A psoríase é uma doença inflamatória crónica que afeta aproximadamente 2% da população mundial. É uma patologia sistêmica e não apenas uma patologia cutânea. O processo inflamatório subjacente é devido a uma ativação desregulada do sistema imunitário, na qual mediadores inflamatórios circulam no sangue e afetam múltiplos órgãos. Esta inflamação sistémica está associada ao aumento do risco cardiovascular e do chamado síndrome metabólico, com maior prevalência de obesidade, resistência à insulina e colesterol elevado. Paralelamente, o impacto psicológico da doença é muito significativo: cerca de 60% dos pacientes com psoríase sofrem de depressão ou quadros de ansiedade. Assim, a psoríase deve ser entendida como uma patologia sistêmica complexa, em que a inflamação cutânea é apenas a manifestação mais visível de um processo inflamatório generalizado com repercussões metabólicas, cardiovasculares e na saúde mental.
As lesões cutâneas mais típicas da psoríase são placas eritematosas cobertas por uma descamação prateada, mais frequentemente localizadas nos cotovelos, joelhos, couro cabeludo e região lombar. Contudo todas as regiões do corpo podem estar afetadas, incluindo região genital, anal, palmas e plantas, condicionando um enorme desconforto e impacto significativo na vida pessoal e profissional dos pacientes afetados. A psoríase pode também afetar as unhas, com diversas manifestações tais como descolamento, depressões puntiformes e descoloração das mesmas. A psoríase tem manifestações articulares em cerca de 20–30% dos pacientes (artrite psoriática), provocando dor, rigidez e destruição articular irreversível se não tratada.
Os principais fatores de risco para desenvolver esta patologia incluem predisposição genética, obesidade, tabagismo, consumo de álcool, stress e infeções sobretudo bacterianas. A doença pode também ser desencadeada ou agravada por medicamentos como, por exemplo, beta-bloqueadores.
Estudos indicam que o impacto da psoríase na qualidade de vida é comparável ao de doenças crônicas graves como cancro ou diabetes. Cerca de 75% dos pacientes referem que a doença tem um impacto significativo nas atividades diárias e 40% relatam discriminação social.
A psoríase não tem cura, mas tem tratamento. O tratamento deve ser individualizado tendo em conta a gravidade da doença, zonas atingidas, presença de artrite psoriática, sucesso ou fracasso de tratamentos anteriores e comorbilidades. O tratamento da psoríase foi revolucionado nos últimos anos com o lançamento de terapias modernas, com excelente eficácia e melhor perfil de efeitos secundários. Durante os próximos anos vamos continuar a assistir ao lançamento de novos fármacos, que esperamos que sejam disponibilizados em Portugal. Atualmente dispomos de diversas formas de tratamento:
- Tratamentos tópicos para as formas menos graves: corticosteroides, análogos da vitamina D e inibidores de calcineurina.
- Fototerapia: útil em casos moderados e por curtos períodos.
- Tratamentos sistémicos como os imunossupressores clássicos e terapias mais modernas com fármacos biológicos e terapias-alvo para o tratamento da psoríase moderada a grave. Uma palavra especial para os chamados tratamentos com biológicos e terapias-alvo, nomeadamente no que diz respeito à sua elevada eficácia, rapidez de atuação e melhor perfil de efeitos secundários. Estes fármacos vieram revolucionar o tratamento, o prognóstico e a qualidade de vida dos pacientes com psoríase moderada a grave.
Não menos importante, existem cuidados gerais transversais ao tratamento de todos os pacientes com psoríase, independentemente da sua gravidade. Estas medidas incluem hidratação diária da pele com produtos prescritos por um dermatologista, um estilo de vida saudável, controlo do peso, cessação do tabágica, redução do consumo de álcool, redução dos níveis de stress e controlo rigoroso dos fatores de risco cardiovasculares. Além disso, estes pacientes devem ser monitorizados devido à elevada prevalência de depressão.
Os tratamentos mais eficazes e modernos para a psoríase estão associados a custos elevados, tanto para o Serviço Nacional de Saúde como para os pacientes, o que pode condicionar o acesso precoce às opções mais eficazes. Adicionalmente, barreiras burocráticas atrasam em Portugal a disponibilização desses fármacos. Há crescente evidência de que o tratamento sistémico precoce da psoríase pode modificar o curso e o prognóstico da doença, reduzindo o risco de complicações e o impacto desta na saúde mental e bem-estar dos pacientes afetados.
Em resumo, o correto diagnóstico e a terapia precoce da psoríase são fundamentais não só na melhoria das manifestações clínicas da patologia mas também no bem-estar dos pacientes afetados. Tendo em conta que a psoríase é uma patologia que vai muito para além das lesões visíveis na pele, uma abordagem multidisciplinar é essencial para controlar a doença, reduzir o risco de complicações futuras e melhorar o bem-estar global do paciente.


