Reeleita pela terceira vez como Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, Luísa Salgueiro reafirma a confiança dos cidadãos e o seu compromisso com uma governação próxima, responsável e inovadora. Nesta entrevista à Revista Pontos de Vista, a autarca partilha a sua visão para o futuro de Matosinhos, assente na sustentabilidade, coesão social e desenvolvimento equilibrado do território. Numa altura em que as autarquias assumem um papel decisivo na resposta aos grandes desafios do nosso tempo — da habitação à mobilidade, da transição energética à inclusão social —, Matosinhos destaca-se como exemplo de governação autárquica moderna e participativa, capaz de conjugar crescimento económico com justiça social.
Acaba de ser reeleita Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos. Que significado pessoal e político atribui a esta vitória e que mensagem retira da confiança renovada dos matosinhenses?
Ser reeleita pela terceira vez como Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos representa um mandato claro e inequívoco dos cidadãos. Esta confiança renovada não é apenas uma vitória política, mas um compromisso ético com todos — incluindo os que não partilham da nossa visão. Como referi no discurso de tomada de posse, maioria absoluta não é poder absoluto; é exigência redobrada, é responsabilidade acrescida, é respeito pelas diferenças. A governação e a oposição receberam o mesmo mandato: servir Matosinhos com seriedade, maturidade e sentido de bem comum. Esta legitimidade reforçada dá-nos mais força para reivindicar mais e melhor para os matosinhenses, mas exige também humildade, abertura e capacidade de convergência.
Olhando para o mandato anterior, que projetos e conquistas considera mais marcantes e que lições retira dessa experiência para este novo ciclo?
O percurso que nos trouxe até aqui foi construído com trabalho, visão e proximidade. Matosinhos transformou-se profundamente ao longo das últimas décadas, enfrentando desafios sociais complexos e respondendo com políticas públicas que devolveram dignidade às famílias. O Programa Especial de Realojamento, há cerda de 30 anos, que construiu mais de 2.400 fogos, é um exemplo de como o poder local foi determinante na transformação do território. Hoje, essa ambição permanece viva, com novos programas como o 1.º Direito, que visam cumprir um direito constitucional: o direito à habitação digna. Evocar esta história não é apenas um gesto simbólico — é afirmar a força da democracia local, construída com o empenho de gerações de autarcas, trabalhadores e cidadãos.
Quais foram os maiores desafios enfrentados nos últimos anos — desde a pandemia até às transformações económicas — e de que forma moldaram a atuação da autarquia?
Nos últimos anos, enfrentámos desafios exigentes, desde a pandemia até às transformações económicas e sociais. Criámos respostas rápidas e estruturadas, reforçámos a proteção civil, modernizámos serviços, apoiámos o comércio local e investimos na coesão social. A perceção de insegurança, quando existe, também é um problema — e por isso expandimos a rede de videovigilância e vamos construir o novo edifício da GNR no Freixieiro. A democracia exige cuidado, memória e compromisso — e foi com essa energia que enfrentámos os últimos anos.
Como está Matosinhos a posicionar-se para atrair investimento, promover o empreendedorismo local e gerar emprego qualificado, sobretudo entre os jovens?
Para este novo mandato, apresentámos aos matosinhenses uma estratégia clara, sufragada democraticamente. Os compromissos assumidos organizam-se em cinco grandes eixos. O primeiro é com as pessoas: com as famílias, com os jovens, com os idosos, com todos os que aqui vivem, trabalham e sonham. Vamos construir 1.500 novos fogos a preços acessíveis, reforçar os instrumentos fiscais que penalizam o abandono e valorizar a função social da habitação. Na saúde, avançaremos com dois novos centros de saúde, ampliaremos a rede de cuidadores locais e construiremos novos lares para responder ao envelhecimento da população. O segundo compromisso é com a qualidade de vida. Daremos início à construção do MetroBus de Leça da Palmeira, pressionaremos para a expansão da rede de metro e reforçaremos a articulação entre modos de transporte, aproximando freguesias e promovendo mobilidade sustentável.
A cultura continuará a ser um pilar da nossa identidade, com reforço da programação e apoio às estruturas criativas e associativas. Como Cidade Europeia do Desporto, investiremos em novos equipamentos, na rede de clubes e na promoção de estilos de vida saudáveis. O terceiro compromisso é com a inovação e com o emprego. Matosinhos está entre os dez concelhos do país com menor peso de trabalhadores no salário mínimo e é o segundo do distrito com maior ganho médio salarial. Estes indicadores traduzem-se em qualidade de vida e bem-estar. Entre o Aeroporto e Leça da Palmeira, temos uma área única à escala europeia para instalação de empresas e valorização da inovação científica. A unidade de robótica da Universidade do Porto e o futuro Centro Internacional para a Biotecnologia Azul são pilares dessa ambição. Continuaremos a apoiar o comércio local e a restauração, modernizando serviços e promovendo-os de forma integrada.
O quarto compromisso é com a segurança das pessoas e do território. Reforçaremos a polícia municipal e a proteção civil, expandiremos a rede de videovigilância e concretizaremos novas infraestruturas de segurança. Tudo isto assenta num planeamento territorial responsável, no quadro da execução das unidades do Plano Diretor Municipal, garantindo um ordenamento claro, equilibrado e sustentável. O quinto compromisso é com a sustentabilidade ambiental e energética. O futuro de Matosinhos constrói-se com responsabilidade e visão. Daremos continuidade ao Corredor Verde do Leça, estruturando um eixo ambiental que ligará freguesias e promoverá novas formas de mobilidade suave. Criaremos mais parques urbanos em S. Mamede, S. Gens, Arroteia, Real, Paz e Monte Castêlo, garantindo que todos os cidadãos têm acesso a zonas verdes próximas, seguras e bem cuidadas. Acreditamos que a sustentabilidade não é um setor, mas uma forma de governar.
Quais são as grandes linhas estratégicas que pretende seguir nos próximos quatro anos e que objetivos quer ver concretizados até ao final do mandato?
Matosinhos está a afirmar-se como território competitivo, inovador e socialmente justo. Os indicadores económicos mostram que somos um dos concelhos com maior ganho médio salarial e menor dependência do salário mínimo. A zona entre o Aeroporto e Leça da Palmeira representa uma oportunidade única para instalação de empresas e valorização da inovação científica. A unidade de robótica da Universidade do Porto e o futuro Centro Internacional para a Biotecnologia Azul são exemplos concretos dessa estratégia. Continuaremos a apoiar o comércio local e a restauração, modernizando serviços, fidelizando clientes e promovendo-os de forma integrada.
Sendo o concelho uma referência nacional na economia do mar e na indústria, que papel terão a APDL, as universidades e os parceiros regionais na estratégia de desenvolvimento futuro?
Matosinhos quer continuar a afirmar-se como capital da economia azul. A colaboração com universidades, centros de investigação e parceiros regionais será reforçada para criar valor, atrair investimento e gerar emprego qualificado. O futuro Centro Internacional para a Biotecnologia Azul e os projetos ligados à robótica e à inovação industrial são pilares dessa ambição. A cooperação intermunicipal será essencial para potenciar este ecossistema.
A habitação acessível e a inclusão social são hoje grandes desafios urbanos. Que respostas concretas está o município a implementar para apoiar famílias e garantir uma cidade mais equilibrada e solidária?
Com o programa 1.º Direito, vamos elevar a oferta pública de habitação a 6% do parque habitacional — acima da média europeia. Construiremos 1.500 fogos a preços acessíveis e aplicaremos instrumentos fiscais que penalizam o abandono e valorizam a função social da habitação. Reforçaremos também a rede de cuidadores locais, os equipamentos sociais e os serviços de proximidade, garantindo que todos os cidadãos têm acesso a condições dignas de vida.
Que metas ambientais e projetos de mobilidade sustentável estão definidos para reduzir emissões, ampliar espaços verdes e preparar Matosinhos para os desafios climáticos?
A sustentabilidade é um eixo transversal da nossa governação. O Corredor Verde do Leça será estruturante, ligando freguesias e promovendo mobilidade suave. Os novos parques urbanos garantirão acesso equitativo a zonas verdes. Queremos que Matosinhos lidere a transição energética e seja referência nacional e europeia em políticas ambientais. Acreditamos que a sustentabilidade não é um compartimento, mas uma forma de governar.
De que forma a Câmara está a investir na cultura, na educação e na participação cívica dos jovens como pilares de uma cidade moderna e inclusiva?
A cultura é um pilar da nossa identidade. A Casa da Arquitectura, a Casa do Design, o Terminal de Cruzeiros e a Orquestra Jazz projetam Matosinhos no mundo. Reforçaremos a programação e o apoio às estruturas criativas. Como Cidade Europeia do Desporto, continuaremos a investir em equipamentos, clubes e estilos de vida saudáveis. A educação e a participação cívica dos jovens serão reforçadas com novos programas e espaços de envolvimento.
Que avanços prevê para a digitalização dos serviços públicos e como está a autarquia a evoluir para um modelo de “smart city” mais eficiente e próximo dos cidadãos?
A inovação é central na nossa estratégia. Apostamos na criação de valor e na distribuição da riqueza pelo emprego. A digitalização dos serviços públicos será reforçada, com plataformas integradas e maior proximidade ao cidadão. Queremos uma administração mais eficiente, transparente e participativa, com mecanismos claros de responsabilização e envolvimento.
Como vê o papel de Matosinhos no contexto da Área Metropolitana do Porto e nas políticas públicas nacionais, em domínios como habitação, energia e desenvolvimento regional?
Matosinhos quer contribuir para uma Área Metropolitana mais forte, com capacidade para falar a uma só voz nas grandes decisões estratégicas. A Frente Atlântica será renovada, articulando instrumentos de gestão territorial. Só com políticas com essa escala e visão partilhada conseguiremos responder aos grandes constrangimentos do crescimento urbano, na mobilidade, na habitação, na coesão territorial, e afirmar um modelo de desenvolvimento verdadeiramente sustentável e equilibrado.
Que legado gostaria de deixar no final deste mandato e qual é a sua maior ambição para o futuro de Matosinhos e dos seus cidadãos?
Como referi no discurso, nenhuma estratégia tem sucesso se não for acompanhada de confiança. O legado que quero deixar é o de uma cidade mais justa, mais verde e mais inovadora. A maior ambição é que Matosinhos continue a liderar pelo exemplo — com exigência, empenho e motivação. Vamos, todos juntos, continuar a trabalhar por Matosinhos.

