Início Atualidade “A INVESTIGAÇÃO E A INOVAÇÃO SÃO FUNDAMENTAIS”

“A INVESTIGAÇÃO E A INOVAÇÃO SÃO FUNDAMENTAIS”

“A INVESTIGAÇÃO E A INOVAÇÃO SÃO FUNDAMENTAIS”
Pedro Xavier

Sendo uma associação cientifica privada, dotada de personalidade jurídica e sem fins lucrativos, quais são os seus objetivos?

A SPMR foi fundada em 1978 com o objetivo principal de promover o conhecimento científico. Para além disso desempenha também um papel de promoção da fertilidade junto da sociedade civil, e por essa razão temos levado a cabo campanhas de sensibilização e sessões de esclarecimento dirigidos à população em geral.

Considera que a infertilidade conjugal é uma situação bastante mais frequente do que se pensa habitualmente em Portugal? Quais são as possíveis causas?

As estimativas apontam para que cerca de 10% dos casais que pretendam engravidar venham a ter problemas de fertilidade. A idade avançada, no caso da mulher, os fatores ambientais e o estilo-de-vida têm vindo a ganhar um protagonismo crescente como causas da infertilidade.

Quanto tempo é considerado normal um casal tentar engravidar, sem ser considerado infértil?

De acordo com a OMS, considera-se que a infertilidade existe quando um casal é incapaz de obter uma gravidez após 12 meses ou mais de relações sexuais regulares e sem uso de contraceção. É por isso normal que um casal possa não conseguir uma gravidez por um período de até 12 meses.

As causas da infertilidade estão mais presentes nas mulheres ou nos homens? Ainda se parte um pouco do princípio de que o problema será da mulher? De que forma é importante desmistificar essa ideia?

O peso das causas femininas e masculinas é muito semelhante. Felizmente temos assistido nos últimos anos a uma consciencialização crescente, por parte da população em geral, para este facto. Há uns anos atrás era muito frequente a mulher comparecer na consulta de infertilidade sem o respetivo companheiro. Os próprios casais assumiam que o problema seria da mulher. Essa situação é agora muito menos frequente, fruto de uma informação mais adequada.

Podemos afirmar que na maioria dos casos, existe tratamento para a infertilidade? Que tratamentos inovadores têm surgido nesta área nos últimos anos?

Podemos dizer, de uma forma genérica, que a maior parte dos casais verão o seu problema ultrapassado. É importante referir que os tratamentos da infertilidade não se limitam às técnicas de procriação medicamente assistida (PMA). Desde logo é muito importante a correção do estilo de vida, tanto no homem como na mulher. Muitas situações serão resolvidas com o recurso a intervenções cirúrgicas ou a tratamentos à base de comprimidos. No entanto as técnicas de PMA são indubitavelmente as que mais vezes resolvem o problema e onde se têm verificado os maiores avanços. O surgimento de novas e mais eficazes técnicas de congelação de ovócitos e embriões, bem como a mais eficiente aplicação de técnicas de diagnóstico genético a anomalias dos embriões podem ser considerados os avanços recentes mais importantes.

A nível da taxa de tratamentos de infertilidade, que posição ocupa Portugal? A inovação e investigação são fundamentais neste cenário?

No que diz respeito à acessibilidade aos tratamentos de PMA temos que melhorar muito. Em Portugal o número de tratamentos realizados anualmente é cerca de 50% daquilo que recomenda a OMS. Obviamente que esta situação origina longas listas de espera, nomeadamente no sistema público. No que diz respeito à eficácia dos tratamentos estamos ao mesmo nível dos países mais desenvolvidos. A investigação e a inovação são fundamentais para que a qualidade dos procedimentos médicos estejam sustentados numa base científica sólida. Felizmente em Portugal temos diversos grupos a fazer investigação com grande qualidade.

Em média, qual é a taxa de sucesso dos tratamentos de fertilidade, em Portugal?

As taxas de sucesso dependem muito da idade da mulher, mas globalmente rondam os 40% por cada tentativa. É por essa razão inevitável que em muitas ocasiões seja necessário repetir o tratamento e que a chave do sucesso passe frequentemente por não desistir quando os resultados iniciais forem negativos.

A escala do problema exige uma ação concertada por parte das diversas entidades envolvidas na saúde e no apoio social? Sente que esse percurso tem vindo a ser realizado?

O problema da acessibilidade aos tratamentos só pode ser resolvido com um maior investimento do estado no SNS, nomeadamente na área da Medicina da Reprodução. Infelizmente este é um problema que se arrasta há muitos anos e que teima em não ser ultrapassado.