PIEP – Uma Entidade de Referência para a Inovação

Cláudia Cristóvão, Engenheira e Diretora-Geral do Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros (PIEP), abordou, em entrevista à Revista Pontos de Vista, não só o histórico de sucesso desta associação e os serviços que a mesma disponibiliza, como o facto do Fabrico Aditivo (FA) ser considerado uma das tecnologias-chave da quarta revolução industrial. Saiba tudo.

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O Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros (PIEP) é uma associação de direito privado, de matriz tecnológica e científica, com um modelo de gestão empresarial. Tendo sido constituído no ano de 2000, que análise faz destes 23 anos de atividade?
Ao longo de mais de duas décadas de existência, o PIEP tem vindo a consolidar-se enquanto entidade de referência para a inovação, desenvolvendo a sua atividade em inúmeros setores de aplicação, através do desenvolvimento de produtos e tecnologias inovadoras, com elevados níveis de integração e funcionalidade, visando evidenciar a capacidade endógena nacional de responder às tendências do setor e a desafios específicos de inovação, assente na promoção dos princípios do desenvolvimento sustentável fomentando o desenvolvimento socioeconómico e a competitividade industrial.
Somos o resultado do esforço dos nossos fundadores, administradores, diretores, professores e incansáveis colaboradores, que afirmaram e afirmam diariamente este projeto. A consolidação deste projeto requer um empenho conjunto e permanente. Acreditamos na virtude deste modelo e na capacidade do PIEP em continuar a cumprir a sua missão e visão. É pela integração do conhecimento científico na dinâmica empresarial que se pode garantir a qualidade de vida das sociedades.

Assim, desde a sua fundação, o PIEP pretende dar uma resposta de excelência na entrega de produtos e serviços em tempo oportuno, orientada às necessidades de I&D+i das empresas do setor dos plásticos e afins, através de atividades de inovação. Para melhor entender, que serviços esta associação disponibiliza?
O core business do PIEP engloba seis áreas tecnológicas que abrangem os vários domínios do saber em polímeros e compósitos e que se articulam de forma integrada e complementar no processo de produção, gestão e aplicação de conhecimento: Extrusão, Composição e Materiais Avançados, Design e Desenvolvimento do Produto, Processos Avançados de Fabrico com Compósitos, Processos Avançados de Fabrico com Polímeros, Economia Circular e Ambiente, e Testes, Ensaios e Diagnósticos de Falha.
O trabalho desenvolvido pelo PIEP assenta num conjunto de atividades principais ao nível da I&D+i, transferência de tecnologia, consultadoria técnico-científica, formação e prestação de serviços em domínios técnicos e científicos da engenharia, em particular com materiais poliméricos e compósitos.

Além disso, o PIEP pretende também contribuir na vertente da formação, ao apoiar o desenvolvimento de Recursos Humanos com capacidade e experiência em inovação industrial na área da engenharia de polímeros. De que forma o faz?
Com uma forte ligação à indústria e à academia, nomeadamente ao Departamento de Engenharia de Polímeros da Universidade do Minho, com recursos humanos altamente qualificados e diversificados, capacidade e know-how em múltiplas áreas e com elevado envolvimento (com e das) empresas, o PIEP está numa posição privilegiada para dotar a indústria de recursos humanos mais competentes e tornar-se numa referência também no capítulo da formação.
Com o projeto estratégico POLARISE, do programa de financiamento base do Plano de Recuperação e Resiliência, o PIEP vai promover um conjunto de ações que irão alavancar a vertente de formação avançada e orientada à indústria e academia. Uma delas é a criação da Academia PIEP – onde vamos responder aos desafios das empresas, dos profissionais do setor e dos jovens em percurso educativo e formativo, em matéria de conhecimento e competências essenciais para a competitividade. A captação, fixação e desenvolvimento de talento nas empresas, o re-skill e up-skill em função das necessidades do mercado e a formatação das ferramentas necessárias para a construção de uma carreira de sucesso no setor serão o foco da Academia PIEP.
Uma outra ação é a criação de Learning Factories com sistemas de aprendizagem para desenvolver as competências para a implantação e operação de novos processos produtivos – fatores de sucesso para a fábrica do futuro. Os processos e as tecnologias são baseados na realidade industrial, enfatizando a aprendizagem experimental e a melhoria contínua, usando sistemas e células tecnológicas demonstradoras para fomentar a competitividade do tecido empresarial.

Ao observamos o mercado, compreendemos que o Fabrico Aditivo (FA) é considerado como uma das tecnologias-chave da quarta revolução industrial e uma pedra basilar no futuro dos processos produtivos, sendo já comummente utilizado em diversas indústrias. Sendo o PIEP um forte aliado de inovação, como é que tem contribuído para a adoção e disseminação destas tecnologias?
O FA vai dar origem a uma nova revolução das tecnologias de fabrico porque vai permitir aliar a customização com a produção em massa, fazendo um uso ótimo dos materiais. O PIEP tem trabalhado ao nível do desenvolvimento de materiais para esta tecnologia, desde o desenvolvimento de materiais sustentáveis (bioplásticos reforçados com fibras de celulose e cargas minerais naturais, conchas de mexilhão, etc.) até materiais de alta performance para o setor automóvel e aeroespacial (filamentos de impressão 3D condutores elétricos) e impressão com eletrónica integrada. Por outro lado, complementamos esta atividade com a introdução de componentes impressos com tecnologias de fabrico mais maduras.
Filamento condutor elétrico desenvolvido para a ESA

O FA representa assim uma revolução na indústria, oferecendo uma ampla gama de oportunidades. Como é que a impressão 3D e a manufatura aditiva vão alterar o modo de funcionamento de setores inteiros como os moldes, a injeção de plástico ou mesmo a metalúrgica e metalomecânica?
O caminho mais evidente para uma adoção de larga escala do FA passa pela hibridização de processos. No caso dos moldes, a combinação de tecnologias de fabrico subtrativo com fabrico aditivo permite criar moldes mais eficientes (particularmente na gestão térmica) e com geometrias mais customizáveis e menores tempos de entrega. Naturalmente, a engenharia associada a estes processos também tem de ser atualizada e é igualmente fundamental implementar um processo de transformação digital e de validação em laboratório e em chão de fábrica, para melhorar as soluções existentes.
No contexto da injeção de plásticos já é possível combinar materiais metálicos, poliméricos e cerâmicos. Mas o FA pode revolucionar as relações entre estruturas e providenciar viabilidade a processos complementares como é o caso da soldadura termoplástica. Aliás, o novo paradigma de mobilidade elétrica requer o uso de estruturas mais leves com sistemas de ligação mais simplificados e com menos componentes.

Considera que este é um setor em ascensão em Portugal? Estamos preparados para dar resposta ao universo do FA? Como observa o vindouro?
Este é um setor em ascensão nacional e europeia. O PIEP tem acompanhado os desenvolvimentos europeus através da participação em clusters internacionais (3D-MID; VI 3DP BIM, SDAM Alliance Partnership) e em iniciativas nacionais, como as Agendas Mobilizadoras para a Inovação Empresarial (INOV.AM e o Pacto BioEconomia Azul). O PIEP tem também uma parceria com o DONE Lab da Universidade do Minho onde explora novos materiais e técnicas de FA. Portugal tem fabricantes de materiais e equipamentos para FA de referência, pelo que já tem visibilidade a nível internacional. Contudo esta é uma tecnologia que está a ter avanços muitos rápidos (a nível da transformação digital, novos modelos de negócio, e viabilização de circularidade de materiais), e que requer um contínuo investimento ao nível do I&D+i nestes domínios para manter a relevância internacional. Naturalmente o PIEP tem um papel na capacitação das nossas empresas para muitos destes domínios.

Sabendo que o PIEP é um parceiro de referência para a inovação no seio do tecido produtivo nacional e internacional, qual será o papel da associação neste processo revolucionário do FA?
O PIEP tem trabalhado ao nível da prestação de serviços e ensaios para uma resposta célere aos problemas mais urgentes da indústria e complementarmente tem desenvolvido uma estratégia que assenta em projetos diretos e financiados com parceiros nacionais e internacionais para responder aos desafios vindouros. São exemplos disso o projeto europeu Sustronics (Sustainable and green electronics for circular economy), a eletrónica impressa, os dispositivos médicos e materiais qualificados, a impressão de microsatélites, de moldes para a indústria de compósitos, a validação de ferramentas de FA, o desenvolvimento de novos modelos de engenharia, que permitem otimizar as estratégias de fabrico e design de novos produtos que contemplem FA.

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