“Ter Coragem e Capacidade para decidir e, muitas vezes, descomplicar”

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Por Claudete Teixeira, Fundadora e Advogada da Claudete Teixeira Advogados

Passei por um estágio não remunerado e por um início de carreira a trabalhar para outros, de manhã à noite, e a ser muito mal remunerada. Mas tinha um único foco: aprender, ganhar experiência e tornar-me cada vez melhor profissional.

Nenhuma carreira se constrói de cima para baixo. Como a construção de uma casa se inicia a escavar as fundações, uma carreira também não começa pelo telhado. Geralmente, o início da advocacia é muito difícil, especialmente para quem não está integrado em grandes sociedades, e é preciso ser resiliente e não baixar os braços.

No meu caso, o meu principal objetivo ao longo dos anos foi aprender e ser competente no que faço, porque acredito que o resto vem por acréscimo. Lembro-me que quando iniciei a minha carreira, a maior parte do trabalho que tinha, vinha dos patrocínios oficiosos e sempre tratei essas pessoas, e esses processos, com a mesma dedicação e profissionalismo que dedicava aos outros clientes. Se queremos ser competentes na nossa profissão, e ser reconhecidos por isso, não podemos sê-lo só às vezes.

Atualmente tenho o meu próprio escritório de advogados e lidero uma equipa de profissionais a quem transmito os valores pelos quais sempre me pautei, de entre os quais destaco a honestidade para com o cliente, e o rigor na dedicação às causas que nos confiam. Como líder, a nossa principal obrigação é dar o exemplo e ter capacidade para resolver problemas. Ter coragem e capacidade para decidir e, muitas vezes, descomplicar.

É importante ter os pés assentes no chão e sentirmo-nos seguros do nosso trabalho. Mas não nos devemos enaltecer com a vitória, nem desmotivar com a derrota. Nem tudo depende de nós. Temos de ter, sim, a consciência de que, no que depende de nós, temos sempre de dar o nosso melhor.

O facto de ser mulher e ter uma aparência jovem foi, em vários momentos, uma desvantagem.  Nestes casos a confiança das pessoas não se ganha com o aperto de mão. Tive uma preocupação diária em manter o profissionalismo e o formalismo. Todos os dias, sem exceção, temos de provar o que valemos.

O desafio torna-se maior quando se é mulher, mãe e advogada. Em pleno século XXI as advogadas portuguesas continuam sem direito a algo que, pelo menos, se possa assemelhar a uma licença de maternidade e assistência à família.

Trabalhar até ter a rutura da bolsa em pleno escritório, levar o computador portátil para a maternidade, ter reuniões oito dias depois de se ter um bebé, fazer julgamentos 15 dias após o parto, bebés a ser amamentados no carro “à porta” dos tribunais, amamentar de duas em duas horas e cumprir prazos enquanto o bebé dorme ao invés de descansar também. Tudo isto aconteceu comigo, e acontece com a generalidade das advogadas portuguesas que não prescindem de ser mães.

Conciliar uma vida profissional exigente com a vida familiar não é fácil para a generalidade das pessoas. Menos o é se essas pessoas são mulheres e menos ainda se são advogadas. É preciso força e uma dedicação inabalável aos nossos objetivos. Mas é também preciso alguma ajuda de familiares, porque quando os filhos estão doentes não temos direito a “baixa para assistência à família”. Contudo, a conciliação da vida profissional e familiar é possível, e muitas de nós conseguem fazê-lo.

Há muito boas advogadas e bons advogados pelo país inteiro. A advocacia não se resume às grandes sociedades de Lisboa ou do Porto. E a riqueza e importância desta advocacia não pode, nem deve, perder-se. Sinto tristeza quando ouço jovens advogados desencantados com a profissão. A advocacia é uma das mais nobres e elevadas profissões. E quando as coisas se tornam difíceis, a primeira causa que temos de defender, e pela qual temos de lutar, é a nossa. Não permitam que as dificuldades vos derrotem. Uma queda não é uma derrota. Lutem pela vossa causa.