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ONDE NASCE A VIDA

ONDE NASCE A VIDA
Sérgio Soares

Porquê a escolha pela área da medicina reprodutiva?

A escolha pela área da Ginecologia e Obstetrícia (GO) foi inicialmente motivada pela atração pela Obstetrícia. Com o tempo e as oportunidades surgidas ao longo da Graduação e da Pós-graduação em GO, fui-me aproximando da Medicina Reprodutiva, que é uma subespecialidade dentro dessa área.

Como se diagnostica a infertilidade na IVI?

Cada caso é avaliado de modo individual, com o cuidado na recolha, num primeiro momento, de todos os dados do historial dos doentes que possam ter alguma relevância: tempo de infertilidade, histórico reprodutivo, história de saúde da família e do doente e resultados de análises, exames e tratamentos já feitos. Frequentemente, é preciso depois pedir algum tipo de análise e/ou exame complementar. Ou seja, todas as especificidades de cada caso devem ser tidas em conta e analisadas à luz do mais atualizado conhecimento médico.

Quais são as principais causas da infertilidade? Em que medida é que a idade pode afetar?

As principais causas são os problemas na produção espermática e na função ovárica. Essa última é dramaticamente afetada pela idade. Muito cedo na vida da mulher (poucos após os 30 anos, por incrível que pareça!), o rendimento reprodutivo começa a cair exatamente pela diminuição da qualidade dos óvulos. Depois dos 35 anos, essa queda é evidente. Como dá-se a circunstância de, atualmente, muitas mulheres começarem a pensar no projeto reprodutivo após os 35 anos, dita conjunção é extremamente negativa para a eficácia reprodutiva. Lamentavelmente, essa questão da perda precoce da qualidade da função ovárica é muito pouco difundida, não é de domínio público. Como outra causa importante da infertilidade, mencionaria a endometriose.

Embora não existam estatísticas específicas para Portugal, vários estudos indicam que nos países ocidentais a infertilidade afeta um em cada sete casais em idade reprodutiva, o que corresponde a cerca de 14% da população. Estes números têm vindo a suavizar?

Não há razão para acreditar numa diminuição da prevalência dos problemas reprodutivos. Ao contrário: como mencionei anteriormente, o adiamento do projeto reprodutivo tende a fazer com que a consecução do mesmo se veja dificultada para uma fração cada vez maior da população.

Estar emocionalmente forte é um fator importante para que os tratamentos de reprodução assistida sejam um sucesso. Como enfrentar a descoberta de que tem um problema de infertilidade?

É um fator importantíssimo. A caminhada na busca de um filho com a ajuda da Medicina pode-se fazer, em alguns casos, longa. Nesses, o desgaste psicológico é muito grande! Um casal que viria a alcançar o seu objetivo pode mesmo desistir dele pelo desgaste emocional. Um apoio psicológico especializado ao longo do caminho deve ser sempre oferecido ao doente e é, muitas vezes, fundamental.

Considera que o estado emocional da pessoa que se submete a um tratamento de reprodução assistida é de vital importância no percurso e resultado do mesmo?

Pode ser de vital importância no percurso. Não há evidências de que, em tratamentos como a inseminação intrauterina ou a fertilização in vitro, o estado emocional tenha grande impacto na taxa de sucesso por tratamento. Mas, como comentei anteriormente, tal suporte pode estar vinculado à probabilidade de sucesso na medida que, nas caminhadas de mais longa duração, é muito maior o risco de desistência se há uma desestabilização emocional. Essa pode por em risco inclusive a relação do casal.

A medicina é uma ciência em constante mutação e adaptação – o que faz com que de novas teorias saiam novas terapêuticas, técnicas e por isso novos materiais. Que desafios e oportunidades considera que são então esperados para esta área “onde nasce a vida”?

Os desafios são muitos, porque são muitas, e sempre serão, as perguntas ainda sem resposta, os problemas para os quais não há solução fácil. Temos muito a aprender sobre o quê é que determina a qualidade dos “atores principais dessa peça” (óvulo, espermatozoide e endométrio – o tecido que reveste a cavidade uterina, onde o embrião implanta). Depois de um maior aprendizado sobre os determinantes da sua qualidade, virá o aprendizado de como corrigir carências qualitativas, quando essas estiverem presentes. Uma pergunta respondida leva à seguinte, numa história sem fim.