Com mais de duas décadas de experiência como gestora de projetos internacionais no universo corporativo, Claudia Gesto trilhou um percurso sólido, liderando equipas multiculturais em diversos continentes. No entanto, foi a escuta da sua própria insatisfação e o desejo de alinhar carreira e propósito que a levaram a uma viragem transformadora: tornar-se Coach de Carreira no Feminino, com foco em mulheres com mais de 40 anos que desejam reconstruir os seus caminhos com mais autenticidade e sentido. Uma entrevista à Revista Pontos de Vista que convida à reflexão, à escuta interior e à ação consciente, conduzida por uma voz que lidera pelo exemplo.
Pode partilhar connosco um breve resumo do seu percurso profissional e da sua evolução como líder?
O meu percurso profissional tem sido marcado por transformações profundas ao longo dos anos. Formei-me em Engenharia e iniciei a minha carreira no mundo corporativo, onde trabalhei durante mais de 20 anos como gestora de projetos internacionais, liderando equipas em diversos países da Europa, América Latina, Estados Unidos e Canadá.
Com o tempo, fui sentindo um desalinhamento entre o que fazia e aquilo que verdadeiramente me movia. Essa tomada de consciência iniciou um processo de transformação pessoal e profissional que culminou na minha transição para o Coaching de Carreira, com especial foco no público feminino — após muito estudo e certificações.
Atualmente, como Coach de Carreira no Feminino, apoio mulheres com mais de 40 anos que se sentem insatisfeitas com as suas trajetórias e desejam construir um novo caminho, alinhado com os seus valores, paixões e aspirações. A minha evolução enquanto líder tem sido pautada pela empatia, disciplina e compromisso com o crescimento — o meu e o das mulheres que acompanho.
Lidero pelo exemplo, pois acredito que essa é a forma mais genuína de exercer liderança.
Que valores e princípios considera fundamentais para exercer uma liderança eficaz nos tempos atuais?
Para liderar de forma eficaz hoje, acredito na força de três pilares: integridade, visão e disciplina emocional.
A integridade é a base de qualquer relação de confiança. Liderar com coerência entre palavras e ações é essencial num mundo onde a transparência já não é opcional.
A visão permite guiar equipas com clareza e propósito. Uma líder visionária inspira, antecipa cenários e mobiliza pessoas em torno de objetivos com significado — mesmo em tempos desafiantes.
Já a disciplina emocional sustenta a consistência ao longo do tempo. Saber ouvir ativamente, manter serenidade nas adversidades e focar no essencial tornou-se um diferencial num contexto volátil e exigente.
Estes princípios orientam o meu posicionamento como líder e a forma como acompanho cada mulher na sua jornada de reinvenção.
Qual tem sido o papel da mentoria na sua jornada profissional – tanto como mentora, como mentorada?
A mentoria tem sido transformadora na minha trajetória — tanto quando fui mentorada, como agora enquanto mentora.
Enquanto mentorada, tive o privilégio de contar com profissionais que me ofereceram orientação estratégica, escuta genuína e incentivo emocional — fatores cruciais durante a minha transição de carreira. Esses apoios fizeram toda a diferença: ajudaram-me a acreditar no meu potencial e a dar passos ousados rumo a um caminho mais alinhado comigo mesma.
Hoje, procuro devolver ao mundo essa generosidade. Acompanho mulheres que muitas vezes não encontram, nos seus contextos profissionais, o espaço para questionar, crescer ou reinventar-se. A mentoria — tal como o coaching — cria esse espaço seguro, onde escuta, encorajamento e questionamento intencional geram clareza e ação. São, sem dúvida, ferramentas poderosas de desenvolvimento humano e profissional.
Que benefícios concretos observa no desenvolvimento de programas de mentoria nas organizações?
Programas de mentoria trazem benefícios concretos e estratégicos.
Em primeiro lugar, potenciam o crescimento e retenção de talento, oferecendo um espaço onde as pessoas se sentem valorizadas, ouvidas e acompanhadas — especialmente em momentos de transição ou reorientação interna.
Além disso, promovem uma cultura de aprendizagem contínua, partilha de conhecimento e relações interpessoais mais fortes — pilares essenciais para organizações que desejam permanecer relevantes e adaptáveis.
Esses programas também impactam a diversidade e equidade, ao democratizar o acesso à liderança e às oportunidades de evolução.
Em suma, práticas como a mentoria e o coaching são hoje reconhecidas como alavancas para a inovação, o envolvimento e a sustentabilidade organizacional.
Em sua opinião, quais são os maiores desafios enfrentados pelos líderes e empreendedores em 2025?
Em 2025, líderes enfrentam um cenário de complexidade crescente, mudanças aceleradas e questionamento dos modelos tradicionais de trabalho e sucesso.
Um dos grandes desafios é liderar num contexto de incerteza contínua, onde a agilidade emocional e a capacidade de adaptação se tornaram tão importantes quanto o conhecimento técnico.
Outro desafio central é a gestão do capital humano. Equipas cada vez mais diversas e exigentes esperam lideranças humanas — que promovam o equilíbrio entre performance e bem-estar. Para isso, é fundamental cultivar competências como escuta ativa, comunicação consciente e inteligência emocional.
Adicionalmente, há o desafio ético e ambiental. Mais do que nunca, espera-se que os líderes assumam responsabilidades sociais, operem com transparência e alinhem os seus negócios a práticas sustentáveis.
Hoje, a liderança mede-se não apenas pelos resultados financeiros, mas também pelo impacto positivo que gera nas pessoas e na sociedade.
Como a colaboração, o propósito e a empatia moldam a forma como lideramos equipas e negócios atualmente?
Liderar já não é apenas definir estratégias ou atingir metas. É criar contextos onde as pessoas se sintam parte, valorizadas e escutadas.
A colaboração rompe silos e promove relações horizontais, onde o conhecimento é partilhado, as decisões são co-construídas e a diversidade torna-se potência. Equipas colaborativas são mais criativas, resilientes e comprometidas.
O propósito oferece direção. Dá sentido ao trabalho e motiva equipas para além das métricas — criando alinhamento e pertença.
A empatia, por sua vez, permite uma liderança verdadeiramente humana. Ouvir com presença, compreender o que não é dito, apoiar nos momentos certos: são gestos simples que geram confiança e autenticidade.
Liderar com colaboração, propósito e empatia já não é apenas desejável — é essencial.
Que competências e atitudes acredita que os líderes do futuro devem priorizar para ter sucesso sustentável?
Os líderes do futuro precisam de cultivar uma mentalidade de aprendizagem contínua. Num mundo em constante mudança, saber aprender, desaprender e reaprender será essencial.
Isso exige humildade inteletual — a capacidade de escutar, questionar certezas e integrar novas perspetivas.
A inteligência emocional é igualmente fundamental: gerir emoções, comunicar com clareza e criar relações saudáveis será cada vez mais valorizado.
Será também necessário desenvolver adaptabilidade, visão sistémica e coragem para tomar decisões éticas em contextos de pressão ou ambiguidade.
E, sobretudo, é preciso colocar as pessoas no centro das decisões. O sucesso sustentável constrói-se com valores sólidos, inovação consciente e respeito pela dignidade humana.
Que iniciativas práticas têm implementado (ou recomenda) para fomentar uma cultura de crescimento, inclusão e inovação?
No meu trabalho com mulheres em transição profissional, cultivo espaços de confiança e honestidade. Cada sessão estimula a reflexão, o autoconhecimento e a ação alinhada com os valores e visão de cada mulher.
Nas organizações, recomendo a criação de segurança psicológica — onde todas as vozes possam ser ouvidas sem julgamento. Isso pode ser feito através de programas internos de coaching e mentoria, círculos de partilha e práticas de feedback construtivo.
Também defendo espaços regulares de aprendizagem colaborativa — formações, workshops, brainstormings interdepartamentais — que incentivem a inovação e a diversidade de experiências.
Inclusão, inovação e crescimento não acontecem por acaso. Precisam de ser cultivados todos os dias, com intenção e sensibilidade humana.
Que mensagem gostaria de deixar para os novos líderes e empreendedores que estão a iniciar a sua jornada?
Deixo uma mensagem de encorajamento e autenticidade: liderem a partir de quem realmente são.
Num mundo que valoriza velocidade e performance, lembrem-se de que liderar não é ter todas as respostas — é ter coragem para fazer as perguntas certas e caminhar com integridade, mesmo na incerteza.
Construam o vosso caminho com propósito, relações humanas genuínas e compromisso com o crescimento — vosso e dos que vos rodeiam.
Cultivem a escuta, a empatia e a humildade. Cercai-vos de pessoas com quem possam aprender e crescer, e valorizem o poder de uma rede de apoio consciente.
Liderar é servir. E servir com consciência, visão e humanidade é uma das formas mais belas de transformar o mundo — uma vida, uma equipa, uma organização de cada vez.
Através do meu trabalho como Coach de Carreira no Feminino, apoio líderes e empreendedores — especialmente mulheres — a reencontrarem clareza, alinhamento e confiança para conduzirem as suas jornadas com autenticidade e impacto. A liderança começa dentro. E é nesse espaço que a verdadeira transformação acontece.