“É importante que a sociedade compreenda a necessidade de investir na Saúde Mental”

Marisa Marques é Psicóloga Clínica e, em entrevista à Revista Pontos de Vista, contou-nos os motivos que fazem com que esta seja uma área que lhe preenche o coração e de que forma cumpre, diariamente, o seu compromisso de fazer a diferença na Psicologia.

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Sabemos que a Marisa Marques é Psicóloga Clínica e da Saúde de formação. Gostaríamos de começar por conhecer melhor a sua história. O que nos pode contar?
Até ao momento de candidatura para o acesso ao ensino superior, não tinha bem a certeza do que queria seguir. Apenas sabia que gostava de ingressar na área da saúde, pois sempre senti uma certa adrenalina com tudo o que está relacionado com saúde e pessoas. No 12º ano, o interesse em Biologia, despertou ainda mais esta minha paixão e foi nesse momento que decidi que o meu futuro passaria pela saúde.
Dado que o meu interesse na saúde sempre foi muito específico para a área das Neurociências/ neurologia – Cérebro e Pediátrica. Foi assim que, em 2009, ingressei no Mestrado Integrado em Psicologia na Universidade do Minho. Nos primeiros dois anos estava um pouco perdida e sem saber se era bem isto que eu queria, pois em nada o curso me parecia fazer alguma ponte de ligação com a minha paixão. Entretanto, nas partilhas com colegas acerca da minha insatisfação, surgiu a oportunidade de ingressar num grupo de investigação na área das neurociências, mais especificamente, Neuromodulação (sob orientação de duas pessoas especiais e a quem devo parte do que sou hoje, Dra. Sandra Carvalho e Dr. Jorge Leite), onde além de conhecer um mundo ainda mais fantástico do que aquele que eu pensava que era, descobri que o nosso cérebro é a fonte de tudo. Desenvolvi também a minha Tese de Mestrado nesta área e tive a oportunidade de publicar um artigo numa das revistas científicas internacionais mais conceituadas (Transcranial Direct Current Stimulation Based Metaplasticity Protocols in Working Memory Publicado a Novembro de 2014 na Brain Stimulation).
Posteriormente em 2013 entro pela primeira vez em contacto com o mundo externo, ingressando na Unidade de Neonatologia do Hospital de São João, sob a orientação da Dra. Sara Almeida Girão (Psicóloga no Hospital de São João). Esta foi uma das minhas maiores escolas de vida, a nível curricular e profissional. Aqui consegui fundir e ancorar as duas áreas que, nesta altura, me faziam sentir uma mulher-menina realizada e feliz: Pediatria e Neurociências. Foi assim que tomei consciência do caminho profissional que queria trilhar.
Apesar dos obstáculos que a vida me foi impondo, fui lutando diariamente para o conseguir. Fiz ainda uma Especialização em Psicologia Clínica, Psicologia da Infância, Psicologia da Gravidez e Parentalidade, Terapia Familiar… provavelmente questionam porque estas áreas que parecem distintas, mas a realidade é que cada vez mais de acordo com estudos realizados na área sabemos que a Saúde mental e o Neurodesenvolvimento é um contínuo que inicia na gravidez e termina com a nossa morte. E como tal para que consigo fazer a diferença no meu trabalho e conseguir o melhor tenho de estar inteirada no TODO da criança ou do meu paciente, desde o seu nascimento, desenvolvimento, ambiente familiar…

Afirma que o que a faz realmente feliz é a profissão que exerce. Como define esta paixão? Por que motivos é uma área que a preenche enquanto pessoa e profissional?
Podia usar o cliché que muito ouvimos diariamente de que gosto porque gosto do contacto com as pessoas acima de tudo; porque me preocupo com o bem-estar das pessoas, porque gosto de conhecer histórias de vida, porque gosto de mostrar que tudo na vida tem duas faces da moeda. Mas na realidade isto é só 1/6 daquilo que me faz apaixonar pela minha profissão e me faz acordar diariamente apaixonada pelo meu trabalho é aquela lágrima daqueles pais e/ou daquelas crianças que mais tarde são substituídas por sorrisos e palavras bonitas cheias de amor e gratidão, é ver aquela lesão e aquela perturbação que deixa de ser uma limitação e passa a ser uma bênção e uma aprendizagem…. É poder fazer a diferença na vida de alguém da forma mais genuína que possa existir.
Sabem, não há nada de mais bonito nesta vida do que viver com a dose certa de paixão e como tal para ser assim apaixonada eu trabalho a conquista, que exige paciência, muita paciência, muita resiliência e um exercício diário por parte de mim quer no equilíbrio entre eu pessoa e profissional como o exercício diário que exige de mim ser mais e melhor que o dia anterior.

Olhando para a carreira que já traçou e para as conquistas que arrecadou, que sentimento fica?
Neste momento, aos 33 anos sinto que já travei muitas lutas e já fiz muito mais ainda não estou satisfeita, pois acredito que poderei fazer e trazer ainda mais para a Psicologia Clínica e para a Psicologia Pediátrica decidi embarcar num grande desafio que em Portugal ainda está agora a dar os primeiros passos.
E como tal, terminei os estudos avançados em duas áreas em crescimento e que eu acredito que será o sucesso do futuro da saúde mental- Neuromodulação- Neurofeedback e Estimulação Transcraniana por corrente Contínua (tDCS). Pois será através destas técnicas diferenciadas que conseguirei resultados terapêuticos significativos e mais eficazes a curto prazo quando comparada com as intervenções que utilizamos apenas a Psicologia convencional isolada. Pois as novas técnicas de neuromodulação não-invasiva são para mim um fator de diferenciação e de inovação nas abordagens terapêuticas que utilizo diariamente e que me permite complementar com o acompanhamento de excelência que garanto a quem me procura.
A nível futuro pretendo continuar o meu caminho de procura e evolução constante no sentido de permitir as melhores e mais diferenciadores nomeadamente na área da Psicologia e Neuropsicologia| Neuromodulação; Avaliações de Desenvolvimento, Avaliações Psicológicas Infantil; Perturbações de Neurodesenvolvimento; Perturbações Emocionais, Comportamentais e Cognitivas na Primeira Infância e na Idade Pediátrica; Avaliação e Acompanhamento Psicológico Materno-Infantil. E neste sentido continuo a contar e a receber o melhor que é trabalhar no Grupo Trofa Saúde. Que além de ser um orgulho imenso, ter sido recibo o maior voto de confiança deles…. é algo que hoje me tem permitido projetar o futuro profissional com um brilho nos olhos. E que diariamente me faz acreditar que além desta ainda curta caminhada que já fizemos, ainda temos muitos mais passos firmes na evolução e diferenciação da Psicologia, Saúde Mental.

Falando da atividade mais profundamente, dentro daquilo que são as áreas a que se dedica, como a Psicologia da Infância e Adolescência, Psicologia do Desenvolvimento, Perturbações do Neurodesenvolvimento, entre outras, quais são aquelas que lhe causam maior preocupação a nível social e económico?
Todas elas são bastante preocupantes, não consigo diferenciar nenhuma como a mais ou menos preocupante ou menos impactante quer na nossa sociedade quer a nível económico. Isto porque a maioria destes problemas têm impacto no desenvolvimento da criança, tornando-as também mais vulneráveis a vir a sofrer de doenças mentais na adolescência e na vida adulta. Ou seja, aparece na infância e proclama-se até à idade adulta. E como tal irá interferir em todas as esferas da vida (desenvolvimento e crescimento, académico, pessoal, relacional, familiar, profissional, etc…)

Cuidar do bem-estar psíquico/psicológico dos mais pequenos é estar a investir no desenvolvimento da geração de amanhã. Neste sentido, quão importante e urgente é falar sobre saúde mental na infância e adolescência? Considera que é um tema suficientemente debatido na esfera pública?
Sendo que Segundo a Associação Americana de Psiquiatria da Infância e da Adolescência (AACAP) uma em cada cinco crianças apresenta evidência de problemas mentais e esta proporção tende a aumentar. De entre as crianças que apresentam perturbações psiquiátricas apenas 1/5 é que recebe tratamento apropriado. As perturbações psiquiátricas da infância e da adolescência trazem grandes encargos à sociedade, quer em termos humanos quer financeiros, e muitas delas podem ser precursoras de perturbações na idade adulta
Torna-se uma PRIORIDADE a dedicação e o investimento do SNS e é importante que a sociedade compreenda a necessidade de investir na saúde mental. Pois em pleno século XXI, ainda existe um estigma associado à doença mental que é preciso eliminar. O diagnóstico e acompanhamento dos doentes é fundamental para que ganhem anos de vida, e que para que mantenham a sua participação ativa na sociedade.
Pois todos nós temos o direito ao bem-estar mental, acompanhando o bem-estar físico e o bem-estar social. Estas três componentes são absolutamente indissociáveis, pois a doença mental muitas vezes surge associado a uma doença/lesão física/orgânica, em que os doentes sofrem psicologicamente com isso e que, por isso, é essencial garantir que têm o acompanhamento e o apoio necessários.

A Psicologia é uma área que requer constante dedicação e atenção. Sabemos que a Marisa Marques faz várias formações e participa em congressos no que respeita à área clínica, saúde mental e mais recentemente na área psicoeducacional. Que impacto isto tem na atividade em si?
Como disse acima “eu trabalho a conquista, que exige paciência, muita paciência, muita resiliência e um exercício diário por parte de mim quer no equilíbrio entre eu pessoa e profissional como o exercício diário que exige de mim ser mais e melhor que o dia anterior.” E para dar o meu melhor tenho de estar em constante aprendizagem e atualização sobre o estado da Psicolgia/neurpsicologia / pediatria, etc…. para poder dar as melhores respostas e claramente é o que me permite utilizar metodologias de intervenção e reabilitação inovadoras comprovadas cientificamente como sendo ferramentas adicional imprescindível para a Saúde mental e neurodesenvolvimento (exemplo: neuromodulação).

Tendo em conta este caminho de sucesso e de forte dedicação, qual o próximo passo a dar da Psicóloga Clínica Marisa Marques? Que novidades podemos esperar?
Neste momento, não posso acrescentar ainda muito acerca dos próximos passos, mas acrescento que será nas novas técnicas de neuromodulação não-invasiva são para mim um fator de diferenciação e de inovação nas abordagens terapêuticas nomeadamente nas áreas da neuroreabilitação e no Neurodesenvolvimento, nas perturbações de desenvolvimento e no âmbito da Psicologia da infância e adolescência.
Mas prometo continuar como meu DESEJO DE FAZER A DIFERENÇA na psicologia.