Numa era em que a liderança clama por mais humanidade, propósito e coerência, o percurso de Sílvia Peralta é um verdadeiro convite à transformação. A sua jornada sofreu um ponto de inflexão quando a vida a confrontou com uma crise pessoal profunda — uma travessia que despertou nela uma nova missão: guiar outros no caminho do autoconhecimento e da liderança consciente. Hoje, como Mentora de Transformação Humana e criadora do Método Peralta – 7 Dimensões de Consciência, Sílvia integra ciência, espiritualidade e terapêutica numa abordagem única e profundamente humana. Nesta entrevista exclusiva à Revista Pontos de Vista, partilha connosco os marcos da sua evolução, os pilares de uma liderança com alma, e o papel transformador da mentoria nas organizações e na vida.
Pode partilhar connosco um breve resumo do seu percurso profissional e da sua evolução como líder?
A minha jornada profissional começou no mundo da engenharia química, onde trabalhei mais de duas décadas na investigação e desenvolvimento de materiais sustentáveis.
Especificamente, especializei-me no estudo e aplicação de resinas naturais derivadas da colofónia, utilizadas em setores como tintas de impressão, adesivos industriais e bioplásticos. Esse percurso ensinou-me a importância da precisão, da perseverança e da inovação aplicada à resolução de desafios reais da indústria.
No entanto, foi quando enfrentei uma crise pessoal e profissional — marcada pela maternidade e, posteriormente, por quadros de doença, exaustão e desafios emocionais — que iniciei um profundo processo de transformação. Essa experiência levou-me a redirecionar a minha trajetória profissional e a mergulhar no fascinante universo do desenvolvimento humano.
Hoje, atuo como Mentora de Desenvolvimento Humano, aliando ciência, consciência e transformação. Criei o Método Peralta – 7 Dimensões de Consciência, que integra ciência, espiritualidade e uma abordagem terapêutica para facilitar o desbloqueio tanto de pessoas como de organizações, ajudando-as a atingir o seu verdadeiro potencial.
Que valores e princípios considera fundamentais para exercer uma liderança eficaz nos tempos atuais?
Acredito que a liderança começa dentro. É um ato de responsabilidade interna, de alinhamento entre o que pensamos, sentimos, dizemos e fazemos. Uma liderança eficaz nos tempos atuais exige coragem para olhar para dentro, maturidade emocional e coerência entre valores e ações. Só assim conseguimos inspirar, transformar e criar impacto real à nossa volta.
Considero-me uma investigadora da alma humana, e trago para a liderança a mesma paixão que levava para o laboratório: a busca pela verdade, a superação de limites e a criação de soluções que realmente façam a diferença.
Paralelamente, coloco à disposição das empresas a minha experiência como consultora técnica especializada em resinas naturais, oferecendo soluções inovadoras, sustentáveis e personalizadas para os setores industriais que utilizam derivados de colofónia.
Qual tem sido o papel da mentoria na sua jornada profissional – tanto como mentor(a), como mentorado(a)?
A mentoria surgiu na minha vida como uma tábua de salvação em momentos decisivos. Enquanto mentorada, tive o privilégio de ser guiada por pessoas extraordinárias que me ajudaram a resgatar a minha essência e a encontrar direção nos momentos de maior dor e confusão. Foi através desse apoio que percebi que o verdadeiro crescimento não acontece sozinho — precisamos de alguém que nos espelhe, confronte e acredite em nós antes mesmo de nós próprios.
Ao tornar-me mentora, compreendi que orientar o outro é, na verdade, um ato de amor, humildade e serviço. A minha missão é inspirar a liberdade de ser saudável, feliz e próspera, ajudando cada pessoa a reconetar-se com o seu propósito e a expressar a sua autenticidade no mundo.
Que benefícios concretos observa no desenvolvimento de programas de mentoria nas organizações?
Nos contextos organizacionais, observo cada vez mais os benefícios concretos dos programas de mentoria. Quando bem estruturados, estes programas potenciam o autoconhecimento, melhoram a comunicação, previnem o burnout e estimulam a inovação. Criam espaço para uma liderança mais humana e empática, com impacto direto na motivação, nos resultados e no clima organizacional.
Acredito que a mentoria é uma ponte entre aquilo que somos hoje e o imenso potencial que podemos alcançar. É uma jornada de aprendizagem mútua, onde mentor e mentorado crescem lado a lado. E é nesta partilha que reside o verdadeiro poder da transformação.
Em sua opinião, quais são os maiores desafios enfrentados pelos líderes e empreendedores em 2025?
Em 2025, os líderes enfrentam um paradoxo: por um lado, são pressionados a obter resultados rápidos e manter alta performance; por outro, vivem um apelo crescente à humanização, propósito e equilíbrio. Os maiores desafios que observo no terreno são a sobrecarga emocional, a desconexão interna e a falta de espaço para reflexão consciente.
Muitos líderes têm clareza sobre o que fazer, mas perderam a conexão com o que sentem. É nesse vazio emocional que surgem bloqueios, estagnação e, muitas vezes, a fragilidade ou até mesmo o adoecimento psicológico e físico.
Como a colaboração, o propósito e a empatia moldam a forma como lideramos equipas e negócios hoje em dia?
A liderança contemporânea exige muito mais do que competências técnicas. Exige presença, escuta e coragem para abraçar a vulnerabilidade. Aquilo que antes era visto como fraqueza — empatia, sensibilidade, propósito — é hoje o que distingue os grandes líderes.
A colaboração, quando vivida em consciência, expande a criatividade e dissolve a competição destrutiva. O propósito dá sentido ao esforço e guia as decisões com integridade. E a empatia permite liderar equipas com mais humanidade, respeitando os ritmos e a diversidade emocional de cada pessoa.
Estamos a viver uma transição: do comando para a conexão, da autoridade imposta para a liderança com alma. Esta nova agenda não se trata apenas de resultados, mas de como os alcançamos — e com quem os construímos. E isso começa com líderes que fazem o seu próprio caminho de cura e expansão.
Que competências e atitudes acredita que os líderes do futuro devem priorizar para ter sucesso sustentável?
Acredito que os líderes do futuro terão de desenvolver, acima de tudo, consciência emocional, visão sistémica e capacidade de adaptação. Num mundo em constante mudança, o verdadeiro diferencial não está no controlo, mas na flexibilidade com adaptação — aquela que permite evoluir sem perder a integridade e o propósito.
Para alcançar um sucesso verdadeiramente sustentável, considero essenciais competências como a escuta empática, a maturidade emocional, a capacidade de autorreflexão, e o desenvolvimento da inteligência relacional. Estas qualidades permitem, não só gerir equipas de forma mais humana, como também antecipar tendências e responder aos desafios com criatividade e presença.
Que iniciativas ou práticas tem implementado (ou recomenda) para fomentar uma cultura de crescimento, inclusão e inovação?
Eu sugiro e aplico práticas que facilitam essa transformação, como as Constelações Familiares e Organizacionais, a Hipnose Transpessoal, a Kinesiologia Psicoemocional e o Método Peralta – 7 Dimensões de Consciência. Esta metodologia integra pilares terapêuticos, espirituais e um olhar neurocientífico baseado na metacognição, promovendo o alinhamento entre pensamento, emoção, comunicação e ação — com clareza de propósito e consciência de impacto.
Recomendo às organizações que desejam cultivar uma cultura de crescimento, inclusão e inovação que criem espaços regulares de escuta emocional, mentoria interna, desenvolvimento pessoal e reflexão estratégica. Quando as pessoas se sentem vistas, reconhecidas e livres para contribuir com autenticidade, a inovação emerge com naturalidade — e a prosperidade torna-se consequência.
“A química ensinou-me a transformar polímeros. O desenvolvimento humano ensinou-me que temos a capacidade de transformar a nossa vida!”
Que mensagem gostaria de deixar para os novos líderes e empreendedores que estão a iniciar a sua jornada?
Acredito profundamente que liderar é um caminho que começa de dentro para fora. Antes de liderarmos equipas, pessoas ou negócios, precisamos aprender a liderar a nossa própria vida — com consciência, coerência e confiança. Até porque o meu negócio sou eu. É o meu reflexo. Há uma missão e valores a cumprir.
O verdadeiro sucesso não está apenas nos resultados que alcançamos, mas na paz que sentimos quando vivemos em alinhamento com aquilo em que acreditamos. E isso só é possível quando escolhemos crescer, aprender e evoluir — todos os dias. Acredito que amanhã saberei sempre um pouco mais sobre o que hoje sei.
Para mim, o desenvolvimento pessoal é uma verdadeira forma de estar na vida. É para quem valoriza a melhoria contínua, o refinamento constante, a disposição para evoluir um pouco mais a cada dia. E liderar, para mim, é isso: estar em constante expansão, com humildade para aprender e firmeza para escolher com o coração.
Cada desafio que enfrentei mostrou-me que há sempre algo a transformar — dentro e fora. Tal como a Fénix, acredito que é preciso deixar morrer o que já não nos serve, para renascer mais alinhados com quem realmente somos. A nossa história, por mais desafiante que seja, pode tornar-se fonte de força, inspiração e liderança.
“Porque a liderança começa com a liberdade de ser — e, a partir daí, tudo se transforma.
Abrimos espaço para tudo o resto: saúde, felicidade, propósito e prosperidade”