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À MEDIDA DE CADA CASO

À MEDIDA DE CADA CASO
Luís Ferreira Vicente

Considera que a infertilidade, um problema de saúde pública, reconhecido pela Organização Mundial de Saúde, está a aumentar nos países industrializados?

Sim, temos assistido a esse aumento. Isso pode dever-se a um adiar da gravidez nas mulheres, para depois dos 35 anos, altura em que se inica o declínio natural da fertilidade. Para além disso, há uma maior exposição ambiental a substâncias que reduzem a fertilidade feminina e masculina (os chamados disruptores endócrinos).

Concorda que as razões apontadas para o aumento da infertilidade são sobretudo de ordem biológica, mas também social e psicológica?

A nossa saúde é um todo e compreende todas as razões que apontou. Países industrializados, com maior preocupação social a longo prazo, (como os países nórdicos ou a Alemanha, por exemplo), já investem, há muitos anos, na promoção da natalidade. Isso implica medidas sociais de apoio á gravidez antes dos 35 anos, por exemplo.

É mais comum do que se julga?

A maior prevalência é real e não apenas resultante duma maior procura de cuidados médicos por maior conhecimento dos doentes. Duas avaliações, em França e nos Estados Unidos, demonstram que há uma redução da qualidade dos gâmetas masculinos, nos Bancos de dadores dos anos 80 para agora.

No Centro de Procriação Medicamente Assistida (CPMA) do Hospital Lusíadas de Lisboa, como é que dão resposta a este problema de infertilidade?

Nos Centros dedicados a esta área em Portugal damos todo o apoio na investigação das causas de infertilidade e sua correção. Esta, pode ser conseguida através de tratamentos de procriação medicamente assistida (inseminação intra-uterina e fertilização in vitro), ou implicar a realização de cirurgias ginecológicas ou urológicas.

Como não resolvemos a infertilidade apenas com técnicas de procriação medicamente assistida, criámos nos Lusíadas um dos primeiros Centros em Portugal de avaliação e tratamento multidisciplinar integrado da endometriose. O Centro especializado em Endometriose reúne todos os Especialistas no mesmo Centro de forma a se encontrar a melhor solução para as mulheres com endometriose.

Assumiu recentemente que “todos os dias há atualizações nesta área, o que permite que seja possível definir as melhores práticas para cada caso e, assim, aumentar as taxas de gravidez”. Que soluções e práticas são estas?

Esta área é muito estimulante em termos de atualizações e investigação médica e laboratorial. Temos de nos atualizar e estudar permanentemente. As novidades que surgem da investigação afetam na área médica as formas de estimulação ovárica, protocolos de tratamento que otimizem a resposta e a personalização dos tratamentos. Na área laboratorial, afetam os meios de cultura, a forma de congelamento com maior sobrevivência dos embriões, critérios de classificação embrionária…entre outras inovações.

Como é que é possível escolher o melhor ovócito, embrião e endométrio e a altura ideal para se fazer a transferência de embriões, de forma a diminuir a taxa de insucesso?

O laboratório de embriologia é a peça fulcral nos tratamentos. São importantíssimas as condições em que se encontram os embriões “in vitro”. Atualmente, as condições de time-lapse, (em que os embriões estão a ser avaliados continuamente), tem fornecido imensos parâmetros de avaliação que terão de ser valorizados, de forma a se atingirem os citérios de avaliação que são mais preditivos da ocorrência de gravidez.

Do ponto de vista endometrial, estão ser conhecidos os parâmetros que nos indiquem a janela de implantação do endométrio. Nas situações de falhas de implantação de repetição, podemos avaliar a janela de implantação personalizada, de forma a se conseguir a gravidez.

A fase de desenvolvimento do embrião em que se faz a transferência para o útero depende de vários fatores que devem ser integrados: o número de embriões disponível, o seu desenvolvimento em cultura prolongada, os resultados anteriores.

Como é que apresentam soluções de Procriação Medicamente Assistida (PMA) à medida de cada caso?

Atualmente, a Medicina tende a adequar de forma personalizada os tratamentos aos doentes e não tratar da mesma forma todos os eles. Na nossa área isso é cumprido à risca: Protocolos de tratamento “tailored” ou adequados aos nossos casais: tratamento dirigido à causa da infertilidade, tipo de resposta do ovário, idade da mulher,…, resposta em tratamentos anteriores. De facto, um tratamento “feito à medida” e não “pronto a vestir”.