Gostaríamos de começar por conhecer um pouco mais sobre a sua jornada profissional. Pode partilhar connosco a sua caminhada até ocupar o importante cargo de Presidente do LNEG – Laboratório Nacional de Energia e Geologia?
Foi uma caminhada tranquila que simplesmente aconteceu. Comecei a minha carreira como Professora Universitária, mas sempre muito activa na procura de relações internacionais. Esse meu percurso contribuiu para chegar aqui pois fiquei com uma visão do mundo segundo diferentes perspectivas e conheci as melhores práticas. Sempre fui consciente das minhas capacidades, pontos fortes e pontos menos fortes. A colaboração e partilha foi sempre uma arma que ajudou no sucesso que refere, mas ainda há muito que ficou por fazer sendo este o meu lado de insatisfeita que não me deixa ficar acomodada.
Hoje, enquanto Presidente do LNEG, lidera um Laboratório de grande importância para Portugal. Neste papel, quais têm vindo a ser as grandes conquistas e os grandes desafios que tem abraçado até então?
As conquistas têm-se materializado em ver o LNEG como um par nas melhores redes internacionais, ver os nossos cientistas serem chamados para importantes grupos de trabalho. Ver o LNEG, ser chave para algumas tomadas de decisão nas políticas públicas em Portugal ou como pioneiro nalguns estudos que importam à descarbonização europeia.
Este é um momento oportuno para falarmos sobre a igualdade de género, uma vez que celebramos, este mês, o Dia Internacional da Mulher. Na sua perspetiva, particularmente em setores como a Ciência e a Tecnologia, quais são os principais desafios que ainda existem para garantir uma verdadeira igualdade de oportunidades?
Estou na liderança do LNEG há muitos anos e posso afirmar que nunca me senti discriminada, mas reconheço que a frieza dos números nos diz que ainda estamos muito distantes da paridade. No sector da Ciência e Tecnologia, apesar de ter como pares mulheres muito competentes, com sensibilidade para a liderança a paridade está longe de ser realidade. Faço notar que para além das qualidades científico-técnicas, as mulheres têm um perfil mais eclético que os homens, tendo capacidade para aliar ao rigor, determinação a sensibilidade e a inteligência emocional. Este equilíbrio entre homens e mulheres é fundamental ao que acresce que a diversidade enriquece boas discussões. Não há qualquer racional que impeça a paridade.
Como líder do LNEG, desempenha um papel fundamental na definição de diretrizes e práticas neste setor. Que medidas considera, por isso, pertinentes para promover uma maior inclusão e igualdade no setor da Energia e Geologia?
Em primeiro lugar olhar para as expectativas das pessoas, sejam mulheres ou homens. Consciente da discrepância no elevador social, preocupo-me em criar condições de trabalho que permitam a conciliação pessoal com a profissional e assim atenuar a vantagem que o sector masculino ainda tem.
Em segundo lugar estou muito consciente de que não temos resultados isolados. No LNEG, o sucesso é da equipa e da capacidade de termos uma boa rede de colaborações; aí talvez seja culpada, de incentivar a estarmos muito atentos aos que nos rodeia, às instituições nossos pares. Desde longa data procuramos reforçar as equipas envolvendo-as em redes internacionais, o que tem sido bem-sucedido pelo que podemos constatar no nosso peso nessas redes, saliento que neste momento sou vice-presidente executiva da “European Energy Research Alliance” a rede Europeia para a investigação em Energia na Europa.
Por fim, olhando para o futuro, quais são as suas visões e aspirações para o LNEG? Existem iniciativas ou projetos que planeia implementar para continuar a avançar nas áreas da Energia e Geologia e contribuir para o desenvolvimento sustentável de Portugal?
Temos como missão desenvolver conhecimento para apoio às políticas públicas e à sociedade. Temos como lema construir um mundo mais limpo e melhor. Definimos a nossa estratégia em linha com as políticas europeias nas nossas áreas de intervenção que são a energia, a geologia e a gestão responsável dos recursos. Investigamos para nos prepararmos com o conhecimento necessário à implementação de soluções inovadoras seja para a economia seja por via indirecta para as políticas públicas. Mas procuramos antecipar as oportunidades e desafios tecnológicos e por isso estamos em permanente pesquisa do que de mais avançado está a ser desenvolvido.
NOTA: Por indicações do autor, este artigo não foi escrito ao abrigo do acordo ortográfico vigente.