Início Atualidade “A invasão à Ucrânia vem agravar um problema que serve como um combustível que alimenta outros fenómenos”

“A invasão à Ucrânia vem agravar um problema que serve como um combustível que alimenta outros fenómenos”

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“A invasão à Ucrânia vem agravar um problema que serve como um combustível que alimenta outros fenómenos”

Vamos falar sobre um assunto que atualmente tanto nos diz respeito a todos… A Guerra da Rússia para com a Ucrânia. De que forma considera que este acontecimento impactará o nosso país?
O conflito impactará, inevitavelmente, não só o outro extremo da europa, como a “ordem mundial” propriamente dita. Começando pelo conflito militar, é evidente começar por mencionar a quantidade de, não só tratados, como princípios como o da autodeterminação dos povos, que esta invasão viola. Assim, aberto este precedente, pode estar dado o mote para que a Rússia, confirmando o sucesso das suas intenções em território ucraniano, decida replicar o plano de ação noutros países vizinhos que façam, também, fronteira com a NATO, como os bálticos e, ainda que improvável, na Polónia. Isto para introduzir que, ainda que não diretamente, pode impactar o nosso país no sentido de enfraquecer a NATO e a UE, de que Portugal, para além de fazer parte, confia e depende. Outro ponto que importa referir é a crise de refugiados inerente à invasão. Conflitos e guerras fora do continente europeu, por si só, já eram tema e polémica na gestão que se fazia de pessoas que, em desespero, entravam na europa (muitas ilegalmente) para que pudessem ter uma vida melhor. A invasão à Ucrânia serve apenas para agravar um problema que, para além de não ter solução à vista, serve como um “combustível” que alimenta ainda outros fenómenos como a ascensão da extrema direita europeia. Numa altura em que seria importante a integração de pessoas que fugiram de casa para sobreviver, os movimentos de extrema direita aproveitar-se-ão do sucedido para por em causa as qualificações, direitos e méritos destas pessoas, como o fazem com tantos outros grupos étnicos e/ou raciais. Por fim, o impacto mais direto e mais sentido pela generalidade dos portugueses, será o aumento do custo de matérias primas e produtos. A dependência europeia do gás russo fará aumentar o preço do gás consumido em casa (ainda que Portugal receba a maior percentagem do continente africano) e, consequentemente, de todo o tipo de produtos. Com o aumento do custo de matérias primas oriundas do leste da europa, o transporte de qualquer tipo de produto e matéria prima aumentará, bem como a sua produção e, posteriormente, preço final, que se irá refletir no poder de compra de todos os portugueses.

Assim, qual a sua visão sobre o mesmo?
Visões geopolíticas especialistas à parte, é importante perceber que o tenso clima que pode ter precipitado este conflito, não é recente. A localização geográfica da Ucrânia, fazendo fronteira entre o território da NATO e a Rússia, sempre foi motivo de preocupação para ambas as partes. Intenções, cada vez mais explícitas, de a Ucrânia se juntar tanto a esta organização como a UE, mesmo depois de logo após a queda do Muro de Berlim, a NATO se ter comprometido a não alargar as suas fronteiras a leste, pode claramente ter precipitado o conflito. Ainda assim, a operação militar que testemunhamos em nada disto encontra justificação ou desculpa. Putin, não só na revelação do seu autoritarismo, mas, também, da sua visão megalómana, procura reinstalar o poderio soviético de outrora a leste, querendo-se reafirmar, não só ao Ocidente, mas ao Mundo, como umas das principais potências mundiais.