O fecho de uma parte substancial das lojas com porta aberta para a rua fruto das medidas de mitigação da pandemia e a rapidez e comodidade das compras efetuadas através da Internet foram fatores importantes neste crescimento, mas será que as empresas estavam/estão preparadas para este novo paradigma de consumo?
O setor é, como se percebe, tornou-se extremamente atrativo, mas não deixa de apresentar desafios inegociáveis. Um deles é a Logística.
O choque sobre as estruturas logísticas das empresas foi imediato. Do dia para a noite, milhares de empresas tiveram que adequar os seus processos de venda, armazenamento (stock) e entrega de modo a corresponderem a um influxo extraordinário de pedidos em muito justificados por uma verdadeira corrida, e até açabarcamento, de produtos essenciais por parte dos consumidores (quem não se lembra do papel higiénico e do álcool gel esgotado nas prateleiras físicas e virtuais?) nos primeiros estágios da pandemia.
Depois deste choque inicial, as compras impulsivas em meio online diminuíram, mas não a frequência, fazendo com que, mesmo os negócios online de maior dimensão, começassem a experienciar dificuldades nas várias etapas do processo logístico, especialmente no armazenamento e entrega dos seus produtos.
A falta de espaço para acomodar um aumento exponencial das encomendas decorrentes do comércio eletrónico acabou por conduzir a uma procura crescente das empresas por espaços alternativos de armazenamento. De acordo com um estudo da consultora imobiliária Cushman & Wakefield, a transação de imóveis nos mercados industrial e logístico português aumentou 33% no primeiro semestre de 2020 face ao período homólogo de 2019, com um total de 94.800 metros quadrados de ativos transacionados.
Face ao extraordinário número de pedidos, também, como referimos, as entregas foram afetadas. De acordo com um estudo da Deloitte, em média, os operadores portugueses demoraram 3,5 dias a entregar os produtos adquiridos online, um tempo que a maioria dos consumidores considera excessivo e que, no competitivo mundo do e-commerce, pode levar à perda irremediável do cliente.
Isto foram algumas das dificuldades experienciadas pelas empresas durante o impacto inicial da pandemia, mas uma pergunta impõe-se: como é que estes desafios foram ultrapassados e, em que medida, as respostas encontradas irão marcar o panorama da Logística no pós-Covid?
Soluções logísticas em tempo de pandemia
Para além de uma reorganização da logística a nível interno que acabou por se repercutir no desfasamento de horários de entrada e saída das equipas, na criação de corredores de circulação e na implementação de medidas de higienização nos armazéns, as empresas procuraram fazer face ao crescimento exponencial das vendas nos períodos mais críticos da pandemia através da aposta no self-storage (mini-armazéns, arrecadações, etc.) e nos modelos de negócio dropshipping.
Na prática, o self-storage é um sistema de armazenamento em que as empresas com falta de espaço ou dificuldades de stockagem podem alugar espaços devidamente preparados para o efeito (segurança, ventilação, limpeza, higiene, etc.) por um determinado período de tempo (normalmente curto, mas com possibilidade de extensão) que podem utilizar e visitar sempre que necessário.
Em Portugal, este mercado de self storage acabou por sofrer um forte impulso durante o ano passado (estudo da consultora Cushman & Wakefield) apresentando às empresas soluções muito interessantes como é o caso dos serviços disponibilizados pela lisboeta All Storage, uma empresa de aluguer de arrecadações self storage e mini armazéns em Lisboa com provas dadas no mercado e com várias soluções a nível de dimensões e preços.
Por exemplo, um mini armazém em Lisboa da All Storage está preparado para acomodar, sob fortes medidas de higiene e segurança, todo o tipo de bens por um período mínimo de permanência de 30 dias. O contrato é feito à medida das necessidades da empresa e inclui ainda manutenção regular da self-storage, espaço para cargas e descargas e apoio no transporte de bens dentro da unidade de armazenamento.
Para além de importantes no processo de armazenamento, as self-storages também acabam por dar um forte contributo à agilização do chamado “last mile” (entrega da encomenda no domicilio) e do processo de devolução de produtos (cerca de 30% dos consumidores devolvem os produtos comprados nos canais de e-commerce, versus 8% nas lojas físicas) ao proporcionarem a pequenos e grandes negócios online disporem de centros de distribuição localizados em pontos estratégicos pelo país e, particularmente, no centro das grandes cidades, dado que o perfil de e-shopper português, de acordo com o CTT E-Commerce Report, a maioria dos consumidores provém das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto.
Em paralelo com a tendência pela adoção de self-storages, muitos novos empreendedores e empresas online decidiram adotar um modelo de negócio dropshipping que lhes permitiu, utilizando stock de terceiros, começar ou continuar a vender digitalmente sem terem que se preocupar com o armazenamento dos produtos.
Ao utilizar este sistema, a loja online vende o produto e envia a ordem da transação para o fornecedor. Este, por seu turno, faz o envio direto do produto em nome da loja para o cliente final. A margem de lucro a resulta da diferença entre o valor cobrado pelo fornecedor e o preço anunciado pela loja aos clientes no seu site.
A estas alterações logísticas há ainda a juntar o aprofundamento dos processos de automatização a montante (processo de venda) e a jusante (armazém). Partindo de dados obtidos em diferentes momentos de interação com o consumidor, a automatização veio oferecer maior eficiência na gestão dos processos logísticos ao permitir, por exemplo, categorizar os clientes em função do valor das suas compras ou canal de aquisição, reportar os pedidos com maior procura, gerir produtos e inventários ou reclamações.
Logística no pós-Covid
Se muitas das tendências que acima elencamos vieram para ficar num mundo pós-Covid, muitas outras se lhe vão juntar no futuro.
Operações de entrega first e last mile: neste domínio, o pós-Covid trará inovações tecnológicos que passarão por veículos autónomos que podem reduzir o custo da entrega de last mile até 40%, a introdução da tecnologia blockchain ao longo da cadeia de abastecimento, a utilização de drones em entregas last mile como aqueles que a Amazon experimenta nos seus armazéns e se prepara para incluir no serviço de entregas através do serviço Amazon Prime Air (apesar de ainda restrito a itens pequenos (máx. de 5kg), pode levar uma encomenda a casa de um cliente em apenas 30 minutos) ou ainda a utilização do conceito de digital twins, que permitirá construir modelos virtuais ultrarrealistas de cadeias de abastecimento.
Gestão de armazém: de modo a enfrentarem a escassez de mão-de-obra ou avanços na automação, as empresas irão confiar, em larga medida, nas novas tecnologias baseadas em IA (Inteligência Artificial) de reconhecimento ótico, realidade aumentada e virtual, óculos inteligentes ou na robotização para a gestão dos seus armazéns.
Deste modo, os operadores vão ganhar um maior controlo sobre a cadeia de abastecimento ao se dotarem da capacidade para rastrear ativos, bens e capacidade em tempo real através de sensores e tagging de ativos, análise de dados e sistemas avançados de gestão de frotas.
Personalização da experiência de compra: a inclusão de chatbots que acompanham o cliente ao longo de toda a jornada de compra online e de especialistas que o façam, igualmente, no pós-venda para informar os clientes de eventuais atrasos e garantir devoluções sem complicações, bem como o aprimorar das opções de tracking serão algumas das estratégias que deverão ser colocadas em prática de forma pelos negócios online que asseguraram não só uma melhor experiência de compra, como também ajudaram a otimizar a componente logística.