ENAPOR une Cabo Verde e abre «portas ao mundo»

Ireneu Camacho, Presidente do Conselho de Administração da ENAPOR – Portos de Cabo Verde, esteve à conversa com a Revista Pontos de Vista e abordou o potencial do país e como a ENAPOR tem sido um player de referência ao nível da gestão dos portos, área essencial para o desenvolvimento de qualquer país. Saiba tudo sobre uma entidade com mais de quatro décadas de existência e que é hoje uma marca reconhecida pela excelência do seu trabalho nos mais diversos segmentos.

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Com mais de quatro décadas de atividade, edificada em 1982, a ENAPOR tem vindo a perpetuar um legado que a leva a ser uma referência em Cabo Verde e no mundo no que concerne à gestão dos portos. No sentido de contextualizar junto do nosso leitor, de que forma é que a ENAPOR tem vindo a ultrapassar todo e qualquer desafio, e, ao mesmo tempo, adaptando-se aos novos tempos e exigências?
Assim como todos os setores, os portos de Cabo Verde também sofreram algum impacto com as limitações e incertezas impostas pelas várias crises dos últimos anos, mas que serviram para comprovar a resiliência e robustez da empresa.
A economia do país depende substancialmente da importação e a atividade portuária traduz-se exatamente nisto, no volume das suas importações em relação as suas exportações no tráfego total dos Portos. Assim, o nosso foco, ou se quiser o fator de maior relevância é a qualidade do serviço prestado. Temos tido este cuidado por forma a garantir a excelência. O nosso Modelo de Gestão é fortemente orientado para a promoção dos objetivos comerciais de atração de cargas, passageiros e investimentos. Assim sendo, a Administração da empresa aposta fortemente na relação e no poder de negociação com os vários stakeholders tendo como base os pressupostos de uma gestão rigorosa, comercialmente criativa, disponibilizando serviços diversificados, gerando relações de confiança mútua.

A dimensão da ENAPOR e capacidade de ligação que consegue perpetuar através da sua dinâmica, fazem desta um elemento preponderante no que concerne à união das nove ilhas em que a ENAPOR está presente. Que valias promovem no que concerne a garantir prestações de serviços de excelência e que tenham como denominador comum serem um elo de ligação e união em Cabo Verde?
A ENAPOR de facto une as ilhas como dizemos no nosso slogan, através da modernização da rede nacional de infraestruturas portuárias, com destaque para os berços acostáveis, gares marítimas, equipamento marítimo e portuário, removendo as barreiras e facilitando a cada vez maior circulação de pessoas e cargas, maior oferta de transporte marítimo, num quadro de maior eficiência organizacional e segurança.

De que forma é que têm sido essenciais como âncora da economia marítima nacional de Cabo Verde e, consequentemente, contribuindo para a inserção competitiva de Cabo Verde na economia global?
Para além das grandes obras e dos investimentos feitos ao longo dos anos, os Portos de Cabo Verde encaram agora um novo desafio: seu enquadramento na economia azul. A ENAPOR assume-se como promotora da integração da cadeia de negócios da “economia azul” em Cabo Verde, e tem vindo a implementar uma série de medidas direcionadas para a melhoria contínua dos seus serviços e da sua relação com os clientes, e com benefícios transversais na transformação digital das operações portuárias. Isso permite o aumento de eficiência operacional, da segurança e melhoria cibernética, a redução de custos e da pegada de carbono.

Analisando o atual panorama ao nível da economia marítima em Cabo Verde, qual é o verdadeiro potencial do país neste segmento?
Cabo Verde, é um pequeno país em massa terrestre, mas um grande estado oceânico. A nossa posição geoestratégica e a dimensão do nosso vasto território marítimo, são ativos que devem ser utilizados de forma sustentável e competitiva, sob a orientação dos parâmetros da economia azul, com forte contribuição de uma base logística que tenha como atividades principais, o transbordo de mercadorias, a pesca e toda a sua indústria de conservação, transformação e exportação, e do turismo.
É neste sentido que em 2020, o nosso Governo aprovou a Carta de Política para a Economia Azul em Cabo Verde numa Resolução que visa promover políticas e definir estratégias baseadas nos fundamentos da Economia Azul Sustentável maximizando assim os   benefícios económicos e sociais para o nosso país. Uma visão que centra-se em opções estratégicas em áreas como os portos, os transportes marítimos, a gestão da zona costeira, a segurança marítima, as pescas e a aquicultura, o comércio, a proteção ambiental, o turismo, entre outras áreas.

Que lacunas ainda existem para que esse desiderato seja ainda mais evidente e eficiente para o país e para a sua influência a nível global, mais concretamente no que concerne ao espaço da Lusofonia?
No espaço da lusofonia os fluxos convergem quase que exclusivamente para Portugal, fruto da existência de ligações marítimas diretas e regulares, o que infelizmente ainda não acontece com o Brasil, e afecta a potencialização das enormes oportunidades existentes.  É crucial a ligação marítima entre os países, porque só assim promoveremos e dinamizaremos as trocas comerciais entre todos os países de língua oficial portuguesa.

A Digitalização e a aposta em Inovação e Tecnologia, têm sido pilares em todas as áreas de atividade, sendo que a atividade marítima e de gestão de portos não «escapa» a esse desígnio. De que forma é que a ENAPOR tem aproveitado as valias concedidas por uma aposta mais consolidada ao nível da digitalização da sua atividade, do seu quotidiano e na melhoria dos serviços prestados? É de facto uma mais valia?
Os portos têm de ser cada vez mais competitivos e sustentáveis e, de facto, os 2 Ds – Digitalização e Descarbonização são realmente a resposta para tornar isso possível, pois impactam diretamente na redução de emissão de CO2 por operação e no aumento de produtividade.
A nível da digitalização, a nossa grande aposta está na informatização dos processos, tornando-os mais céleres e fiáveis. Temos tido avanços significativos neste setor com destaque para otimização das ferramentas Business Inteligence enquanto modelo de gestão, quer interno, quer externo, e onde sobressaem  a Janela Única Portuária (JUP),  Enapor Controler, Gestão de Parque de Contentores, Portal de Clientes, Estiva Eletrónica, Gestão Financeira, entre outros,  que garantem maior fiabilidade e atuam em – conformidade com os padrões internacionais, possibilitando assim o ajuste necessário na gestão da empresa para poder responder atempadamente aos novos e complexos desafios devido à competição acrescida, à globalização dos mercados e à rápida evolução tecnológica, e assim poder garantir o acompanhamento dos resultados  . E a nossa aposta já é referência a nível de África, onde já fomos galardoados com três prémios de Informação Estatística, no African Ports Awards e também Prémio de Transformação Digital, na Categoria “Corporate Innovation”, nos PALOP Innovation Awards 2023 com o projeto “Estiva Eletrónica”. A nível da descarbonização, estamos a intensificar as práticas verdes e como exemplo destacamos a introdução de equipamentos elétricos na movimentação de cargas dentro dos armazéns, ainda investimentos importantes previstos para 2024 como a produção de energia através de painéis solares nas fábricas de produção de gelo instaladas nos diferentes portos e nas suas diferentes superestruturas, e a implementação de um sistema de gestão e eficiência energética que visa reforçar a segurança, melhorar a monitorização, reduzir  as perdas. A nível institucional, temos marcado presença em vários fóruns de promoção e transformação dos portos verdes, organizados por instituições internacionais (IAPH, União Africana, FAO, entre outros). A aposta na Digitalização, Inovação e Tecnologia é sem dúvida uma mais valia e um caminho sem retorno.

Se a aposta na Inovação é preponderante, não é menos relevante a preponderância de um corpo de recursos humanos qualificados e capacitados a dar resposta aos desafios. Desta forma, como tem a ENAPOR vindo a promover talento na sua gestão e qual tem sido a preponderância das Pessoas no sucesso alcançado pela ENAPOR?
O nosso quadro de pessoal é o alicerce indispensável para manter o nosso nível de competitividade, pelo que o foco passa essencialmente pela valorização e investimentos nos nossos colaboradores, possibilitando a cada um tornar-se agente de transformação, capaz de impactar positivamente no destino da nossa organização em particular e da sociedade no geral, através do acesso a competências, networking e aprendizagem continua. Um dos projectos que será desenvolvido com este foco é a ENAPOR Academy. Uma iniciativa que pretende consolidar os padrões de qualidade na formação e desenvolvimento dos colaboradores, através de processos inovadores e produtivos, permitindo uma maior competitividade da empresa. Porque investir no capital humano contribui para a sustentabilidade da empresa, permitindo que ela navegue rumo ao futuro que se espera inovadora e de excelência.

Analisando o panorama da Lusofonia, como é que a ENAPOR tem sido um player essencial nesta ligação e nesta criação de uma rede lusófona eficiente, eficaz e promotora de qualidade e excelência?
Somos membro fundador da APLOP – Associação dos portos de língua oficial Portuguesa, cujo objetivo principal é aprofundar as relações de trabalho e de cooperação, incrementar as relações comerciais entre os portos membros e contribuir para melhorar as relações de transporte e comerciais entre o conjunto de países de língua portuguesa. Para alem de fomentar a movimentação de cargas via marítima e de promover a cooperação entre os seus membros através da formação, a APLOP estimula e patrocina a circulação de informação e a troca de experiências e conhecimentos entre os associados, objetivos que a ENAPOR procurou impulsionar durante a Presidência da associação que terminou no início deste ano.

Qual o potencial existente em Cabo Verde ao nível da economia marítima?
Posso listar algumas potencialidades que Cabo Verde tem ao nível da Economia Marítima:

  • Utilização sustentável do espaço marítimo;
  • Combate à pesca ilegal, não declarada;
  • Sensibilização para o conhecimento dos oceanos.
  • Formação e qualificação de marítimos (investigação e exploração) – Pesca, Aquicultura e Indústria do Pescado
  • Transbordo de contentores e pescado, serviços ligados à pesca (apoio naval, processamento de peixe, comercialização
    e exportação),
  • Desportos náuticos e pesca desportiva
  • Reparação Naval
  • Serviços de bunkering
  • Pesquisa oceanográfica.

A terminar, quais são os grandes desafios para 2024 da ENAPOR?
Em 2024 pretende-se prosseguir a estratégia de execução de investimentos estruturantes nas infraestruturas e superestruturas portuárias do país, donde cabe destacar a conclusão das obras do Terminal de Cruzeiros do Porto Grande, apostando ainda fortemente na sua promoção internacional, efectuar o  lançamento dos concursos para a contratação dos empreiteiros para a execução das obras de modernização e expansão do Porto Grande do Mindelo e do Porto Novo, proceder ao arranque das obras relativas à III fase de Expansão do Porto de Palmeira, finalizar os trabalhos preparatórios no Terminal de Cruzeiros para a implementação do projecto on-shore power supply, concluir as obras de construção do Centro de Expurgos em S.Antão e da Gare Marítima do Porto Inglês e de reabilitação do cais de cabotagem do Porto da Praia, iniciar e finalizar as obras de expansão e remodelação da Gare Marítima do Porto Grande.
No que tange à sustentabilidade ambiental, pretende-se desenvolver ações visando o reforço da promoção da mobilidade elétrica nos portos, da eficiência energética e da produção da energia fotovoltaica, e ainda desenvolver e implementar o plano de monitorização da qualidade ambiental nos portos e implementar, em todas as suas vertentes, os Planos de Gestão Ambiental e Social dos portos.
2024 deverá ser o ano em que os portos nacionais deverão ser subconcessionados a privados, devendo a Enapor, enquanto autoridade portuária, assegurar o acompanhamento e fiscalização do contrato de subconcessão.