A Vera Valente é Sócia Fundadora da Gonçalves, Valente & Associados, Sociedade de Advogados, SP RL, um escritório de advocacia que perpetua o seu quotidiano assente em pilares como excelência, confiança e transparência. De que forma é que nos pode partilhar a sua carreira até aos dias de hoje e quais as valias do seu escritório?
Como facto distintivo do meu percurso profissional posso destacar o facto de ter, em complemento da minha atividade, desenvolvido voluntariado na área da violência doméstica que, há 20 anos atrás não era uma questão com a visibilidade e a compreensão que tem hoje e em que, sobretudo mulheres, com dificuldades económicas, se viam manifestamente abandonadas à sua sorte. Foi então junto dos serviços locais de atendimento e informação à população feminina do Município da Amadora, que iniciei a minha colaboração.
Desde então, posso destacar inicialmente a assessoria a empresas de gestão de condomínios, que estiveram em alta sobretudo entre 2000 e 2010, a empresas de assessoria ao crédito hipotecário, quer ainda, na década seguinte, a prestação de serviços na área laboral junto do Sindicato dos Trabalhadores Consulares e das Missões Diplomáticas, o que me permitiu estender conhecimentos na área do Direito Público e Internacional.
Atualmente, no âmbito da sociedade a prestação de assessoria a diversas entidades empresariais e instituições.
Assim, as valias atuais do nosso escritório centram-se no Direito Administrativo, Fiscal, Compliance, Contratação Pública e Atos Notariais.
Considerando a importância do recente Dia Internacional da Mulher, que tem sido um ponto de partida para a reflexão sobre a igualdade de género, como é que a sua jornada, enquanto mulher na área do direito influenciou a sua visão sobre a importância da igualdade de género no ambiente profissional?
Na verdade, a igualdade de género no ambiente profissional é uma manifestação de uma realidade muito mais profunda cujas raízes se ancoram nos estereótipos e preconceitos ainda muito arreigados acerca do papel da mulher na sociedade e na família.
Para além das questões que infelizmente ainda se colocam diariamente no momento em que uma mulher decide ser mãe e o apresenta à sua entidade profissional que não o vê com bons olhos, a questão vai mais além.
Uma mulher que tem uma realidade familiar que não a apoia, que é fonte de violência, de stress, ou de angústia e de infinitas responsabilidades que carrega de forma muitas vezes exclusiva, não consegue ter a disponibilidade mental de que necessita para se dedicar aos seus objetivos profissionais.
Esta é a realidade que testemunhei demasiadas vezes ao longo dos anos.
São mais do que julgamos as mulheres que, embora tenham sonhos/objetivos profissionais, se debatem com questões de violência familiar, mais ou menos evidentes, que as exaurem, lhes sugam as forças que desejam canalizar na luta para os alcançar.
Mais do que uma questão de igualdade, a verdadeira questão é de equidade. Impõe-se honrar a singularidade do que é ser Mulher, sendo essencial assegurar que Mulheres e Homens, nas suas diferenças e complementaridades tenham condições para se desenvolverem.
Olhando para as ações realizadas durante este período para consciencializar a sociedade sobre a luta pelos direitos das mulheres, que estratégias ou iniciativas gostaria de ver adotadas, pelos escritórios de advocacia, para promover a liderança feminina e a igualdade de oportunidades?
O próprio facto de, atualmente, a maior parte das pequenas e médias sociedades de advogados ser maioritariamente composta por Advogadas é já em si um sinal de mudança e evolução. Contudo, para que a liderança dessas mesmas sociedades também passe a ser distribuída de forma mais equilibrada entre homens e mulheres, necessário é que as medidas de equidade, na sequência do já referido, sejam introduzidas, o que passa por uma maior flexibilidade para a gestão da vida profissional com a familiar, com especial destaque para o apoio à maternidade.
Sente que hoje existe uma maior consciência na advocacia relativamente a promoção de um maior equilíbrio relativamente à presença de Mulheres?
Creio que essa maior consciência foi introduzida pelas próprias, à medida que conseguiram chegar a posições de algum destaque. A partir daí, a realidade da prática da advocacia pelas mulheres, aportando perspetivas necessariamente diferentes e complementares às que vinham sendo “normais”, deu espaço a uma abordagem mais holística da realidade social com que nos deparamos diariamente, permitindo perceber que esta visão mais abrangente é em si mesma uma enorme vantagem competitiva para qualquer sociedade, de maior ou menor dimensão.
Na sua visão e pelo trajeto realizado por si, de que forma a promoção da liderança feminina nas organizações pode contribuir para o crescimento e sucesso das empresas, especialmente no contexto do universo jurídico em que atua?
Na minha experiência, e considerando que o feminino e o masculino habitam em cada um de nós, homens e mulheres, enquanto polaridades, o que a polaridade feminina tem a aportar é sobretudo uma maior capacidade de flexibilização, de ir ao encontro do outro, conhecendo-o para o poder potenciar, de liderar com autoridade, mas com empatia.
À medida que debatemos questões de género e igualdade de oportunidades, como é que vê o papel das mulheres na construção de um ambiente jurídico mais inclusivo e diversificado, especialmente em regiões onde o debate sobre essas questões pode ser menos comum?
O papel das mulheres será sempre o de sensibilizarem, colocarem este tema na agenda como essencial à construção de uma sociedade mais equilibrada, dando o seu exemplo de resiliência. Exemplos como Malala Yousafzai que ao lutar pelo direito das crianças à escolaridade num contexto especialmente duro, coloca em evidência o papel da mulher na luta pela criação de condições para uma sociedade mais equilibrada para os homens e mulheres de amanhã, investindo nas crianças de hoje.
Como é que, na sua perspetiva, podemos continuar a avançar na promoção da igualdade de género e na valorização da liderança feminina, não só no meio jurídico, mas em todos os setores da sociedade?
Dando voz aos excelentes exemplos que temos, falando sobre eles, dando-lhe o devido destaque. Veja-se o recente sucesso do podcast do Jornal Expresso “CEO é o limite” com a extraordinária Rita Piçarra.
Que mensagem gostaria de deixar às jovens advogadas dispersas pelo país que se estão a preparar para enfrentar os diversos desafios no domínio do direito e, por consequência, sobre estas questões sobre a igualdade de oportunidades?
Dizer-lhes que lutem pelos seus objetivos, mesmo naqueles momentos em que se sintam numa travessia do deserto! Sobretudo, empoderem-se reciprocamente e não se esqueçam de sentir orgulho por todas essas travessias: todas as que fizermos deixarão as vindouras gerações de meninas num ponto de partida mais próximo daquele que realmente merecem!