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[RE]PENSAR ENERGIA

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[RE]PENSAR ENERGIA

OPINIÃO DE MIGUEL SUBTIL, MANAGING DIRECTOR, NA ÁTOMO CAPITAL PARTNERS

Acresce a este facto que todas as evidências científicas confirmam como causa dominante das alterações climáticas a emissão de gases de efeito estufa (GEEs), correspondendo as emissões associadas ao uso de energia a cerca de 65% do total de GEEs. Ora, quase metade destas emissões provêm da energia utilizada na indústria, sendo o restante dividido equitativamente pelos setores dos transportes e edifícios. As emissões de mais dificil redução estarão relacionadas com atividades ou processos difíceis de eletrificar e, portanto, necessitando de fontes alternativas de energia com baixo teor de carbono. Isso inclui processos industriais de alta temperatura, como os usados em siderurgias, produção de cimento, industria química e ainda o transporte rodoviário pesado de longa distância, aviação e transporte marítimo.
Outro desafio adicional será o crescimento do consumo de energia previsto para quase todos os setores da economia. A intensidade e a composição desse crescimento nos próximos 30 anos dependerá de como essa energia venha a ser usada em cada setor. De acordo com dados publicados, o setor industrial consome cerca de 50% da energia global, sendo o restante consumido em edifícios residenciais e comerciais (29%) e transportes (21%).
O crescimento da energia primária tem vindo a ser dominado nos ultimos anos por energias renováveis, à custa de uma redução da utilização de hidrocarbonetos, cuja percentagem se prevê que reduza de 85% em 2018 para cerca de 40% em 2050. Em países com abundância de recurso e fontes de financiamento disponíveis, os parques eólicos e solares fotovoltaicos desafiam e desafiarão claramente as fontes tradicionais fósseis. De facto, durante grande parte da história, o sistema global de energia tendeu a ser dominado por uma única fonte de energia, durante a primeira metade do século XX o carvão e posteriormente o petróleo. Agora, em plena transição energética, e durante grande parte dos próximos 20 anos, o ‘mix’ energético será muito mais diversificado, com petróleo, gás natural, energias renováveis e carvão (ainda por por algum tempo).
Em Portugal assumimos o compromisso de passar para uma economia neutra em carbono até 2050, naquela que é a contribuição nacional, no quadro europeu, para o esforço de combate às alterações climáticas ao abrigo do Acordo de Paris. As metas e objetivos para o setor de energia são claros: i)Incorporação de 47% das fontes renováveis no consumo final de energia; ii)Incorporação de 80% das energias renováveis na produção de energia elétrica; iii)Redução para 65% da dependência energética do exterior; iv)Redução de 35% no consumo de energia primária.
Assim,é neste contexto e com estes objetivos que surge o Plano Nacional de Energia e Clima 2021-2030 (PNEC 2030), que contribui para a política europeia de combate às alterações climáticas e as consequentes alterações globais na utilização mais eficiente dos recursos.
A estratégia a adotar por Portugal assentará, em grande medida, na redução das emissões de gases com efeito de estufa (GEE), na incorporação de fontes renováveis de energia, na eficiência energética e na promoção das interligações. O desenvolvimento do Plano Nacional de Energia e Clima foi elaborado em concordância com o Roteiro para a Neutralidade do Carbono 2050, que se refere à necessidade de descarburação total do sistema elétrico, mobilidade urbana e profundas mudanças na forma como utilizamos os recursos energéticos, apostando em modelos circulares, juntamente com o aumento da capacidade de sequestro de carbono.
Portugal tem fortes argumentos para continuar a construir uma estratégia baseada em fontes renováveis para uma economia neutra em carbono. Os principais ‘drivers’ foram, de resto, já definidos, sendo de destacar a eletrificação da economia e do consumo, a evolução da capacidade instalada de geração de eletricidade a partir de fontes renováveis, aumento da penetração dos veículos elétricos e outras soluções para mobilidade sustentável, introdução de gases renováveis e tecnologias de alta eficiência em diversos setores, pesquisa e inovação / amadurecimento de tecnologias alternativas para redução de custos.
No entanto, a transição energética e a descarbonização da sociedade não se esgota com a mudança tecnológica, através da substituição ou adoção de novas tecnologias ou da utilização de novas formas de energia. Em grande medida, será a participação do cidadão, das famílias e das empresas, com um papel mais ativo como consumidores / produtores de energia e como agentes de mudança de comportamento, que terá grande impacto nesta trajetória.
Pretende-se um sistema elétrico fortemente descarbonizado, descentralizado e digitalizado, com foco no consumidor / produtor de energia como participante ativo do sistema. Mas isso não será possível sem uma nova conceção e orientação estratégica que passe por novos conceitos como redes inteligentes (‘smart grids’), produtores-consumidores (‘prosumers’), contadores inteligentes bidirecionais, sistemas de armazenamento, produção descentralizada de energia, flexibilidade de oferta / procura, mobilidade elétrica, entre outros.
Vivemos, sem sombra de dúvida, num contexto de grandes mudanças neste setor. O paradigma está realmente a mudar e com ele surgem enormes desafios, dificuldades, mas também inúmeras oportunidades.
É neste contexto que na Átomo Capital Partners assumimos o desafio de “[Re]Pensar Energia” e posicionamo-nos como agregadores de conhecimento e capacidade técnica, disponibilizando know-how e serviços, desenhando soluções e materializando-as em projetos concretos.
Neste âmbito, já desenvolvemos mais de 450 MW de projectos solares, com responsabilidades globais desde a identificação das áreas de implementação, adaptação às características do território, concepção e elaboração de todos os projectos, estudos de viabilidade, estudos ambientais e processos de licenciamento.
Estamos também ativamente empenhados no segmento de produção descentralizada, com foco no autoconsumo e em todas as oportunidades desencadeadas pelo novo enquadramento legal, onde o autoconsumo coletivo terá um papel importante, mas, novamente, onde é necessário pensar ou [Re]pensar energia, aplicando novos modelos técnicos e financeiros, superando dificuldades contratuais e jurídicas, adaptando e personalizando a solução às especificidades de cada projeto.
Quer no desenho de soluções incluindo a implementação, montagem, operação e mautenção quer em projectos em que possamos assumir a componente de investimento a Átomo Capital Partners estabelece-se no mercado como uma estrutura de agregação de conhecimento e inovação, uma plataforma para a operacionalização, transferência e implementação deste know-how em projetos viáveis, reais e realizáveis.