Início Atualidade “ESTIVEMOS SEMPRE MUITO ATENTOS AOS DESAFIOS QUE A PANDEMIA COLOCOU AOS DOENTES E AOS CENTROS DE PMA”

“ESTIVEMOS SEMPRE MUITO ATENTOS AOS DESAFIOS QUE A PANDEMIA COLOCOU AOS DOENTES E AOS CENTROS DE PMA”

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“ESTIVEMOS SEMPRE MUITO ATENTOS AOS DESAFIOS QUE A PANDEMIA COLOCOU  AOS DOENTES E AOS CENTROS DE PMA”

Atravessamos um momento incerto provocado pela pandemia da COVID-19, tendo como consequência a paralisação de muitas atividades. Em março, a Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução divulgou uma recomendação a todos os Centros de Procriação Medicamente Assistida (PMA), no sentido de não se iniciarem tratamentos de fertilidade e de cancelar os já iniciados. Passados estes meses, como nos descreve o impacto da pandemia nesses tratamentos?
O impacto foi muito significativo e, infelizmente, com graves consequências para os seus beneficiários, sobretudo para os que se encontram em lista de espera no SNS. Os Centros de PMA pararam toda a atividade a partir da segunda metade de março (com exceção para situações inadiáveis de preservação da fertilidade), e só a retomaram, ainda que de forma progressiva, cerca de dois meses depois. O aumento desse tempo de espera será inevitável. Antes da pandemia situava-se em cerca de 12 meses, mas temo que fique acima dos 18 no final do ano.

Contudo, em abril, foi divulgada outra recomendação pela SPMR em como se poderia retomar de forma progressiva os tratamentos anteriormente cancelados. O que mudou com este regresso? Que orientações considera serem fundamentais para que os tratamentos de infertilidade em Portugal prossigam com estabilidade e segurança?
Nessa altura percebemos que os Centros já tinham implementado as medidas recomendadas pelas autoridades de saúde para fazer face à pandemia. Para além das gerais, foram igualmente adotadas medidas específicas na atividade da PMA. A testagem para a infeção pelo SARS-CoV-2 aos beneficiários dos tratamentos, bem como aos dadores de gâmetas, é disso um exemplo. Curiosamente, nos laboratórios de PMA, poucas foram as medidas adicionais necessárias, uma vez que, as que se praticavam antes da pandemia eram já de grande rigor para prevenir contaminações das amostras biológicas por agentes infeciosos. A atividade em PMA tem decorrido com bastante segurança.

Durante estes tempos de alguma apreensão é importante a tranquilizar os pacientes que viram o seu tratamento suspenso. Assim, como é possível voltar a descansá-los? O que foi realizado neste sentido?
Há uma importante mensagem com duas vertentes. A primeira refere-se à segurança dos próprios utentes dos Centros. As medidas implementadas permitem assegurar que o risco de contrair a infeção num Centro de PMA é muito baixo. A segunda refere-se à segurança do tratamento e da gravidez que dele possa resultar. Continuarmos a recolher novos dados, numa base quase diária, mas o conhecimento atual permite-nos afirmar que, apesar da pandemia, é seguro efetuar tratamentos de PMA e que os riscos para a grávida e para o feto são muito reduzidos. É essa a mensagem que temos passado nas nossas intervenções públicas.

De modo geral, quais foram as principais dúvidas e preocupações dos pacientes?
A grande dúvida que colocam relaciona-se com o possível impacto da infeção pelo SARS-CoV-2 nos tratamentos e, naturalmente, na gravidez e no feto. Para além disso, os casais não escondem a preocupação com o adiamento dos tratamentos devido à pandemia, com o consequente impacto no seu sucesso devido ao fator idade.

Um dos objetivos da SPMR é promover o conhecimento e a investigação científica na área da Medicina da Reprodução. Perante este cenário, qual tem sido o papel da Sociedade, na estrutura e suporte da PMA? Têm desenvolvido alguma ação de sensibilização?
Estivemos sempre muito atentos aos desafios que a pandemia colocou aos doentes e aos Centros de PMA. Essa foi a razão pela qual, desde o início da pandemia, mantivemos uma interação estreita com os Centros, através da recolha de dados, promoção da partilha de ideias e de informação entre os seus responsáveis e publicação das recomendações para os Centros. Participámos igualmente em diversos eventos destinados a esclarecer a população sobre esta realidade.

Além do impacto emocional e de saúde em geral que a infertilidade representa, também se coloca o problema na sociedade agora causado pela pandemia. Como prevê que seja o futuro dos tratamentos de infertilidade em Portugal? Qual será o contributo da SPMR?
Sentimos que temos um grande desafio pela frente. A infertilidade por si só já é uma condição de grande sofrimento. A pandemia agravou esse sofrimento pelas razões já apontadas. Temos tentado sensibilizar as autoridades para a necessidade de um maior investimento do SNS na área da medicina da reprodução. Vamos manter essas ações de sensibilização.