«Deixar Marca», à dimensão possível do produto da minha Vivência e Imagem”

Assume-se como uma Mulher concretizada, mas reconhece ser uma pessoa obstinada na procura da realização pessoal, ambicionando fazer a diferença de alguma forma. Falamos de Victoria Quintas, Diretora Geral e Fundadora da BIODECON - BDSD, Soluções de Biodescontaminação Lda, que, em entrevista à Revista Pontos de Vista, levantou um pouco o véu sobre o seu percurso e carreira, a forma como lida com os desafios e os supera, assegurando que, apesar de existir uma melhoria evidente, ainda existe um longo caminho a percorrer, no que concerne à diversidade de género nas empresas em Portugal.

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Sabemos que a Victoria Quintas é uma profissional experiente, com sólida carreira na indústria farmacêutica, tendo atuado em áreas como Neurologia, Nefrologia, Oncologia e Doenças Raras. Gostaríamos de conhecer um pouco mais da sua história. O que nos pode confidenciar?
Com formação de base em Biologia pela Universidade de Lancaster, Reino Unido, desempenhei funções de Direção de Marketing e Vendas em empresas do ramo do Diagnóstico Clínico e Farmacêutico, ao que se seguiu a experiência de empreendedorismo da BIODECON, a única empresa nacional, exclusivamente, dedicada a soluções de erradicação e controlo da contaminação ambiental – não só na saúde, no combate às vulgarmente designadas infeções hospitalares – como, e cada vez mais, noutras áreas.
Com a atividade da BIODECON sentimos que constituímos parte da solução de um problema que afeta vidas humanas, o que é extremamente gratificante. A confiança depositada na nossa prestação de serviços de biodescontaminação ambiental automatizada é fonte de contínua motivação e empenho. No entanto, pelo contexto socioeconómico do nosso país e a ainda diminuta dimensão da estrutura da BIODECON, o contínuo desafio é a palavra de ordem, a nossa realidade diária.

Além disso, é também proficiente em gestão de marketing e vendas, com especial interesse em liderança de equipas multifuncionais. Porquê todos estes campos distintos de atividade?
Não me parecem campos distintos. O sucesso comercial de uma equipa vem muito da empatia e inteligência emocional de cada um dos seus membros e assenta na base de uma boa formação, estruturada numa relação de confiança na Organização. Costumo dizer informalmente que “gosto de pessoas”, de as “formar” e não só “treinar”, o que, no caso das equipas que tive e tenho o privilégio de liderar, significa fazer crescer não só a nível profissional como pessoal, incutindo responsabilidade e proatividade, com a adaptabilidade multifuncional a que a realidade atual obriga.

Como já mencionado, tem uma carreira sólida na sua área e é, sobretudo, empreendedora neste círculo, tendo, por isso, fundado a marca Biodecon – Soluções de Biodescontaminação, há nove anos. Com que objetivo nasceu esta marca no mercado?
A BIODECON surgiu no contexto de uma conjuntura bem identificada: A realidade nacional da mais elevada taxa europeia de prevalência de infeções hospitalares, atualmente definidas de forma mais abrangente como Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde (IACS). Segundo o inquérito efetuado entre 2011 e 2012 pelo European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC), a prevalência de infeção adquirida em internamento de hospitais de agudos em Portugal era de 10,5%, praticamente o dobro da média europeia, que desceu para 7,8% no último inquérito, realizado em 2016, um valor tendencialmente mais favorável, mas ainda demasiado elevado.
Apresentámos, desde o início da empresa, um modelo de negócio mais facilitador particularmente para as instituições do SNS, cujos conhecidos constrangimentos financeiros e de recursos humanos dificultam a aquisição de equipamento: A prestação de serviços de biodescontaminação ambiental automatizada certificada pela NP ISO 9001 – 2015, uma intervenção “chave na mão”, incluindo consumíveis, equipa de técnicos especializados que conduzem e monitorizam toda a operação, providenciando inclusive evidência do nível de eficácia atingido em cada ciclo de biodescontaminação.
Mais do que uma oportunidade de mercado, dar acesso à inovação técnica que contribui para a redução das IACS constitui o “Compromisso e Responsabilidade Social” que a BIODECON orgulhosamente assume como Missão.

A Biodecon contribui para a contenção, erradicação e prevenção das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde (IACS), que constituem um desafio de dimensão nacional. Na prática, de que forma o faz?
A Biodecon combina a melhor relação de eficácia e rapidez na erradicação de microorganismos causadores de infeção, com um portfolio cada vez mais alargado de tecnologias, que vão desde a vaporização com Peróxido de Hidrogénio de alta concentração (35%) – a referência mundial na descontaminação de superfícies – até à utilização de outros biocidas aplicados por nebulização, ou por vaporização eletrostática, assim como a radiação ultravioleta.
A BIODECON atua ainda a nível do ar, com uma nova gama de equipamentos particularmente custo-efetivos para tratamento por filtragem de alta eficácia e biodescontaminação 24/24h sem consumível, a utilizar em espaços com a presença de pessoas.
Noutra área de atividade muito solicitada na sequência da pandemia por SARS-CoV-2, fabricamos em Portugal estruturas para isolamento de doentes de fácil montagem e dimensão customizada, com pressão negativa para contenção da infeção, que reduzem a contaminação cruzada e maximizam a flexibilidade das instituições de saúde para acomodar doentes de risco e/ou infetados.
Novas áreas de atividade e segmentos de mercado se abrem atualmente na BIODECON, que dá este ano o seu primeiro passo de Investigação e Desenvolvimento local, num estudo de consórcio em que lidera.

O facto de ser uma mulher líder da sua organização, muito diz sobre o desenvolvimento da sociedade. É do conhecimento geral que a procura incessante das mulheres pela inserção profissional em cargos antes ocupados apenas por homens tem surtido resultados positivos nas empresas. Acredita que o paradigma está, finalmente, a mudar? Como observa a atual panorama desta questão no setor onde atua?
Existe efetivamente uma valorização crescente dos traços de liderança mais frequentes entre as mulheres, como é o caso do trabalho em equipa, a promoção das relações interpessoais e a motivação do grupo, mas Portugal ainda tem muito espaço para melhorar a vários níveis: Dados do estudo “A Diversidade de Género nas Empresas em Portugal” mostram que nos cargos de topo a representação feminina é ainda bastante minoritária. Não existindo grandes diferenças de género na população ativa e constituindo as mulheres cerca de 60% de todos os licenciados, só podemos concluir que a sua representação em posições de chefia está ainda muito longe da paridade. Em 2021, nas quase 40 mil empresas criadas em Portugal, apenas 27% têm liderança feminina, valor 1 pp superior ao de 2019. Ainda que modesto, este valor traduz, no entanto, uma evolução positiva, já que há dez anos se encontravam pouco acima dos 5%.
Choca-me particularmente a questão da disparidade salarial, que vai aumentando à medida que se vai subindo nos quadros da estrutura empresarial. Se nos profissionais não qualificados as mulheres ganham, em média, aproximadamente menos 10% que os homens, nos quadros superiores (com mais responsabilidades, como definição da política geral da empresa ou funções consultivas) a diferença ronda os 26%, apesar das mulheres possuírem, em média, mais habilitações.
No entanto, para além do género, existem hoje outras questões estruturantes, como a integração de diferentes gerações e culturas, o acolhimento dos millennials, as competências-chave para a tão necessária adaptabilidade, os novos segmentos de negócio, o ambiente tecnológico, as condições de trabalho remoto e a gestão de equipas à distância.

A verdade é que a capacidade de liderança positiva nada tem a ver com o género do líder. No caso da Victoria Quintas, em que medida a liderança que pratica tem sido essencial no sucesso da Biodecon e também na motivação da sua equipa? O que é, para si, um bom líder?
Diria que o termo liderança numa estrutura de dimensão reduzida como a da BIODECON é muito relativa… Ainda assim, tento – com um exercício permanente de autocrítica e controlo pessoal – aproximar-me o mais possível do que considero ser um bom líder: alguém que pratica um bom modelo de gestão pelo exemplo, traz a sua equipa a participar nas decisões da empresa com a inerente mais-valia da criatividade pessoal e proatividade, promove o sentimento de “pertença” e confiança na Organização, num ambiente da maior estabilidade possível… o que não é de todo fácil! Só uma excelente gestão de expetativas pessoais, atenção ao pormenor das distintas personalidades e muita inteligência emocional se pode assegurar a motivação que é a chave para o sucesso do coletivo.

A terminar, do ponto de vista pessoal e profissional, o que falta ainda concretizar na sua vida? Que marca gostaria de deixar não só na equipa da Biodecon, como no mundo?
Concretizado o importantíssimo “legado” de mãe que deixo a duas filhas de que muito me orgulho, procurarei, ainda assim, que me falte sempre algo a realizar: Um novo desafio a abraçar – pessoal ou profissional – uma meta a alcançar, algo que me garanta o entusiasmo de continuar a criar algo.
«Deixar marca», à dimensão possível do produto da minha vivência e imagem, parece-me improvável e deveras excessivo! Ainda assim, reconheço ser obstinada na procura da realização pessoal ambicionando “fazer a diferença” de alguma forma e à medida das minhas capacidades.