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“VAMOS CONTINUAR A IMPACTAR POSITIVAMENTE A SAÚDE DAS PESSOAS”

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“VAMOS CONTINUAR A IMPACTAR POSITIVAMENTE A SAÚDE DAS PESSOAS”

O seu trajeto fundiu-se com a Prologica desde 2001, altura em que foi convidada para ser CFO da marca. Ao longo destas duas décadas, quais diria que foram os momentos primordiais para a entidade e para si enquanto líder deste projeto?
Quando entrei para a Prologica como CFO, já acumulava essa função operacional com a função de administração, mas ainda tinha de reportar aos acionistas da sociedade, o grupo Belga Systemat. A “revelação” para mim, e no mesmo tempo para a empresa, foi quando procedemos ao MBO (Management Buy Out) da Prologica em 2005. Foi nessa altura quando passei de uma função de administradora para uma posição de acionista que, de facto, percebi que finalmente ia poder decidir e operacionalizar o futuro da empresa. Foi uma diferença tremenda. Eramos um grupo de quatro acionistas muito diferentes, mas muito complementares. Apesar de significar uma responsabilidade acrescida foi sem dúvida um sentimento de liberdade fantástico.
No ano do MBO, a Prologica tinha 150 pessoas e 30 M€ de volume de vendas com um EBITDA perto de zero. Passados cinco anos, estava a faturar 100 M€ e apresentava um EBITDA de cerca de 4%. 2010 foi, por isso, o primeiro momento primordial, não só pelo marco que representou para a empresa, como também pelo momento de realização pessoal extremamente enriquecedor que senti, como o resultado de todo o trabalho e dedicação.
O segundo momento foi, sem dúvida, a criação da ITEN, uma nova empresa que nasceu em 2013, resultante da fusão da atividade nacional da Prologica e do nosso maior concorrente na altura, a CPCIS. Gostei imenso de trabalhar com novas pessoas e o desafio de juntar duas culturas opostas (200 pessoas de cada lado) em torno de um objetivo comum implicou uma redefinição completa dos valores, da organização e da governança da empresa. Em três anos, conseguimos crescer muito mais na ITEN, do que 1+1. Mas acima de tudo, conseguimos criar uma equipa de gestão extremamente competente e dinâmica que superou todas as nossas expectativas!
No início de 2017, a Claranet, que estava até então com pouca expressão no mercado português, comprou a ITEN. Mais uma aventura que terminava para mim e outra que se iniciava. Foi então que tive a oportunidade de conhecer o meu atual sócio na área da Saúde, Diogo Reis, com quem venho a partilhar desde essa altura a nossa paixão comum para a saúde.

Nasceu no seio de uma família de médicos e a saúde foi sempre a sua paixão, tendo, em 2016, criado a unidade de saúde da PROLOGICA com o objetivo de desenvolver soluções tecnológicas baseadas em dados e tecnologias de Business Intelligence e Inteligência artificial para impactar positivamente o setor da saúde. Que balanço é possível realizar deste período de aposta da marca no domínio da saúde?
O setor da saúde é um setor muito particular, ainda para mais quando queremos ser disruptivos. O Business Intelligence e a inteligência artificial são, de facto, áreas disruptivas, mas ainda existe muita apreensão/desconhecimento à sua volta. Porém, apreensão não significa rejeição. A nossa missão tem sido desmistificar e demonstrar junto dos profissionais de saúde, usando a linguagem deles, a importância destas áreas para a sua prática clínica e operacional. E os resultados estão à vista! Já temos as nossas soluções implementadas em vários hospitais de norte a sul e ilhas. Portanto, o balanço é muito positivo. Tem sido, definitivamente, uma maratona, mas a nossa posição na saúde pública e privada tem-se consolidado dia após dia.

Enquanto líder, quem é Anne Geubelle e que elementos considera fundamentais para ser um líder impactante na vida das pessoas e positivo?
Eu não sei se sou uma líder, mas tenho uma vontade intrínseca de mudar os status quo. Contudo, estou consciente que sozinha nada é possível. Eu sempre tive muita sorte no meu percurso profissional de ter ao meu lado pessoas que me deram confiança e isso, sem dúvida, contribuiu não só para dar o meu melhor como também para retribuir. Sinceramente, acho que as empresas são das pessoas e não dos acionistas. As riquezas que criamos em conjunto devem permitir antes de retribuir os acionistas, aumentar o nível de vida das nossas pessoas e juntar novas pessoas que por sua vez, vão permitir criar mais riqueza. É assim que funciono e é a minha maneira de ter impacto na vida dos que me acompanham nas minhas aventuras.

Hoje, felizmente, o panorama está a mudar e vemos, cada vez mais, líderes femininos em cargos e funções de liderança. Na sua opinião, a que se devem essa mudança de paradigma? Sente que hoje as Mulheres têm um nível de confiança superior e que isso lhes tem permitido chegar a patamares mais elevados de gestão e liderança?
Não acho que seja o nível de confiança das mulheres que mudou. Acho que os homens também mudaram. Não todos, mas estes que perceberam que a complementaridade na liderança das empresas é um fator chave de sucesso e de sustentabilidade das empresas. A diversidade potencia uma fonte de reflexão que permite uma apreensão dos riscos distinta nas tomadas de decisão. Eu não me identifico em nada com o princípio da exclusão do outro.
Pessoalmente, eu nunca senti dificuldade no meu percurso, por ser mulher. Pelo contrário, senti sempre muito apoio e confiança. Acredito que uma boa liderança deve ser mista porque, não há dúvida, somos complementares e não concorrentes. Por outro lado, acho que o número de mulheres com funções de liderança vai crescer muito mais rapidamente com essa nova geração muito mais inclusiva e orientada para a responsabilidade social nas empresas.
Creio também que o perfil dos líderes tem tendência a mudar em função da situação socioeconómica dos países que afeta as performances das empresas. E as empresas têm de estar atentas a essas mudanças para poder adaptar os perfis. Eu diria que em tempos de crise, as mulheres estatisticamente são mais eficientes e eficazes na gestão das empresas. Por outro lado, talvez um perfil menos averso ao risco, mais característico dos homens é adaptado em tempos de crescimento. É o que tenho observado.

Sendo a Prologica uma marca especializada em tecnologias de informação para impactar a vertente da saúde, de que forma é que procuram desenvolver soluções promotoras de conhecimento e valor para dotar os profissionais de saúde nas suas tomadas de decisão? De que forma é que as vossas soluções permitem e facilitam o acesso a tecnologias inteligentes com claro impacto nos cuidados de saúde?
A nossa plataforma MELIORA está assente num repositório de dados transversal às aplicações de registo e gestão que já são utilizadas nos hospitais (Ex: clínicas, administrativas, MCDT, laboratório). Através de relatórios ou dashboards, esta plataforma permite que as instituições visualizem e analisem em tempo útil todos os seus dados clínicos e operacionais no sentido de gerar insights e valor quer para o profissional de saúde e gestor, quer, naturalmente, para o cidadão/doente.
No fundo, tudo se resume a dotar as instituições de saúde com ferramentas de gestão simples e intuitivas para permitir uma leitura transversal das operações em tempo útil, qualquer que seja a sua natureza, no sentido de tomar decisões baseadas em dados do mundo real.
A plataforma MELIORA consiste numa infraestrutura de suporte para partilha de informação na saúde (SIHIS – Supportive Infrastructure for Health Information Sharing) que tem como objetivo criar as condições para as instituições de saúde estarem preparadas para os desafios do futuro, como por exemplo:
• A introdução de algoritmos de inteligência artificial não só na área clínica, mas também na área de otimização de processos e de logística;
• A implementação de iniciativas de Value-Based Healthcare que, na sua globalidade, prevê não só a avaliação dos resultados em saúde do doente, mas também o apuramento dos custos incorridos para obtenção dos mesmos resultados. É claro que a nossa plataforma, uma vez integrada com todos os sistemas dos hospitais, permite apurar transversalmente o percurso do paciente na sua globalidade, recolher os resultados em saúde dentro e fora da instituição (CROM’s e PROM’s) e monitorizar o custo dos recursos alocados a o doente.
A implementação de contratos baseados em resultados (Outcome-based agreements) com os fornecedores dos hospitais (farmacêuticas e outros) para os quais é necessário hoje efetuar sistematicamente o follow-up de métricas (KPI’s), em tempo real, no sentido de apurar os resultados.
Tudo isto apenas será possível, reforço, se existir uma só fonte de verdade, como é o caso com a nossa plataforma.

É legítimo afirmar que os sistemas informáticos em saúde, de hoje e do futuro, devem ser mais proativos e ir um pouco para além do evidente? Estamos a falar de Inteligência Artificial (IA)? Portugal está preparado para este passo ao nível da inovação e das novas tecnologias em saúde?
É mais do que lógico. É imperativo e está em marcha. A tecnologia para mim não é relevante em si. É um enabler para potenciar um futuro na saúde que hoje tarda a chegar.
A realidade aplicacional dos hospitais públicos é muito complexa e organizada em silos de informação que dificulta uma análise transversal do percurso do doente dentro da instituição. Esta realidade aliada a qualidade da informação registada, constitui, sem dúvida, um desafio para qualquer empresa tecnológica. Sem falar da impossibilidade de atualmente de seguir o doente fora da instituição no sentido de o monitorizar remotamente.
O nosso foco é o Serviço Nacional de Saúde (SNS) em Portugal. É uma questão de soberania. Temos de ter um SNS forte, com uma gestão robusta e orientada para a inovação. Para isso, temos de o repensar na sua globalidade porque ao contrário dos recursos que são finitos, as necessidades tendem a aumentar. Portanto é urgente repensar o sistema de forma a torná-lo sustentável, sem que haja qualquer impacto sobre a qualidade e o nível de acesso da população aos cuidados de saúde.
A tecnologia vai ser um elemento fundamental do desenvolvimento do SNS, mas nada deverá ser feito sem o envolvimento dos profissionais de saúde desde o momento zero.

Hoje vivemos um período conturbado, fruto da pandemia em que vivemos. Neste sentido, de que forma é que a marca tem contornado este cenário negro e que impacto é que tem tido na vossa orgânica e atividade?
Curiosamente a pandemia não teve impacto no nosso dia a dia, a não ser em termo de organização interna. Eu diria que em 2020 conseguimos reforçar a nossa presença no mercado e aproveitámos também para iniciar desenvolvimentos adicionais da própria plataforma no sentido de alargar o seu alcance para a hospitalização domiciliária e o balcão único do utente (funcionalidades novas que vão permitir o acesso do doente a marcação de consultas, resultados de exames,…). Não tenho dúvida que o hospital do futuro passará também pela monitorização dos doentes em casa.

Olhando para o atual panorama de pandemia, podemos afirmar que empresas como a Prologica, podem ser essenciais no apoio e ajuda a entidades de saúde privadas e públicas e assim, promovendo melhores cuidados de saúde?
É a nossa missão! Trabalhamos para criar valor para os nossos utilizadores no sentido de lhes permitirem tomar decisões mais acertadas, baseadas em dados e não só em experiência. E depois, claramente, ter a facilidade de medir de uma maneira consistente as métricas que eles consideram relevantes e sobre as quais podem atuar!

O que podemos continuar a esperar da Prologica e de si para o futuro? Que mensagem lhe aprazaria deixar ao universo feminino em Portugal?
A Prologica vai definitivamente continuar a estar ao lado dos profissionais e gestores de saúde com o claro objetivo de impactar positivamente a saúde das pessoas, utilizando para isso a tecnologia. É a minha paixão e a da minha equipa! E ainda temos muitas ideias e sonhos para concretizar.
Ao universo feminino, diria que já não existem essas barreiras mais pré-conceituais sobre a liderança das mulheres, embora Portugal ainda esteja com um número de líderes mulheres abaixo da média Europeia. Mas temos de ter paciência… e dar sempre o melhor de nós em tudo o que fazemos. Só assim conseguimos crescer pessoalmente e profissionalmente. Portanto, depende de cada uma de nós!