Uma operação totalmente eficiente, integrada e sem interrupções, a funcionar 24 horas por dia, 7 dias por semana, é o sonho de qualquer responsável de produção ou de logística. Para alcançar este objetivo de forma eficaz, a utilização de AGVs (Veículos Guiados Automaticamente) e AMRs (Robôs Móveis Autónomos) é um elemento-chave.
No entanto, há um ponto essencial a considerar: instalar uma frota de AGVs ou AMRs não garante, por si só, uma operação eficiente. Uma operação contínua e eficiente depende de vários outros fatores, como o design adequado, a infraestrutura, a integração dos sistemas, bem como o suporte remoto e a manutenção.
Quando observamos instalações a funcionar na perfeição, com KPIs elevados de produtividade e disponibilidade e baixas taxas de erro, não devemos focar-nos apenas no que está visível. É fundamental olhar para tudo o que acontece nos bastidores e ao redor, pois é isso que torna esses resultados possíveis.
Mais uma vez, uma operação eficiente não depende apenas da operação em si.
Gestão energética e carregamento inteligente: o coração do 24/7
Alguns destes fatores críticos devem ser previstos e analisados ao iniciar projetos de automação. O primeiro deles é a tecnologia de carregamento de baterias.
Um dos elementos mais críticos para uma operação 24/7 é a gestão energética. Os robôs não só têm de funcionar, como também o devem fazer sem grandes interrupções para carregamento de baterias, pois isso pode reduzir a disponibilidade total dos recursos e, consequentemente, o desempenho global do sistema.
Cada minuto de paragem representa um minuto sem geração de valor — o que se traduz em custos.
Além disso, uma gestão eficiente do carregamento prolonga a vida útil das baterias. A eficiência no planeamento do carregamento depende da comunicação entre o sistema de gestão de baterias e o controlador da frota de AGVs/AMRs, permitindo retirar os robôs do sistema nos momentos ideais. É essencial garantir que tudo esteja devidamente conetado e integrado para um funcionamento correto.
Em instalações com AGVs e AMRs pequenos — desde plataformas AMR até empilhadores ou contrapesados AGV — o carregamento pode ser assegurado através de carregamento por oportunidade, seja por indução ou contacto.
Já em armazéns automatizados de corredor estreito, o sistema de carregamento é igualmente crucial. Tecnologias como o bus bar system, instalado nas estanterias, permitem o carregamento contínuo dos AGVs VNA, mantendo o desempenho máximo do armazém sem necessidade de equipamentos adicionais ou de pausas planeadas para carregamento.
Este é o componente técnico que realmente viabiliza uma operação 24/7.
Integração de sistemas: a base invisível da eficiência
Outro fator essencial é a integração entre sistemas. Embora invisível, é absolutamente crítico para o funcionamento adequado.
O software da frota de AGVs/AMRs deve estar corretamente integrado com o software que gere os restantes processos — seja o software de gestão de armazéns (WMS) ou o software de produção (MES) — para garantir a troca de informações essenciais.
Muitas empresas acreditam que basta adquirir os robôs, instalar o software e definir algumas rotas. Mas a realidade é que a frota precisa comunicar com o sistema central: receber ordens, atualizar estados, integrar-se na planificação, interagir com outras máquinas, transportadores, operadores e sistemas.
A interoperabilidade está a ganhar cada vez mais relevância com a adoção do padrão de comunicação VDA5050, evidenciando a importância da integração e comunicação para além do hardware.
Processos conectados e middleware robusto
É fundamental garantir que os processos dos robôs estejam alinhados com os processos da planta. Zonas de receção, buffers, transportadores, postos de trabalho, portas, sensores e outros elementos devem ser considerados nos processos do sistema de AGVs/AMRs, pois são partes essenciais da operação.
Através de um middleware robusto, é possível estabelecer estas ligações e permitir a troca de informação.
Uma vez que tudo esteja planeado e conetado, a visibilidade e rastreabilidade tornam-se elementos importantes no dia a dia. Saber a localização de cada robô, o seu estado, tarefas em curso, estado das baterias ou ligação com outros elementos aumenta a confiança no sistema e facilita a gestão.
Quando a integração é mal feita ou insuficiente, surgem gargalos e tempos de paragem. Por outro lado, uma boa planificação da integração garante um desempenho contínuo e ao nível esperado, permitindo alcançar os objetivos definidos.
Suporte remoto e manutenção: garantir a continuidade operacional
Como terceiro pilar, devemos considerar o suporte remoto e a manutenção. Não adianta ter uma frota de robôs que funciona inicialmente se esta não for mantida ao longo do tempo.
O retorno do investimento começa a ser obtido após a entrada na fase operacional. Com o objetivo de uma operação 24/7, é essencial dispor de suporte remoto e manutenção de qualidade.
Por vezes, surgem propostas atrativas devido ao baixo custo inicial, mas isso só funciona no curto prazo. Sem um suporte técnico adequado, a instalação enfrentará paragens frequentes e o desempenho global ficará aquém do esperado.
Monitorização contínua e formação técnica
Há vários componentes a considerar para garantir um funcionamento correto:
Monitorização contínua: os equipamentos devem transmitir dados e indicadores como ocorrências, horas de utilização e estado das baterias, permitindo antecipar avarias e programar manutenções.
Suporte remoto: possibilita que técnicos se conetem remotamente aos robôs para atualizações e diagnósticos rápidos.
Manutenção física e formação: a formação do pessoal da planta é essencial para resolver pequenas ocorrências localmente, mantendo elevada disponibilidade.
Além disso, é importante contar com serviços de manutenção especializados do fornecedor, com técnicos em número suficiente, cobertura geográfica adequada e acordos de nível de serviço (SLAs) bem definidos.
Conclusão:
O Ecossistema Invisível
da Operação 24/7
Como vimos, há muitos fatores a considerar para alcançar uma operação eficiente 24/7.
Não basta ter uma frota de equipamentos capaz de o fazer — é necessário considerar todo o ecossistema envolvente.
Se algum destes fatores for negligenciado ou mal planeado, o 24/7 pode tornar-se inalcançável.
Os robôs podem ter caraterísticas atrativas e adequadas ao processo a automatizar, mas o funcionamento global não depende apenas deles.
Lembremo-nos: uma operação eficiente não reside apenas na operação em si, mas num conjunto de fatores — alguns invisíveis — que determinam se é possível operar de forma sustentável, escalável e eficiente.


