“A Ferrovia deverá ser o pilar nacional de uma Mobilidade Sustentável”

A PFP – Plataforma Ferroviária Portuguesa, o Cluster da Ferrovia Nacional desde 2017, tem trilhado um caminho de crescimento e inovação. A Revista Pontos de Vista conversou com Paulo Duarte, Diretor Executivo da mesma, que nos contou os marcos mais consideráveis da Plataforma e as suas perspetivas para o setor ferroviário em Portugal.

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Para começar, gostaríamos de conhecer um pouco mais sobre a história e evolução da PFP – Plataforma Ferroviária Portuguesa. Considerando que, desde 2017, a mesma é reconhecida como o Cluster da Ferrovia Nacional, quais os marcos mais significativos que a trouxeram até este momento?
Nascemos como Associação Sem Fins Lucrativos (2015), com oito sócios fundadores (Alma Design, Comboios de Portugal, Evoleo, FEUP, Infraestruturas de Portugal, IST, Mota Engil e Nomad Tech) que acreditavam que era imprescindível fazer alguma coisa pela ferrovia, “abandonada” há décadas. Hoje contamos com mais de 100 associados, divididos entre PME’s, grandes empresas, Universidades, Centros de Investigação e Associações e temos como marcos significativos, para além da agregação do setor em torno de uma causa comum, o desenvolvimento da ferrovia em Portugal, somos sócios fundadores do BuiltCOLAB, RailCOLAB e CCF Centro de Competências Ferroviário.
Finalmente, um marco relevante, foi conseguirmos incluir a indústria nacional na mais recente encomenda da CP de 117 novas unidades de material circulante, com a instalação de uma fábrica de comboios em Portugal, em Guifões, Matosinhos.

Olhando para o contexto atual do setor ferroviário em Portugal, quais são os principais desafios que a PFP identifica como prioritários para aumentar a competitividade e a atratividade do sistema ferroviário nacional?
É fundamental melhorar e inovar no serviço prestado pela ferrovia, para que a experiência de viajar seja atrativa, confortável, segura, fiável e competitiva face a outros meios de transporte, promovendo a interoperabilidade com novas soluções e interfaces de fácil utilização para todos.
E para isso necessitamos de investimentos sem hesitações: nas infraestruturais, no material circulante, nos serviços.

Tendo em conta a diversidade de atores envolvidos na PFP, incluindo grandes empresas públicas e privadas, PMEs e entidades não corporativas, de que forma a Associação promove a cooperação entre os diferentes players para impulsionar a inovação e o desenvolvimento de novos produtos e sistemas no negócio ferroviário?
A PFP tem como visão “tornar Portugal um centro de referência internacional no setor ferroviário e um local privilegiado para o desenvolvimento de projetos de IDI” e achando ser esta a melhor forma de recuperar o tempo perdido, no setor ferroviário.
Por isso, mobilizamos a participação ativa dos nossos associados (e não só) em vários projetos nacionais e internacionais, agregando o conhecimento, a inovação e as empresas, citando aqui exemplos vários: um Projeto Mobilizador FERROVIA40 (8M€), duas Agendas PRR (AMFerrovia-67M€, Smartwagons-64M€), um DIGITALBuilt (90M€).

Um dos objetivos da PFP é contribuir para a maior qualidade e disponibilidade da infraestrutura ferroviária nacional. Nesse sentido, quais são as iniciativas ou estratégias adotadas para melhorar a infraestrutura e garantir uma prestação de serviços seguros e de qualidade para passageiros e mercadorias?
Defendemos e assinamos com o governo em 2019, o Pacto Sectorial de Competitividade e Internacionalização da Ferrovia, onde defendemos três medidas principais: 1) a criação de um “Livro Branco” onde constassem os grandes eixos de investimento e desenvolvimento do setor, imune aos ciclos eleitorais e que se transformou no Plano Ferroviário Nacional; 2) a criação de um centro de competências do setor, onde se agregasse a formação, a consultoria e a incubação de empresas de índole ferroviária; 3) a concretização da ambição da construção de um “Comboio Português”.
Foi assim criado o CCF – Centro de Competências Ferroviário, que neste momento tem um papel fundamental na recolha, transcrição e difusão das TSI’s, regras de homologação e certificação ferroviária, obrigatórias para a desempenho seguro e certificado de empresas, produtos e serviços, no setor. Para as PME’s, e não só, este é um apoio fundamental, para o entendimento da legislação e normas em vigor, determinadas pela ERA – Agência Ferroviária Europeia e assim poderem operar com as correspondentes mais-valias da sua homologação. Como por vezes referem, “transformam a linguagem de advogados, em linguagem de engenheiros”.

Com o avanço tecnológico e as mudanças nos padrões de consumo, que tendências acha que virão, como as mais relevantes para o futuro da ferrovia em Portugal? De que forma a PFP irá aproveitar as mesmas em prol do desenvolvimento do setor?
Um fator é determinante, já nos dias de hoje: a ferrovia deverá ser o pilar nacional de uma mobilidade sustentável. Novas soluções energéticas emergentes, como o Hidrogénio, Maglev, ou Hyperloop, poderão ser disruptivas. No entretanto, falamos de investimentos estruturais na ferrovia pesada, ligeira (metros) e tram (partilha de via com rodovia), com especial foco nesta última, pois pensamos que pode ter a curto prazo, um papel muito relevante na mobilidade nas cidades nacionais, sobretudo se for um Tram de construção na indústria nacional. Estamos a trabalhar para isso.

No que concerne à internacionalização, em que medida a PFP está a posicionar Portugal no cenário ferroviário global? Existem parcerias ou iniciativas internacionais para promover a presença e a influência do país nesse contexto?
Existem já hoje empresa nacionais, com uma posição relevante no mercado ferroviário internacional, a que chamamos “Empresas Âncora”. Desenhamos e propusemos um projeto de internacionalização da ferrovia nacional, usando o conceito de “caçar em matilha” juntando a essas empresas-âncora, outras com soluções e produtos complementares, reforçando e diferenciando o valor da sua oferta e ajudando as restantes a entrar em mercados onde lhes seria muito difícil fazer sozinhas. Estas empresas âncora, operam hoje na área das Infraestruturas ferroviárias, material circulante e serviços de comando, controle e comunicação.
Procuramos sempre estabelecer parcerias internacionais, para alavancar os nossos associados e trabalhar em cooperação. Por isso, já celebramos protocolos com várias entidades ferroviárias homologas: ABIFER (Brasil), ARUS (Turquia), DITECFER (Itália), MAFEX e Railgrup (Espanha), VDB (Alemanha) e RIA (UK), são disso exemplos.
Adicionalmente e noutro âmbito dos projetos de investigação e inovação, a PFP está também presente no Deployment Group do EUROPE’s Rail, o maior programa europeu de inovação e investigação do setor ferroviário.

Por fim, gostaríamos de saber quais são as novidades que podemos esperar da PFP a curto e médio prazo. Existem novos projetos em andamento, que impactarão positivamente o setor ferroviário em Portugal?
Na conjuntura atual, vivemos uma circunstância única de “astros alinhados” em favor da ferrovia: quer em termos de objetivos políticos definidos pela EU nos compromissos do Green Deal que Portugal aceitou, quer nas decisões nacionais que o governo tomou de investimento infraestrutural na ferrovia, começadas no Ferrovia2020, no PNI 2030, na nova linha de Alta Velocidade Lisboa-Porto-Vigo, com a grande relevância da existência de fundos de financiamento para os executar.
Por isso dizemos: ESTE COMBOIO NÃO PODE PARAR!
Lançamos uma CARTA ABERTA sobre o setor, com as nossas recomendações, para análise e discussão pública. Solicitamos que seja possível assegurar o lançamento de obras ferroviárias de forma constante, gradual e programada, promovendo a maior incorporação possível da indústria nacional nos investimentos a realizar, retendo e criando valor aos RH nacionais, promovendo um regime de transparência nos custos da infraestrutura, usando o princípio poluidor-pagador e incentivando assim os meios de transporte limpos.
Finalizamos, convidando todos a participar no maior evento ferroviário nacional que a PFP organiza, o PORTUGAL RAILWAY SUMMIT, que decorrerá dias 21 e 22 de maio, no Museu Ferroviário Nacional: não perca!