Nos últimos trinta anos, de acordo com estimativas do Global Burden of Disease 2021, a incidência de acidente vascular cerebral (AVC) aumentou, no mundo, em 70% e o número de mortos ou incapacitados quase que duplicou, com maior impacto no mundo em desenvolvimento. Falamos da causa de morte número dois no mundo (número um em Portugal) e a causa número três de morte e incapacidade entre as doenças não transmissíveis. Estima-se que uma em cada quatro pessoas terá um AVC ao longo da vida e que mais de metade ocorrerá em pessoas com menos de 70 anos. Com mais de 25 mil casos por ano no nosso país, a cada hora cerca de três pessoas têm um AVC e, simultaneamente, uma pessoa perde a vida.
Felizmente falamos, também, de uma doença altamente prevenível, em que fatores de risco modificáveis são responsáveis por mais de 80% dos casos: pressão arterial elevada, poluição ambiental, tabagismo, colesterol elevado, excesso de peso e inatividade física. A adoção de um estilo de vida com baixo consumo de álcool e de alimentos de elevado teor em sal ou açúcar e de gorduras trans, assim como a promoção de exercício físico e e redução do sedentarismo no dia a dia têm o poder de reduzir susbtancialmente o risco de vir a ter um AVC. Combater os fatores de risco e promover a saúde é a melhor arma que dispomos, mas constitui, simultaneamente, um enorme desafio de saúde pública. Este é um desafio que requer o compromisso e o empenho de todos — de nós próprios, da nossa equipa de saúde familiar e também dos nossos decisores políticos.
Quando não foi possível evitá-lo, torna-se necessário reconhecer os sintomas e agir rapidamente. O diagnóstico e tratamento céleres permitem limitar as consequências do dano, assim como reduzir a mortalidade e a incapacidade associada. No caso particular do AVC isquémico, em que um coágulo obstrui o normal fluxo sanguíneo, o atraso no tratamento reperfusor pode condicionar de forma negativa o prognóstico. Os nossos hospitais encontram-se hoje preparados para receber e dar prioridade aos doentes encaminhados com suspeita de AVC. No entanto, segundo os dados do estudo PANORAMA-AVC de 2023, apenas 29% dos doentes com AVC confirmado foram “anunciados” às equipas de urgência hospitalares. Não suspeitar de um AVC quando ocorre o desenvolvimento súbito de falta de força num membro ou lado do corpo, de assimetria da face ou alteração da fala ou mesmo de diminuição da visão ou dor de cabeça intensa pode levar a atrasos que comprometem a atuação das equipas numa altura em que o benefício desta intervenção pode ser maximizado. É por isso que o AVC deve ser encarado como uma emergência, devendo ser contactado o 112 logo que surjam os primeiros sintomas.
Isto está ao alcance de todos — até dos mais novos! O projeto FAST Heroes 112, da Angels, com o apoio da Organização Mundial de AVC (World Stroke Organisation) e da Sociedade Portuguesa do AVC, tem promovido a educação e a literacia em saúde junto de muitas crianças e jovens em Portugal. Esta iniciativa permite que mensagens essenciais sejam transmitidas aos mais novos, para que possam partilhá-las em casa com a família — irmãos, pais e avós — e, sobretudo, para que estejam capacitados a agir num momento determinante da vida de um dos seus familiares. Os resultados desta campanha têm mostrado um impacto duradouro e continuam a ser uma verdadeira fonte de inspiração.
O maior empoderecimento é o conhecimento. Comece por saber os seus valores de pressão arterial, os seus níveis de colesterol e de glicose no sangue e discuta estes resultados com a sua equipa de saúde familiar. Seja ativo, 30 minutos de exercício diário podem fazer a diferença. Coma melhor – mais frutas, vegetais e leguminosas. Deixe de fumar, é a medida com maior impacto na redução de risco cardiovascular e modere o consumo de álcool.
Mesmo quando tudo isto falha, a recuperação de um evento cerebrovascular é possível, mas requer tempo, paciência, apoio e dedicação. As associações de apoio a sobreviventes e suas famílias desempenham um papel fundamental e são um pilar da comunidade, ajudando a constuir confiança no futuro.
Ajude-nos a tratar melhor o AVC e a sensibilizar para este problema. A Sociedade Portuguesa do AVC promoverá a 2.ª Edição da Caminhada Nacional no próximo domingo 26 de outubro, para assinalar o Dia Mundial do AVC. Porque cada minuto conta na luta contra o AVC.


