“A Segurança das instituições deveria ser a nossa prioridade”

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A Presidente da APOTEC, Isabel Cipriano, defende que o investimento em cibersegurança deve ser encarado como uma questão estratégica e transversal a toda a sociedade. Foi neste princípio concreto que constatou a preocupação de envolver o Estado, as empresas e cada cidadão em entrevista à Pontos de Vista. Ao mesmo tempo, reforçou a importância de uma abordagem permanente de Literacia Financeira em todos os níveis de ensino, para preparar as novas gerações para uma economia cada vez mais digital e exigente, não deixando de lado a opinião de que a Inteligência Artificial (IA) é um complemento à evolução da profissão de contabilista, capaz de otimizar processos e apoiar a tomada de decisão — sem nunca substituir o julgamento humano.

A Inteligência Artificial, IA, deixou de ser um conceito vago para se transformar em algo real. De que forma pode ajudar a profissão de contabilista?

Acredito que a IA é um complemento à evolução a que assistimos, ainda que possa ser demasiado rápida para alguns. Os contabilistas – e outras profissões também – já lidam com a IA, uns de forma consciente e outros ainda a procurar compreender e aproveitar o seu potencial para otimizarem o seu desempenho em termos de processos.

 

Existe o risco de a IA substituir a “mão humana”?

A mão humana sim, mas o julgamento de valor do profissional não. Nesta profissão, como em tantas outras, a IA é uma ferramenta de trabalho e de melhoria de processos, no auxílio à tomada de decisões – não substituiu em última instância a responsabilidade da decisão. O verdadeiro risco com o qual nos confrontamos são as questões de segurança.

 

Acredita que as empresas não investem o suficiente no domínio da Segurança?

A segurança das instituições e das organizações deveria ser, por este evoluir da quarta dimensão – a nossa prioridade – digo “nossa” enquanto sociedade civil. O Estado, as empresas/instituições privadas e nós próprios temos de repensar e investir em (ciber) segurança. Constantemente assistimos a ataques informáticos como são designados, preocupantes, na banca, nas finanças, nas empresas privadas – muito mais do que aquilo que se divulga.

De acordo com o relatório da IBM, o custo médio da violação de dados é de 4,8 milhões de dólares o que simboliza cerca de 4.2 milhões de euros, sendo que o setor da saúde lidera os custos desta violação. Temos tendência a acreditar que em Portugal somos um país pequeno e que nada acontece, mas os factos revelam que ainda que vejamos amiúde, as nossas instituições já sofreram ataques.

 

Como é que se estimulam os colaboradores das empresas para estas questões?

As empresas portuguesas, nomeadamente nas PME que representam mais de 95% do tecido empresarial português – e independentemente do seu core business estão também neste dimensão digital, ou pelo menos têm acesso a ferramentas informáticas e softwares específicos, interagem com plataformas digitais de transações, e acredito que os colaboradores destas empresas devem ter perfeita noção dos conceitos básicos de segurança. Por exemplo, uma pessoa que trabalhe remotamente informação sensível da sua organização sabe, a priori, que nunca se deve ligar a uma rede pública de wireless.

 

O capital humano é considerado o maior ativo de qualquer organização. Como podem as empresas valorizar mais os seus profissionais e dar-lhes perspetivas de carreira sólidas e motivadoras?

Atualmente, reter talento é também uma das questões fulcrais deste novo modelo de sociedade porque, se por um lado, o capital humano é um ativo central, por outro nem sempre as empresas conseguem manter os seus ativos e por razões variadas entre as quais os encargos fiscais e parafiscais que as organizações são obrigadas a suportar.

 

As empresas preferem contratar pessoas mais jovens porque são mais baratas?

Os jovens não são mais baratos atualmente, e isso é um tema que nos levaria a uma edição desta revista. O mercado de recrutamento em Portugal é pela caraterística das empresas, diferente da maioria dos países europeus, em que se valoriza mais a experiência e onde os maiores de 45 ou 50 anos não enfrentam dificuldades na procura de emprego. Nós aqui temos as PME asfixiadas com impostos e o custo real de um colaborador não é o que aparece no recibo de vencimento desse trabalhador. Para uma empresa poder pagar €1500 líquidos mensais a um funcionário, gasta cerca de €2750. Alguma coisa está desproporcional nesta equação.

 

A literacia financeira é um pilar essencial para a sustentabilidade das famílias e das empresas. Qual considera ser a contribuição mais relevante da APOTEC neste campo?

Temos desenvolvido várias ações no sentido de estimular a Literacia Financeira; também já lançamos um livro para os mais novos, e eu sou co-autora, a par com outras pessoas de várias áreas, das “79 Vozes Para a Literacia Financeira”. Há anos que insisto – e continuarei a insistir (risos) – que esta devia ser uma matéria obrigatória no ensino.

 

Defesa, Inovação e Liderança na Era da Inteligência Artificial

No dia 8 de Novembro a APOTEC promove no Coimbra Business School uma conferência gratuita (obrigatória inscrição prévia no site da APOTEC) onde se debatem temas relacionados com a Estratégia, Cibersegurança e Defesa e também o recurso a IA para as Empresas e para os Profissionais.

 

Sabes o que fazem os contabilistas?

Dirigido aos leitores de palmo e meio, este livro com a chancela da Ideias com História e o apoio da APOTEC pretende desmistificar a profissão de contabilista e aproximar os mais novos de conceitos como finanças, rendimento, impostos, gastos ou IRS. “Este livro foi um desafio muito interessante para nós este ano de 2025. Apostamos na literacia financeira e acreditamos que é fundamental que as novas gerações saibam exatamente o que significam conceitos que fazem parte do seu quotidiano”, explica Isabel Cipriano. O livro está disponível no site da editora Ideias com História e custa €15,90. “Fica a ideia para presente de Natal”, acrescenta a Presidente da APOTEC.

 

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Revista Pontos de Vista Edição 144

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