“Pretendemos manter no Alentejo a nossa referência, mas com uma projeção Internacional”

“O direito evolui e a cada dia os desafios aumentam, principalmente para aqueles que tratam na área internacional. Acreditamos que 2023 será um ano de crescimento e que podemos continuar a crescer nas áreas do direito das empresas, investimento e emigração”, afirma Ricardo Bacalhau, Managing Partner da Bespoke Law Firm, que levantou um pouco o «véu» sobre a atualidade da marca, mas, acima de tudo, sobre as expetativas para 2023, assegurando que o próximo ano será “o ano de dar o salto”.

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A Josué Bacalhau & Associados é um escritório especializado em todas as áreas de Direito. E nos dias de hoje, também faz parte da equipa da BLITA International. Quais foram os objetivos que nortearam esta integração? Quão vantajoso é essa integração para a vossa ampla carteira de clientes?

A nossa firma é “full service”, mas as áreas que são o pilar da firma são as empresas, e tudo o que tem a ver com as atividades empresariais, a área assessoria tributária e planificação de impostos e litigação tributária, obviamente a área de emigração onde o escritório é bastante forte e assessoria legal e de investimento, área de insolvência e recuperação de empresas. Estas são as áreas que fazem com que a integração num grupo internacional como a BLITA tenham sentido. A BLITA está em 17 países e conta com 33 firmas associadas que trabalham de forma coordenada para que os clientes de cada país tenham um nível de serviço de alto nível onde quer que estejam. Se um cliente está em Bogotá, em Lima, no México, nos Estados Unidos, em Espanha, Itália, entre outros, sabe que poderá contar com o mesmo nível de serviço e capacidade técnica em Portugal, como no seu país de origem. O mesmo se aplica ao inverso, se um cliente português requer serviços em qualquer dos países, será tratado como se estivesse em Portugal e pode tratar dos seus assuntos através de Portugal. Da mesma forma sabe que se está a investir em algum destes países, pode contar com assessoria pré-investimento ou para o acompanhamento da operação no estrangeiro e contará sempre com o apoio nos dois países de forma integrada. A BLITA permite criar e desenhar soluções com segurança em 17 países e isso é de facto uma questão essencial para a confiança e tranquilidade dos clientes nacionais e internacionais.

A Josué Bacalhau & Associados está localizada em Vila Viçosa no Distrito de Évora, no coração alentejano. Quão desafiante é em pleno Alentejo prestar serviços personalizados e de qualidade para clientes nacionais e internacionais? Como é que a BLITA International ajuda a garantir a qualidade dos serviços entre países?

A verdade é que somos uma firma internacional no Alentejo e temos gosto que assim seja. Uma grande parte dos nossos clientes são internacionais e muitas vezes querem visitar-nos no nosso escritório, afinal de contas é a duas horas de caminho e quando recebemos estes clientes de vários países como o México, Peru, Colômbia, Estados Unidos e até europeus, a verdade é que quando nos visitam no escritório, normalmente apenas conhecem Lisboa e Porto e apresentar o Alentejo é um gosto e uma honra… normalmente ficam impressionados pelas paisagens, os restaurantes, hotéis e, obviamente, o ambiente de trabalho que está implementado na firma. Por isso, estou sempre a dizer que somos uma firma do Alentejo para o mundo e que no Alentejo não somos só paisagem. Por vezes é difícil de explicar porque decidimos estar no Alentejo e não em Lisboa, mas depois de estarem no nosso escritório entendem o porquê. é qualidade de vida para toda a equipa. somos já 12 pessoas a trabalhar para prestar serviços de qualidade. Também temos a vantagem de poder deslocar-nos com facilidade e então para os clientes nacionais, normalmente vamos aos escritórios dos mesmos para reuniões importantes e normalmente já tudo se faz com recurso aos meios eletrónicos, quando os workflows estão bem definidos, o trabalho faz-se com a qualidade que requer estar ao mais alto nível. Além de que a BLITA tem também uma equipa de marketing e gestão de clientes independente, o que por si facilita a interação das várias firmas e como se coordenam. Além de contarmos com profissionais da BLITA que criam as condições para que as firmas estejam em contacto e bem organizadas, as ferramentas da BLITA facilitam o trabalho e além disso, todos os sócios se conhecem e isso faz com que o trabalho se possa distribuir de forma personalizada entre os sócios. são mais de 80 sócios que se conhecem e podem trabalhar em equipa. a BLITA não é uma rede sem contacto ou despersonalizada, somos sócios, amigos e uma equipa de trabalho global. Qualquer sócio, em qualquer país, pode agarrar o telefone e ligar para o outro país com a confiança de com quem está a falar é uma pessoa que conhece e tem uma grande capacidade técnica, além de equipa para criar soluções. É normal que alguém de outro país, por ter uma dúvida sobre determinada jurisdição, fale com o colega dessa jurisdição para poder resolver essa dúvida. E isso não é uma consulta paga ou coisa que se pareça, é exatamente igual a que alguém no nosso escritório vá a outra sala falar com o colega de trabalho e discutir uma ideia ou tirar uma dúvida.

Ainda no mesmo tópico de conversa, a localização da firma é um entrave, por exemplo, ao nível de recrutamento? Se sim, o que é que a empresa tem desenvolvido para captar e atrair recursos humanos?

Esse é um tema delicado. alguns advogados acham que no Alentejo não podem ter carreira internacional ou trabalhar em casos interessantes ou com clientes grandes ou internacionais. Essa ideia vem porque todos acham que se não se está em Lisboa ou no Porto, não se pode ser uma firma de alto nível, o que prejudica o recrutamento. A verdade é que depois da pandemia tem aparecido mais candidatos com interesse em desenvolver a sua carreira profissional no Alentejo e também a sua vida familiar. isso tem permitido fazer crescer a equipa e captar talentos na área do direito e nas áreas que nos interessam. O que criamos na firma é uma cultura de família e profissionalismo. Ao mesmo tempo que criamos uma cultura de trabalho, com rigor e profissionalismo, criamos uma cultura de trabalho que permite o desenvolvimento familiar, dando tempo para a família e dando tempo para o desenvolvimento de atividades pessoais. Quem trabalha no escritório, sabe que a política de porta aberta permite a confiança para falar, perguntar e também não ter a sensação de obrigação de um “trabalho de 9 às 5”. Aqui somos uma equipa que trabalha para um bem comum, com o mesmo sentido e remamos para o mesmo lado. creio que isso permitiu que tenhamos a capacidade de captar talentos acabados de sair da universidade com 23 anos e ter pessoas mais velhas que podem orientar e com que todos podemos contar sempre. Acho que essa identidade de uma organização com regras, mas que está adaptada às necessidades familiares e pessoais de cada um, é um plus para captar recursos.

No mesmo ponto de conversa, como é que têm contribuído para o desenvolvimento económico da região onde se inserem? E como é que a integração na BLITA International ajuda na concretização desse objetivo?

A firma tem muitos clientes internacionais que investem em Portugal e também no Alentejo. na verdade podemos dizer que vários clientes criam empresas na região, desenvolvem aqui negócios e temos mesmo aqueles que querem viver no Alentejo. Para nós é uma felicidade ter clientes que acham a região atrativa e adaptada às necessidades e expetativas. A BLITA permite uma captação global de clientes. temos que entender que somos 33 firmas que podem dar aos clientes soluções em 17 países, desde os Estados Unidos, a maior parte do continente americano, Europa e China, somos um grupo interessante e que permite que os clientes tenham a confiança de trabalhar com gente conhecida. Se alguém em Portugal quer uma assessoria ou apoio noutro país, nós não referimos de forma impessoal, sabemos quem pode ser o sócio que pode ajudar e por isso o cliente sente que está a ser tratado por pessoas que se conhecem e trabalham juntas.  Por isso quando alguém de outro país nos liga e apresenta o cliente ou a questão, normalmente isso cria sinergias que muitas vezes criam investimentos em Portugal, mas também no Alentejo. Diria que assessoramos vários clientes que contribuem bastante para o desenvolvimento da região com os seus negócios e investimentos. O facto de estarmos aqui no Alentejo ajuda a que se mantenham na região, além de que sempre que falam connosco, o Alentejo é assunto, porque a pergunta é; “não estão em Lisboa?”, e nós explicamos onde estamos e que de carro estamos a uma hora e meia de Lisboa, três horas e meia de Madrid de carro. é sempre o ponto de conversa a preciosa localização que temos.

Avançando agora para outro assunto. Que tipo de desafios trouxe a nova realidade dos serviços profissionais no mercado jurídico, tanto para Portugal, quer como a nível internacional? Na sua perspetiva, como é que esta mudança de paradigma está a ser encarada pelas empresas do setor?

Os clientes querem cada vez mais um interlocutor para os seus assuntos legais e de negócios. querem tratar com uma firma que lhe trate os assuntos dos seus negócios, nas várias perspetivas e de acordo com as suas necessidades. Fala-se muito na multidisciplinaridade das firmas de advogados e que isso desvirtua o exercício da advocacia, mas na minha modesta opinião, a questão é que isso já acontece de forma mais ou menos visível nas firmas de consultoria e auditoria, por isso é dizer que só não vê quem não quer ver. As necessidades dos clientes requerem que as firmas recorram a consultores de outras áreas, e, muitas vezes, dependendo do core business da firma, esses consultores são parte das equipas de trabalho. Nos dias de hoje, as necessidades dos clientes são muito mais que a simples questão legal, é muito mais complexa e requer que os advogados sejam cada vez mais especializados e trabalhem em equipa com outros profissionais, consultores económicos, contabilistas, arquitetos, engenheiros, entre outros. As firmas têm que se adaptar às necessidades dos clientes nacionais e internacionais, as empresas já não querem um advogado, querem sim, uma equipa de assessoria capaz de dar resposta às exigências e desafios dos clientes. A mentalidade tem que mudar, as novas realidades e desafios estão aí, por isso é preciso crescer e adaptar-nos a todas as novas necessidades. é preciso criar as regras para que isso possa ser uma realidade e cada vez mais as firmas, grandes ou pequenas, possam dar resposta global às necessidades dos clientes. Para uma questão de trabalho, hoje o cliente não quer tratar com várias pessoas para tratar dos assuntos dos seus negócios. é preciso dar uma resposta a essas necessidades de forma global, eficiente e capaz de dar ao cliente o que pede: um serviço completo, regulado e eficaz. Temos que criar regras para operar no mercado mais adaptado às necessidades. as firmas que se dedicam aos negócios já são multidisciplinares, por isso o melhor é permitir que tudo se faça como deve ser e não na sombra, fechar os olhos e não ver a evolução do setor e dos serviços profissionais.

Tendo em conta a vossa larga experiência em todas as áreas de Direito, como avaliam as estratégias sobre transformação digital que começam a estar patenteadas um pouco por toda a Europa? Acredita que, atualmente, as empresas portuguesas, principalmente as do interior, já dispõem de ferramentas para colocar em prática a transformação digital dos seus serviços e processos?

A grande parte das empresas já usam tecnologias que permitem estar nessa transformação digital. já usam a nuvem, as apps, entre outros. As empresas estão preparadas, ou podem preparar-se para essa transformação digital. A nossa experiência é que com os clientes que trabalhamos as empresas estão bem preparadas, têm estrutura digital, usam aplicações na nuvem e é fácil trabalhar com essas empresas e empresários pois acho que estão cada vez mais preparados e cada vez menos infoexcluídos. E que no interior há menos empresas preparadas é um mito. A internet é tão rápida aqui no Alentejo como em Lisboa, temos acesso às mesmas ferramentas e o interior não é o fim do mundo. Tudo é uma questão de interesse e estratégia da empresa. os empresários é que decidem que nível de tecnologia têm implementadas, aqui ou em qualquer lugar. Tratamos com clientes que trabalham remotamente nos montes do Alentejo, ou no cluster de Évora. E cada vez mais as firmas de serviços profissionais estão digitais, o que no nosso caso acontece com a implementação de software de gestão de processos e clientes que permite trabalhar remotamente e, além disso, interligar os escritórios, clientes e advogados. A transformação ainda está a começar, agora é o princípio e temos que ter a capacidade de entender a direção e o ritmo da transformação. não se pode perder o comboio.

No próximo ano, decorrerá o BLITA PORTUGAL 2023 no Alentejo, sendo este o evento anual mais importante do ano, que juntará 17 países e 33 firmas internacionais. Que pontos vão ser discutidos nesta conferência internacional? Quão vantajoso será este evento para o Alentejo?

Este ano apresentámos a nossa candidatura para o evento anual de 2023 e, felizmente, foi aceite. O que procuramos é que seja um evento internacional no Alentejo onde queremos mostrar que o Alentejo tem as condições, infraestruturas e é capaz de receber e discutir matérias de investimento internacional e atrair mais investimento. A ordem de trabalhos ainda não está definida, mas com certeza teremos na agenda Portugal como capaz de atrair investimento, obviamente o Alentejo, que queremos promover ao máximo e mostrar que na região há várias oportunidades e temos capacidade de captar investimento estrangeiro. BLITA 2023 será um evento de BLITA 2023, Alentejo, Portugal. Esperamos contar com as entidades que se dedicam ao desenvolvimento da região e apostar na visibilidade de Portugal no panorama dos potenciais clientes que têm origem nos sócios da BLITA e dar também oportunidade às empresas da região de ter assessorias grátis com os representantes desses países para potenciais negócios e também demonstrar que podem com confiança exportar e investir nas exportações para outros mercados com o apoio técnico e assessoria de alta qualidade das firmas que vão estar em Portugal.

Por último, como perspetiva o futuro da empresa? E na sua opinião, que desafios e oportunidades o ano de 2023 trará para as áreas do Direito?

O direito evolui e a cada dia os desafios aumentam, principalmente para aqueles que tratam na área internacional. Acreditamos que 2023 será um ano de crescimento e que podemos continuar a crescer nas áreas do direito das empresas, investimento e emigração. A firma em 2023 vai sofrer algumas mudanças. estamos a crescer e não queremos sofrer de dores de crescimento. sabemos que é difícil não as ter, mas crescer a um ritmo forte requer que a firma mantenha a forma, mas ao mesmo tempo se adapte à evolução. Ao ter o escritório em Monterrey, México, com uma equipa dedicada à emigração e investimentos, dirigida pelo nosso sócio Manuel Marroquin, obriga a que aqui em Portugal tenhamos que tomar decisões sobre o futuro. a integração de novos sócios nacionais e internacionais cria uma pressão de adaptação que temos que ter em conta para o futuro. Para já, a Josué Bacalhau & Associados é a firma de advogados em Portugal, mas para permitir chegar a outros mercados, ser mais competitivo e criar melhores condições para os sócios internacionais foi criada a firma Obsidiana Global Partners que achamos que será o futuro dos serviços profissionais que entendemos que devemos ter. A Obsidiana é onde os sócios internacionais e nós nos juntamos para criar valor e uma marca de referência num futuro próximo. 2023 é o ano para arrancar com estes novos projetos, a internacionalização com presença em regiões onde a BLITA não tem presença física e permitir criar valor em outras regiões com uma matriz portuguesa. A firma pretende manter no Alentejo a sua referência, mas com uma projeção internacional. Ser internacional é uma matriz que já temos através da BLITA, mas com escritórios próprios noutras regiões/cidades, principalmente no continente americano e nos Estados Unidos e México, em particular, é o grande projeto de 2023. Acreditamos que podemos chegar melhor aos nossos clientes e dar mais confiança com presença física onde os nossos clientes precisam. 2023 é o ano de dar o salto, mas ao mesmo tempo de ter a consciência que a estratégia da firma deve ser executada de forma rigorosa e capaz de dar o crescimento de valor, mercado e marca que pretendemos.