Olho Seco no Inverno: Descubra quais os cuidados a ter

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Salgado-Borges. MD, PhD, FEBO, Diretor Clínico da Clinsborges, Embaixador em Portugal do TFOS (Tear Film & Ocular Surface Society) e Membro da EUDES (European Dry Eye Society)

www.clinsborges.pt / www.salgadoborges.com

No inverno, a incidência de queixas relacionadas ao olho seco tende a aumentar significativamente. Este fenómeno é influenciado por vários fatores ambientais característicos desta estação, que afetam diretamente a saúde ocular. O olho seco, uma condição onde a produção ou a qualidade das lágrimas não é suficiente para manter a superfície do olho adequadamente lubrificada, pode tornar-se mais prevalente e desconfortável também durante os meses frios.

Um dos principais fatores contribuintes para o agravamento do olho seco no inverno é de facto o ambiente externo, nomeadamente o vento frio que, ao soprar contra os olhos, pode acelerar a evaporação das lágrimas, deixando a superfície ocular mais exposta e seca. Além disso, os ambientes de interior aquecidos e pouco arejados, comuns durante o inverno, podem também contribuir para a redução da humidade do ar, o que potencializa o desconforto ocular.

Paralelamente, o inverno traz consigo um aumento no uso de dispositivos digitais, especialmente em ambientes fechados. Com a diminuição das atividades ao ar livre, as pessoas tendem a passar mais tempo em frente a ecrãs de computadores, tablets, televisores e smartphones. Este uso prolongado pode contribuir para o olho seco devido à redução da frequência do pestanejo, que é essencial para a distribuição das lágrimas e manutenção da humidade ocular. O foco contínuo em ecrãs digitais leva a um piscar incompleto ou menos frequente, resultando numa lubrificação insuficiente da superfície ocular.

Assim, a compreensão destes fatores ambientais e comportamentais é crucial para o desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção e tratamento do olho seco durante os meses de inverno. Este artigo procura explorar em profundidade estas questões, oferecendo uma perspetiva médica especializada sobre como mitigar os efeitos do olho seco nesta estação específica.

Compreender o Olho Seco

A lubrificação ocular é um processo fisiológico essencial que mantém a saúde e o conforto dos olhos. As lágrimas são compostas por três camadas principais: lipídica, aquosa e mucosa. Cada uma desempenha um papel crucial na proteção e nutrição da superfície ocular. No inverno, várias condições podem perturbar este equilíbrio. O ar frio e seco ao ar livre e o ar aquecido e pouco humidificado em ambientes interiores podem reduzir a eficácia da camada aquosa das lágrimas, resultando em evaporação mais rápida e, consequentemente, olhos secos. Além disso, alterações nas glândulas produtoras de lágrimas, comuns em climas mais frios, podem afetar a qualidade da camada lipídica, fundamental para prevenir a evaporação da lágrima.

Os sintomas do olho seco podem variar, mas comumente incluem sensação de areia nos olhos, ardência, comichão, vermelhidão, visão turva ou fadiga ocular, dificuldade em usar lentes de contacto e desconforto após o uso prolongado de ecrãs. O diagnóstico do olho seco é geralmente feito através da avaliação clínica dos sintomas, complementada por testes específicos que medem a produção de lágrimas, a estabilidade do filme lacrimal e a integridade da superfície ocular.

Ergoftalmologia e Cuidados Gerais

Para minimizar o impacto negativo da utilização de dispositivos digitais sobre a saúde ocular, recomenda-se seguir algumas práticas de ergoftalmologia:

  • Aplicar a regra 20-20-20: a cada 20 minutos, fazer uma pausa de 20 segundos e observar algum objeto que esteja a 20 pés (aproximadamente 6 metros) de distância.
  • Ajustar a iluminação do ambiente e do ecrã para evitar reflexos e brilho excessivo.
  • Posicionar o ecrã do dispositivo a uma distância confortável dos olhos e ligeiramente abaixo do nível dos mesmos.
  • Usar filtros de luz azul ou configurar os dispositivos para um modo que minimize a emissão de luz azul, especialmente durante a noite.

Para prevenir o olho seco, especialmente durante os meses de inverno, são aconselháveis as seguintes medidas:

  • Manter os ambientes interiores bem húmidos, recorrendo por vezes a humidificadores se necessário.
  • Usar óculos de proteção ao ar livre para proteger os olhos do vento frio e seco.
  • Pestanejar conscientemente e frequentemente, especialmente ao utilizar aparelhos digitais.
  • Incluir na dieta alimentos ricos em ômega-3 e outros nutrientes essenciais para a saúde ocular.
  • Beber água regularmente para manter a hidratação geral do corpo, o que também beneficia a saúde dos olhos.

Implementando estas recomendações, tanto em ergoftalmologia quanto em cuidados gerais, é possível minimizar o risco de desenvolver olho seco e manter a saúde ocular durante o inverno e ao longo de todo o ano.

Conclusão

É fundamental a regularidade das consultas oftalmológicas para uma prevenção eficaz do olho seco, condição especialmente prevalente em determinados grupos de risco, como idosos, mulheres após a menopausa e pessoas com certas condições de saúde ou que tomam medicamentos, tais como anti-histamínicos, descongestionantes nasais, tranquilizantes, medicamentos para a tensão arterial, medicamentos para a doença de Parkinson, e antidepressivos. Um diagnóstico atempado e preciso é crucial para definir um tratamento adequado e eficiente. O oftalmologista, através de um exame completo, consegue avaliar o grau do problema, identificar as causas subjacentes e determinar a melhor abordagem terapêutica. As consultas são essenciais não só para tratar os sintomas existentes, mas também para desenvolver estratégias preventivas e evitar o agravamento da doença.

Uma abordagem holística no cuidado ocular é essencial no combate ao olho seco. Para além dos tratamentos diretamente focados nos olhos, é importante considerar o estilo de vida, a alimentação e a saúde geral do paciente. Uma dieta equilibrada, rica em ácidos gordos ómega-3, uma hidratação adequada e a prática regular de exercício físico podem ter um impacto significativamente positivo na saúde ocular. É igualmente fundamental gerir o stress e garantir um sono reparador, pois ambos influenciam diretamente a saúde dos olhos.

Assim sendo, os pacientes, sobretudo aqueles que pertencem ao grupo de risco, devem estar atentos aos primeiros sinais de olho seco e procurar orientação médica adequada, particularmente durante o inverno, para garantir o bem-estar dos seus olhos e a qualidade da sua visão.