A OVARGADO é uma empresa com décadas de know-how na área da produção e comercialização de alimentos para animais. Enquanto CEO desta empresa, como analisa a evolução da mesma até ao momento?
Com bastante satisfação. O nosso percurso não tem sido linear, mas tem sido muito satisfatório conseguir, ano após ano, atingir novos patamares de conhecimento e evolução.
Estamos no mercado de uma forma um pouco diferente dos maiores players, uma vez que todos eles, sem exceção, fazem parte de grupos económicos integrados de Agropecuária. Nós não temos essa característica. Trabalhamos única e exclusivamente no chamado “mercado tradicional”, o que nos diferencia um pouco em termos de comparação com o setor, e que também significa que temos que lutar por uma posição no mercado.
A ANI, Agência Nacional Inovação, atribuiu recentemente o reconhecimento de Idoneidade à OVARGADO em atividades de I&D (investigação e desenvolvimento). Qual a importância da Inovação e destas atividades de I&D na vossa atividade?
Efetivamente, em fevereiro, a ANI atribui-nos o reconhecimento de idoneidade nas atividades de I&D que desenvolvemos. Os primeiros projetos de I&D que realizámos remontam já a 2008. Recordo-me que o projeto visava a otimização dos processos de ensaque e acondicionamento de produtos… desde aí que não parámos. Entretanto com a evolução da nossa atividade, nomeadamente com o alargamento das nossas atividades produtivas à produção de alimentos para animais de companhia, criámos um departamento de I&D. Só estudando, investigando e testando conseguimos inovar e desenvolver novos produtos. Temos desenvolvido projetos tanto internamente como em parceria com entidades como a UNAVE ou o instituto Politécnico de Viseu, e nem sempre esses projetos resultam em novos produtos, por vezes as conclusões são de não viabilidade. Mas é a única forma de evoluir. Muito recentemente, decidimos alterar a nossa estratégia, e vamos, agora em setembro, iniciar a implementação de um núcleo de IDI – investigação, Desenvolvimento e Inovação, com um conceito diferente, mais estruturado, com um modelo de gestão baseado em referenciais normativos que possibilitam a monitorização constante das atividades e do conhecimento gerados dentro do núcleo, sistematizando o fluxo de conhecimento e a transmissão desses mesmos conhecimentos a toda a empresa. É prematuro dizer-lhe se vamos ter sucesso com este novo modelo, no entanto, tenho a certeza que o nosso sucesso no futuro, dependerá bastante da nossa capacidade de inovar e desenvolver novos produtos.
Além disso, a preocupação com a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente tem sido uma tendência crescente na indústria. E na OVARGADO? Que iniciativas sustentáveis a OVARGADO tem implementado no seio da sua atividade, reduzindo o seu impacto ambiental da produção?
Na OVARGADO também mantemos o foco na sustentabilidade. Temos vindo a implementar uma série de medidas para melhorar a nossa pegada de carbono. A título de exemplo, produzimos cerca de 35 % da energia fotovoltaica em centrais próprias e toda a energia que compramos à rede é “energia Verde”. Eliminámos o consumo de fuelóleo, em detrimento de combustíveis mais “limpos”. Reduzimos a utilização de embalagens secundárias nas agrupagens dos nossos produtos. Sempre que possível utilizamos subprodutos e coprodutos da alimentação humana nas formulações. Otimizámos a percentagem de proteína em todas as nossas formulações com vista à diminuição de excreção de nitrogénio nas fezes dos animais. Estamos inclusivamente a pensar em implementar, já em 2024 uma das últimas recomendações da Comissão Europeia, o chamado “green labelling” na rotulagem dos nossos produtos por forma a dar visibilidade e sensibilizar também os nossos clientes para este tema.
É certo que a indústria de alimentação animal está, hoje mais do que nunca, à procura de soluções para melhorar a eficiência da produção pecuária, da qualidade da alimentação e do bem-estar animal. Em que medida poderá a OVARGADO responder a estes requisitos e desafios?
Estamos à altura de qualquer desafio que se nos apresentem.
Estamos constantemente a investir, tanto em tecnologia de produção, que nos permite responder adequadamente às necessidades do mercado, como em sistemas de suporte, controlo da qualidade, recursos humanos, entre outros. Acredito que, à nossa escala, estamos preparados para acompanhar as novas necessidades e tendências do mercado.
Face ao crescimento da população mundial e à crescente necessidade de proteínas animais, muitos afirmam que o futuro do setor da alimentação animal será muito promissor. Como perspetiva o futuro no que concerne às tendências e desafios que irão moldar o setor nos próximos anos?
Nos últimos estudos europeus, nomeadamente no relatório anual 2020/2021elaborado pela IFIF – International Feed Industry prevê que até 2050 a procura global por alimentos para animais irá crescer 60%, a produção de carne aumentar 70%, lacticínios cerca de 55%, e a produção de peixes de aquacultura 90%. Já em 2023 o Parlamento Europeu apresentou um documento “EU feed autonomy” onde faz o ponto de situação de toda a cadeia de fornecimento na área da nutrição animal bem como os desafios à autonomia da União Europeia no que diz respeito à alimentação animal. Neste documento são divulgados basicamente 4 conclusões/ indicações. A primeira é a crescente necessidade de produção de alimentos para animais, acrescido da pressão para a redução da pegada de carbono e do uso de água na sua produção. A segunda, o objetivo de garantir a autossuficiência na produção de alimentos para animais, reduzindo a dependência de importações, o que requer investimento direto em IDI e a implementação de novas tecnologias de produção. A terceira, é a necessidade de desenvolver formulações sustentáveis e métodos de produção inovadores, mas que não compitam com a produção de alimentos para humanos. E a quarta é a constatação do aumento do consumo de peixe que determina a necessidade de desenvolver novas formulações para ir de encontro às necessidades nutricionais de um grupo alargado de espécies de aquacultura, garantindo ao mesmo tempo práticas sustentáveis e amigas do ambiente na produção de pescado. Este relatório refere também outras questões, muito importantes, e que tocam tanto os problemas de segurança da alimentação humana e animal; a necessidade de resolver o défice estrutural de disponibilidade de proteínas de origem vegetal e as medidas promovidas pela EU para ultrapassar os problemas já descritos. Assim, constatamos efetivamente, que os desafios que se colocam ao nosso setor, são gigantescos. Como setor, teremos a responsabilidade de produzir os alimentos para animais de forma mais sustentável, que sejam mais eficientes, e numa escala de crescimento. As próximas décadas, serão, com certeza, marcadas por todos estes “desafios positivos” e a indústria, nacional e europeia, estará focada em responder a todas estas questões.
A OVARGADO é, no seu campo de atuação, um player de referência. Assim, de que forma continuará a empresa a honrar esta sua posição, num mercado cada vez mais global e transformador? Que novidades podemos esperar?
Efetivamente o mercado é cada vez mais global. Atualmente temos cerca de trezentos clientes, em quarenta e quatro países, e em quatro continentes diferentes. Esta diversidade de clientes e geografias obriga-nos a pensar constantemente em mercado e produto, pois os requisitos comerciais e as necessidades nutricionais dos produtos, para cada uma das espécies, difere tanto para cada cliente, como para cada geografia. Estaremos focados em produzir alimentos para animais, que respondam corretamente às necessidades de cada um dos clientes, da forma mais sustentável possível, cumprindo sempre as nossas premissas com a sociedade e o meio ambiente. Relativamente a novidades, estamos continuamente a estudar e a investigar, assim, poderemos desenvolver produtos que deem resposta aos novos desafios e exigências do setor da alimentação animal, e seguramente lançaremos em breve, produtos inovadores.