Olho Seco no outono e inverno: descubra como enfrentar esta condição

Com a chegada do outono, assistimos não só à transformação da paisagem, mas também a uma transição marcante nos nossos hábitos diários. O clima mais frio e a redução das horas de luz natural incentivam-nos a passar mais tempo em ambientes fechados, muitas vezes acompanhados por aparelhos digitais. Esta mudança sazonal, combinada com a crescente dependência da tecnologia, coloca os nossos olhos numa posição vulnerável, sujeitos a uma série de desconfortos e condições. Entre estas, a Síndrome do Olho Seco destaca-se como um problema prevalente, mas muitas vezes negligenciado, merecendo uma atenção especial durante as estações mais frias do ano.

1855

Salgado-Borges. MD, PhD, FEBO, Diretor Clínico da Clinsborges, Embaixador em Portugal do TFOS (Tear Film & Ocular Surface Society) e Membro da EUDES (European Dry Eye Society)
www.clinsborges.pt / www.salgadoborges.com

A Síndrome do Olho Seco em Portugal

A Síndrome do Olho Seco, caracteriza-se pela produção insuficiente de lágrimas de qualidade ou pela sua rápida evaporação. Estas circunstâncias podem originar sintomas como irritação, ardor, uma sensação persistente de corpo estranho no olho e, em alguns casos, um lacrimejar excessivo. Esta condição tem a potencialidade de afetar de maneira significativa a qualidade de vida, interferindo em tarefas diárias comuns como ler, trabalhar ao computador ou conduzir.
Em Portugal, estima-se que quase dois milhões de cidadãos são afetados pelo Olho Seco, uma realidade que sublinha uma necessidade urgente de iniciativas e consciencialização. No intuito de responder a este desafio crescente, em 2018, a Clinsborges inaugurou o primeiro Centro Integrado de Olho Seco (CIOS) em Portugal, um espaço dedicado a proporcionar soluções específicas para os indivíduos que enfrentam graves dificuldades decorrentes de secura ocular. Este centro especializado tem como objetivo principal realizar uma análise aprofundada da condição dos pacientes, estabelecendo o tratamento mais adequado. Após esta intervenção, os pacientes são encaminhados para os seus médicos de referência com um plano de diagnóstico e tratamento devidamente estruturado.

Fatores de risco agravados durante o outono e inverno: ambientais e tecnológicos

À medida que transitamos para as estações mais frias do ano, outono e inverno, é imprescindível destacar os fatores ambientais e tecnológicos que intensificam os sintomas do Olho Seco. A característica aridez e frieza do ar durante estes períodos potenciam uma maior evaporação das lágrimas, tornando os olhos mais vulneráveis a irritações. Este efeito é exacerbado pelo uso frequente de sistemas de aquecimento em espaços fechados, que tendem a reduzir ainda mais a humidade do ar, criando um ambiente onde os sintomas do olho seco podem agravar-se significativamente.
Além disso, as práticas comuns nestas estações, como a utilização de lareiras e aquecedores a lenha, podem libertar partículas poluentes no ar, aumentando ainda mais a irritação ocular. As saídas ao ar livre, muitas vezes acompanhadas por ventos frios, podem intensificar o desconforto nos olhos, especialmente se não forem adotadas medidas de proteção apropriadas.
Concomitantemente, não podemos ignorar o impacto significativo da evolução tecnológica nesta problemática. A utilização cada vez mais intensiva de dispositivos digitais, como computadores, tablets e smartphones, levou a uma redução na frequência do pestanejo, um mecanismo natural e vital para a lubrificação ocular. A luz azul emitida por estes aparelhos pode ser um contribuinte significativo para a fadiga e o esforço ocular, aumentando a suscetibilidade à Síndrome do Olho Seco. Este problema torna-se ainda mais agravado durante os meses de outono e inverno, quando as horas de luz natural diminuem, resultando num aumento do tempo de exposição à luz artificial e aos ecrãs, fatores que exacerbam os riscos e desconforto associados ao Olho Seco.

Medidas de prevenção e alívio

Face aos desafios apresentados, é vital adotar estratégias de prevenção e alívio para mitigar os efeitos da Síndrome do Olho Seco durante as estações mais frias.
Algumas medidas preventivas eficazes incluem:

Hidratação adequada: A ingestão suficiente de líquidos ajuda a manter a hidratação dos olhos, evitando a secura e irritação.
Proteção ocular: O uso de óculos de sol ou óculos com proteção lateral pode proteger os olhos dos ventos frios e secos, especialmente durante atividades ao ar livre.
Pausas regulares: Ao trabalhar com aparelhos digitais, é importante fazer pausas regulares para descansar os olhos e permitir uma lubrificação adequada através do pestanejo.
Alimentação equilibrada: A inclusão de alimentos ricos em vitamina D e ácidos gordos ómega-3 na dieta pode ajudar a melhorar a qualidade das lágrimas, oferecendo algum alívio.
Uso de humidificadores: A utilização de humidificadores pode ajudar a manter um nível adequado de humidade nos espaços interiores, prevenindo a evaporação excessiva das lágrimas.
Consultas regulares de oftalmologia: Para aqueles que já apresentam sintomas persistentes de olho seco, é recomendável consultar um médico oftalmologista para uma avaliação adequada e orientação sobre possíveis tratamento e intervenção.

Ao adotar estas estratégias, irá certamente experienciar um outono e inverno com maior conforto, prevenindo e atenuando eficazmente os sintomas do Olho Seco, fomentando assim uma melhor qualidade de vida durante estas estações encantadoras, ainda que desafiantes.

Conclusão

À medida que avançamos para as estações de outono e inverno, é vital voltarmos a nossa atenção para a preservação da saúde ocular. A Síndrome do Olho Seco, uma condição potencialmente agravada nesta época do ano, exige uma gestão atenta e proativa de cada um de nós.
Em Portugal, onde uma parcela significativa da população é afetada por esta condição, é crucial reforçar as iniciativas de educação e consciencialização para a saúde ocular, especialmente neste momento de crescente incorporação de tecnologia digital no ambiente escolar, a partir das fases iniciais de ensino. Importa também destacar que existem grupos mais vulneráveis, nomeadamente mulheres na pós-menopausa e indivíduos com mais de 60 anos, que podem experienciar uma redução considerável na produção de lágrimas.
Neste Dia Mundial da Visão, lembramo-nos da nossa obrigação de cuidar da nossa saúde visual, incentivando a adoção de práticas que defendem e sustentam a nossa capacidade de ver, permitindo-nos apreciar plenamente as ricas cores e belezas que o outono e o inverno nos trazem, com todo o conforto e bem-estar.