Para começar, gostaríamos de conhecer um pouco mais da sua história. Como foi o seu percurso pessoal e profissional até fundar a Mentanalysis? Poderia partilhar alguns dos momentos significativos que moldaram a sua caminhada até então? Falando da Mentanalysis, sabemos que a marca nasceu para preencher uma lacuna na oferta de serviços de saúde mental. Como percebeu que existia esta necessidade e, de que forma, a empresa contribuiu para a colmatar?
A Mentanalysis surgiu muito precocemente, antes de iniciar a minha formação em Psicanálise, que é uma formação pós estudos académicos, morosa, onerosa (a todos os níveis), muito especial e específica. Licenciei-me há quase 30 anos (1995) e a Mentanalysis já conta com bem mais de 20. Ainda estava “a solo” e surgiu da necessidade prosaica de ter contabilidade organizada. Ainda me recordo da escolha do nome… Profissionalmente, nunca tive a ambição de “ter isto, ou aquilo”. Sempre quis trabalhar e ser uma excelente profissional. Ponto. A visão estratégica surgiu mais tarde. No início, tudo aconteceu, naturalmente. Comecei sozinha e dei por mim “sobrelotada” e sem conseguir dar resposta a todos os pedidos de ajuda. A solução pareceu-me lógica: rodear-me de Colegas competentes. Por outro lado, em Portugal existia uma lacuna na oferta de serviços de saúde mental e a Psicoterapia/Psicanálise (o “core” da Mentanalysis) era pouco conhecida e era procurada, fundamentalmente, pela classe social alta e média-alta. O mais frequente era o mero recurso à psiquiatria, ou melhor, à psicofarmacologia, sem uma abordagem profunda e, efetivamente, eficaz, da patologia mental. Era fulcral conseguirmos chegar a mais pessoas, permitindo que pudessem usufruir deste tipo de tratamento. Por outro lado, tornou-se imperativa a necessidade de reunir vários serviços, na área da saúde mental, num mesmo espaço. Pretendia-se a oferta de diversificados serviços e a partilha de saber, com o recurso a uma sólida e multidisciplinar equipa de trabalho. Assim, em 2005/06 oficializámos a abertura da 1ª clínica, em Aveiro, mas já existíamos há algum tempo.
Actualmente, tenho o prazer e a honra de trabalhar com uma Equipa de excepção, com cerca de duas dezenas de Colaboradores, em quatro cidades diferentes. Nesta Equipa estão alguns elementos que me acompanham desde o início (a Ana Sofia Rochinha e a Rosa Rebelo, por exemplo), outros que se juntaram mais recentemente, trazendo uma lufada de ar fresco e outros que são – imaginem! – ex-alun@s e, até, ex-pacientes. São tod@s muito especiais e estou-lhes, profundamente, grata: a Mentanalysis resulta deste esforço conjunto. Sou uma sortuda!
Pelo caminho fui Professora em três Universidade diferentes. Recordo com saudade e carinho esse tempo, com a frescura e a inquietude próprias da juventude de alun@s perspicazes e inteligentes.
Além disso, como descreve a sua personalidade e, em que medida, a mesma influencia a sua abordagem como líder da Mentanalysis? Que características considera essenciais para liderar uma marca com tanto impacto na área da saúde mental?
Nutro um profundo interesse e amor pelas Pessoas. Pela sua luz, mas também pelo seu lado negro e pelos seus monstros. Sou ávida: de saber, de aprender, de conhecer, de viver. Sou insatisfeita e inquieta. Sou trabalhadora e resiliente. Sou rigorosa e exigente. Tenho toda a paciência do mundo para os meus Pacientes e cada vez menos para a inveja, a mesquinhez, a incompetência, a desonestidade, a estupidez e tudo o que é espúrio.
Desde a abertura da primeira clínica em Aveiro, até à expansão para outras cidades como Coimbra, Lisboa e Porto, como observa a evolução da Mentanalysis ao longo dos anos? Quais foram os maiores desafios e conquistas neste percurso?
Como explanado supra, a Mentanalysis já existia há alguns anos, mas as suas instalações, em Aveiro, foram inauguradas, oficialmente, no dia 21 de janeiro de 2006. Em 2007 começámos a apostar na população de Coimbra, uma vez mais, de modo individualizado, passando eu a exercer clínica privada nesta cidade. Oito anos mais tarde, em 2015, a Mentanalysis expandiu, uma vez mais, a sua área de trabalho, a Lisboa, sob a liderança da Ana Sotto-Mayor, uma Amiga e Colega Extraordinária. Nos mesmos moldes da Mentanalysis Aveiro, partindo do meu trabalho individual, em janeiro de 2017 inauguraram-se as instalações da Mentanalysis Coimbra, com o propósito de dar resposta a uma maior procura de cuidados no ramo da saúde mental. Muito recentemente, em 2023, a Mentanalysis abriu as portas no Porto/Maia.
Em qualquer das cidades onde se localiza, a Mentanalysis oferece um trabalho em Equipa. O seu corpo clínico partilha a mesma postura profissional de competência, exigência e rigor, promovendo um tratamento personalizado, “à medida de cada Paciente”, orientado e eficaz, de forma a abranger todas as necessidades de quem procura os seus serviços de saúde mental.
Ao longo destes anos houve um trabalho no sentido de estabelecer inúmeros protocolos e parcerias com instituições/associações/seguradoras, procurando favorecer a existência de serviços adaptados a todos os tipos de bolsas. Para além disso, existe também um programa de cariz social – “Mentanalysis para Tod@s” – que visa apoiar as populações mais carenciadas. Este tem sido um dos nossos maiores desafios: ter um serviço de enorme qualidade, mantendo a acessibilidade do mesmo às várias camadas da população. É muito difícil pagar honorários condignos aos Psicoterapeutas quando as consultas podem assumir valores tão baixos como 25 euros (com determinados seguros os pacientes chegam a pagar 8 euros!). Outra grande dificuldade consiste em agrupar profissionais com uma formação tão específica e rigorosa como a que preconizamos. Como (quase) todas as outras empresas nacionais, não conseguimos competir com os salários praticados no estrangeiro, até mesmo com profissionais muito menos habilitados do que os nossos.
Por outro lado, desde há muito (mesmo antes da Pandemia) que tentamos acompanhar a evolução dos tempos, nomeadamente, com o recurso às consultas on-line, mantendo o carácter de confidencialidade e segurança.
De uma forma geral, quais diria que são os principais objectivos da marca? Enquanto Fundadora e CEO, como define os fatores diferenciadores que fazem da mesma uma referência na área da saúde mental?
Podemos logo começar por falar na missão da Mentanalysis: prestar cuidados de saúde personalizados, promovendo e potenciando, de forma eficaz e eficiente, a saúde integral dos pacientes. Promover o respeito absoluto pela individualidade, confidencialidade e integridade, apontando no sentido do crescimento e desenvolvimento psíquico, do bem-estar e equilíbrio mental, e promovendo uma melhor qualidade de vida.
Em seguida, é indispensável enfatizar os valores que estão na base do trabalho desenvolvido pela Mentanalysis: Transparência, Lealdade e Confidencialidade; Respeito pela Ética e Deontologia Profissional; Rigor Intelectual e Espírito de Equipa.
Outro fator diferenciador consiste na existência de uma Equipa Técnica especializada nas mais diversas áreas da Saúde Mental, proporcionando um serviço de elevada qualidade: Psicanálise; Psicoterapia Individual (Infantil, Juvenil e de Adulto); Psicologia Clínica; Psicologia Forense; Terapia Familiar e de Casal; Neuropsicologia; Sexologia; Avaliação Psicológica; Orientação Escolar e Profissional; Psicodrama e Grupos terapêuticos; Pedopsiquiatria; Pediatria; Psiquiatria; Terapia da Fala; Desenvolvimento Infantil; Dificuldades de Aprendizagem; Psicomotricidade e Supervisão Clínica. De ressalvar, também, que a Mentanalysis actua nas diferentes faixas etárias: bebés, crianças, adolescentes, adultos e séniores.
Sabemos que um dos pontos fortes da Mentanalysis é o trabalho em equipa. Assim, de que forma a empresa promove essa colaboração entre profissionais de saúde mental e que benefícios essa união traz aos pacientes?
A Mentanalysis pretende assumir um lugar singular nos cuidados de saúde mental, privilegiando uma intervenção integrada e altamente especializada. Distingue-se pela sua equipa de profissionais diferenciada, altamente habilitados e com vasta experiência clínica, que trabalham, individualmente ou em equipa, de forma a promover uma intervenção eficaz. Por esse motivo, a Equipa Clínica reúne, assiduamente, por forma a responder a todo e qualquer pedido, de forma célere, privilegiando a Supervisão e a Intervisão dos seus Profissionais, bem como a formação contínua dos mesmos.
A missão da Mentanalysis é clara: não desviar do seu foco e compromisso com a saúde integral dos pacientes. Para melhor entender, como é que esta missão se reflete nas práticas diárias da empresa e nos cuidados prestados aos clientes?
O nosso serviço começa com o atendimento telefónico. O Front Office é liderado pela Diana que, de modo profissional, preocupado e doce, assegura o melhor atendimento a tod@s @s Pacientes. Sempre que possível, a primeira consulta de avaliação é efetuada por mim, Diretora Clínica, e, após essa triagem, os pacientes são encaminhados para @ profissional que melhor se adequa aos seus pedidos e necessidades. Quando necessário, as diversas especialidades actuam, em conjunto. Promovemos, ainda, um follow-up aturado de todas as situações clínicas.
Considerando a importância do bem-estar mental no local de trabalho, de que forma a Mentanalysis aborda esta questão? Como a observa, actualmente, no cenário empresarial português?
Felizmente cada vez temos mais pedidos de avença/parceria, por parte de inúmeras empresas, por forma a promover a saúde mental dos seus funcionários. Infelizmente, o orçamento empresarial, neste contexto, continua a ser muito esparso, mas temos vindo a aumentar o número de colaborações desta natureza.
Fazendo uma análise ao contexto atual, quais diria que são os principais desafios enfrentados pela sociedade no que concerne à saúde mental? Como é que a Mentanalysis se adapta, diariamente, para lidar com estes desafios?
Apesar do meu habitual otimismo e esperança, a verdade é que analisar o contexto mundial actual conduz, de imediato, à conclusão pela importância da saúde mental, num mundo com contornos preocupantes.
Na sociedade moderna a saúde mental é um tema crucial: enfrentamos diversos desafios, nessa área. Um deles tem que ver com o ritmo de vida acelerado: vivemos numa cultura “sempre on-line”, onde a pressão por produtividade e eficiência pode levar ao esgotamento mental e físico. As Pessoas “nunca se desligam”, sentem-se doentes e incapazes de alcançar esses desígnios, demitindo-se da sua procura.
Outro desafio relaciona-se com a efetiva pressão social, onde as vidas, aparentemente, perfeitas, propaladas pelas redes sociais, tendem a gerar, por comparação inferior, sentimentos de inadequação e baixa autoestima.
O uso excessivo da tecnologia conduz a uma dependência major de dispositivos eletrónicos e redes sociais, podendo afectar, negativamente, a nossa saúde mental.
Outro desafio, em termos de saúde mental, prende-se com o conceito de modernidade líquida, de Bauman. Existem sentimentos crescentes de incerteza e a “privatização da ambivalência”: as Pessoas podem mudar de uma posição social, para outra, de maneira fluida, preconizando o nomadismo. Fluem, pelas suas próprias vidas, como “turistas”: mudam de lugar, de emprego, de cônjuge, de valores e, às vezes, de orientação política ou sexual, excluindo-se das redes tradicionais de apoio, ao mesmo tempo que se libertam das restrições ou exigências que essas redes impõem. O resultado é uma mentalidade normativa com ênfase na mudança, e não na permanência; no compromisso provisório, em vez do permanente (“sólido”). Ora, como existir segurança, no ser humano, sem esta “constância do objecto no interior do sujeito” (Coimbra de Matos)?
O Impacto da Pandemia também se continua a fazer sentir, intensificando e espoletando o aparecimento de doenças mentais. Nos “bebés COVID” ainda estamos longe de perceber a dimensão das consequências de um crescimento, ab initio, com uma enorme redução do contacto relacional e com a persistência marcante da angústia de morte.
Apesar de muito menor do que há alguns anos, subsiste o preconceito e o estigma, em relação às doenças mentais.
Por outro lado, continua a ser difícil o acesso a tratamento adequado e o serviço público é, completamente insuficiente e, muitas vezes, desadequado. A Mentanalysis tenta obviar estes obstáculos, promovendo o acesso plural e igualitário à saúde mental, e procurando dar resposta às desigualdades socioeconómicas, ao oferecer serviços a custo reduzido, com profissionais muito qualificados.
Apesar da importância crescente atribuída à saúde mental, considera que ainda existe um caminho a percorrer para que seja equiparada a outras áreas da saúde em termos de prioridade e investimento? O que falta para que a saúde mental alcance o mesmo nível de importância e reconhecimento de outras áreas da saúde?
As patologias mentais, pelo sofrimento que causam e pela sua aparente subjectividade, assustam, profundamente. O facto do sofrimento mental não ser mensurável através das medidas conhecidas e confortáveis e ser arrasador, provoca um natural afastamento, com “fugas para a frente”, recurso a panaceias e discursos anestesiantes. Tudo serve para “fazer de conta que se está bem”, ou “se vai ficar bem”, só porque se medita, se respira fundo, se “pensa positivo” (seja lá o que isso seja), se tomam “umas pastilhas” e se finge um sorriso! Desde livros, palestras e receitas de autoajuda que “descobrem a pólvora”, a coachs desonestos (porque também os haverá competentes e com a noção clara do seu papel) que imputam a resolução dos problemas mentais a soluções de “só juntar água”, como os pudins instantâneos. Pululam por aí, por parecerem fáceis e eficazes. Mais recentemente, vende-se que um@ qualquer “psicoterapeuta IA” resolverá questões de saúde mental sérias. Estes são uns dos grandes perigos, na abordagem da saúde mental. Não só a descredibilizam, como a aviltam, provocando danos irreparáveis.
Noutra medida, a sociedade tem que perceber, de modo inequívoco, que a produtividade do indivíduo aumenta, incomensuravelmente, quando tem saúde mental. Num mundo onde a importância do dinheiro continua a imperar, perceber que é possível promover o bem-estar psicológico, investindo, financeiramente, no mesmo, é primordial. Até lá, acredito que continuaremos a viver num mundo de “boas intenções” inconsequentes e promessas vãs.
O Dia Mundial da Saúde, celebrado a 7 de abril, destaca a importância dos cuidados de saúde e de estilos de vida saudáveis. Neste âmbito, e especialmente no que diz respeito à saúde mental, em que medida a Mentanalysis tem contribuído para esta mensagem? Quão legítimo é afirmar que a Mentanalysis se envolve na consciencialização e educação sobre saúde mental ao longo do ano?
Para além do trabalho quotidiano, nesse sentido, favorecemos uma estreita ligação com os actuais canais de comunicação (lives, redes socias, site interativo, youtube, linkedin, entre outros), permitindo debater vários assuntos relacionados com a saúde mental. É um trabalho contínuo e persistente, não se confinando a datas especificas.
Por tudo aquilo que foi mencionado, sabemos que a Mentanalysis tem feito da sua história um exemplo de sucesso. Com os olhos postos no futuro, quais são as suas grandes ambições para a marca? Existem planos de expansão ou novos serviços?
Hodiernamente, estamos preocupados em consolidar a expansão para o Porto/Maia, bem como em manter o rigor da qualidade dos serviços que ministramos, em todas as clínicas. A extensão da Equipa Clínica está, permanentemente, a ser equacionada, bem como a criação de novos serviços, como são exemplos, relativamente recentes, a Avaliação e Diagnóstico de Autismo no Adulto e a Avaliação da PHDA (com a importantíssima colaboração do Pedro Almeida), a Consulta da Diversidade Sexual e Identidade de Género, e a Consulta de Comportamentos Aditivos.
Enquanto Fundadora e CEO da Mentanalysis, que legado gostaria de deixar? Como gostaria que a empresa fosse lembrada pelos seus pacientes, colaboradores e comunidade em geral?
Crescemos por Identificação (“Quero ser como…”) e por Contra-Identificação (“Não quero ser como…”).
Não pretendo a Mentanalysis como um “fast-food” de saúde mental, onde as pessoas são atendidas numa “linha de montagem”, onde se dão “dicas” e receitas irrealistas e mentirosas para curar os “males da alma”, onde apenas se medica, preconizando uma centralidade no sintoma ou uma superficialidade, compreensivelmente, atractiva e barata, mas que é néscia.
Sonho e desejo a Mentanalysis como um espaço-tempo de crescimento, promotor de um autoconhecimento profundo, no entendimento do inconsciente e do “não-dito”. Um local e um tempo, físico, mas também simbólico, onde as emoções, os pensamentos e o sofrimento das Pessoas são compreendidos, em toda a sua plenitude. Sempre “com o Paciente” e nunca “em substituição do Paciente”. Onde essa dor é pensada e sentida na díade Psicoterapeuta-Paciente, sendo, consequentemente, erradicada. Onde, por isso mesmo, a relação psicoterapêutica assume uma importância primordial. De onde as Pessoas saiam a conseguir, autonomamente, resolver os seus problemas, tomando as decisões que mais lhes convierem. Dure o tempo que durar; até porque o tempo é sempre pouco, quando transforma uma Pessoa. Almejo que a Mentanalysis seja alegremente guardada, pelos Pacientes, no mais profundo recanto dos Seus corações.
Por fim, num toque mais pessoal, enquanto Sónia Soares Coelho – a Pessoa, Mulher, Empresária, Líder e Profissional da área da saúde mental, o que falta ainda concretizar?
Uiiiii… tanta coisa…
Enquanto Empresária/Líder/Profissional, aprender a delegar, cada vez mais. Aprender a tornar-me, absolutamente, dispensável. Quando assim for, a Mentanalysis caminhará por ela própria. Mais difícil será deixar de ter Pacientes: adoro, incomensuravelmente, o que faço, e prezo muitíssimo as Pessoas que comigo decidem partilhar as Suas vidas. Lembro-me dos meus Pacientes muito para além do tempo da sessão… quando vou de férias tenho saudades deles. Cada vez mais acredito que vou morrer a trabalhar… ainda que com outra carga horária.
Enquanto Pessoa e Mulher, continuar a sonhar e a desejar; continuar a apaixonar-me por Pessoas e por Causas; passar mais tempo com quem me ama e quem eu amo, com quem me acompanha neste caminho. No futuro pretendo continuar a viver e a Ser quem Sou: este vulcão tranquilo, às voltas com o fogo que me acalma.