabilidade dos produtos no fim da sua vida útil e reduzir o impacto ambiental desde o design até à instalação.
Na Deceuninck, integramos estes princípios em toda a cadeia de valor: utilizamos PVC reciclado nos nossos perfis Elegant e fechamos o ciclo com as nossas próprias unidades de reciclagem. Esta abordagem não só reduz as emissões de CO₂, como também proporciona soluções com elevado desempenho térmico e estético, que respondem à crescente procura por eficiência e responsabilidade ambiental.
Que papel desempenham as janelas no desempenho térmico dos edifícios e que inovações técnicas contribuem atualmente para melhorar a sua eficiência energética?
As janelas são um ponto crítico na envolvente térmica de qualquer edifício. A sua qualidade pode determinar a perda ou retenção de calor no inverno e a proteção contra o sobreaquecimento no verão.
A PVC-ThermoFibra é uma das nossas grandes apostas: permite eliminar o reforço metálico – que é uma ponte térmica – e substituí-lo por fibra de vidro contínua integrada no perfil. Isto melhora o isolamento, reduz o peso e aumenta a durabilidade da janela. Do ponto de vista técnico, é possível atingir valores Uw inferiores a 0,80 W/m²K, essenciais para projetos Passivhaus ou edifícios de consumo quase nulo (nZEB).
De que forma as políticas europeias relacionadas com a descarbonização e construção sustentável impactam o desenvolvimento de produtos e soluções no setor dos vãos envidraçados?
A regulamentação europeia está cada vez mais exigente no que diz respeito aos objetivos de descarbonização. Diretivas como a EPBD (Energy Performance of Buildings Directive) ou o pacote Fit for 55 estão a acelerar a procura por soluções com elevada eficiência energética. Neste contexto, os fabricantes têm a responsabilidade de antecipar e desenvolver produtos que não apenas cumpram, mas superem esses padrões. O investimento em I&D e em sistemas industrializados como o “Hueco Perfeito Industrializado” responde precisamente a essa exigência. É fundamental alinhar os desenvolvimentos com os fundos europeus, os objetivos climáticos e os novos requisitos regulatórios.
Quais são as certificações mais relevantes em termos de sustentabilidade e desempenho, e como ajudam a gerar confiança entre prescritores, construtores e clientes finais?
As certificações são fundamentais para gerar confiança. A marcação CE é o ponto de partida, mas selos como o Passivhaus, EPD (Declarações Ambientais de Produto) ou os relatórios do Itecons em Portugal são cada vez mais valorizados pelos prescritores. Na Deceuninck, apostamos na transparência e na certificação dos nossos produtos em laboratórios independentes reconhecidos a nível europeu. Dispomos de perfis certificados Passivhaus e EPDs publicadas que permitem aos projetistas justificar o impacto ambiental dos seus projetos com dados reais e verificáveis.
Portugal apresenta uma diversidade climática considerável, bem como normas técnicas específicas. Como se adaptam as soluções de janelas e portas a estes requisitos, garantindo elevados níveis de isolamento, conforto e durabilidade?
Portugal tem uma diversidade climática significativa, desde a intensa exposição solar no sul até aos invernos húmidos no norte. Além disso, a regulamentação portuguesa – nomeadamente o REH e o RCCTE – exige níveis crescentes de eficiência. As nossas soluções são desenhadas para se adaptarem a estes contextos: elevados valores de isolamento térmico (Uw inferior a 1.0 W/m²K), resistência à humidade salina em zonas costeiras e perfis concebidos para uma integração estética com a arquitetura contemporânea e tradicional portuguesa.
De que forma a industrialização do setor da construção – com soluções modulares, pré-fabricadas e digitais – pode ajudar a combater a escassez de mão de obra qualificada e melhorar a produtividade, qualidade e sustentabilidade das obras?
A industrialização é essencial para fazer face à escassez de mão de obra e aumentar a produtividade sem comprometer a qualidade. A construção offsite e as soluções modulares permitem reduzir prazos, controlar custos e garantir uma execução sem erros. No caso das janelas, isto traduz-se em o “Hueco Perfeito Industrializado”, que permitem instalar a caixilharia com máxima precisão, já pré-configurada em fábrica, sem improvisos em obra. Esta abordagem encaixa particularmente bem no impulso à reabilitação e à renovação do edificado existente, que necessita urgentemente de melhorias térmicas.
Em que consiste o “Hueco Perfeito” e de que forma pode transformar o processo de instalação de janelas em termos de precisão, desempenho e sustentabilidade?
O Hueco Perfeito Industrializado da Deceuninck redefine o processo de instalação: trata-se de uma moldura modular pré-fabricada que garante uma instalação exata, limpa, repetível e sem erros. Facilita a montagem em fases industrializadas, tanto in situ como offsite, o que reduz os tempos de obra e melhora a estanqueidade e o isolamento final do conjunto. Além disso, permite uma integração mais eficiente com os restantes trabalhos em obra. Já aplicámos esta solução em projetos-piloto em Espanha e estamos a adaptá-la ao mercado português, com resultados muito promissores.
Que vantagens técnicas e ambientais oferece a ThermoFibra face aos reforços metálicos tradicionais, e como impacta no desempenho dos perfis em PVC?
A ThermoFibra elimina o uso de reforços metálicos tradicionais, que são pesados, geram pontes térmicas e dificultam o processo de reciclagem. Ao substituí-los por fibra de vidro integrada, ganhamos rigidez estrutural, isolamento térmico e compatibilidade com os princípios da economia circular. Isto representa uma melhoria real na sustentabilidade do produto e uma resposta técnica aos desafios atuais da construção de baixo consumo. Além disso, permite fabricar janelas de grandes dimensões sem comprometer a resistência mecânica nem o design minimalista que muitos arquitetos procuram.
Como equilibrar o uso de materiais reciclados com os elevados padrões de qualidade? Poderia partilhar a experiência com os perfis Elegant, fabricados com PVC reciclado?
O uso de material reciclado exige um controlo rigoroso de qualidade. Na nossa gama Elegant, utilizamos PVC reciclado certificado, sujeito a testes exigentes de resistência, durabilidade e comportamento ao fogo. O resultado é um produto de elevado desempenho com um design cuidado, compatível com as exigências da arquitetura contemporânea portuguesa e alinhado com os padrões ambientais mais avançados. Conseguimos uma solução onde design, sustentabilidade e performance convivem sem compromissos.
A industrialização do setor e a aposta em soluções modulares e sustentáveis ganham protagonismo nas agendas estratégicas europeias e ibéricas. Como participa a Deceuninck nesta transformação e que impacto prevê para o mercado português?
A Deceuninck está envolvida nos grandes debates sobre industrialização e sustentabilidade a nível europeu. Em Espanha, participamos na reflexão em torno dos PERTE, e em Portugal colaboramos com promotores, arquitetos e industriais no desenvolvimento de soluções adaptadas ao modelo ibérico. Acreditamos que a industrialização vai transformar o mercado nesta década, com impacto direto na reabilitação energética, construção modular e uso de materiais sustentáveis. Estamos a trabalhar para que as nossas soluções se integrem plenamente nesta nova forma de construir e reabilitar.
Que ações desenvolve a empresa para apoiar arquitetos, engenheiros e prescritores na adoção de soluções sustentáveis? Oferecem ferramentas digitais, formação técnica ou consultoria especializada?
Formar, acompanhar e facilitar faz parte do nosso ADN. Disponibilizamos ferramentas digitais como configuradores BIM, formação técnica presencial e online, e apoio direto das nossas equipas de prescrição e desenvolvimento. A nossa missão é garantir que arquitetos e engenheiros tenham toda a informação necessária para especificar soluções eficientes com total confiança. Em Portugal, colaboramos com ateliers de arquitetura, associações e universidades na partilha de conhecimento, e estamos a desenvolver um plano específico para o país.
Quais são as principais tendências que marcarão o futuro do setor das janelas eficientes e como se está a preparar a Deceuninck para liderar essa transformação?
O futuro passará por uma construção mais industrializada, digital e sustentável. As janelas terão um papel central como elemento técnico de elevado desempenho. Na Deceuninck, já estamos a desenvolver sistemas que combinam design minimalista, elevados níveis de isolamento, reciclabilidade e facilidade de instalação. Queremos liderar esta transformação com soluções que inspirem arquitetos e construtores a dar o próximo passo. Estamos convictos de que a próxima revolução resultará da combinação entre digitalização, industrialização e sustentabilidade.