O crescimento da Catraport na Indústria Automóvel

Fundada em 2015 em Portugal, a Catraport, empresa pertencente ao grupo italiano P&C System, produz componentes metálicos para a indústria automóvel, através do processo de estampagem a frio. Na presente edição, a Revista Pontos de Vista esteve à conversa com Umberto Pellegri, Administrador desta instituição, que nos contou sobre o trajeto de crescimento da mesma e o respetivo projeto de expansão para o futuro próximo.

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O destino levou-nos a parar na aldeia e freguesia de Mós, no município de Bragança para conhecer a Catraport. Naquele dia do mês de janeiro, o termómetro marcava sete graus. Uma temperatura «fresquinha» para os que não são da «casa». Já dentro das instalações da empresa, somos recebidos pelo CEO Umberto Pellegri, cuja a pronúncia, denuncia, facilmente, a nacionalidade italiana. Nos aposentos, o gravador estava pronto para deixar «rolar a fita».

Sete é o número dos anos da história da Catraport em Portugal. A organização “faz parte de um grupo italiano – P&C System – que tem representação na Alemanha, Itália, Bulgária e Roménia”, como nos começou por contar o Administrador. O mesmo adiantou que “a decisão de criar a Catraport estava relacionada com a necessidade de os clientes terem proximidade” e que, de facto, o pedido da localização em terras lusas adveio de um dos grandes clientes do grupo.

Atualmente, esta entidade “produz peças metálicas para a indústria automóvel, mas também para outra indústria, sendo que o seu foco principal é a produção do sistema escape dos veículos, ao passo da aposta nos equipamentos de veículos elétricos. Por exemplo, recentemente, em Itália compramos uma sociedade para desenvolver sistemas de baterias a lítio. Isto é um negócio semelhante ao nosso pois requer muita parte metálica e por isso podemos estampar e montar a parte metálica para essas baterias. Outros dos nossos trabalhos prende-se com o desenvolvimento das partes estruturais de um veículo, como o assento”, sublinhou o entrevistado. Portanto, utilizando uma analogia, podemos afirmar que a força e a sabedoria, duas caraterísticas que este tipo de material exige, fazem parte da identidade desta companhia.

Apesar dos obstáculos que esta matéria-prima confere, e de este tipo de indústria ser mais direcionada para o público masculino, o gestor da Catraport confidenciou-nos que têm um número acrescido de mulheres a trabalharem na mesma e que a destreza e a inteligência das colaboradoras são consideradas uma vantagem para lidarem com a automatização dos processos.

Bragança, foi a localização escolhida para posicionar a Catraport. A opção pode não ser óbvia para maioria do público exterior, mas para o CEO é uma mais-valia para esta instituição, não conferindo qualquer condicionante para a prosperidade da mesma no ramo automóvel. “O balanço deste período em Portugal é muito positivo. Em muitos e diferentes aspetos. Um deles, prende-se com o facto de dispôr de um elevado nível profissional. Associado a isso, aqui as pessoas têm muita vontade para trabalhar”, referiu.

O líder máximo desta firma destacou que outro dos benefícios deste posicionamento “é a sua proximidade com Espanha e a conexão com resto da Europa”. A acrescentar a estes pontos, o General Manager da Catraport evidenciou que a localização também é favorável para “o nível de ajudas que o Estado português permite e coloca à disposição.”

Contornando a realidade de algumas empresas situadas fora dos grandes centros urbanos, Umberto Pellegri afirmou que, até ao momento, não têm tido dificuldades em captar recursos humanos, todavia, não negou que esse cenário poderá vir a ser notório no futuro.

Para ajudar ao desenvolvimento económico desta região, “o ano passado o grupo decidiu construir uma nova fábrica, com maiores instalações”, divulgou o interlocutor. O próprio revelou que, neste momento, o local ainda está em construção, tendo previsão para estar concluído no final de 2024 e, nessa altura, o objetivo é manter as duas fábricas de produção em funcionamento. Além disso, indicou que “o trabalho está, um pouco atrasado. Há ajudas e fundos europeus, mas a burocracia é muito difícil. Isso acontece em toda a Europa, não somente em Portugal. Para nós, estava a ser muito mais fácil adquirir dinheiro em Itália, do que aqui. Agora, já temos uma banca que financiou o projeto. Contudo, no início, para dimensão da empresa, estava a ser mais complicado. Não é fácil, com as regras típicas portuguesas”.

A Inovação e a Tecnologia como dois pilares de crescimento e sucesso

“Só no dicionário é que o trabalho vem depois do sucesso”. Esta frase atribuída a Albert Einstein ilustra a metodologia de trabalho da Catraport, uma vez que, «pé ante pé», este negócio, tem construído um caminho evolutivo, baseado no esforço e especialização dos seus recursos humanos, mas também na aposta por equipamentos inovadores, com alta tecnologia.

“A capacidade de desenvolver produtos diferentes e processos diferentes”, é de facto um ponto de sucesso da empresa, que foi admitido por Umberto Pellegri, em conversa. Este, adiantou ainda que “tanto em Portugal, como no resto do grupo, investimos muito em tecnologia, por exemplo, na indústria 4.0, e por isso hoje a nossa produção é quase toda automatizada. Recentemente, desenvolvemos também, com ajuda do Instituto Politécnico de Bragança, um robot colaborativo, tendo já uma aplicação típica de robot colaborativo que trabalha com os nossos colaboradores”.

O interlocutor ressalvou que a tecnologia já é um «valor acrescido», muito enraízado em Portugal e que o estímulo e incentivo por esta vertente já começa nas Universidades portuguesas.

Relativamente às vantagens deste «pilar», o entrevistado evidenciou que a Catraport ganhou eficiência, produtividade e diminuiu as falhas. O mesmo demonstrou que com o aumento da quantidade de dados necessário nos processos, seria impossível fazer tudo à mão. Nesse sentido, também considerou como benéfico “a oportunidade de ter uma manutenção preventiva para diagnosticar um problema, antes que chegue ao produto”. No fundo, a tecnologia, “veio melhor os processos constantemente”, colocando a empresa num patamar mais moderno, eficiente e eficaz. Apesar dos ganhos, tanto para a empresa, como para a carteira de clientes, o Administrador não deixou de dizer que a tecnologia também “exige um capital muito intensivo, porque requer um investimento muito grande na parte dos equipamentos”. Ainda sobre o mesmo assunto, também fez questão de mencionar que quando chegou a Portugal, “nem sempre foi fácil transmitir a importância de se apostar nesta vertente”.

Antes de partirmos para outro tópico de conversa, Umberto Pellegri, relembrou que ainda existem pequenas e médias empresas, do setor automóvel, que estão a encontrar um caminho para evoluírem no campo da digitalização. Nesse sentido, recordou que ainda há muito trabalho a cumprir, todavia, crê que a presença e ajuda das Universidades pode ser crucial para as instituições conquistarem essa evolução.

A aposta na formação contínua e a boa relação com o IPB

Henry Ford, empresário, fundador da Ford Motor Company e autor de vários livros, dizia no seu tempo que “pior do que treinar um funcionário e vê-lo sair, é não treinar um funcionário e vê-lo ficar”. Balanceados por esta frase, falemos agora de um dos ativos mais importantes dentro de uma organização: as pessoas.

Indo ao encontro dessa ideia, Umberto Pellegri, exprimiu-nos que os recursos humanos da Catraport também são “uma chave de sucesso fundamental”. E para tal, fornece a todos os funcionários várias formações avançadas ao longo do ano. Na sua opinião, “isto é muito importante, visto que eu creio muito na ideia de que hoje o mundo do trabalho não pode ter pessoas que não continuam a parte de formação. Antigamente, esse incentivo na área industrial era muito mais lento. Mas, é fundamental, porque toda a parte de evolução eletrónica e eletromecânica está em constante evolução. As pessoas que aqui trabalham gostam de aprender mais”, salientou.

A par deste encorajamento à aprendizagem contínua dos trabalhadores, a Catraport também tem construído uma relação coesa com a faculdade local – O instituto Politécnico de Bragança – recebendo, regularmente, estudantes da instituição, em regime de estágio curricular, ou profissional. Esta ligação é “importante para nós, e para os alunos, porque no final, já conhecem o mundo do trabalho. É menos impactante e traumático, pois quando chegam ao trabalho já sabem o que vão fazer”, comentou o administrador.

O compromisso com a Sustentabilidade

“Sustentabilidade é um tema muito forte na indústria automóvel. Quando cheguei à Catraport queria ter um plano de sustentabilidade mais forte. Agora, temos um, muito focado na parte energética, por agora”, declarou Umberto Pellegri, introduzindo assim outro tópico de conversa.

Em termos práticos, a empresa, em pontos estratégicos das suas instalações, tem cartazes elucidativos sobre a importância da reciclagem e da adoção de práticas sustentáveis. Além disso, dotaram a fábrica com painéis solares e têm uma frota de veículos híbridos. Aliado a isso, enviam todo o metal e os resíduos industriais que produzem para centros de reciclagem.

Este trabalho de compromisso com o Planeta também é feito com os colaboradores. Logo, durante o ano, têm atividades sociais relacionadas com esta temática, por exemplo, fazem a reciclagem de tampas de garrafas para mais tarde devolver à Cruz Vermelha. Na perspetiva do CEO, estes comportamentos servem para motivar os colaboradores a serem sustentáveis nas suas casas.

Presente e o futuro da Catraport

A covid-19, a invasão da Ucrânia pela Rússia e a crise dos semicondutores foram três grandes acontecimentos que assolaram as empresas deste setor. Apesar disso, Umberto Pellegri reconheceu que a Catraport registou um “período de crescimento”. Devido a isso, estimulando uma relação saudável com os seus colaboradores, a Administração da empresa fez questão de os ajudar neste período de instabilidade, através da atribuição de um cartão para gastarem em despesas mensais, de um cabaz alimentar, mas também com o aumento do salário mensal.

Falando agora do futuro da Catraport. «Crescimento» é a palavra que define os planos desta marca, tal como sucedeu em 2022. É de referir, que no ano passado, a instituição em questão foi considerada a 85ª empresa que apresentava o crescimento mais rápido na Europa. O administrador referiu que este dado foi recebido com surpresa e que ajudou a “estimular o orgulho”, face ao trabalho que é executado.

Portanto, o objetivo passa por crescer, principalmente em Portugal, um país com “oportunidades de crescimento com velocidade”, onde pretendem “conquistar clientes locais” e estreitar a “relação com diferentes fábricas portuguesas, não só na indústria automóvel”, assegurou o entrevistado.

Em termos de internacionalização, a organização quer continuar a desenvolver-se no mercado europeu, apesar de, ultimamente, terem tido muita pesquisa para a América do Sul. “Estamos já a explorar essa oportunidade, mas é um trabalho exigente. As distâncias são maiores. E as necessidades dos países também são diferentes”, retorquiu o gestor.

Para terminar, Umberto Pellegri adiantou que o projeto para os próximos três anos passa pela aposta na parte elétrica dos veículos, “por isso a necessidade de termos na nova fábrica uma parte inovadora, de desenvolvimento do carro elétrico, a hidrogénio ou a lítio”.

Neste ponto, o CEO enalteceu a dificuldade de trabalhar num “mercado tão competitivo”, onde ainda não há uma estratégia pensada para o futuro, ou seja, “ainda não está claro qual será o carro do futuro. Cada dia há novidades. Não é fácil ter uma estratégia planeada de crescimento, sem existir uma ideia clara do produto que se vai vender”.

Independentemente do que acontecer, a estratégia da Catraport não fica muito defraudada, porque os veículos “precisam sempre de elementos elétricos, mas poderão ser precisos diferentes metais, entre outras coisas. Por isso, há ainda muitas perguntas para o futuro”, terminou Umberto Pellegri, Administrador da Catraport.