Interessa compreender que os recursos Humanos nas empresas, nos dias que correm, vão muito mais além do que somente entrevistar, selecionar, contratar e demitir colaboradores, até porque este setor, dos RH, engloba todo um conjunto de práticas, políticas e filosofias relacionadas com a administração de comportamentos no seio de uma entidade/organização. E o que são as empresas? Rostos e Pessoas que «vestem a camisola» e se dedicam diáriamente a atingir os objetivos da empresa.
Quisemos saber mais e fomos conversar com Maria João Escrevente, a Diretora de Recursos Humanos da UNITEL, desde 2012, e que nos deu a conhecer um pouco mais sobre esta aventura que tem quase uma década de existência. Nesta conversa, ficamos a perceber como os RH são hoje, cada vez mais, um dos principais valores das marcas e que sem eles podemos fazer perigar qualquer estratégia de crescimento e presença no mercado. Abordamos ainda o impacto da pandemia da COVID-19 e de como isso levou a novas adaptações e à procura de novos caminhos no sentido de defender as pessoas e a empresa.
Interessa dar um contexto a esta viagem protagonizada pela nossa entrevistada, uma especialista no domínio dos recursos humanos e que tem já um vasto percurso na «arte» de lidar com pessoas e de as fazer perpetuar um legado fundamental para o êxito.
Depois de um longo período em Portugal, mais concretamente na Sonae, entre 1997 e 2001, e posteriormente na Portugal Telecom, entre 2001 e 2011, Maria João Escrevente conseguiu concretizar um dos seus fitos, ou seja, abraçar o sonho de trabalhar a nível internacional e foi assim que se deu o processo de chegada à UNITEL, uma empresa em Angola prestadora de serviços na área de telecomunicações móveis e que se assume atualmente como uma referência no país. Assume-se como uma mulher inquieta e que não gosta de estar estagnada ou do conforto de uma posição, “porque preciso de estar sempre em movimento em busca de novos desafios e projetos”, revela, assegurando que hoje é uma mulher feliz e concretizada por tudo o que foi alcançado pela marca ao longo destes anos.
Um dos principais momentos que marcam o início da viagem da nossa interlocutora para Angola e, consequentemente, para a UNITEL, passou por uma das entrevistas que realizou umas das acionistas da empresa e o CEO de então. “Foi-me relembrado que Angola é um país de imensos desafios, mas que isso, jamais poderia ser um impedimento ou uma desculpa. O objetivo era exatamente ajudar a construir uma empresa de referência no sector. Foi precisamente esse desafio que me fez decidir aceitar a Unitel como a minha melhor viagem pessoal e profissional”, revela Maria João Escrevente, assegurando que esse repto também foi um “desafio a mim própria, ou seja, um país novo, num outro continente em que eu teria que reaprender quase tudo. Eu a minha família. Mas os desafios de Angola foram também o que fez acreditar na qualidade da empresa e nas razões que levaram esta marca a ter chegado onde chegou. Isso permitiu-me abrir novos mundos, porque estava confortável na minha carreira, e esse click da pessoa inconformada e inquieta que sou, levou-me a tomar essa decisão de ir a Angola pela primeira vez”, revela a nossa interlocutora.
“SAÍ DA MINHA PRIMEIRA VISITA A ANGOLA E À UNITEL COM A CERTEZA DE QUE ESTA SERIA UMA LONGA JORNADA”
Foram três os pontos essenciais que levaram a nossa entrevistada a tomar a decisão de «vestir a camisola» da UNITEL. Além de um ambiente comum a uma empresa europeia, a UNITEL tinha uma equipa pluridisciplinar, ou seja, feita por angolanos, num registo de uma empresa de Angola para Angola. Esta realidade levou a nossa entrevistada a questionar como poderia ela aportar valor a um projeto de referência. “Mantendo-me fiel a mim própria, aceitei que tinha de compreender as diferenças e semelhanças culturais e, acima de tudo, de ter capacidade de integração e isso foi um desafio que me despertou ainda mais para a enormidade deste projeto”, afirma, lembrando que sentiu uma grande responsabilidade de devolver à empresa a confiança “que estava a ser depositada em mim. A opção «falhar» não estava em cima da mesa e eu tinha de dar o meu melhor para estar integrada nos valores e princípios que regem a UNITEL”, confirma Maria João Escrevente, assumindo que na UNITEL existe uma capacidade de nunca se cruzar os braços, “e isso é algo que faz da empresa uma marca especial e única. Tinha a perfeita noção que, desde minha primeira visita a Angola e à UNITEL (2011) que saí de lá com a certeza que esta seria uma longa jornada”.
E que balanço faz a nossa entrevistada destes oito anos no universo da UNITEL? Diz que é uma Mulher de equipa e de desafios comuns e é por isso que assume que esta viagem é conjunta, ou seja, na companhia da UNITEL. Basta dar o exemplo da pandemia da COVID-19 que, naturalmente, não veio ajudar na prossecução dos objetivos da marca para 2020, mas, mesmo perante as dificuldades evidentes, foi uma prova de que a marca e as suas pessoas jamais baixam os braços. “Continuamos a lutar e, mesmo nas dificuldades do atual contexto, vamos abrir duas novas áreas de negócio na UNITEL, ainda este ano. Mesmo em teletrabalho e à distância, nada parou e isso diz muito do rigor, excelência e qualidade existentes na empresa”.
Os RH da Unitel, nos dias que correm, assumem um papel preponderante na dinâmica da marca, acima de tudo, entre outras razões, porque neste momento os recursos humanos da UNITEL trabalham com e para o negócio e, hoje, este segmento do negócio, quando pretende alguma coisa, começa por consultar os RH, realidade que leva Maria João Escrevente a assegurar que atualmente, “os recursos humanos da UNITEL, são de facto um pilar, associados a outros, fundamental na marca. Foi dado um espaço e uma credibilidade ao papel dos RH em projetos da UNITEL, que faz de nós uma unidade que não é somente de suporte, mas de uma unidade de desenvolvimento de negócio e que consegue catapultar o mesmo. Acredito que essa tenha sido a minha grande missão que em equipa conseguimos atingir e alcançar”, salienta a diretora de recursos humanos da UNITEL.
Inúmeras vezes que as marcas perpetuam na sua orgânica a uniformização de uma linguagem e comunicação somente para o exterior. E se essa dinâmica é correta, é fundamental que essa comunicação positiva seja também transportada no seu seio interno. A UNITEL é hoje, segundo a nossa entrevistada, uma empresa mais humanizada e isso também se deve a um projeto criado e catapultado em 2014, denominado por uma iniciativa de cultura organizacional em que foi desenvolvida uma marca interna. Interessa compreender que a marca tem e sempre teve um papel importante na sociedade angolana, mas para os colaboradores da UNITEL sentiam o poder da Marca enquanto empresa para fora, mas não internamente. Faltava algo que os unisse e nos caracterizasse, uma marca própria. Assim, foi decidido desenvolver uma cultura com que as pessoas se identificavam, fomentando o mesmo mindset, permitindo assim uma nova cultura e uma unificação e humanização que faltava. “Promovemos uma cultura assente em comportamentos, ou seja, respondendo a uma questão: O que é que eu, enquanto colaborador, tenho de fazer? Desmontamos esta ideia e criamos uma cultura distinta, dando um «empowerment» a que um colaborador possa, por exemplo, dizer a uma chefia que ele não está a cumprir aquilo que são os padrões de comportamento da UNITEL. Isso foi e é fundamental. Tornou-se numa forte comunicação interna para catapultar a marca e assim eliminamos barreiras entre as áreas de negócio e hierarquias, permitindo comunicarmos melhor, para termos mais diálogo e abertura”, assume a nossa entrevistada, asseverando que foram assim criados um conjunto de chavões, “coisas simples, mas fundamentais”, para traduzir o que é a cultura UNITEL e o que representa. “Essa cultura trouxe-nos unificação e, obviamente, que é algo moroso e que provoca dores de crescimento, mas foi algo extraordinário de ver acontecer, pois percebemos o esforço de todos em fazer a sua parte em prol de um objetivo e isso foi das coisas mais relevantes nestes oito anos”.
E de que forma é que essa edificação de uma identidade comunicacional teve impacto fora de portas? Maria João Escrevente não tem dúvidas. “Mudou completamente”, dando o exemplo de um dos slogans da UNITEL, ou seja, «Uma grande Família». “É preciso compreender que Angola e as suas pessoas são muito orientadas para o conceito de família e existem muitas coisas que fazemos internamente que levamos para casa todos os dias. Não tenho qualquer dúvida que esta cultura foi além da Unitel e chegou às suas famílias e passamos todos a falar a mesma linguagem. A nossa marca interna, assenta no «Somos UNITEL» e a partir desse momento conseguimos criar uma identidade, um ADN e um conteúdo que dá muita força à nossa empresa e de alguma forma a todos os angolanos”.
COLABORAÇÃO, CONFIANÇA E COMPROMISSO
O mundo tem sido afetado pela pandemia da COVID-19, com todos os estragos e impactos negativos que isso tem tido nas pessoas, nas empresas, nos sistemas de saúde, nas dinâmicas económicas e nos países. Assim, o que conhecíamos como um quotidiano normal, mudou e hoje vivemos num novo mundo, quase num conceito de «novo normal», realidade que também se fez e faz sentir na orgânica da UNITEL, que viu a sua realidade mudar 180 graus, tal como explica Maria João Escrevente. “Somos uma empresa de telecomunicações, mas nunca tínhamos implementado o teletrabalho e isto, neste caso, foi uma necessidade emergente”, assegura, lembrando que mal as notícias começaram a surgir em outros pontos do globo, a empresa de telecomunicações angolana, decidiu promover a proteção e segurança dos colaboradores, mandando para casa, ainda nessa fase, todos os colaboradores com doenças crónicas e todas as gestantes. “A segurança dos nossos colaboradores/pessoas era o mais importante. Ainda antes do estado de emergência declarado pelo Governo angolano, começamos a criar condições para que as pessoas pudessem estar em teletrabalho, com todas as dificuldades que isso criou”, revela.
Assim, o universo da UNITEL começou a mobilizar-se no sentido de dar resposta a este novo desafio e a 23 de março, momento em que “toda a empresa entrou em regime de teletrabalho e foi muito importante ter visto como as pessoas quiseram contribuir. Como? A empresa não tinha 1300 portáteis para atribuir aos colaboradores identificados para o teletrabalho e assim, foi extremamente gratificante ver as pessoas a mobilizarem-se para suas casas com os seus computadores portáteis no sentido de continuarem a levar a empresa para a frente”, afirma, satisfeita e orgulhosa a nossa entrevistada, relembrando que estas atitudes fizeram parte de uma mobilização espontânea e voluntária e isso “diz muito sobre a vontade de fazer acontecer e de não deixar cair nada”, advoga. “A Unitel é o mais importante”.
E, se numa fase inicial ainda existia algum ceticismo relativamente aos resultados do teletrabalho, estes foram rapidamente escamoteados pelas conclusões retiradas, em que segundo Maria João Escrevente, “somos muito mais eficazes neste registo e o slogan «Somos UNITEL», nunca fez tanto sentido e foi tão importante, porque este lema compõe-se por três comportamentos: Colaboração, Confiança e Compromisso, realidade que nunca foi tão sentida e visível do que nesta fase do trabalho à distância”, afirma, convicta.
LIBERDADE COM RESPONSABILIDADE
A capacidade de retirar coisas positivas em momentos complicados e difíceis não é para todos, mas a diretora de recursos humanos da UNITEL e a sua equipa sempre tiveram essa visão. Assim, para a nossa entrevistada é importante retirar lições deste novo mundo. “Percebi que o sentimento esteve e está presente e isso foi o que tornou possível continuar a laborar e a concretizar projetos que estavam agendados para o final do ano. Assim, tudo o que foi transportável para uma versão virtual está a ser movimentado e tivemos, inclusive, situações que não estavam a ser pensadas, mas que foram rapidamente reposicionadas. A COVID-19 «disse-nos» que o que temos de fazer agora tem de ser realizado de uma forma mais célere e melhor, porque a empresa e as pessoas não podem esperar e por isso é que digo orgulhosamente que fiquei extremamente contente com a dedicação que vi na família da UNITEL”, revela, assegurando que este cenário não a surpreendeu, mas “vê-lo concretizado tem um sabor e uma força diferente”.
Mas será o teletrabalho algo viável para o futuro? Maria João Escrevente assume que é algo que pode ser pensado para o vindouro, “e acredito que vamos ter de encarar como um regime de trabalho permanente”, relembrando que este novo conceito de trabalho é mais democratizado. “Sou apologista do chavão «liberdade com responsabilidade»”, revela, assegurando que o RH “não é polícia. Temos de acabar com a ideia do controlo puro e duro, onde tudo se baseia na vertente da assiduidade e na presença ou ausência. Naturalmente que são importantes, mas não as formas mais justas de avaliação e, acima de tudo, de fazer com que as pessoas se entreguem mais a um projeto e/ou desafio. Até aqui iremos sentir mudanças no futuro, até porque as novas gerações não se compadecem com sistemas de controlo tão efetivos”.
“ESTA JORNADA TEM SIDO DE REINVENÇÃO”
Mas fez a nossa entrevistada uma espécie de milagre na UNITEL? Rápida e concisa a responder, Maria João Escrevente assume que a única coisa que fez foi impor o ritmo e dando o exemplo. “Sou a favor do liderar pelo exemplo e isso implica fazer também e não dizer somente para fazer. Em 2011 saí da empresa onde estava porque senti que precisava de um novo desafio para respirar e para crescer, porque se nos sentimos demasiado confortáveis, então não vamos dar tudo de nós a um projeto. E foi isso que tentei passar na UNITEL e é por isso que somos uma grande empresa, porque conseguimos responder a todas as solicitações e a dar resposta às necessidades da empresa, caminhando sempre juntos, porque aqui as pessoas nunca desistem”.
Poderá o adeus estar próximo? Mulher e Líder muito prática, a nossa entrevistada gosta de acreditar no hoje, ou seja, viver um dia de cada vez. “Impossível fazer futurismo! Movo-me por projetos estruturantes e duradouros. A minha marca é de entrega total e dar sempre o meu melhor. Sou exigente, acima de tudo comigo própria. A minha missão na UNITEL não está concluída. Contudo, tenho uma sensação de tranquilidade, pois sei que hoje tenho na minha equipa quem levaria essa missão a bom porto”.
A palavra com a que nossa entrevistada mais se identifica é “reinventar”. Porquê? Porque segundo Maria João Escrevente, desde que saiu de Portugal, há quase nove anos, teve de se reinventar muitas vezes e “isso devo-o às pessoas com quem trabalho. Não estou a pensar sair da UNITEL, mas no dia que isso acontecer sei que deixo uma família e será para sempre a minha família. A eles devo-lhes um mega obrigada pela forma como sempre me fizerem sentir em casa. Esta jornada tem sido de transformação constante, de conhecimento e de recomeços, tudo para encontrarmos o melhor resultado para a empresa. Confesso que toda a minha dedicação e trabalho teve retorno. É muito gratificante sentir o apoio e a confiança da minha equipa e dos meus colegas, pois é essa energia permanente de fazer algo pela UNITEL que me leva a querer sempre mais, porque não tenho dúvidas nenhumas que, a UNITEL e a minha equipa, são de facto muito especiais para mim”, conclui a diretora de recursos humanos da UNITEL, Maria João Escrevente.