Início Atualidade “NÃO SINTO A DESIGUALDADE DE GÉNEROS DENTRO DOS TRIBUNAIS”

“NÃO SINTO A DESIGUALDADE DE GÉNEROS DENTRO DOS TRIBUNAIS”

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“NÃO SINTO A DESIGUALDADE DE GÉNEROS DENTRO DOS TRIBUNAIS”

Primeiramente, quem é Adelina Barradas de Oliveira enquanto Mulher e Pessoa?
Nascida em novembro, signo de Escorpião, 61 anos, 35 anos de carreira, um Mestrado em Comunicação Media e Justiça, a frequência de um Doutoramento. “Guerreira” como me chama o filho, “pedacinho de céu e de mau feitio” como me chama a filha. Gosto do mar de música e poesia, de escrever, ler e dançar. Com vontade de construir mais além da carreira.

Conte-nos um pouco sobre como tem sido a sua «aventura» no universo do direito e das leis em Portugal. Em que momento da sua vida é que chegou aquele ponto em que disse “é isto que quero seguir”?
Eu e as matemáticas resistimos sempre a um convívio criativo. A Psicologia e a Filosofia e as Palavras eram muito o meu Mundo de descoberta e criatividade. O Direito era o sonho a cumprir. Licenciei-me e, porque ser Juiz se abriu às Mulheres do meu País e chegou a minha hora, eu não hesitei. Não queria que ninguém decidisse Direitos por mim.
Gostava e gosto de pessoas e de as ouvir. Mais do que uma aventura no meio do Direito e das leis, tem sido uma aventura no meio das pessoas de diferentes origens e culturas. Percorri o País de Norte a sul. Aprendi tanto, meu Deus! Não imaginam o que aprende uma (jovem) juíza pelo País fora desde 1985 até hoje.

Num passado não muito distante, o universo do direito, tribunais e leis em Portugal estava mais destinado ao universo masculino, algo que, felizmente, tem sofrido alterações. Na sua opinião, a que se deveu esta capacidade das Mulheres estarem mais presentes no universo do direito em Portugal?
Não foi uma questão de capacidade. As mulheres não eram Juízas e ponto. Foi depois do 25 de Abril que as mulheres puderam sê-lo. Lado a lado com os homens. Lembro-me de que na altura em que fui para a minha 1ª Comarca (onde fui a primeira Juíza), ainda só eramos cerca de 46 em Portugal. Hoje somos muitas, e mais.

Sente que hoje vivemos um período mais positivo para as Mulheres que pretendem alcançar maior visibilidade e posições de relevo, como por exemplo a sua?
A posição de Juíza pode ser para os outros uma posição de relevo, ou destaque. Para quem o é, é uma posição de serviço. Ao Juiz, à Juíza, tudo lhe é exigido e, quanto mais poder tiver, maior é o seu dever.
É verdade que hoje em dia as diferenças e os obstáculos não são os mesmos. Mas, eu mesma há 35 anos, não senti obstáculos. Licenciei-me em Direito, concorri à Escola de Magistrados, – CEJ – prestei provas e fui admitida. Exercer nunca foi para mim caminho de dificuldades mesmo quando, olhavam para o meu marido quando chegávamos às Comarcas, e pensavam que eu era a mulher do Juiz.

Como pode descrever a desigualdade de géneros dentro dos tribunais? Considera que, apesar dessa mesma desigualdade, existe algum tipo de evolução entre os tempos?
Não sinto a desigualdade de géneros dentro dos tribunais. Nunca senti. Onde ela se pode sentir é fora dos Tribunais. Tive e tenho a sorte de ter um marido que sempre dividiu tarefas comigo, de igual para igual. Não sou a melhor pessoa para me queixar de desigualdade de género porque, para mim, há muito tempo que “a tradição já não e o que era”.
Mas, também é verdade que, a nossa vida dupla de “gestoras da família”, se reflete na velocidade de resposta no trabalho, e isso pode refletir-se nas inspeções e classificações de algumas de nós.

Acredita que a reflexão e partilha de experiências entre Juízas são algo significativas? De que forma promovem esta cooperação mútua entre colegas da mesma profissão?
Mais do que partilha de experiências e dificuldades entre juízas, será importante que, homens e mulheres que aplicam o Direito e defendem os Direitos, se preocupem com a cooperação mútua e procurem ser um exemplo na área das Igualdades de Direitos a todos os níveis em todos os campos.

Que mensagem lhe aprazaria deixar a todos as mulheres? Lutar contra todos os receios e estigmas é absolutamente essencial ou basta acreditar em si próprias?
Não ter receios, nem de estigmas. Nós vamos até onde quisermos. Sabemos isso, é intuitivo. Sabemos do nosso valor e das nossas fraquezas e como contorná-las, sabemos da nossa sagacidade e da nossa vontade, naturalmente, sem sobressaltos. É tudo uma questão cultural. E sabemos ensinar isso aos nossos filhos e filhas, às gerações do amanhã. Não chegámos aqui por acaso. Não abdicamos do que somos. É a nossa natureza.