“Ser Mulher no mundo da Engenharia Civil continua a ser desafiante”

No âmbito do Dia Internacional da Mulher na Engenharia, comemorado anualmente a 23 junho, conversámos com Carina Marques, Engenheira Civil e Administradora da Pengest sobre os desafios que (ainda) persistem no que diz respeito à igualdade de género e de oportunidades nesta área. Conheça a sua perspetiva.

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No sentido de a dar a conhecer ao nosso leitor, quem é Carina Marques e porque decidiu enveredar pela carreira de Engenharia? Quando é que soube que esta área seria o seu destino?
Para além de ser Engenheira Civil e Administradora da Pengest, sou mãe de duas filhas, tarefas que faço por desempenhar com toda a expressão e sentido de responsabilidade. Para além disto, tento todos os dias ter alguma experiência que me enriqueça e que me ajude a tornar uma pessoa melhor. Tornar-me engenheira civil, antes de mais, foi uma resposta pessoal à minha constante necessidade de desafio e de querer solucionar questões. Soube sempre que teria de estar profissionalmente relacionada a algo semelhante. Encontrei esse espaço na engenharia e agora na gestão da empresa, o que acabo por correlacionar.

É Administradora na Pengest, Planeamento, Engenharia e Gestão S.A, uma das mais conceituadas marcas do setor a nível nacional e internacional. Como é que foi criada esta ligação entre si e a marca?
A Pengest comemorou recentemente 41 anos de atividade, e é, como refere, uma conceituada marca nacional e internacional, a que, felizmente, e como muito orgulho, estou associada há mais de 21 anos. Esta ligação iniciou-se muito naturalmente, depois de uma entrevista que correu bem e cá estamos, 21 anos depois. O facto de me rever nos valores da marca Pengest, e ter ainda a oportunidade de enfatizar os mais importantes, isto com total apoio dos acionistas fundadores da empresa, do meu colega Eng.º Rui Gonçalves e dos restantes colaboradores, é crucial neste caminho que temos vindo a fazer.

Como é ser Mulher no setor da Engenharia Civil? Ainda é um universo fechado somente a Homens ou o panorama, felizmente, está a mudar?
Em 21 anos muita coisa mudou. Mas ser Mulher no mundo da engenharia civil continua a ser desafiante. Hoje sinto que se está a criar um caminho, uma forma de estar e de atuar. Ser engenheira, é, antes de mais, ser técnica, mas conciliar isso com caraterísticas, algumas, naturalmente mais atribuídas às Mulheres, é, a meu ver, uma oportunidade de criar novas referências. A ambição é que todos ganhemos com isso – Mulheres, Homens, empresa e clientes, família e cidadãos.

Na sua opinião, o que é necessário perpetuar para que se criem mais oportunidades para as Mulheres singrarem no universo da engenharia? Sente que é necessária uma mudança de mentalidades profunda ou essa alteração já está a acontecer?
É uma convicção que tenho, mas entendo que as Mulheres são, naturalmente, engenheiras: desenvolver e gerar, construir e manter, e sempre que possível, com criatividade.
Em particular na engenharia civil, o ambiente mais exigente e os métodos correntes de construção, que muitas vezes, exigem esforço físico, ditam naturalmente que as mulheres optem por desenvolver outras profissões. Mas quando nos referimos à Engenharia em si, creio que as barreiras vão diluindo à semelhança de tudo o que se passa no mundo. A mentalidade vai mudando a todos os níveis. O sucesso e a felicidade das pessoas é uma necessidade crucial. Independentemente de ser conseguido através de uma Mulher ou não.

É uma Mulher conhecida e reconhecida no universo da Engenharia. Mas em algum momento do seu trajeto, sentiu que o facto de ser Mulher lhe aportou maiores dificuldades?
Havendo mais referências masculinas, naturalmente, fica-se mais atento a novas formas de atuação. Mas no geral, o que mais interessa é se ganhamos ou não com isso. O tempo, é quem ditará se fazer diferente vale a pena. Senão, a diferença só por si, tem pouco valor – quando são visíveis os benefícios para todos, as dificuldades deixam de espaço. Não é pelo facto de ser Mulher que serei bem-sucedida. Mas o importante é que, pelo facto de o ser, não deixei de ter oportunidade, em particular na Pengest.

Sabemos que a Ordem dos Engenheiros (OE) foi a primeira Ordem Profissional a ter uma Comissão para a Igualdade de Género e a única com um programa com o Governo – o projeto «Engenheiras por um dia». Sendo uma área muitas vezes conotada como uma profissão mais masculina, qual a importância destas iniciativas?
As iniciativas, quando pretendem ultrapassar limitações sociais, são sempre bem-vindas. Ocorre-me sugerir a alteração para – O projeto «Engenheiras todos os Dias». Creio que, no fundo, o que todos queremos é que haja oportunidade para cada um, Mulher ou Homem, desenvolver os seus talentos nas áreas onde têm capacidade para se destacar e com isso, viverem uma vida mais satisfatória e preenchida, com natural, benefício das empresas, sociedade e do nosso país. As pessoas, claramente, são quem faz a diferença e lutar pela plenitude e felicidade no seu trabalho é muito valioso. Cada um é diferente de outro. Aceitar e estar sensível a isto, acrescenta muito à gestão. É inevitável que isso traga bons resultados.

O Dia Internacional da Mulher na Engenharia comemorou-se no passado dia 23 de junho. Quão importante é esta efeméride? Sente que é necessário fazer muito mais do que promover uma data simbólica para continuarmos a mudar o atual cenário?
É importante que haja apoio, a todos os níveis, para que este dia deixe rapidamente de existir. É essencial garantir o apoio às Mulheres, diria melhor, às famílias, para que estas possam, de uma forma equilibrada, por exemplo, cuidar dos seus filhos, sem que isso venha a ditar prejuízo das experiências profissionais que ambicionam. A meu ver, não há outra forma – deveremos estar todos, enquanto sociedade, muito envolvidos com as famílias – passa muito por reforçar a nossa mentalidade e postura nesse sentido. No meu caso, contei muito com a família mais próxima e com a empresa. A Pengest, foi distinguida pelo segundo ano consecutivo, com o estatuto de PME Excelência, e isso compromete-nos também a este nível.

A finalizar, que mensagem gostaria de deixar a todas as Mulheres que sonham um dia encetar e vencer na sua carreira em Engenharia?
Que sonhem primeiro e vivam depois, é a mensagem que deixo. Vencerão sempre que se sintam plenas, confortáveis e enriquecidas com a sua própria experiência profissional. E esse enriquecimento, surgirá se conseguirem ser fiéis ao que acreditam, se tiverem por base a sua sensibilidade que é uma grande força. Não ter receio de errar, porque raramente há respostas totalmente certas. Há sim, escolhas a fazer, que depois requerem coragem, bom senso, valores, trabalho e determinação. Sempre considerando as pessoas – são e sempre serão sempre o mais importante.