“As empresas portuguesas podem contar com a CCILC para colaborar com o mercado chinês”

A relação bilateral entre Portugal e a China caracteriza-se, em primeiro lugar, pela sua longevidade. Jorge Álvares, navegador português, chegou em 1513 a Tamão, que é atualmente território da Região Administrativa Especial de Hong Kong. Temos, portanto, 510 anos de história comum, incluindo cerca de 450 anos a administrar Macau, sem qualquer conflito militar com a parte chinesa. Após a retrocessão da administração de Macau, em 1999, permaneceram no território múltiplas empresas e uma vasta comunidade de profissionais portugueses, que constituem hoje uma extraordinária vantagem para os negócios, a cultura e a cooperação entre os dois países.

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Bernardo Mendia. Secretário-Geral da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa (CCILC)

Relativamente à Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa (CCILC), fundada em 1978, é importante sublinhar que esta instituição foi um elemento catalisador do restabelecimento das relações diplomáticas entre Portugal e a República Popular da China, que viria a acontecer em 1979. A CCILC foi ainda o primeiro organismo que auxiliou no desenvolvimento do relacionamento económico e comercial entre os dois países, nomeadamente através de uma presença pioneira em Macau, com o estabelecimento de uma Delegação, em 1992, hoje presidida pelo CEO do centenário Banco Nacional Ultramarino, do grupo português Caixa Geral de Depósitos.

Infelizmente, enfrentamos ao dia de hoje tensões políticas graves entre as duas maiores economias do mundo, artificialmente criadas, porque sem qualquer suporte racional ou lógica comprovante, mas que colocam em causa o progresso económico e societal de todo o mundo. Além da escalada do discurso de múltiplos dirigentes políticos populistas ocidentais, foram injustificadamente sancionadas 1300 empresas e individualidades chinesas, o que, além do desemprego e atraso económico infligidos, elevou o conflito para um novo patamar de confronto. Quem conhece a China sabe que a sua cultura, assente em princípios confucionistas, não lida bem com a firmeza e assertividade próprias de situações de confronto, como aquela a que tem sido sujeita desde 2018. No entanto, como é natural, por mais que, histórica e culturalmente, os chineses se pautem pela coexistência pacífica, respeito e benefício comum, perante a agressividade das constantes provações a que temos assistido, a postura defensiva chinesa tenderá a acentuar-se.

O que mais surpreende é o discurso aberto e as ações concretas no sentido de limitar o crescimento económico e tecnológico da China, ao invés de colocar o foco no crescimento e competitividade das nossas economias, por mérito do nosso trabalho, produtividade e desenvolvimento tecnológico. Ou seja, procura-se manter o status económico do Ocidente através da vilificação da China e dos chineses, que ainda têm um longo caminho pela frente para atingir os níveis de prosperidade e segurança económica que se vivem na parte ocidental do mundo. O ambiente no Ocidente é de tal forma militante que, mesmo quem observa a injustiça do fenómeno se coíbe de o denunciar, sob pena de sofrer consequências na sua vida profissional e social. De alguma forma, observam-se fenómenos equiparados ao nível da relação política entre países – veja-se o caso português da Huawei e ZTE, em que, manifestamente contra o interesse nacional da digitalização e do desenvolvimento tecnológico e económico de Portugal, se pretende banir do país os fornecedores mais avançados e competitivos do mercado. Efetivamente, o ambiente anti-China, além de extremamente injusto para 1.4 mil milhões de pessoas, incluindo várias centenas de milhões ainda muito pobres, é também frontalmente contrário ao interesse português, que passa, sim, por crescer economicamente, ser mais competitivo através dos seus próprios méritos e trabalho, e proporcionar aos seus cidadãos as melhores condições possíveis de vida e oportunidades económicas. Isto alcança-se também através da abertura da economia portuguesa, da colaboração internacional, atração de investimento estrangeiro, partilha de tecnologia, intercâmbio entre as universidades e institutos tecnológicos, promoção da coexistência mútua, urbanidade, respeito e decência.

A CCILC é, foi e continuará a procurar ser um contribuinte inequívoco para o relacionamento bilateral entre Portugal e a China. É precisamente nesse contexto que o ano de 2023 adquire particular relevância. Além da celebração dos 45 anos da CCILC, assinalam-se ainda os 510 anos da chegada de Jorge Álvares à China, os 10 anos do anúncio da iniciativa Rota da Seda e os 20 anos do Fórum Macau. As empresas portuguesas podem contar com a CCILC para colaborar com o mercado chinês.