Após uma carreira marcada por experiências internacionais e uma sólida passagem por Angola, onde desempenhou o cargo de Diretor de F&B no Hotel Continental Horizonte, Carlo Martins dá agora um novo passo no seu percurso profissional ao assumir a Direção Geral do Foya Branca by Flagworld Hotels, em São Vicente, Cabo Verde. Em entrevista à Revista Pontos de Vista, no âmbito da Nova Agenda dos Líderes de 2025, Carlo Martins partilha as motivações que o levaram a abraçar este projeto, os desafios que se avizinham e a importância de uma liderança consciente num contexto insular e em constante transformação.
Recentemente assumiu funções em Cabo Verde, após a sua experiência em Angola. Que motivações estiveram por trás desta mudança profissional?
Após vários anos de intenso crescimento e desafios gratificantes internacionalmente e mais recentemente em Angola, senti que era o momento certo para abraçar um novo projeto que me permitisse aplicar e ampliar a minha visão de gestão hoteleira.
Cabo Verde, e em especial São Vicente, representa não só um destino com enorme potencial turístico, mas também um contexto onde a cultura, o calor humano e a autenticidade se entrelaçam com a necessidade urgente de modernização e reposicionamento estratégico.
O convite do grupo Flagworld Hotels para liderar o processo de transformação do Foya Branca foi uma oportunidade irrecusável para aplicar uma liderança orientada à excelência, inovação e impacto social.
Quais os principais desafios que antevê nesta nova etapa em Cabo Verde, tanto a nível operacional como estratégico?
O Foya Branca é uma unidade com história e identidade própria, que passou por momentos sensíveis que exigem agora uma profunda atenção. Os desafios passam por recuperar a credibilidade, elevar os padrões de serviço, alinhar processos operacionais com as melhores práticas internacionais e, ao mesmo tempo, respeitar a identidade local.
Do ponto de vista estratégico, o grande desafio será transformar o Foya Branca numa referência turística nacional e internacional, reposicionando a marca, investindo em capital humano e reforçando a ligação com o destino e com os diferentes segmentos de mercado.
A liderança num contexto insular e turístico como o de São Vicente tem particularidades únicas. Como define o seu estilo de liderança e de que forma o adapta a este novo ambiente?
O meu estilo de liderança é participativo, próximo e orientado para resultados. Em São Vicente, mais do que nunca, é necessário ouvir, integrar e capacitar. Adaptei a minha abordagem para respeitar os ritmos e realidades locais, valorizando as pessoas como o maior ativo da operação. Acredito no poder da formação contínua, no reforço da autoestima profissional e no exemplo dado diariamente. Ser líder aqui é também ser parte da comunidade.
O setor hoteleiro enfrenta uma transformação contínua, especialmente após a pandemia. Quais as suas prioridades para posicionar o Foya Branca como uma referência no panorama turístico cabo-verdiano?
A nossa prioridade é clara: recuperar e superar. Estamos a investir em remodelações estruturais, na formação da equipa, na redefinição da oferta gastronómica e de lazer, na melhoria da experiência do cliente e na promoção digital da unidade. O Foya Branca tem tudo para ser uma referência localização privilegiada, infraestruturas únicas e uma equipa comprometida. Agora, o foco é transformar essa base num produto turístico memorável, com padrões internacionais e alma cabo-verdiana.
Como vê a importância de eventos como o Leadership Summit Cabo Verde para fomentar a reflexão e evolução da liderança em contextos africanos?
São absolutamente fundamentais. Liderar em África exige sensibilidade, visão de longo prazo e capacidade de adaptação a realidades diversas. Eventos como o Leadership Summit permitem partilhar experiências, gerar inspiração e criar uma nova geração de líderes mais preparados, éticos e conscientes do seu papel transformador. Cabo Verde, com a sua vocação atlântica e abertura ao mundo, deve estar na linha da frente deste movimento.
O tema deste ano – “Liderança Estratégica: Confiança, Conexão e Transformação” é particularmente relevante. Como interpreta cada um destes pilares no contexto do seu trabalho atual?
Confiança: começa dentro de casa com a equipa. É ela que sustenta qualquer plano de transformação.
Conexão: com o cliente, com a comunidade local, com os fornecedores e com a cultura da ilha. Essa ligação emocional é o que torna uma unidade hoteleira verdadeiramente relevante.
Transformação: é a missão. Transformar o Foya Branca numa referência regional, respeitando o passado, mas com foco no futuro e na inovação.
A confiança das equipas é um fator-chave para o sucesso organizacional. Que práticas implementa para fomentar a confiança e o comprometimento dos colaboradores?
Promovo um ambiente de proximidade, onde a escuta ativa é valorizada e o erro é visto como oportunidade de crescimento. Dou prioridade à comunicação clara, ao reconhecimento dos esforços e à promoção interna de talentos. Criámos programas de formação contínua e reforçámos a cultura de mérito. A confiança nasce da coerência entre palavras e ações e isso começa pelo exemplo do líder.
Num setor como o turismo, a conexão com o cliente e com a comunidade local é vital. De que forma pretende promover esta ligação no Foya Branca?
Estamos a abrir o Foya Branca à ilha. Queremos que os mindelenses se voltem a sentir parte deste espaço. Temos apostado em eventos culturais, parcerias com artistas locais, ações sociais e em ofertas especiais para residentes. Queremos ser um hotel de portas abertas, não apenas para turistas, mas para todos os que vivem em São Vicente.
Que papel acredita que a hotelaria pode desempenhar no desenvolvimento económico e social de Cabo Verde, especialmente em ilhas como São Vicente?
A hotelaria é um motor de desenvolvimento. Gera emprego direto e indireto, estimula cadeias de produção locais, promove o destino internacionalmente e contribui para o orgulho identitário. Em São Vicente, o turismo pode ser uma âncora para reter talento jovem, valorizar a cultura local e impulsionar outros setores como o artesanato, a pesca e a gastronomia. O nosso papel, enquanto líderes hoteleiros, é garantir que este desenvolvimento é sustentável, inclusivo e respeitador do património cultural e ambiental.