Visionária, estratega e defensora incansável do empoderamento feminino, Eugénia Chissano é um dos nomes mais influentes da atualidade no ecossistema lusófono. Diretora Geral e Fundadora da Conexão Plus, Presidente do Pelouro de Inovação e Comunicação da ICEF e consultora estratégica com mais de duas décadas de atuação, a sua trajetória é marcada pela construção de pontes entre pessoas, organizações e ideias transformadoras. Nesta entrevista na Revista Pontos de Vista, partilha connosco a sua visão sobre os desafios e as oportunidades da liderança feminina, os caminhos para uma transformação sustentável e inclusiva, bem como o papel essencial da comunicação estratégica e da cooperação internacional entre mulheres.
Como descreveria a sua trajetória até aqui e que marcos considera mais relevantes na sua caminhada como líder?
A minha trajetória de mais de duas décadas é marcada por uma atuação multidisciplinar, sempre voltada à comunicação estratégica, responsabilidade social e gestão de grandes eventos institucionais. Atuei lado a lado com figuras de destaque — incluindo presidentes e líderes empresariais — e fui desenvolvendo uma visão de liderança humanizada, focada em impacto e parceria.
O que motivou a criação da Conexão Plus e que lacunas pretende colmatar com este projeto?
A Conexão Plus nasceu do desejo de transformar relações profissionais em alianças estratégicas, com base em valores como evolução, transformação e autenticidade. Percebi que muitas empresas e profissionais estavam estagnados em modelos ultrapassados de comunicação e posicionamento.
A Conexão Plus vem para criar pontes, gerar valor e transformar capital humano em diferencial competitivo.
Como é que a sua experiência na ICEF contribui para reforçar o seu papel enquanto influenciadora de mudança no espaço lusófono?
A ICEF tem fortalecido a minha visão de liderança colaborativa e integrada ao ecossistema da lusofonia. A experiência tem ampliado a minha rede de conexões, inspira trocas significativas e reforça a importância de criar espaços de empoderamento mútuo, especialmente entre mulheres líderes.
Como carateriza o estado atual da liderança feminina nos países lusófonos?
Estamos numa fase de transição. Há mais mulheres em posições de liderança, mas ainda enfrentamos resistências estruturais e culturais profundas. O crescimento é visível, mas a equidade ainda está em construção.
Na sua opinião, quais são os principais obstáculos estruturais e culturais que as mulheres ainda enfrentam para chegar a posições de liderança nos países de língua portuguesa?
Os obstáculos vão desde normas sociais rígidas até à falta de acesso igualitário a redes de influência, formação e financiamento. A cultura patriarcal ainda define muitos espaços de poder.
Que diferenças observa entre as realidades de países como Moçambique, Brasil, Portugal e Angola no que diz respeito à presença de mulheres em cargos de decisão?
Portugal e Brasil têm maior visibilidade e mecanismos institucionais de apoio, ainda que com desafios. Moçambique e Angola, por sua vez, enfrentam barreiras culturais mais enraizadas, mas também mostram exemplos notáveis de resiliência e superação por parte de mulheres líderes.
Quais considera serem as prioridades da nova geração de líderes femininas lusófonas para 2025?
Inclusão efetiva, justiça social, inovação com propósito e equidade de oportunidades. Há também uma forte inclinação para o desenvolvimento sustentável e protagonismo comunitário.
Como vê o papel da inovação, da sustentabilidade e da transformação digital nesta nova agenda de liderança?
São alicerces. A inovação precisa ser acessível; a sustentabilidade deve ser prática, e a transformação digital deve incluir mais mulheres em processos decisórios e de criação.
Em que medida a cooperação entre mulheres líderes de diferentes países da Lusofonia pode acelerar mudanças sociais e económicas?
É essencial. Juntas, podemos criar uma corrente que acelera mudanças sistémicas, amplia acesso e derruba muros históricos.
Enquanto defensora do empoderamento feminino, que iniciativas concretas tem promovido ou apoiado que estejam a gerar impacto real?
Através da Conexão Plus, temos promovido ações de capacitação, reposicionamento profissional e valorização do capital humano com foco especial nas mulheres. Atualmente, estamos a desenvolver um projeto que terá como missão preparar mulheres (e homens) para uma transição ativa e empoderada rumo à aposentadoria, com foco no legado e na autonomia. Além disso, temos contribuído com mentoria informal a jovens mulheres em início de carreira, incentivando-as a liderar com autenticidade e confiança.
Como garantir que o empoderamento feminino seja mais do que uma tendência e se torne um pilar estruturante das políticas públicas e empresariais?
Integrando-o às políticas públicas e à cultura organizacional. Precisamos de métricas, compromissos claros e responsabilização.
Que papel devem os homens desempenhar na promoção da equidade de género na liderança?
São aliados fundamentais. A equidade só será real se for coletiva. Homens precisam estar abertos a ouvir, ceder espaços e cocriar soluções.
Qual é o peso da comunicação estratégica na construção da imagem e autoridade da mulher líder?
É um pilar essencial. A comunicação posiciona, fortalece autoridade e cria conexões emocionais e estratégicas com públicos diversos.
Como é que a representatividade feminina nos meios de comunicação pode influenciar positivamente as gerações futuras?
Ajuda a romper estereótipos, legitima ambições femininas e mostra caminhos possíveis para outras mulheres e meninas.
Considera que as líderes de hoje têm um papel a cumprir como mentoras e modelos para as jovens mulheres? De que forma?
Sim, e no meu caso em particular, é uma missão que assumo com orgulho. Liderar também é abrir portas, compartilhar aprendizados e inspirar sem reservas.
O que a inspira a continuar a trabalhar pela transformação e pelo progresso das mulheres no espaço lusófono?
Ver outras mulheres florescendo. Acreditar que pequenas transformações individuais geram grandes mudanças coletivas.
Que legado gostaria de deixar às próximas gerações de líderes femininas?
De uma liderança conetada com a alma, com propósito e impacto. Que mais mulheres possam ocupar espaços sem precisar abrir mão da sua essência.
Se pudesse resumir em uma frase a sua missão enquanto mulher, líder e empreendedora em 2025, qual seria?
Transformar conexões em caminhos, e caminhos em impacto duradouro.