Início Atualidade “O Setor depara-se com problemas graves e transversais”

“O Setor depara-se com problemas graves e transversais”

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“O Setor depara-se com problemas graves e transversais”

José Carlos de Melo Francisco, Co-CEO – 2045 e Miguel Pinho, Co-CEO – 2045

Temos um posicionamento vincado e os nossos 32 anos de história demonstram que não estamos aqui de passagem. A empresa tem tido níveis de crescimento elevados com principal ênfase nos últimos três anos, com taxas de crescimento anuais superiores a 10%, tendo atualmente um efetivo superior a 3.500 vigilantes.
Este crescimento só é possível com uma constante procura por novas soluções de segurança focadas nos nossos clientes, uma constante reinvenção e digitalização dos nossos processos internos e uma forte aposta no crescimento interno dos nossos quadros.
Temos estreitas parcerias com os principais fornecedores de tecnologia nas vertentes de safety e security: intrusão, incêndio, cctv, controlo de acessos que nos permitem conhecer em primeira mão e adaptar as soluções tecnológicas dos fabricantes e desenhar e implementar soluções de segurança à medida e eficazes para os nossos clientes. Estas soluções são complementadas pela Central de Segurança da 2045 que atualmente monitoriza remotamente 24h por dia, durante todos os dias do ano, cerca de 2.500 instalações em todo o país. De forma a facilitar e melhorar o trabalho dos operadores da Central, estamos também a recorrer e implementar soluções de inteligência artificial para que possamos detetar de forma mais rápida, precisa e fiável os alertas necessários a uma intervenção eficaz nas instalações monitorizadas.
A estratégia da 2045 passa por um total foco no cliente conscientes da constante e cada vez mais agravada exigência na qualidade do serviço. Temos de estar sempre um passo à frente, ou seja, sermos sempre mais exigentes que os nossos clientes.
Neste sentido, criámos uma plataforma digital que permitiu uniformizar totalmente o serviço de todos os vigilantes em cada portaria em todo o país. Esta plataforma permite que todos os registos e ocorrências antes registadas em papel sejam feitos de forma digital e com acesso imediato pelos nossos clientes.
Recentemente reformulámos também toda a tecnologia de arquivo, substituindo, os sistemas de arquivo físicos locais, por soluções de arquivos em tecnologia de cloud, onde toda informação, quer seja vídeo, áudio, informação de gestão, está disponível em qualquer local com acesso à internet, em tempo real para as pessoas autorizadas a aceder à respetiva informação.
O setor da segurança privada é atualmente composto por 83 empresas de segurança privada dando emprego a mais de 60.000 pessoas. O setor que tem crescido cerca de 4% ao ano nos últimos cinco anos representando atualmente um volume de negócios de aproximadamente €900M.
Apesar da relevância que tem para o país, principalmente ao nível do emprego, o setor depara-se com alguns problemas graves e transversais.
Algumas empresas praticam, de forma recorrente, preços abaixo de custo ganhando concursos públicos praticando dumping social. O setor está regulado, tendo sido recentemente alterada a lei da segurança privada onde está especificamente previsto que é ilegal a venda com prejuízo, no entanto, falta fiscalização. Em cerca de 90% dos concursos públicos são adjudicados serviços com preços abaixo do preço de custo.
Esta prática ilegal promove o dumping social, trazendo grande prejuízo para (i) o Vigilante, sendo remunerado com valor inferior ao legalmente previsto, (ii) o Estado, recebendo menos contribuições para a segurança social e (iii) para empresas idóneas e cumpridoras como a 2045 que são alvo de concorrência desleal, perdendo concursos para estas empresas incumpridoras.
Quando falamos em preço abaixo de preço de custo, é importante clarificar que este preço de custo se trata de remunerações, contribuições para a segurança social e custos obrigatórios para a atividade (seguros acidentes trabalho, responsabilidade civil, formação, medicina no trabalho, entre outros). Ou seja, nem precisamos de chegar ao preço de custo com imputação de custos de estrutura das empresas o que poderia tornar este preço de custo subjetivo. Portanto trata-se de um valor praticamente igual para todas as empresas do setor e em que 98% do custo são remunerações e impostos devidamente definidos.
Não existe fiscalização e as entidades adjudicantes, ainda que responsabilizadas pela lei da segurança privada caso exista algum incumprimento por parte das empresas prestadoras do serviço de segurança no pagamento aos colaboradores e de impostos, parecem preferir continuar a adjudicar de forma ilegal ao preço mais baixo correndo sérios riscos financeiros e sociais.
Este problema no setor veio agravar-se com o aparecimento do regime da transmissão de estabelecimento que divide o setor. As empresas filiadas na Associação de Empresas de Segurança entendem que este regime se aplica no setor da segurança enquanto que a 2045 e filiadas na AESIRF defendem que não. Do ponto de vista legal, é nossa opinião que não se aplica, e os tribunais têm decidido maioritariamente nesse sentido. A aplicação do regime da transmissão de estabelecimento veio agravar o dumping social permitindo às empresas incumpridoras concorrer de forma mais ágil a qualquer concurso uma vez que, mesmo sem estrutura, experiência nem capacidade, facilmente ganham um serviço onde mudam as fardas e ficam com os Vigilantes já formados pela empresa anterior.
Estas práticas correntes criam várias situações prejudiciais para o setor, comprometendo a qualidade dos serviços prestados, financeiramente e a estabilidade dos profissionais deste setor.
A estratégia da 2045, de há três anos a esta parte, e dado que a sua atividade estava muito posicionada no setor público, passou por redirecionar o foco para o mercado privado. Esta decisão de alteração da estratégia comercial já vinha a ser preparada anteriormente e foi implementada com a consciência que o cliente privado é muito mais exigente. No, entanto cumprindo-se com o padrão de qualidade exigido, consegue-se uma fidelização mais forte e duradoura trazendo mais estabilidade com contratos de médio/longo prazo.