“A área da certificação é um desafio constante”

Cláudia Almeida, Diretora do Organismo de Certificação de Pessoas da RELACRE, conversou com a Revista Pontos de Vista sobre os desafios e as oportunidades da sua área e função e sobre a sua experiência, enquanto mulher e profissional no campo da certificação, relativamente à igualdade de oportunidades entre homens e mulheres neste contexto. Saiba tudo.

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Antes de abordarmos o Dia Internacional da Mulher, gostaríamos de começar com uma contextualização sobre a sua função como Diretora do Organismo de Certificação de Pessoas da RELACRE. Pode partilhar um pouco sobre as responsabilidades e objetivos do seu papel dentro da Associação?
Sou responsável por gerir o Sistema de Gestão, as atividades e os recursos inerentes ao processo de certificação de pessoas.
Sendo a RELACRE uma entidade acreditada pelo IPAC, tenho de garantir o cumprimento dos requisitos de acreditação e dos reconhecimentos internacionais, que permitem que os certificados emitidos sejam aceites em todo o mundo.
A certificação de pessoas foi criada na RELACRE em 1999, para valorizar os profissionais que desempenhavam funções nos laboratórios e credibilizar o trabalho desenvolvido. Atualmente, a RELACRE certifica duas profissões de extrema importância para o país: “Técnicos de Ensaios Não Destrutivos” e “Técnicos de Colheita de Amostras de Água para Consumo Humano”, dando cumprimento a requisitos normativos internacionais e regulamentares.

Sabemos que a RELACRE desempenha um papel crucial no reconhecimento e desenvolvimento da comunidade portuguesa de entidades de avaliação da conformidade. De que forma a igualdade de oportunidades se encaixa nesse contexto, particularmente no que diz respeito às mulheres que trabalham nesse setor?
Diria que neste setor, que envolve laboratórios de ensaio e calibração, organismos de certificação e de inspeção, a predominância feminina é elevada, havendo igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, quer na ocupação de cargos de gestão, quer em salários.

No contexto do Dia Internacional da Mulher, celebrado a 8 de março, como observa o papel desta celebração na promoção da igualdade de oportunidades e na consciencialização sobre as questões que as mulheres enfrentam na sociedade?
O Dia Internacional da Mulher convida-nos a refletir sobre as conquistas e desafios enfrentados pelas mulheres em todo o mundo.
É uma oportunidade para reconhecer os feitos extraordinários das mulheres e para nos unirmos na promoção da igualdade de género, no que diz respeito à desigualdade salarial, falta de representação em cargos de liderança e a conciliação entre a vida pessoal e profissional.
O Dia Internacional da Mulher é uma oportunidade para celebrar o progresso, mas também para lembrar que ainda há muito a fazer para alcançar uma sociedade verdadeiramente igualitária e justa para todas as pessoas, independentemente do género.

Considerando a sua posição e experiência, como mulher e profissional no campo da certificação de pessoas, poderia partilhar alguns desafios que enfrentou ao longo da sua carreira? E, inversamente quais foram os momentos mais gratificantes?
O desenvolvimento de um novo esquema de certificação é sempre um desafio, pois é necessário contactar com vários peritos da área em questão e desenhar os conteúdos de exame e todos os requisitos de avaliação das competências associadas a cada perfil profissional. Sendo eu licenciada em Química Alimentar, foi com grande satisfação, que em 2008, participei na criação da certificação de Técnicos e Auditores de Segurança Alimentar, que infelizmente não teve muita procura, por não ser reconhecida/valorizada pelas entidades competentes e sociedade em geral.
Um dos momentos mais gratificantes aconteceu o ano passado, com a realização, pela primeira vez em Portugal, da Conferência Europeia de Ensaios Não Destrutivos. Foi um projeto iniciado em 2017, que teve constrangimentos causados pela pandemia e pela guerra na Ucrânia, mas que se revelou um sucesso, contando com cerca de 1500 participantes, oriundos de todo o mundo e uma área de exposição com 1700 m2. Foi um momento único na história da RELACRE, tendo sido o maior evento técnico-científico alguma vez realizado, onde estiveram presentes as maiores individualidades de um setor tão relevante para a segurança de pessoas e bens.

Nas profissões que a RELACRE certifica há igualdade de oportunidades entre homens e mulheres? Existem iniciativas ou mudanças que acredita serem cruciais para promover um ambiente mais equitativo?
Atualmente, os técnicos certificados pela RELACRE são maioritariamente homens, devido à especificidade das tarefas a realizar. No entanto, as mulheres vão estando cada vez mais representadas, demonstrando igual competência no desempenho das funções.
Infelizmente, ainda não há um ambiente equitativo, porque as condições de trabalho são duras, implicando muitas vezes deslocações para fora do país, sendo complicado conciliar a vida pessoal com a profissional. No entanto, a disparidade salarial começa a ser menos acentuada, sendo cada vez mais valorizada a competência e não o género.

Por último, tendo em conta a sua experiência e posição, que conselho daria às mulheres que estão a começar a sua carreira na área da certificação de pessoas ou em setores relacionados?
Num mundo global, em que a concorrência saudável se traduz em critérios de competitividade e de produtividade, a qualidade do capital humano das empresas e organizações é fator decisivo para a sua afirmação e desenvolvimento. O sucesso individual e coletivo depende das opções em matéria de recursos humanos, em que a escolha dos melhores, assume, nos dias de hoje, um papel primordial.
A informação é uma ferramenta poderosa e por isso, é importante investir na formação e no reconhecimento das competências. Para além disso, há outros fatores que promovem o sucesso das mulheres, tais como, criatividade e sentido de oportunidade, persistência, resiliência e autenticidade. Mulheres bem-sucedidas não desistem facilmente.
A área da certificação é um desafio constante, sendo muito enriquecedor o contacto com profissionais de diversos setores e as ligações que são estabelecidas a nível nacional e internacional, que permitem a credibilização e o reconhecimento do trabalho desenvolvido. Cada vez mais a sociedade está atenta a critérios de qualidade e rigor, e a certificação faz aumentar a confiança em pessoas, produtos e serviços.