Bairros Comerciais Digitais – A transformação do comércio local em Portugal

A medida Bairros Comerciais Digitais, incorpora o investimento 02 - Transição Digital das Empresas da componente 16 - Empresas 4.0 do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e, procura promover a digitalização da economia, através da adoção tecnológica por parte dos operadores económicos e pela digitalização dos seus modelos de negócio, bem como através da sensibilização e capacitação dos trabalhadores e empresários locais.

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Vera Guedes, CEO da Guedes Corrente

Esta medida afigura-se como particularmente relevante para os setores do comércio e dos serviços locais, sendo uma medida catalisadora do crescimento económico, com o propósito da digitalização dos operadores económicos e dos seus modelos de negócio, da promoção do comércio em linha e da integração digital das cadeias de abastecimento e escoamento.

A pandemia veio evidenciar a necessidade de adaptação digital no comércio, motivo pelo qual houve uma forte adesão dos Municípios à medida. Além disso, os responsáveis locais viram nesta medida uma oportunidade de fortalecer o comércio local. Através de ferramentas tecnológicas e conteúdos digitais, os territórios têm potencial para se destacar, quer a nível nacional, quer internacional. Adicionalmente, a medida permite uma requalificação do espaço urbano e da sua imagem, tornando os bairros mais atrativos.

A intenção passa agora pelo desenvolvimento de 95 projetos deste tipo em todo o país, até ao final de 2025, com uma dotação de 77 milhões de euros provenientes do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Face ao desafio colocado pela medida Bairros Comerciais Digitais, os projetos apresentados procuram aumentar a resiliência e competitividade do comércio e serviços de proximidade no seu território criando um ecossistema diferenciador que permita alavancar o crescimento económico local, sustentado na adoção de tecnologias emergentes, no respeito por princípios de sustentabilidade, bem-estar social e coesão territorial. Assim, com esta medida visam melhorar a modernização e atratividade da zona do comércio e serviços de proximidade, a criação de identidade e imagem comum do bairro comercial digital, aumentar as vendas e as receitas do comércio local, em particular pelo aumento das vendas online, dar visibilidade ao Bairro e aos seus estabelecimentos, em particular pela sua presença online e construir um Bairro assente em princípios de eficiência, sustentabilidade, inclusão, justiça social e coesão territorial, sustentados por um modelo de governação democrático que promova a cidadania ativa.

Com a implementação dos Bairros Comerciais Digitais os seus promotores procuram: aumentar o acesso de todos os cidadãos e empresas à informação e às ferramentas digitais, numa mudança de paradigma que se mostra essencial para o desenvolvimento dos territórios; potenciar o estabelecimento de parcerias entre o setor público e o setor privado, visando potenciar sinergias entre as partes; aumentar a conetividade e o fornecimento de infraestruturas de comunicação, que suportem os sistemas essenciais para a sua implementação; incentivar a inovação, seja através do incentivo à criatividade, seja através da criação de um ambiente favorável para o desenvolvimento de aplicações e serviços mais sofisticados; e desenvolver competências em literacia digital.

Os projetos dos Bairros Comerciais Digitais demonstram, claramente, a necessidade de evolução do comércio local, sendo projetos extremamente desafiantes para os seus promotores, não só pela diversidade dos investimentos tecnológicos, mas, também, pela necessidade de capacitar os comerciantes e os clientes para o uso das soluções.

Pelos inquéritos realizados na fase preparatória das candidaturas denotou-se uma resistência e uma insegurança por parte dos comerciantes e da população, existindo a necessidade de ultrapassar diversos obstáculos, tais como a falta de competências, a falta de ferramentas e a falta de recursos financeiros.

Em diversos projetos nos quais participei, constatei o forte empenho dos responsáveis locais em valorizar e servir o seu território, não descurando a necessidade de promoverem a proximidade e conexão entre comerciantes e os clientes nos negócios de bairro, a qual, apesar da digitalização, não se pode perder, mas sim reforçar.

Por fim deixo a questão, será que a verdadeira transformação do comércio local se vai dar pela via da digitalização ou pela via da mudança de mentalidade dos seus principais beneficiários?