“Definimos e trabalhamos os valores da organização juntos”

A Revista Pontos de Vista esteve à conversa com Patrícia Villas-Boas, People & Culture Diretor do Schmidt Light Metal Group sobre a importância do Capital Humano para as organizações.

191

O Schmidt Light Metal Group é uma organização inovadora, não só nos seus serviços, mas também na abordagem que tem com as suas Pessoas. Como define o compromisso de People First da marca?

Foi durante a pandemia, em 2020 e face aos enormes desafios que esta trouxe, que utilizamos, pela primeira vez People First para descrever o compromisso com as nossas pessoas, mas curiosamente esta é a génese da organização há muitos anos.

E este compromisso tem um lado muito visível e público e um outro, tal como a Cultura organizacional per si, que ocorre sem publicidade nem parangonas. E é aqui que fazemos a diferença.

Numa área, a metalomecânica, onde o trabalho é exigente, muitas vezes fisicamente, o nosso foco é trabalhar para que “todas as pessoas se sintam seguras, vistas, ouvidas e respeitadas”. Só desta forma conseguiremos trabalhar para um objetivo comum, onde cada um sabe qual é o seu papel para o sucesso da organização, contribui orgulhosamente para isso, pondo o seu Talento a uso.

Não somos perfeitos e o desenvolvimento de uma cultura focada no bem-estar, físico e mental, é um trabalho contínuo, sem fim, mas que tem de ser encarado, não como um “nice to have” mas como um “must have”.

Para que isto seja possível temos de investir permanentemente em duas áreas: a comunicação e a liderança, sendo esta última o nosso foco estratégico para 2023. Já fizemos um longo caminho nesta área, mas há ainda muito a fazer. Queremos líderes corajosos, próximos das suas pessoas, empáticos sem deixarem de exigir, “accountable” (que é mais do que ser meramente responsável) e que sejam os primeiros a dizer à sua equipa: “eu estou aqui”.

Nem todos os dias são bons e temos muito caminho a fazer, mas, na minha opinião, é esta consciência que é diferenciadora.

Também não teríamos feito este caminho sem uma Administração focada nas pessoas. E se hoje há uma consciência da população em geral e empresarial, em particular, da necessidade de assim ser, quando a empresa foi criada em 1989 não era assim. É através do exemplo, muitas vezes altruísta, de quem nos guia, que desenvolvemos coletivamente esta consciência e forma de atuar.

Se as Pessoas não estiverem alinhadas com o nosso propósito e os nossos valores, não serão felizes e capazes de desenvolver o trabalho inovador que necessitamos.

Sabemos que nem todos os dias são bons, sabemos que há dias em que a vida interfere demasiado na forma como cada um se sente, com aquilo que é capaz de dar, com o talento que põe a uso e isso não faz mal pois sabemos que cada um está consciente do papel que tem e dará o máximo, colocará o seu talento plenamente a uso, nos dias em que a vida assim o permitir. Se cada pessoa sentir que é tratada com justiça, generosidade, sendo-lhe sempre incutida responsabilidade para com o negócio e para com os colegas, então tudo fará para que o sucesso da organização seja também um objetivo seu.

People First no Schmidt Light Metal Group é isto: é pensar pessoas, é ter este princípio na agenda da Administração, é transformá-lo na estratégia operacional, é ser o modo de agir das lideranças e estar na forma como cada um se relaciona com o colega. Deste caminho fazem parte dias bons e dias duros, em que decisões corajosas têm de ser tomadas. Dias em que rimos, mas também choramos juntos, dias em que acolhemos novos colaboradores, de diversas partes do mundo e dias em que temos de dizer adeus a alguém que parte. O que se passa nas linhas não contadas de cada um destes dias é que nos diferencia e cria um grupo de pessoas comprometidas, com o negócio e umas com as outras.

De que forma uma cultura positiva, de envolvimento e pertença, tem vindo a fazer a diferença nos resultados da empresa?

A indústria automóvel tem sofrido nos últimos  três anos de uma diminuição significativa do seu negócio, provocada pela pandemia em 2020, pela falta de semi-condutores em 2021 e pela Guerra na Ucrânia em 2022. Qualquer que fosse o plano que tínhamos, as expetativas que criamos no dia 12 de março de 2020, nada faria supor o que têm sido os últimos  3 anos.

No dia 23 de novembro de 2019 o Grupo completou 30 anos. Vínhamos de um caminho reforçado de proximidade com as pessoas. Definimos e trabalhamos os valores da organização juntos, e quando digo juntos refiro-me a todos mesmo, estávamos empenhados no nosso novo modelo de Competências, o ARTE. Havia festejos e atividades planeadas para continuação do processo de renovação de cultura iniciado em 2018. E de repente, tudo mudou. E foi nesta mudança, na necessidade de, acima de tudo, mantermos as pessoas em segurança, que fortalecemos uma cultura de proximidade com as pessoas, com uma comunicação genuína, transparente e honesta. E esta honestidade passou por dizer, tantas e tantas vezes, “também não temos a resposta, mas estamos aqui e continuaremos a trabalhar para que possamos seguir em frente”.

Tal como uma cultura People First é feita de muitos momentos não “escritos”, é também da consciência de imperfeição, de necessidade de mudança, de humildade, que o nosso caminho tem sido feito.

Falei da definição dos valores da organização. A decisão de que todos teriam voz ativa na escolha e definição de cada um destes valores foi, na minha opinião, o ponto pivotal de mudança. Quantas empresas envolvem todos os colaboradores neste processo? Quantas empresas têm valores nascidos tão e só apenas da mesa da Administração?

Pela forma como desenhamos e desenvolvemos toda a transformação cultural iniciada em 2018, foi possível realizarmos programas disruptivos que passaram pelo “Living our Values”, pelo ARTE, pelo soMos e pelo Evolvere, estes dois últimos, programas voluntários de desenvolvimento pessoal, onde participaram 80 colaboradores e onde foi possível encontrar um enorme potencial e talento. Trabalhamos para uma proximidade de confiança, onde vulnerabilidade é aceite, onde liberdade é sinónimo de responsabilidade e onde todos têm um papel a desempenhar.

Do soMos nasceu um grupo de apoio a jovens Famílias, a Ajuda de Colo, onde voluntários preparam roupa e outros bens, para famílias que solicitam ajuda, com o contributo de todos na organização que trazem aquilo que já não lhes faz falta ou contribuem com a aquisição de bens de primeira necessidade para as crianças e bebés.

Não acredito que exista uma medida, um KPI que diretamente correlacione o nosso desenvolvimento, o nosso sucesso, com esta cultura de proximidade. Ao mesmo tempo não tenho a menor dúvida que sem um trabalho contínuo, consciente e de todos, sobretudo aqueles que têm responsabilidade de Liderança, numa cultura People First, não teríamos conseguido ultrapassar os desafios e obstáculos que têm surgido.

Nada acontece por acaso, sobretudo quando falamos de uma organização que compete mundialmente pelo fornecimento de componentes para a indústria automóvel e que hoje se pode orgulhar de dizer que peças produzidas em Oliveira de Azeméis, incorporam automóveis que circulam em quatro continentes. Resulta de um esforço contínuo, de uma consciência de que podemos fazer mais, sem nunca sacrificar o nosso bem mais precioso, as nossas Pessoas.