“Há cada vez mais vontade política e técnica para inovar”

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Em tempos de profundas transformações sociais, ambientais e tecnológicas, o planeamento territorial assume um papel central na construção de um futuro mais justo, inclusivo e sustentável. Vera Guedes, fundadora e CEO da GUEDES CORRENTE, uma consultora de referência dedicada ao desenvolvimento territorial com impacto real nas comunidades locais, está presente na Pontos de Vista e partilha a sua visão sobre os principais desafios que enfrentam os territórios urbanos e rurais em Portugal. A líder sublinha a importância da articulação entre os dois mundos, e aponta caminhos concretos para uma governação mais colaborativa, digital e sustentável.

Vera Guedes, pode contar-nos um pouco sobre o seu percurso profissional até chegar à liderança da GUEDES CORRENTE e qual é a sua missão no contexto do planeamento territorial?

O meu percurso começou com uma convicção clara: a administração pública tem um papel decisivo na qualidade de vida das pessoas e das comunidades locais, e acredito que é possível contribuir, de forma técnica e comprometida, para uma gestão mais eficiente e estratégica dos recursos públicos.

Ao longo dos anos, fui desenvolvendo competências nas áreas da liderança, da gestão, do planeamento e dos financiamentos, sempre com uma abordagem transversal às dinâmicas territoriais.

A criação da GUEDES CORRENTE representou a concretização de um compromisso: apoiar os territórios a transformar o seu potencial em progresso e diferenciação, através de soluções técnicas, sustentáveis e com visão estratégica para o desenvolvimento territorial.

A missão da GUEDES CORRENTE é ser a entidade parceira que promove a aceleração e a capacitação técnica e estratégica das entidades locais, oferecendo soluções de consultoria integradas e adaptadas às especificidades de cada território, com impacto real na qualidade de vida das comunidades. Temos como principais clientes: municípios, freguesias, comunidades intermunicipais e outras entidades locais.

 

Quais são os principais valores e princípios que orientam o trabalho da empresa?

Trabalhamos assentes em três pilares fundamentais:

  • Rigor técnico, porque acreditamos que decisões estratégicas exigem base sólida e conhecimento exato;
  • Compromisso com o território, porque cada solução tem de respeitar a identidade das comunidades locais;
  • Inovação prática, porque só se projeta o futuro se tivermos coragem de sair do lugar-comum e nos colocarmos em lugar de desconforto.

 

Quais são, na sua perspetiva, os maiores desafios que os territórios urbanos e rurais enfrentam atualmente em Portugal?

Os territórios enfrentam hoje desafios multidimensionais: despovoamento, alterações climáticas, pressão imobiliária, desarticulação institucional e falta de capacidade técnica.

Tanto nas cidades como no mundo rural, há uma urgência em tornar o planeamento territorial mais estratégico, mais colaborativo, menos burocrático e mais diferenciado.

É preciso apostar nas pessoas certas e nos recursos certos para alavancar cada território (urbano ou rural), ambos são indispensáveis.

 

Como avalia a articulação entre planeamento urbano e rural no nosso país? Ainda existe uma grande distância entre os dois?

Ainda existe, sim. Persistem visões setoriais e fragmentadas. Falta uma abordagem integrada que entenda o rural e o urbano como partes do mesmo ecossistema. Temos de deixar de planear “em pequenas quintas” e passar a planear “em rede”, com governação colaborativa e sustentável.

 

De que forma a GUEDES CORRENTE tem atuado para responder a esses desafios? Pode dar-nos alguns exemplos concretos?

A GUEDES CORRENTE tem vindo a desenhar instrumentos estratégicos e candidaturas a financiamentos que respondem, ao mesmo tempo, às necessidades locais e aos grandes desígnios nacionais e europeus.

Por exemplo, temos apoiado municípios na criação de projetos à Linha Mais Interior, projetos de Transição Digital, de Eficiência Energética e de resposta às novas competências, como Educação e Saúde.

 

Pensar o território como vetor de inovação: o que significa, na prática, este conceito para si?

Significa transformar o território num verdadeiro “laboratório” de soluções sustentáveis, onde o planeamento vá além da técnica, sendo também criativo, participativo e orientado ao futuro. A inovação nasce quando conseguimos alinhar inteligência territorial com ambição coletiva.

 

Como se pode promover a sustentabilidade e a qualidade de vida das comunidades através do planeamento territorial?

O planeamento sustentável é aquele que antecipa impactos, mobiliza os agentes locais e valoriza os recursos endógenos.

Promove-se qualidade de vida quando se planeiam acessibilidades, habitação, espaços verdes e equipamentos com foco na equidade e na inclusão das populações.

Os projetos que temos vindo a apoiar, com taxas de sucesso muito altas, incorporam fortemente os princípios da inclusão, da sustentabilidade e da eficiência na utilização dos recursos.

 

Que papel têm as novas tecnologias no planeamento mais inteligente dos territórios?

Eu por norma uso uma frase que acho que pode ser aqui aplicada: “usemos a tecnologia a nosso favor”. Não podemos marginalizar-nos e deixar de usar as ferramentas que aceleram os nossos processos. Ferramentas como o SIG, os digital twins ou a inteligência artificial são hoje indispensáveis para uma gestão e um planeamento consolidado e sustentável. Permitem simular cenários, identificar padrões e tomar decisões baseadas em evidência. A tecnologia só é útil se for colocada ao serviço de uma visão humana, estratégica e participativa.

 

Quais são, atualmente, os maiores entraves que o poder local enfrenta na implementação de soluções sustentáveis?

Pela experiência da GUEDES CORRENTE, a falta de recursos humanos qualificados, a complexidade dos mecanismos de financiamento e a rigidez administrativa são obstáculos ainda muito presentes. Há vontade, mas muitas vezes falta apoio técnico especializado.

 

Existem mecanismos de financiamento que estejam a ser subaproveitados? Como a GUEDES CORRENTE apoia os municípios nesse processo?

Sim, existem mecanismos, desde os PRR, aos Programas Regionais, ao Portugal 2030, que foram e estão a ser subutilizados por falta de planeamento atempado e capacitação técnica.

A GUEDES CORRENTE atua precisamente aí: identificamos oportunidades, estruturamos candidaturas e garantimos coerência entre objetivos, investimentos e resultados, sempre em articulação com municípios, freguesias e comunidades intermunicipais.

 

Acredita que há uma evolução positiva na capacitação técnica e estratégica do poder local em matéria de ordenamento do território?

Sim, claramente. Há cada vez mais vontade política e técnica para inovar. O nosso papel é acelerar esse processo, colocando ferramentas, conhecimento e estratégia ao serviço de quem está no terreno e que escolhe a GUEDES CORRENTE como entidade parceira.

 

Como antevê o futuro do planeamento territorial em Portugal nos próximos 10 anos e qual é o papel que a GUEDES CORRENTE ambiciona desempenhar?

Pensar a 10 anos, hoje, é um exercício exigente, sobretudo face ao ritmo acelerado da transformação tecnológica.

No entanto, acredito que o planeamento territorial será, cada vez mais, digital, inclusivo e ecológico. O território será o centro da política pública.

A GUEDES CORRENTE ambiciona ser parceira estratégica dos territórios, promovendo abordagens inovadoras, financiáveis e com resultados eficazes.

 

Que mensagem gostaria de deixar aos decisores públicos, técnicos municipais e cidadãos sobre a importância de “pensar o território” com visão estratégica?

Pensar o território é pensar nas pessoas. É projetar um futuro com qualidade, coesão e dignidade para todos.

A minha mensagem é esta: Planear bem é cuidar melhor. Implementar com visão é garantir crescimento, impacto e continuidade. Esse é o compromisso que devemos assumir, juntos, para construir uma CORRENTE DE TERRITÓRIOS mais coesos, humanos e preparados para o futuro.

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Revista Pontos de Vista Edição 141

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