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Magia Astronómica

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Magia Astronómica

Alqueva é uma região muito rica no património natural, cuja baixa poluição luminosa fornece uma oportunidade única de observar aquilo que o céu tem. De que forma surgiu o Dark Sky® Alqueva?
O meu percurso profissional na área teve início em 1998 numa entidade pública regional onde estive até 2007, passando depois para a Genuineland. Nesse mesmo ano e na sequência do trabalho que estava a desenvolver desde 2005, no Tourism Sustainability Group da Comissão Europeia, surge a ideia de criar o Dark Sky® Alqueva. Em 2008, o Dark Sky® Alqueva passa também a incorporar os desafios da Genuineland e surge o conceito e marca Dark Sky® como ferramenta de desenvolvimento integrado e sustentável de destinos. O conceito passa por considerar o destino em termos globais, ou seja, todos os elementos que estão na terra e todos os elementos que estão acima dela, desde a atmosfera terrestre até ao Universo. Assim, este conceito de sustentabilidade integra também a defesa do céu noturno, pela diminuição da poluição luminosa ou de outras formas de poluição que afetem a atmosfera que nos rodeia enquanto destino.
Com o conceito a crescer e o primeiro território definido, avancei então para a certificação da qualidade do nosso recurso diferenciador, o céu noturno. Depois de um trabalho complexo, o qual contei com a ajuda de várias organizações e pessoas individuais, que, com os seus conhecimentos técnicos contribuíram assim para o objetivo final. Finalmente em 2011, o Dark Sky® Alqueva foi certificado e passou a ser o primeiro Starlight Tourism Destination do mundo. Para tal, contribuiu a qualidade de partida do céu noturno dos seis concelhos iniciais que integravam o Alqueva e a média de 286 noites de céu limpo por ano, mas também o trabalho na criação de produtos noturnos, tais como as observações astronómicas, a canoagem, os passeios pedestres e a cavalo e as provas de vinho.
A partir da certificação seguiram-se anos de desenvolvimento, crescimento territorial e implementação da rede de parceiros, chegando hoje a um território nacional de 7.087,40 km2 que se junta a uma área de 2.609,00 km2 em Espanha e uma rede diversificada de parceiros oficiais que constam no website www.darkskyalqueva.com.
Desde a criação do Dark Sky® Alqueva optou-se pela utilização de um observatório móvel para garantir a realização das sessões de observação astronómica, mas houve sempre o desejo de criar um espaço físico que permitisse receber as pessoas com mais conforto e proporcionar sessões mais completas, sem, contudo, perder a mobilidade, algo que sempre esteve e estará presente na nossa essência. E assim nasceu o Observatório Oficial Dark Sky® Alqueva, instalado numa antiga escola primária da Aldeia da Cumeada, recuperada pela Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz para receber a sede e esta infraestrutura do Dark Sky® Alqueva.

Sendo o primeiro Destino Turístico Starlight do mundo, como nos pode descrever o universo e a mágica experiência que rodeia a Dark Sky®?
O território Dark Sky® Alqueva é bastante vasto e rico em património e a sua rede de parceiros oferecem diversas atividades de observação astronómica, tanto a olho nu como com o auxílio de telescópios, que podem ser realizadas no Observatório Oficial Dark Sky®, na Cumeada, ou em qualquer zona do território certificado sempre guiadas por um Guia Dark Sky®. Para além destas atividades, foram desenvolvidas outras complementares que podem ser realizadas à noite, mas também de dia, tais como passeios pedestres que combinam património e natureza, canoagem, yoga do Sistema Solar, passeios a cavalo, passeios e workshops fotográficos, passeios vínicos e provas de vinho normais e cegas, team building, orientação, bird watching, wildlife watching, entre outras sob consulta. Das atividades que podem ser realizadas de noite, destacamos os workshops de astrofotografia privados ou em grupo, liderados pelo astrofotógrafo internacional Miguel Claro. Das experiências de carácter diurno, destacamos os passeios de barco pelo Alqueva, a pesca, o Sunset Dark Sky® com observação do sol através de telescópio solar acompanhado de aperitivo Gin Sharish ou Cocktail não alcóolico, e ainda o balonismo ao nascer ou ao por do sol. Mas para ficarem a conhecer melhor o Observatório Oficial Dark Sky® Alqueva e a nossa rede de parceiros oficiais, o ideal é visitarem o nosso website em www.darkskyalqueva.com ou colocarem as vossas questões para o nosso email info@darkskyalqueva.com.

O Dark Sky® oferece a majestosa profusão de planetas brilhantes, constelações e rios de estrelas. Afirmam que é “sem dúvida um Back to Black de emoções”. O que quer isto transmitir?
O crescimento da poluição luminosa tem-nos afastado da contemplação do céu noturno. O Dark Sky® Alqueva permite mostrar o que existe para além daquilo que nos impede de observar o céu noturno noutros locais, que é essencialmente a poluição luminosa pois nalgumas zonas do globo acresce a poluição do ar.
Recebemos muitas pessoas que nunca viram um céu noturno cheio de estrelas e quando olham para cima sentem uma grande emoção. Ao longo destes anos temos assistido em primeira mão a esta emoção provocada pelo nosso céu noturno e que invade quem olha para ele pela primeira vez, ou até por aqueles que já deixaram de olhar para cima, pois cada vez observam menos e menos estrelas e perdem gradualmente a ligação com o Cosmos. Mas o “Back to Black” de emoções acontece quando observamos um céu noturno de grande qualidade e temos alguém que nos explica aquilo que vemos e para além disso ainda nos mostra os objetos de céu profundo, que apenas um céu contrastado permite revelar, e que a olho nu são impossíveis de observar.

O Dark Sky® foi já reconhecido e merecedor de alguns prémios. Qual é aquele que, para si, tem maior significado e importância?
Na verdade todos são importantes pela sua diversidade, o que demonstra a própria diversidade do destino Dark Sky® Alqueva e das temáticas trabalhadas, mas também o reconhecimento internacional por organizações que operam em diversos setores de atividade. Entre maio de 2019 e setembro deste ano tivemos a honra de ver o nosso trabalho premiado a nível internacional pelo Instituto COTRI (CN), pelos World Travel Awards (UK), pela Fundação Starlight (Espanha), pela WorldCob (EUA), pelo Business Intelligence Group (EUA), pela ACQ5 (UK), pelos Corporate Travel Awards (UK) e Green Destinations (NL).
Neste momento o Dark Sky® Alqueva está nomeado em duas categorias nos World Travel Awards, sendo estas o World’s Responsible Tourism Award 2020 e World’s Leading Tourism Development Project 2020. A votação decorre até 25 de outubro. Estes prémios são muito importantes e são considerados os “Óscares do Turismo”.

Além do céu que é comum a todos os cantos do mundo, também uma nova realidade intitulada por coronavírus passou a fazer parte das nossas vidas de forma desafiante e incerta. Qual foi o impacto que esta pandemia teve nas atividades do vosso dia a dia?
O grande impacto aconteceu com o estado de emergência e com o impedimento de viagens internacionais. Passámos ao teletrabalho e aproveitámos para desenvolver algum trabalho que estava pendente. Mantivemos o contacto com os nossos seguidores da página de facebook e instragram através das maravilhosas fotografias do astrofotógrafo Miguel Claro, captadas no território Dark Sky® Alqueva. Foi uma maneira de manter a ligação a este céu e transmitir a sua beleza para quem não podia viajar e até sair de casa, durante o confinamento.

Que mudanças e soluções foram obrigados a realizar face às consequências que se instalaram?
A nossa forma de trabalhar no Observatório Oficial antes da pandemia tinha em conta um conjunto de princípios para uma melhor experiência turística e por esse motivo apenas tivemos de fazer pequenos ajustes face às diretrizes da DGS. As nossas sessões sempre tiveram um número máximo de participantes e por isso era necessário fazer reserva prévia. Mantivemos o mesmo procedimento, apenas diminuímos ainda mais os grupos para garantir que havia mais conforto e introduzimos os requisitos adicionais de higienização associados ao combate ao COVID-19.

Numa sociedade em que o turismo é essencial para o desenvolvimento económico, considera que a COVID-19 foi impactante neste setor? No Dark Sky®, quais foram os principais efeitos da mesma?
Sim, sem duvida. O turismo e toda a atividade económica direta e indireta foram afetados pela pandemia e a recuperação vai ser lenta. Contudo e quando se começou a poder viajar, pelo menos a nível interno, os destinos rurais com menos pressão turística foram aqueles que sentiram numa primeira fase a retoma. A necessidade de distanciamento social levou as pessoas a afastarem-se de potenciais aglomerados normais nas zonas mais turísticas em plena época alta. Mas neste ponto é importante refletir que as zonas mais turísticas ficaram quase desertas e mesmo com esse cenário tornado público não houve inversão da procura. A procura continuou a crescer nos locais onde há um maior contacto com a natureza, mais paisagem, menos pessoas, mais espaço.
O território Dark Sky® Alqueva, bem como o Observatório Oficial, sentiram esse aumento da procura, a qual permitiu compensar as perdas anteriores decorrentes do confinamento. E, passámos a um mercado quase exclusivamente nacional, incluindo estrangeiros a viver em Portugal.

Com uma visão mais alargada, que soluções prevê que possam combater a crise no setor do turismo?
O que aconteceu e está a acontecer com esta pandemia e a forma como as pessoas reagiram ao consumo turístico deve ser analisado numa perspetiva mais alargada. Quando iniciei o Dark Sky® Alqueva, o conceito desenvolvido teve como base um conjunto de critérios de análise que estavam assentes na evolução da procura futura, aliada ao desenvolvimento da sociedade no seu conjunto, ou seja sem segmentação do mercado. Estes pressupostos mostravam a necessidade de viagens com mais valor acrescentado e significado pessoal, mas também a necessidade de um maior contacto com a natureza. Estas mudanças ocorrem num determinado ritmo, situação que a pandemia acabou por acelerar. Alguns dos locais que anteriormente sofriam com excesso de turismo, estão agora praticamente vazios, e infelizmente ainda não conseguiram contrapor a quebra para voltarem a cativar o público.
No caso de Portugal é importante investir no interior, mas não com a visão que temos de passar a oferta turística para as regiões menos afetadas com a quebra da procura turística. Porque é natural existir maior interesse em investir nas zonas rurais, mas se perdermos aquilo que nos diferenciou agora, então ficamos com um país sem alternativas. Naturalmente existe espaço para melhorar, qualificar e crescer, mas de forma sustentável e que aconteça a par da qualificação dos territórios em termos globais. Se ainda existem territórios em Portugal que possam aplicar o verdadeiro conceito de sustentabilidade, então é agora que temos de garantir que é esse o caminho seguido.
O crescimento da confiança para viajar começará pelos destinos considerados – antes da pandemia – como menos massificados e por isso deveria haver um consenso alargado e trabalho conjunto com os vários intervenientes, públicos e privados, para garantir essa confiança que posteriormente se alastrará aos outros destinos.

Aos visitantes, que rota pelo universo Dark Sky® gostaria de sugerir? Tem alguma sugestão?
O Universo Dark Sky expandiu-se e foi alargado ao centro do país, com o Dark Sky® Aldeias do Xisto, resultado da parceria entre as marcas Dark Sky® e a ADXTUR, e ao norte do país com o Dark Sky® Vale do Tua, fruto de outra parceria entre o Dark Sky® e Parque Natural Regional do Vale do Tua, assim não haverá experiência mais completa que experimentar o céu escuro desde o Grande Lago Alqueva, passando pelas montanhas da Pampilhosa da Serra que circundam a barragem de Santa Luzia e terminando na riqueza megalítica por entre os bonitos vales que serpenteiam o Tua. Tudo isto, sob um céu incrivelmente estrelado, e repleto de magia celeste.