
Célia Marques, Engenheira do Ambiente e Vice-Presidente Executiva da ASSIMAGRA
Temos pela frente uma quarta revolução, a revolução energética. Isto requer uma mudança profunda nos modelos económicos atuais que visem uma economia circular e sustentável, capaz de combater as mudanças climáticas que colocam em causa o próprio modo de vida da civilização humana. Atingir estes objetivos, passa necessariamente por utilizar fontes de energia renováveis e adotar processos produtivos mais eficientes e sustentáveis, o que implica, necessariamente, uma revisão da cadeia produtiva, desde a extração das matérias-primas até ao resíduo final dos produtos. Acelerar a transição para uma economia circular pode fazer a diferença na redução do impacto ambiental da indústria, bem como garantir a fornecimento sustentável de materiais.
O setor da pedra natural teve um percurso extraordinário nos últimos anos, com records de exportações e uma maior relevância no Produto Interno Bruto devido à baixa dependência de matérias-primas importadas. No entanto, os desafios atuais são ainda mais exigentes. O setor enfrenta altos custos de contexto descorrentes da crise energética, o que constitui um forte bloqueio ao desenvolvimento e à competitividade das empresas deste setor. Como tal, é um desafio para a indústria melhorar a sua eficiência energética, adotar modelos de negócio inovadores e sustentáveis e realizar uma descarbonização eficiente tanto na extração quanto na transformação, procurando a neutralidade carbónica em todas as etapas do ciclo produtivo.
Embora o setor reconheça a importância dessa estratégia, atualmente não está capacitado com todas as ferramentas necessárias para percorrê-la. Existem muitos desafios a ultrapassar que passam acima de tudo por um trabalho colaborativo em diferentes áreas, envolvendo associações, entidades de ID, empresas, entre outros intervenientes no setor, transferindo-se conhecimento e sinergias entre todos, e em diversas áreas, para efetivamente se contribuir para a valorização e sustentabilidade do setor da pedra natural e da indústria que representamos.
Com este propósito, a ASSIMAGRA juntamente com diferentes parceiros-chave intervenientes no setor e com as empresas, irão levar a cabo nos próximos 3 anos um conjunto de iniciativas de capacitação do setor da pedra natural, no âmbito dos Roteiros para a Descarbonização da Indústria e da Agenda Verde Sustainable Stone by PORTUGAL, recentemente aprovados através do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Este trabalho será o mote para sensibilizar e apoiar a indústria na adoção de práticas e comportamentos sustentáveis, e fornecer ferramentas de calculo da pegada ecológica dos produtos do setor, quer a nível da extração quer a nível da transformação, de forma a avançar em direção à neutralidade carbónica, fazendo com que em cada operação do ciclo produtivo se reduza as emissões utilizando a alternativa mais competitiva.
Acreditamos que, capacitando o setor com as ferramentas corretas, o futuro passa por unir esforços em torno da transformação dos modelos socioeconómicos para a exploração e a utilização mais eficiente dos recursos minerais e com o menor impacto possível, conscientes da necessidade de se atenuar a pegada ecológica do setor e contribuir para as metas nacionais de redução de emissões de GEE estabelecidas no Plano Nacional de Energia e Clima 2030 e no Plano Europeu de Energia e Clima, rumo a um futuro neutro em carbono.