Liderança no Feminino: Reflexões de uma CFO com Propósito

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Num tempo em que os modelos de liderança estão a ser profundamente repensados, a voz das mulheres líderes torna-se cada vez mais essencial na construção de um novo paradigma empresarial — mais humano, mais colaborativo e mais alinhado com um propósito maior. Conversámos com Maria do Carmo Pereira, CFO & Accounting Manager da Portugal Active, uma profissional com mais de duas décadas de experiência e uma visão profundamente enraizada na autenticidade, no impacto e na inteligência emocional. Nesta entrevista à Revista Pontos de Vista, Maria do Carmo Pereira convida-nos a repensar o que significa liderar com propósito — e por que razão o mundo empresarial precisa urgentemente dessa transformação.

Como analisa a evolução da mulher na liderança empresarial?

Há 25 anos, quando iniciei o meu percurso profissional, era raro ver mulheres em cargos de topo, sobretudo em áreas tradicionalmente dominadas por homens, como a gestão financeira. Felizmente, isso tem vindo a mudar, embora ainda haja um caminho importante a percorrer. As desigualdades salariais persistem e, frequentemente, as mulheres continuam a ser confrontadas com questões pessoais — como o estado civil ou a maternidade — que raramente são colocadas aos homens. O facto de sermos geradoras de vida não devia ser visto como uma limitação, mas como uma força. Acredito, no entanto, que as novas gerações estão a impulsionar uma mudança positiva e irreversível nesse sentido.

 

Considera o fator “Colaboração” como a chave para uma nova liderança?

Acredito profundamente que a colaboração entre equipas e líderes é a base da gestão moderna. O tempo das lideranças isoladas e inflexíveis está a chegar ao fim. Empresas que promovem a divisão interna, onde departamentos não comunicam entre si e onde só se valoriza a opinião que confirma a do líder, acabam por estagnar. A liderança humanizada — aquela que se preocupa verdadeiramente com as pessoas — não significa anarquia onde se é tolerante com tudo, mas sim inteligência emocional e respeito pelos talentos. É esta visão que distingue uma empresa mediana de uma organização de excelência.

 

De que forma o “propósito e o impacto” são vistos como fatores diferenciadores na cultura empresarial?

Para mim, não faz sentido separar os valores pessoais da atuação profissional. Sempre que abraço um novo desafio, deixo claro que não consigo trabalhar onde não posso ser eu mesma. Só sou verdadeiramente eficaz e feliz quando posso integrar o meu propósito e valores naquilo que faço. Na Portugal Active, essa autenticidade é valorizada. Existe uma consciência clara de que o bem-estar das pessoas se traduz num serviço de excelência — e num setor de luxo, essa diferença sente-se. Pessoas felizes entregam com outra qualidade.

 

Ao longo do seu percurso decerto passou por muitos desafios e superações. Quer falar-nos disso?

Os desafios ao longo do meu percurso têm sido muitos, especialmente na implementação de processos de controlo interno e organização. Nem sempre é fácil desconstruir o clássico “sempre se fez assim”. A resistência à mudança, o medo de sair da zona de conforto e a tentativa de sabotar o novo são obstáculos comuns. Enfrento-os com respeito pelo que já foi construído, mas com visão clara sobre o que precisa de evoluir. Quando o líder da organização é um verdadeiro agente de mudança, o processo torna-se mais fluido. Acredito firmemente que a microgestão está condenada: liderar é delegar com confiança.

 

Qual é para si, em concreto, os alvos da Nova Agenda dos Líderes em 2025?

As soft skills, especialmente a inteligência emocional, serão a competência-chave do futuro. Num mundo cada vez mais impactado pela inteligência artificial, será a nossa capacidade de entender, sentir e relacionar que nos vai diferenciar. Os líderes de 2025 serão, acima de tudo, humanos, autênticos e emocionalmente inteligentes.

 

Como vê atualmente o fator da igualdade de género no setor empresarial português?

Há uma maior consciência da importância da igualdade de género no setor empresarial em Portugal e, eu própria, já experienciei essa evolução. No entanto, ainda temos um longo caminho até nos equipararmos a países mais avançados nesse domínio. A mudança exige medidas concretas e políticas consistentes, não apenas boas intenções.

 

Para si, como é liderar com autenticidade?

Liderar com autenticidade é viver os nossos valores todos os dias. No meu papel enquanto CFO, isso significa escutar, agir com integridade e tomar decisões que respeitem, tanto os objetivos da empresa, como as pessoas que a constroem. Liderar não é apenas gerir números — é inspirar confiança.

 

Que conselhos daria para as jovens mulheres líderes que enfrentam atualmente os vários setores de atividade empresarial e não só?

Às jovens mulheres que aspiram a cargos de liderança, deixo uma mensagem clara: enfrentem os desafios com coragem e resiliência. Os “nãos” farão parte do caminho, mas não devem ser vistos como muros intransponíveis. Lutem pelos vossos sonhos. Quando acreditamos verdadeiramente em nós, o mundo à nossa volta começa a acreditar também.

 

Quais as perspetivas pessoais para o futuro mais próximo e quais as maiores ambições que espera alcançar?

Profissionalmente, estou profundamente empenhada em ajudar a Portugal Active a crescer e consolidar-se como a maior empresa de alojamento de luxo em Portugal — e além-fronteiras. Trabalhar com um CEO jovem e visionário, cuja estratégia admiro, tem sido uma experiência inspiradora.

Pessoalmente, sinto-me grata. Aos 46 anos, muitos dos meus objetivos estão concretizados, mas diria que continuar a conhecer o mundo é um dos meus grandes objetivos pessoais. Viajar é uma das minhas grandes paixões.

 

Para terminar, deseja deixar alguma mensagem final para as outras mulheres líderes?

A todas as mulheres que hoje lideram ou aspiram a liderar, deixo um apelo: não abdiquem da vossa autenticidade. Liderar com verdade, empatia e coragem transforma não só a nossa vida, mas também a vida de quem nos rodeia.

O mundo precisa de mais líderes assim — e nós estamos prontas para esse papel.

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