BGRR & Associados: uma visão experiente sobre o setor jurídico em Portugal

Alexandra Bordalo Gonçalves e Rui Jorge Rego, sócios da BGRR & Associados, revelaram, em entrevista, o segredo por detrás da sua abordagem no mercado jurídico e discutiram as mudanças regulatórias, desafios e oportunidades que moldam o futuro do setor em Portugal. Conheça a sua visão experiente.

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A BGRR & Associados, sendo uma sociedade generalista, fornece uma gama diversificada de serviços jurídicos. Para começar, o que faz desta uma marca diferenciadora no mercado?
No nosso caso, em que ambos os sócios contam com mais de 25 anos de experiência profissional, apostamos no cultivo de relações com os nossos clientes.
Em vez de se dividir em áreas de atuação, como a grande maioria, a BGRR divide-se em duas grandes áreas, clientes particulares e empresariais.
O que se pretende é que o cliente, seja pessoa singular, seja pessoa coletiva tenha sempre o mesmo Advogado a acompanhá-lo ao longo dos desafios da sua vida.
Esta divisão permite, nomeadamente às empresas, tratar os seus assuntos com quem conhece a empresa de forma holística, quase como um Advogado in house pois trata com a mesma pessoa, seja no âmbito do direito comercial, trabalho, fiscal, bancário, insolvência, licenciamentos ou qualquer outro.
Por outro lado, o cliente particular contacta sempre o mesmo Advogado que lhe trata de todas as questões da sua vida, da compra da sua casa, do seu sempre indesejável divórcio, inventários, contraordenações e direito penal e também nas questões laborais, aqui analisadas do ponto de vista do trabalhador. É quem o conhece, quase tão bem como ele próprio.
Este nível de ligação que a BGRR estabelece com os seus clientes, permite diminuir a litigiosidade pois incentivamos, junto dos nossos clientes, a Advocacia preventiva.

Falemos, agora, das mudanças do setor. Considerando a recente alteração ao Estatuto da Ordem dos Advogados e ao Regime Jurídico dos Atos Próprios, de que forma, estas alterações, têm impactado a abordagem da BGRR & Associados aos seus clientes?
As alterações são, independentemente de serem boas ou más, inevitáveis, e não há como as ignorar. Considerando o nicho de mercado em que a nossa sociedade atua, e tendo em consideração a nossa estratégia de atuação que acima explicamos, em nada mudam a nossa forma de atuação. Os nossos clientes procuram-nos por conforto e confiança e cremos que continuarão a fazê-lo independentemente de poderem agora recorrer a outro profissional.

Como avalia, além disso, o impacto destas mudanças no mercado da Advocacia em Portugal?
Já na advocacia enquanto mercado ou indústria, o impacto será relevante. Julgamos importante ter em vista que as alterações estatuárias não abrangeram só a Ordem dos Advogados, mas antes todas as Ordens profissionais o que trará ao mercado sociedades multidisciplinares, que em conjunto oferecerão cumulativamente com a Advocacia, serviços de auditoria, peritagens, entre outros. Esta multidisciplinariedade beneficiará, numa primeira linha as grandes sociedades de consultores e auditores e as grandes sociedades de advogados, para quem aliás nos parece que as alterações foram feitas.
Com estas alterações, o advogado em prática individual, e que ainda não construiu sólidos alicerces, poderá perder clientes.
Por outro lado, a abertura das consultas jurídicas a outros profissionais que não advogados, fará com que alguns clientes optem por soluções mais baratas. Estamos convictos que, quando correr mal, os clientes voltarão.

Sabemos que a adaptação às mudanças regulatórias é uma parte essencial da prática jurídica contemporânea. Assim, em que medida a BGRR & Associados tem abordado os desafios e oportunidades trazidos pelas mudanças do mercado?
Na verdade, na prática, ainda nada mudámos. Mas temos vindo a discutir internamente a questão, procurando identificar na ótica das sociedades multidisciplinares, as oportunidades. Como seja, a prestação mais serviços, ou se se preferir, a prestação de serviços integrados aos nossos clientes, nomeadamente, para os clientes empresariais, que assim poderão resolver num único local vários dos seus assuntos.
Também a sinergia entre as várias especialidades deve ser considerada uma oportunidade, na medida em que poderá permitir um incremento de receitas.
Mas as ameaças / perigos também existem.
Desde logo, e numa primeira linha a questão de conflito de interesses, que varia entre os vários prestadores de serviços, e bem assim os regulamentos internos necessários produzir para que todos os profissionais se comportem enquadrados nas mesmas regras.

O combate à corrupção emergiu como uma prioridade para o novo Governo português. Tendo em conta a expertise da BGRR & Associados e a sua experiência no setor jurídico, como analisa a posição da sociedade e do Governo para contribuir efetivamente para esta área crucial? Que passos, na sua análise, seriam importantes dar?
A corrupção é um problema que a todos afeta e que impõe preocupações e medidas a adotar. Sendo Portugal um Estado membro da EU muitas são as práticas já implementadas e legislação já transposta. Há, efetivamente na nossa sociedade uma aparência de corrupção.
Foi um tema que se desenvolveu nos últimos anos numa primeira linha, porque muitos políticos foram envolvidos em “esquemas” de corrupção e, numa segunda linha, porque é necessário retirar este tema da agenda de um partido político em crescimento com quem ninguém, e de que quase ninguém quer falar!
Da nossa perspetiva, a corrupção existente em Portugal assenta em três grandes fatores: os baixos salários dos governantes, a falta de eficácia do Estado e a quase total inexistência de meritocracia.
Se os governantes ganhassem ao nível dos líderes das empresas privadas, não estariam tão sujeitos a envolver-se em esquemas de corrupção, porque não precisam do dinheiro.
Se a máquina do Estado funcionasse com celeridade e rapidez, seja ao nível dos licenciamentos, seja ao nível da saúde ou até da justiça, ninguém precisava de recorrer às “cunhas” que hoje em dia fazem parte da nossa cultura.
E, sendo cultural, é imperativo que se implementem modelos que permitam explicar nas escolas, a todos os sistemas de ensino, o quão errada é a admissibilidade da corrupção e as suas repercussões.
Os tribunais têm de estar dotados de meios para poderem atuar em tempo útil, e não estão!
A transparência na administração tem de ser o seu timbre, havendo que munir o cidadão de informação e os serviços públicos de capacidade de resposta.
Da nossa parte, aconselhamos os nossos clientes, nomeadamente as empresas a adotarem códigos de conduta interna, onde alertam e esclarecem sobre as boas práticas, associando ainda ações de formação e informação internas sobre o tema. As empresas que têm parte do seu mercado em entidades públicas ou no estrangeiro, estão já rotinadas em procedimentos, códigos de conduta, regras de transparência, entre outros, que todas as empresas, adaptando à sua dimensão deveriam ter.

Neste contexto, qual tem vindo a ser a perspetiva e abordagem estratégica da BGRR & Associados na identificação, prevenção e resolução de questões relacionadas à corrupção?
Numa primeira linha, tratamos de analisar e confirmar, com o cuidado possível as transações financeiras, contratos e outras informações relevantes.
Numa segunda linha, implementamos formações a todos os elementos da BGRR.
Deste modo, se, em algum caso, houver suspeitas de corrupção cumpriremos a lei de forma escrupulosa.

Com os olhos postos no futuro do setor jurídico em Portugal, quais são as perspetivas da BGRR & Associados relativamente às oportunidades e desafios emergentes, tendo em conta este panorama regulatório em constante evolução e as necessidades cada vez mais complexas dos clientes?
No que às oportunidades diz respeito, julgamos ser de realçar a capacidade de oferecer novos serviços aos nossos clientes, nomeadamente aos clientes empresariais – importante área de negócio da BGRR.
Também a aposta no “digital” que a BGRR tem feito permite o aumento da eficiência e da produtividade em prol dos clientes.
Como principais desafios destacamos a complexidade das necessidades dos clientes, que poderão recorrer a uma sociedade multidisciplinar, ainda que não tenham necessidade de aconselhamento jurídico, passando a ser cliente dessa sociedade. A elevada concorrência que a sociedade multidisciplinar trará ao mercado, o que originará uma diferenciação de preços.
Também no âmbito da segurança e proteção de dados, há desafios a enfrentar em virtude da transição digital, quer no âmbito legislativo (proteção de dados) quer no âmbito do sigilo profissional.
Como sempre, quem se adaptar melhor às mudanças estará mais perto de ter sucesso!